Buenos Aires, 25 de janeiro de 2008
Prezado Decassílabo,
Antes de prosseguir, preciso apresentá-lo para os que me lêem e não sabem quem você é.
O Decassílabo é um tipo de verso, com 10 sílabas poéticas. As silabas poéticas não correspondem exatamente à soma da quantidade de sílabas das palavras de um verso, já que uma série de “fenômenos” deve ser levada em consideração. Dois exemplos de decassílabos são:
“Mas que seja infinito enquanto dure” (que algum tarado poderia dizer: “que seja infinito enquanto duro”), do poetinha, Vinícius de Moraes.
Ou: “Amor é fogo que arde sem se ver”, do poeta português, Luís Vaz de Camões, tão bem cantado pelo grupo Legião Urbana, que na letra da música Monte Castelo também acrescentou versículos da carta de São Paulo aos Coríntios.
(Falando em São Paulo, hoje é aniversário da cidade. Falando em Corinthians... Quê? A carta aos coríntios não tem nada a ver com o Corinthians? Ok, disfarça. E de futebol eu não estou podendo falar muito.)
Prezado Decassílabo,
Recomeço esta carta ou este bilhete, devido a seu tamanho, porque minha cabeça de futuro pai pela primeira vez estava indo para e por outros caminhos.
Sei que sendo uma forma fixa, escrevê-lo é uma tarefa que requer um pouco de paciência, e altas doses de treino. Muitas vezes me perguntei se ser um decassilabodependente faria mal. E, pra dizer a verdade, não cheguei a uma resposta. No decassílabo é onde eu me sinto mais livre. Na forma fixa, rígida e antiga, é onde eu vejo a possibilidade de expressar idéias atuais, atemporais, e delírios. Isso não significa que eu não o traia de vez em quando, mas você sabe disso.
Tentaram matar você, Decassílabo. Tentaram eliminá-lo. Tentaram fazer de você uma peça dos museus de livros, as bibliotecas. Mas não conseguiram. (Se bem que alguns poetas andam te matando em alguns muitos poemas de pé quebrado.)
Sr. Decassílabo, muito obrigado por abrir as portas do seu formato para mim. Espero que mantenhamos nosso convívio por muitos anos.
Sinceramente,
I.R.
PS: “Onde queres o livre, decassílabo”.