segunda-feira, 30 de março de 2015

Sabiá-da-restinga

Se o sabiá era sábio, eu não sabia
Mas me entregava ao som desse seu canto
Que me envolvia sempre com encanto
E me abraçava enquanto melodia

E a música que dele eu sempre ouvia
E o som que ele entregava muito e tanto
Se espalhava ao mundo, em cada canto,
Como trilha sonora da alegria

Não sabia se sábio era o sabiá
Nem se cantava em dó, em sol, em lá
Mas sei por que cantava bem bonito

Porque era um passarinho em liberdade
Livre no seu cantar com suavidade
Um canto que ainda voa no infinito

I.R.

domingo, 29 de março de 2015

aquilo que segue

Foto: Paulo Davino

não acredito em recomeços,
para mim é tudo vida que segue,
normalmente em sequência
ou em causa e consequência.
ação, reação, hipótese, antítese,
o que, em síntese,
é o que me faz ser eu.

I.R.

quinta-feira, 26 de março de 2015

surfe

Foto: Rico Sombra

é ingenuidade minha
querer ter tudo sob controle,
pois mesmo se tentasse,
não posso controlar os ventos
ou as marés.
nem tudo são marolas ou tsunamis,
só procuro estar atento
pra cair no mar
e tentar um tubo perfeito.

I.R.

quarta-feira, 25 de março de 2015

comunicação

Foto: Jackson Felipe Chiavini Martelli

antes que existisse o whatsapp,
o messenger, o facebook,
antes do icq, do e-mail,
do telefone, do telegrama,
da carta e do telegrama fonado,
antes do rádio amador,
do telégrafo,
antes dos sinais de fumaça,
talvez até mesmo antes da fala
o homem já se comunicasse
por meio de um bom bocejo.

I.R.

segunda-feira, 23 de março de 2015

joão-de-barro

Foto: Carlos Formiga

somos o barro e o artesão,
a mão que modela
e o modelado por ela.
temos as rugas e as formas,
a rusga que deforma,
a paz que tranquiliza...
somos peça esperando cozimento,
somos só momento,
enquanto a mão não parar de se mover.

I.R.

domingo, 22 de março de 2015

motu proprio

Foto: Igor Pereira

a chuva como um tijolo na cara...
o que refresca, o que machuca,
nos lava ou escorre sob nossos olhos
enquanto seguimos em frente.

os motores à combustão
nos levam mais rápido.
mas na autotração
talvez controlemos mais variáveis.

I.R.

quinta-feira, 19 de março de 2015

no mercado

Foto: Bob Menezes

quando me expresso,
quando digo o que penso,
quando escrevo o que quero dizer,
faço porque necessito.

(lido assim, em primeira pessoa,
e, se possível, em voz alta
o texto passa a ser de quem o lê)

quando me repito,
quando me contradigo,
quando me calo,
faço porque preciso.

é minha forma de vender meu peixe.

I.R.


segunda-feira, 16 de março de 2015

plástico

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

o plástico das cadeiras
não é o mesmo das flores,
nem o dos corpos.
corpos de plástico parecem estar vivos,
copos de plástico não são elegantes,
flores de plástico,
sem cheiro nem vida,
enfeitam casamentos e sepulturas...
mas o plástico das cadeiras não é o mesmo
e a solidão que se sente
em cadeiras de plástico,
em sofás de vime ou camas king size
é um elemento de plasticidade
onde um adepto da praticidade
sente, senta e sabe
que há todo um campo a se explorar.

I.R.

sábado, 14 de março de 2015

assim sendo

Foto: Toti Itot

são pequenos flashes,
coletânea de instantes,
de constantes,
encontros duradouros,
momentâneos...
chegadas e partidas,
passaporte carimbado
num suceder de gerações
não se sabe quem foi o primeiro...
o último a sair que apague a luz.

I.R.

quinta-feira, 12 de março de 2015

temor

Foto: Apoena Augusto

a morte não tem olheiras
e palhaços macabros só existem na ficção;
mas vivemos em um mundo de zumbis,
de hipnotizados por miçangas coloridas...
meu único temor é tirar a maquiagem
e ao olhar no espelho
não me reconhecer na minha retina.

I.R.

terça-feira, 10 de março de 2015

no metrônomo

Foto: Manuela Cavadas

isto não é um pentagrama,
nem uma nota nem um samba.
mas um pássaro parado num fio.

eu não sou um pássaro
nem voo nem pouso em fios,
mas carrego em meu peito um samba,
um sonho, um tango,
e sou meu pentagrama
onde escrevo uma sinfonia.

vivo meus allegros, meus adagios,
como um presságio
de que que um dia todas as notas voarão.

I.R.

domingo, 8 de março de 2015

Feliz dia

Buenos Aires, 08 de março de 2011/2015

Feliz dia para todas as mulheres, para todos os homens, feliz dia para todo o mundo!

Quase sempre tenho a sensação de que desejar um feliz 'dia da mulher' é como desejar feliz natal ou feliz 'dia dos pais/das mães'. Vejo muito blá-blá-blá, comércio ganhando dinheiro, mas pouco compromisso com a luta dos direitos iguais entre homens, mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais e o que mais existir neste mundo.

Dia da mulher, assim como dia dos pais, das mães, das crianças, dos namorados, da consciência negra, é todo dia. Ou carregamos em nós o desejo de um mundo mais igualitário, e trabalhamos por isso, ou amanhã, dia 9, o 'dia da mulher' já não terá nenhum significado.

Feliz vida para todos!

I.R.

sexta-feira, 6 de março de 2015

encastelado

Foto: José Maria

em nome da beleza,
ergo castelos
e compartimento a existência
em salas disso, quartos daquilo,
paredes repletas de quadros,
cômodos cheios de móveis,
torres onde me escondo
e salões enormes
onde desfilo só uma parte de mim.

em nome da felicidade,
é necessário derrubar estruturas,
não viver personagens ou figuras,
é preciso ligar o trator.

I.R.

quinta-feira, 5 de março de 2015

brincadeira

Foto: Marli Sassi

dizer que a vida tem altos e baixos
é tão previsível,
pouco original, clichê,
e tão pouco certo,
que não sei porque ainda repetem por aí.
viver não é uma gangorra
onde esperamos estar por cima
nos aproveitando do peso do outro.
viver é um balanço,
um gostoso balançar,
onde o impulso é dado por nós.

I.R.

terça-feira, 3 de março de 2015

percepções paralelas

Foto: Jacqueline Hoofendy

não discuto a cor do vestido
a cor da camisa
a cor da bandeira.
não me interessa a cor da pele,
nem quantos tons de cinza são.

é tudo preto e branco,
e o preto no branco
é que as cores variam
segundo fatores físicos
e estados de espírito.

percepção visual, pigmento,
luz que entra, lágrima que sai,
sorriso que vira arco-íris.

I.R.

domingo, 1 de março de 2015

carioquice

Foto: Christian Barroso

talvez pela ginga,
mesmo sem saber dançar,
ou pela cadência,
pelo chiado,
pois longe de ser um folgado,
sonho ser um gato
que sempre cai em pé.

I.R.