quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

E-mail para um Deus Tecnológico

Buenos Aires, 17 de janeiro de 2008

Prezado Deus Tecnológico,

Venho por meio desta (existe algo pior para começar uma carta formal?), agradecer a existência do computador e da internet.

Toda vez que eu me lembro de quando era pequeno e que para fazer algum trabalho escolar era preciso consultar na Barsa, eu ergo as mãos em direção ao logo da Intel ou da HP e agradeço. A biblioteca ficava na rua do estádio, e me lembro de estar lá enquanto cursava a terceira ou a quarta série. Na quinta série, eu tinha que ir à escola para fazer trabalhos, e mesmo debaixo de um forte calor, era preciso usar calça comprida para entrar. Sorte era ter um colega que morava perto de lá e que emprestava os seus jeans para que pudéssemos copiar o trabalho de algum livro.

Hoje eu não sei como são feitos os trabalhos escolares, mas as pesquisas são feitas com vários buscadores, uma boa dose de bom senso, e, no meu caso, uma banda larga de 2 gb. E eu agradeço todos os dias as facilidades de comunicação e o acesso à um monte de informação interessante e curiosidades, e possibilidades novas, como por exemplo, este blog.

Agora, Senhor Deus Tecnológico, devo admitir que as mudanças tecnológicas no mundo da música nos separaram um pouco dela. A minha relação com a música era de toque. Eu tocava a música, tocava na música, apesar de não tocar nenhum instrumento. A sensação que se tinha ao pegar um disco de vinil, era a de estar colocando a mão na música. Era como se a música estivesse ao alcance de nossos dedos, em todas aquelas ranhuras do LP. Com a chegada do CD, isso praticamente desapareceu.

E não falo como saudosista, ou como alguém contrário às modernidades. Falo como alguém que só hoje sabe que perdeu o seu contato através do tato com a música. Hoje são botões, são teclas, como se tivéssemos inventado aparelhos para fazer o nosso trabalho... do limpo ao sujo.

É, mas é assim, não, Senhor Deus Tecnológico? As coisas não são 100% boas nem 100% ruins. Nem mesmo você. E convivermos com a modernidade tendo nascido na última geração da velha era é fácil, desde que não se filosofe demais sobre todos os avanços que vemos por aí. Ou alguém vai me dizer que é normal um aparelho que tira fotos, se conecta à internet, manda recados escritos, serve para ouvir música e até se usa como telefone?

Bem, divindade tecnológica, preciso sair para encontrar um caixa eletrônico funcionando. Vou pegar meu MP4 e depois a gente se fala pelo MSN.

Com reverência,

I.R.