domingo, 31 de dezembro de 2023

novel

o velho ano novo
chega de novo
pra desenrolar o seu novelo.
quero vê-lo
e vivê-lo como ainda não vivi,
quero ser um verso,
um personagem de uma novela,
uma caravela sem rumo,
alternando ventos e calmarias
em mares novamente navegados.
quero novos dias, novos meses,
quero sempre e quero às vezes,
a inconstância, não a inconsistência

I.R.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

ser e não ser

escrevo um poema sóbrio
de amor próprio,
escrevo sóbrio,
um poema próprio de amor,
mas não escrevo só pra mim,
e descrevo um querer contido, 
e contigo, 
romântico e impróprio... 
e versifico o que não tem nome,
verifico o que me consome, 
uma puta palavra pura que ressoa... 
escrevo pra mim, 
para minha pessoa, 
tomando um mate
embaixo do ventilador 

I.R.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

'en aras del mar'

remo num mundo de peixes,
tartarugas, estrelas do mar
e cavalos marinhos...
remo no reino das águas claras,
sinto o mar com seu acalmar,
e a ondulação que sara
e sustenta a canoa
como uma deusa polinésia,
movimento que gera movimento...
mente sã no meu corpo
que nem sempre faz o que deve,
enquanto navego o momento.
e quero remar, com o cuidado de não me distrair
por um poema que começo a escrever,
quero sarar, com o agregado de sorrir,
nesse novo sistema de viver...

alegria e esperança no voga,
temperança como tempero no leme.

I.R.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

seta

sou flecha disparada ao ar
sem direção,
interpretando como alvos
o que encontro pelo caminho.
viver é interpretar o sem sentido
e encontrar um sentido próprio,
que não é o das coisas,
que de fato não têm.
sou flecha sem curare,
sou flecha sem cura,
abrindo brechas na minha loucura,
na minha sanidade...
sou flecha sem tempo, sem idade,
porque o tempo não existe,
o que há é a existência.
e a resistência de que serei flecha voando
até a hora de então cair.

I.R.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

"umbíguo"

prefiro agir sem dúvidas,
sabendo que posso errar,
me arrepender,
prefiro não duvidar ao agir,
e desfrutar... e aprender...
estabeleço minhas leis
e contra elas me rebelo,
numa autoinsurgência
onde me deponho do poder
para entregá-lo a mim.
é preciso derrubar os próprios tiranos.
eu preciso derrubar os meus próprios planos
e florir... e aflorar...
e viver esse afloramento,
essa ressurgência que me nutre,
onde abandono as certezas,
para abraçar as dúvidas...
e então agir.

I.R.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

random

somos seres aleatórios,
dependentes do acaso de decisões
que levam a outras decisões, outros casos,
numa espiral de vida, de aspirações.
inspira... expira... suspira...
o suspiro é um doce,
que prefiro com doce de leite.
somos seres aleatórios,
imersos em elucubrações,
imensos em pequenas loucuras,
insanidades instantâneas de polaroides.
somos seres aleatórios
escrevendo histórias casuais que se repetem,
se transformam, se reescrevem,
que viram poemas, contos, crônicas,
livros sagrados, receitas de pizza,
bulas de remédio,
redações do enem ou questões de vestibular...

I.R.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

cronoscópio

a contagem do tempo,
em anos ou segundos, é secundária,
a vida deveria ser medida em gangorra
ou em roda gigante,
nesse sobe e desce de humores,
nesse girar de emoções.
a vida é essa sucessão
de sucessos que acontecem no parquinho,
no parque de diversões,
num campo minado,
que às vezes não é literatura, mas literal.
a vida é fácil, a vida é dura,
é circo, palco e picadeiro,
é a incerteza por inteiro,
é o que não para e acontece
enquanto insistimos em contar o tempo,
esperando o cuco cantar

I.R.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

certidão

quis escrever como drummond,
bandeira, como vinícius,
usei dos meus artifícios
e não percebi que era besteira.
quis escrever como carriço, victorino,
mas sou tão menino e ainda tão sem viço...
não quis escrever como eraldo amay,
poeta místico,
pois sou terrenal, pai... perdoai!
e então escrevi franco, como Franco,
escrevi como Moreira a amoreira,
como Maia e não como asteca.
escrevi como quem peca,
como Igor sem ser russo,
quando o bigode era só um buço,
escrevi sem medo do fiasco.
escrevi como eu mesmo,
como Ravasco.

