domingo, 31 de dezembro de 2023

novel

o velho ano novo
chega de novo
pra desenrolar o seu novelo.
quero vê-lo
e vivê-lo como ainda não vivi,
quero ser um verso,
um personagem de uma novela,
uma caravela sem rumo,
alternando ventos e calmarias
em mares novamente navegados.
quero novos dias, novos meses,
quero sempre e quero às vezes,
a inconstância, não a inconsistência

I.R.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

ser e não ser

escrevo um poema sóbrio
de amor próprio,
escrevo sóbrio,
um poema próprio de amor,
mas não escrevo só pra mim,
e descrevo um querer contido, 
e contigo, 
romântico e impróprio... 
e versifico o que não tem nome,
verifico o que me consome, 
uma puta palavra pura que ressoa... 
escrevo pra mim, 
para minha pessoa, 
tomando um mate
embaixo do ventilador 

I.R.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

'en aras del mar'

remo num mundo de peixes,
tartarugas, estrelas do mar
e cavalos marinhos...
remo no reino das águas claras,
sinto o mar com seu acalmar,
e a ondulação que sara
e sustenta a canoa
como uma deusa polinésia,
movimento que gera movimento...
mente sã no meu corpo
que nem sempre faz o que deve,
enquanto navego o momento.
e quero remar, com o cuidado de não me distrair
por um poema que começo a escrever,
quero sarar, com o agregado de sorrir,
nesse novo sistema de viver...

alegria e esperança no voga,
temperança como tempero no leme.

I.R.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

seta

sou flecha disparada ao ar
sem direção,
interpretando como alvos
o que encontro pelo caminho.
viver é interpretar o sem sentido
e encontrar um sentido próprio,
que não é o das coisas,
que de fato não têm.
sou flecha sem curare,
sou flecha sem cura,
abrindo brechas na minha loucura,
na minha sanidade...
sou flecha sem tempo, sem idade,
porque o tempo não existe,
o que há é a existência.
e a resistência de que serei flecha voando
até a hora de então cair.

I.R.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

"umbíguo"

prefiro agir sem dúvidas,
sabendo que posso errar,
me arrepender,
prefiro não duvidar ao agir,
e desfrutar... e aprender...
estabeleço minhas leis
e contra elas me rebelo,
numa autoinsurgência
onde me deponho do poder
para entregá-lo a mim.
é preciso derrubar os próprios tiranos.
eu preciso derrubar os meus próprios planos
e florir... e aflorar...
e viver esse afloramento,
essa ressurgência que me nutre,
onde abandono as certezas,
para abraçar as dúvidas...
e então agir.

I.R.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

random

somos seres aleatórios,
dependentes do acaso de decisões
que levam a outras decisões, outros casos,
numa espiral de vida, de aspirações.
inspira... expira... suspira...
o suspiro é um doce,
que prefiro com doce de leite.
somos seres aleatórios,
imersos em elucubrações,
imensos em pequenas loucuras,
insanidades instantâneas de polaroides.
somos seres aleatórios
escrevendo histórias casuais que se repetem,
se transformam, se reescrevem,
que viram poemas, contos, crônicas,
livros sagrados, receitas de pizza,
bulas de remédio,
redações do enem ou questões de vestibular...

I.R.