Igor Franco Ravasco Moreira Maia

terça-feira, 14 de novembro de 2023

sem título

como explicar uma dor, 
explicitar um amor, 
como transmitir um vazio
e se comunicar
de forma menos imprecisa, 
nada implícita? 
como evitar os vocábulos 
ou usá-los até consumi-los 
na ponta da nossa língua? 
é possível pensar em silêncio? 

a fala é falta, 
é falha,  é falaz
e não traduz o que sinto, 
e nem diz o que sou. 
mas não me põe ou me ponho
na condição de seu escravo, 
sou contradição....
o filho da mãe 
e o filho da minha mãe, 
jekill e hyde, 
depende do dia, do contexto 
e às vezes até
só depende de mim. 

I.R.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

sátira

dizem que a vida é séria,
dizem que é uma brincadeira,
fala-se demais, vive-se de menos...
assumo que não sei, mas gosto...
e talvez só possa dizer isso
por causa do acaso
que aproxima ou afasta
os calos e o caos...
nesse encadeamento de fatos,
de acontecimentos,
de alegrias e aborrecimentos.
a vida é enquanto me oculto,
enquanto me exponho,
e quando me ponho na brasa,
a vida não é rasa,
é cor de rosa,
uma câmera defeituosa
por onde mostramos
só uma parte de nós

I.R.

domingo, 5 de novembro de 2023

alteridade

a vida é associação ou desassociação livre,
no encontro e desencontro com o outro.
quem é o outro senão o diferente de mim?
mas quem sou eu? pergunta de aparência simples,
e cuja resposta talvez seja apenas ‘eu não sou o outro’,
enquanto ainda não posso responder quem sou.
falo do que gosto, do que como, do que bebo,
por que time torço, com o torso cheio de pintas,
enquanto pinto esboços verbais e bobas reflexões de bar,
e deixo de falar sobre qualquer questão fundamental...
não digo séria, nem o que seria,
pois também há seriedade numa lista de supermercado.
quem sou? talvez não tenha resposta, nem precise,
as perguntas importam mais
e suportam um existir de reticências
...

I.R.

terça-feira, 31 de outubro de 2023

ao ponto para mal

querido diário,
sem horário nem dia,
decido que não me divido
entre o etéreo e o venéreo,
entre a oração e a magia,
entre ser nazireu ou devoto de baco,
porque não se trata de preto ou branco,
mas de viver em escala de cinza.
ponho a cabeça no travesseiro,
travo minha luta,
mas durmo em paz.
conheço minhas falências,
pago meus erros,
minhas decadências,
e sei quem sou.
não sou o sol que brilha à meia-noite,
nem farol, nem modelo,
sou um novelo embolado,
um ser humano em seu molho de contradições.

I.R.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

psi

a cabeça transita idiomas
e evita frases idiotas,
limitantes ou limitadas,
e textos carentes de ritmo.
a vida é plural...
pluralidade de significantes,
multiplicidade de significados,
e o mínimo múltiplo comum
é o que buscamos para nos relacionar.
a cabeça transita idiomas
e evita o transe das tradições,
aceita a impossibilidade das traduções,
impossíveis até dentro da própria língua.
não se traduz em palavras o que se sente,
é sempre uma aproximação,
nunca é exato,
e se o inexato nos assusta,
admitamos do que a gente gosta,
e analisemos as nossas entrelinhas

I.R.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

re-fluxo

adoro poemas que começam com “não”,
embora quase não os escreva.
talvez negar seja fácil
sem proposta ou compromisso,
talvez seja isso,
ou talvez não...
creio na inexistência de deus,
mas os discursos ateus me cansam.
adoro o balé e a corrida das areias da praia da rama,
lutando com o asfalto, como muhammad ali,
mas tenho medo de que ali não sobre areia
para a praia dos anjos.
tenho medo de não me apaixonar,
tenho medo de nunca mais escrever,
insisto e repito que igor não é o poema,
mas um personagem, como peri, o bom selvagem,
que inventei pra falar do que pode ser que senti.

gosto do sentido do nonsense,
do malabarismo circense no picadeiro,
acho palhaços tristes, e em geral sem graça,
creio na inexistência da raça,
mas o racismo é um de nossos maiores males.
viver não é linear, nem pra frente,
não vamos a lugar nenhum além da morte
e das areias dançantes da praia do anju.
não tenho medo de morrer,
tenho medo de ficar sem palavras.
mas acho que talvez a chave esteja no “se”,
esse “se” conjunção subordinativa condicional,
esse “se” genial, que nos diz que
‘se a gente não for, a gente não vai’.

I.R.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

descriação

nem toda manhã é doce.
nem todo amanhecer
é um renascimento de esperança.
há crianças que morrem
de bala, de míssil,
de faca, de falta de pão...
enquanto os adultos se matam
em nome de suas invenções,
de suas criações humanas...
(uma fronteira, um ódio, um deus,
uma bandeira, a cor da pele...
a humanidade que se autorrepele
em nome de suas fantasias.)
nem toda manhã é doce,
e o ser humano, amargo e amargurado,
busca justificar seu lado
usando as quimeras que adora inventar.

I.R.

domingo, 8 de outubro de 2023

canvas

tua pele tua tela, 
é pintura moderna
fora da quadratura,
sem moldura,
em enquadramento livre... 
pincel de palavras,
tinta azul desbotando
em verde água, água do mar,
cor do mar de arraial... 
tua tela inteira, 
regada a pinheiro negro, 
é onde me entrego à arte,
mpb, rock and roll... 
tuas palavras, tua potência, 
é a (in)consciência 
de que a poesia vive, 
mas renasce na tua voz

I.R.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

semipronto

sou pai, sou filho e sou falho,
sou solto no mar e não sou porto,
e se às vezes não me suporto,
se falha o suporte que segura a porta
e se a comporta se abre sem permissão,
é porque nem tudo é razão
e a sensibilidade encharca meus poros.
nunca beijei teus lábios
e não há nada de sábio nisso.
sou pai, sou filho e não sou santo,
não tenho espírito de porco,
e o pouco que sei ainda estou aprendendo...
não é fácil ser eu, não é fácil ser você,
não é fácil ser ninguém,
fragilidade humana dos que não sabem,
portão que bate com a força da lestada

I.R.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

monólogo interno

está nublado e frio, venta,
contraponto do calor que me espera,
mas isso não é hoje, é só amanhã,
e o amanhã não existe.
liberei a pista
do fluxo da minha consciência,
mão e contramão,
indo lento, indo lendo, indo lindo,
respeitando meus tempos,
preenchendo lacunas
sem querer respostas,
pois não se trata de gabaritar.
na lista do que não fiz,
nessa inexistência do amanhã,
não perco o passo,
mas na linha que traço,
escrevo o abraço que ainda nunca te dei

I.R.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

metamórfico

la ilusión se ha roto
y no me regaló un vals,
sino palabras.
cambio de ruta,
y el envión de la foja cero,
de una voluntad que no afloja,
pero de un yo que ya no espero nada.
no soy libre como el viento,
no vuelo como los pájaros,
pero mantengo la puerta de mi jaula abierta…
y la emoción...
sí, la emoción de una orquídea, de una idea,
de una orquídea violeta fuera de foco,
y yo, loco, bajo todas las narices,
me bifurco como sus raíces,
y me convierto o me desconcierto en flor

I.R.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

desponto

e eis que ocorre o corre,
b.o. nosso de cada dia,
que não adia, mas é pontual
e pontua ponto por ponto,
sem desconto, mas com juros,
enquanto conjuro as parcas,
parco de recursos...
eu clown, eu arlequim.
rei morto, rei posto
e o que se viu no meu rosto
foi a onda de água salgada
trazendo o sorriso
porque tudo passa,
a corte,
o corte,
quem curte.
vida que segue, que se embola,
e se embala na rede

I.R.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

pequena

tudo está confuso e simples,
num emaranhado de emoções,
de um eu emocionado,
que ando tão à flor da pele.
o tapete já não voa mais,
mas não se varre nada pra debaixo dele.
o castelo de cartas marcadas caiu
e estes versos mesquinhos,
escrevi numa esquina de buenos aires,
de onde vim, ou para onde venho.
o ar não está bom, mas o vinho ajuda.
tudo está claro, há um piso
onde escorrego e caio,
e saio de cena...
valeu a pena.
a alma não é grande, mas valeu.

I.R.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

tessitura

o silêncio da cidade grande é barulhento,
gente, ansiedade, motor, modernidade,
e se as palavras são levadas pelo vento,
a calmaria só é possível dentro de nós,
que não somos calmos,
mas uma porção de pulsão,
uma punção de versos,
dos seus versos,
da sua poesia que leio em voz alta,
do desejo de lê-la,
da vontade de tê-la na minha garganta,
que recita, excita e que canta
um canto de sentidos, encanto da iara,
relógio de areia movediça,
que se move dentro de mim.

I.R.

sábado, 9 de setembro de 2023

re-creio

a vida é como gangorra,
brincadeira responsável
onde preciso do outro pra poder brincar.
não há gangorra na solidão,
no enroscar-se como gongolo,
no comer pelas beiradas
sem nunca ir ao miolo,
não há estradas sem buracos
sem pedágios nem acidentes,
vou com a faca entre os dentes,
me recuperando, me re-superando...
a vida é um quebra-cabeças?
talvez um jogo de encaixe, um feixe de luz,
na unidade de uma colcha de retalhos

I.R.

sábado, 2 de setembro de 2023

espelho, espelho meu...

o desejo de escrever
sem explicar, sem descrever,
e com discrição,
só fala de mim.
rascunho compulsivo
um recorte do instante.
mas não me procurem no texto,
fui à praia, traduzir o contexto
da minha existência.
e se biscuit não é comida,
biscoitos em excesso fazem mal.
talvez o excesso seja retrocesso de vida...
dialogo no processo de escrever,
diálogo desconexo, no reflexo...
escrevo, logo resisto,
vivo conforme o imprevisto,
não reclamo
e me declamo um poema de amor.

I.R.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

open Bach

me abro,
porque lo que me queda
después de abrirme
es abrirme,
para no volver a cerrarme.
me corro,
sin pena ni gozo,
pero solo me corro,
porque no quiero correr.
y juego a dos puntas,
a dos lenguas,
una juerga a leguas,
que la tomo como tal.

I.R.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

periódica

então a melodia de todo dia,
que não entoa à toa no meu ouvido,
não tem olvido,
e produz o que já tinha feito,
o efeito de me lembrar
que toda hora é instante
e que sou constante
na incoerência, na impermanência,
na volatilidade do pensamento,
na velocidade pulsante do meu músculo cardíaco.

I.R.

sábado, 19 de agosto de 2023

música

no diálogo nem sempre amoroso,
nem sempre amigável
entre a emoção e a razão,
os fantasmas fazem a festa
e os sintomas saltam pelos poros.
penso onde moro,
não a cidade, mas onde habito,
a inspiração, o conflito,
um coração pulsante e um cérebro carcomido,
grito de alerta, de alegria e gemido,
perguntas não respondidas,
perguntas em demasia,
silêncios, entrelinhas,
falsas expectativas, falsas interpretações,
falácias, verdades, mensagens,
o vaivém da intimidade,
não numa vida que segue,
mas nesta única que se vive.
vãobora, que por hoje eu tô bem.

I.R.


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

suspiro

era sonhos e não olhos,
pois não se trata do que se vê,
senão do que não se vê,
mas se ouve e se sente,
se deseja e se delira,
enquanto a mente gira num jogo onírico,
e se imagina,
e se constroem imagens.
era sonhos e não olhos,
metáfora perdida,
engolida por uma voz afinada
em meio a uma linda melodia,
mudando uma frase
que antes ardia
a outra que já não diz nada

I.R.

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

simulacro

à sombra da vela,
não sobra coragem,
e a boca que beija, que cala,
que grita e que ri, saboreia a miragem - 
espelhismos coloridos -,
flor de ganja, cor de açaí...
barco que soçobra,
que cobra o (in)seguro da obra em construção.
navegar nem sempre é precisão,
e minhas frações compostas
se mostram repartidas entre sargaços,
num mar de algarismos e algoritmos
no ritmo das ondas, seguindo as estrelas
de uma via láctea imprecisa.
preciso da vela pra iluminar a caverna,
ou de uma lanterna que brilhe como o sol...

ou como sou

I.R.

domingo, 6 de agosto de 2023

pragmatismo poético

eu não sou um ornamento rococó,
que é bonito, mas muito rebuscado,
gosto do verso livre emocionado,
das palavras em uso e isso só.

não quero afinação pesada em dó,
mas tento estar, no mínimo, afinado,
me quero leve, em vez de preocupado,
me quero vivo, enquanto não for pó.

eu-lírico não lírico, mas prático,
vivo versos em modo pragmático,
e buscando a eficácia todo dia,

recebo o que me chega com consciência,
que os problemas se tornem eficiência,
eu-prático em estado de poesia.

I.R.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

AI de mim

meu amor, por mais genial,
não há inteligência artificial
que sinta a emoção de escrever.
as máquinas manipulam as palavras,
mas não sentem seu sabor,
escrevem poemas melhores que os meus,
que só faço rascunhos,
mas não sentem meu sofrimento,
não vivem o frisson da paixão
nos poemas que escrevo pra você.
a tecnologia não finge que é dor,
a dor que deveras sente, porque não sente.
não tem magia, suingue, borogodó,
tem o mais vil charlatanismo da palavra morta.
chatgpt, bing, bard... prefiro ser o bardo, enfim,
o que anuncia o que já não guardo,
e te entrego em versos um pedaço de mim.

I.R.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

policromia

a vida é uma viagem
onde só temos passagem de ida,
onde tudo é passageiro,
transitório,
e onde transitamos
amarguras, amores e problemas
entre risos e abraços,
choros e poemas,
no quebra-cabeça de fazer a nossa mala.
amá-lo, amá-la...
é preciso coragem,
vivenciar a vertigem,
enfrentar as dores que nos atingem
botar o pé na estrada
colorindo nossa existência...

mas é preciso paciência.
...

vamos um dia de cada vez.

I.R.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

ábaco

a cabeça do poeta faz cálculo com as palavras,
e se palavras não são números,
são inúmeros universos,
incalculáveis interpretações...
calculo verbos, pronomes, conjunções,
conjuro substantivos em vez de equações,
equaciono períodos compostos,
equilibro apostos,
e não aposto nos vocativos
ou nos períodos simples.
e falo das coisas, talvez de mim,
não como operação aritmética,
evitando a arritmia e a homilética,
me apoiando nos dicionários...
mas não escrevo diários.

quando termino, o poema é teu,
e eu já não tenho nada a ver com isso.

I.R.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

meu coração

tenho um coração
que não sabe de distâncias,
não mede centímetros
milímetros e quilômetros,
não conhece tamanhos,
hectares, acres e alqueires.
tenho um coração que segue o sol,
que nasce na paraíba e se põe no acre,
um coração sem lacre,
onde a luz que o ilumina,
e clareia a negridão da noite
também o desbota.
tenho um coração que não sabe
da dicotomia do doce e do amargo,
mas da luta entre o suave e o rascante,
tenho um coração itinerante
que não sabe de saberes,
mas se entrega entre sabres e sabores

I.R.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

sabor do vento

liberdade, quero sorver-te,
como sorvete na casquinha,
sentando na calçada,
esperando um trem
que não tem hora pra chegar. 
liberdade, quero abraçar-te, 
como arte atemporal, 
temporal de fótons, 
fotos em pose, polaroides, 
selfies de posse de um sorriso, 
de quem chega sem aviso
sem correntes nas mãos. 
liberdade, quero-te, 
recatada e erótica,
prática e teórica, 
energia eólica soprando onde quer. 
mas, liberdade, não venha... 
pode deixar que eu vou

I.R.

terça-feira, 11 de julho de 2023

costões rochosos

ela se diz doidinha e eu discordava,
mesmo sabendo que todos
somos e devemos ser um pouco.
então tá, ela é doidinha,
e é garcinha,
não pela garça,
mas pela graça de brincar.
ela é caos e ocaso,
amanhecer e calmaria,
cal viva e mar, marejando vida,
mexendo comigo nas minhas vivências,
no decorrer dessa viagem...
onde vou e venho, onde ia e vinha,
texto de reticências...

o que são as entrelinhas
senão a própria mensagem?

I.R.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

ciclos

uma ideia que se descola
e se desloca,
que requer escola,
sequer escolha...

escolha livre o que é que se quer.

a ideia não é a louca,
é a que aloca,
pipoca de sal e doce...

decida no malmequer.

uma ideia que não se idealiza,
pois a consciência está na pergunta
na dúvida que se realiza
na forma total como se pôs...

o que vem após?

I.R.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

gris

um céu cinza
de uma manhã cinza,
com um coração cinza,
que segura com pinça
o cinzel que entalha...
o desejo que se retalha...
ah, o desejo,
o que vejo, o que interpreto,
a ânsia, o longe, o perto.

talvez a resposta esteja no mar
onde desaba a tempestade.

I.R.

terça-feira, 20 de junho de 2023

arraiada

não há poema
que dê conta de um nascer do sol,
e eu que não sou poeta,
não sou astrônomo,
que não sou fotógrafo
e desconheço as medidas do metrônomo,
apenas observo.

e já não conservo a luz identificada na retina,
mas guardada na memória,
me traz a história de um amanhecer.
imagem decodificada,
foto jamais tirada,
de um sol que nasce pra todos,
de um som em forma de onda
que ainda está por vir.

I.R.

terça-feira, 13 de junho de 2023

zen-sível

a emoção à flor da pele
que se aproxima e que repele,
balé encantado,
biologia e psiquê. 
um nós de eu e você,
o meu e o seu jeitinho
desatando nós,
com diálogo e com vinho,
cercania e distância,
tranquilidade e ânsia,
vida que segue, que é e persegue,
sem mesmo ter porquê

I.R.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

a-corda

a consciência que acorda cedo
desfruta do amanhecer,
da cor de fogo do céu,
do alaranjado do mar...
curte a cor do sol no horizonte
a cor da água translúcida avançada a manhã...
a consciência que acorda,
acorda com o outro uma direção,
sem o afã de chegar, mas com afã, com afinco,
e se encorda ao outro sem se amarrar,
porque nem todo laço é daninho,
nem todo nó é mesquinho,
e a corda que me amarra ao outro
pode ser música,
e proteger da brisa e da maré,
amar é amarrar a ama e deixar fluir

I.R.

segunda-feira, 5 de junho de 2023

euQUILIBRANDO

a casuarina finca as raízes no areal,
por uma causa, não por acaso.
causa e efeito, 
onde o acaso não tem de ser o caos.
as dunas se movem, 
as baleias estão de passagem
e as tainhas são pescadas nas prainhas,
às margens do pontal.
a casuarina tem raízes profundas,
assim como é profundo o mar,
que, assim como a duna, não se enraiza...
as tartarugas vivem, mas não desovam aqui,
na praia já quase não se vê tatuí,
e o que resta da restinga resiste,
e eu também resisto, e existo na insistência,
sendo duna e casuarina, mar e areal,
o que permanece e o que está de passagem
o ferrão e o que é ferrado, derruba e é derrubado...
rabo de arraia remando no arraial.

I.R.

sábado, 3 de junho de 2023

(des)romântico

o amor que se revela
se rebela contra o sistema.
revelar e rebelar,
eis o tema,
eis a questão,
um amor novo
não é um novo amor,
mas relação fora da caverna,
a consciência
de que com ciência
não se vive em fantasia,
mas em desromantismo.
amores reais entre pessoas reais
em construção.

amar sempre é construir
descontruindo com urgência

I.R.

terça-feira, 30 de maio de 2023

cartolina às 22h

quando na penúltima hora,
no improviso,
correndo contra o tempo,
mas a favor dele,
o viver transcorre em diálogo
diálogo de um dia bom,
a noite se faz riso,
se faz doce,
perde-se a pose,
e não há mais batalha,
pois quem gargalha curte,
e fazer não é sorte...
é brigadeiro encarnado,
deus doce que habita entre nós.

I.R.

sábado, 27 de maio de 2023

lado b

quem nunca teve um sentimento mesquinho?
que atire a primeira pedra,
nesse mundo que é um moinho... 
coração e cabeça desconectados,
ideias e ideais triturados
a perda do brilho,
momento sombrio,
o apagar do lume...
quando chega o sentimento,
eu o abraço, até que ele me exponha,
e me ajude a me ver ridículo,
e me faça me ver minúsculo
e ria de mim, morrendo de vergonha

I.R.

quarta-feira, 24 de maio de 2023

das histórias

as histórias não se classificam
nem se definem
só como ficção ou realidade.
realismo cru e cruel
versus conto de fadas,
vida sem faltas
versus todas as pautas,
amor versus fel
a palavra nunca é fiel ou exata
mas exala seu perfume
diante de nossos olhos.
nem realidade nem ficção
na minha autobiografia
escrita todo dia o dia todo
prevalece a emoção,
flor e lodo em estado de poesia

I.R.

terça-feira, 9 de maio de 2023

coincidência significativa

às vezes o tempo se emparelha
e a gente olha de frente,
não de esguelha,
e ri junto, filosofa,
meme, música, trabalho e farofa,
um bom dia
carregado de afeto e sintonia...

sincronia...

tempo emparelhado na clepsidra,
vida, liberdade, crescimento,
o amor como motor,
não o sofrimento.

viva a sincronicidade!

I.R.

sábado, 29 de abril de 2023

sensorial

não tenho os pés sobre o chão,
meu corpo voa,
e a palavra que ecoa,
se acelera. 
mar, céu e terra unidos 
ao perder-se no horizonte. 
um belo horizonte que chega, 
um passado que se transforma, 
tatuagens feitas sobre cicatrizes, 
outras marcas, novas diretrizes... 
é preciso viver o presente.
saudade do teu abraço no meu

I.R.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

palavreado

meta fora,
não é uma metáfora,
mas uma contradição.
paradoxo complexo,
amplexo entre significante e significado,
e a necessidade de um dicionário.
poemas simples eu prefiro,
porque quem com infiro fere,
com te interfiro será ferido.

I.R

sexta-feira, 14 de abril de 2023

resumindo

é preciso estar atento,
o verso chega como o vento sudoeste,
como um amor agreste,
no reverso de um poema
que pretendia ser de dor.
mas nesse vira e gira o mundo,
a alegria de um eu profundo
é a alegoria da existência,
o berço do bebê que nos habita,
que grita e chora de fome
da palavra que se respira
e que se come,
do universo numa casca de noz

I.R.


domingo, 9 de abril de 2023

texto

eu entrevia
que entre as vias da minha vida
havia uma entrelinha,
um subtexto,
um pretexto de estrelinha do mar
querendo estrelar a existência. 
resistência ao astrolábio, 
lábios, sem seguir uma linha, 
náufrago num oceano
que intervinha pra me trazer ao porto,
absorto do caos, poeta do cais, 
abraçando uma vida sem céus...

I.R.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

dialógico

relacionamentos não têm manual,
não tem receita,
é um se dá, se recua,
se recusa, se doa, se troca,
se experimenta
com carinho e com desfeita,
é um eu e um tu,
verdade com verdade,
alinhadas na liberdade do encontro.
relacionamentos não têm manual,
têm palavras, têm presença,
têm o mistério da conexão,
a força descomunal de um abraço
e a alegria singela de um cafuné

D.d.N. e I.R.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

fora da caixa

conchinha do mar,
como caixinha de surpresa,
que testa a paciência
e os níveis de ansiedade.
conchinha com texto,
contexto de liberdade,
textura de livre-arbítrio,
que empresta à comoção
uma contextura física e emocional...
como um confeito feito à mão,
confete e serpentina,
serpente e adrenalina,
conchinha do maremoto,
do caos e do carnaval

I.R.

sábado, 1 de abril de 2023

contratempo

a areia que escorre,
a sombra que se projeta,
o tic-tac,
metrônomo que marca o ritmo,
põem tempero no meu tempurá.
tempo que passa,
que se gasta, que se gosta,
temperatura alta de outono
como pimenta ardida...
viver, às vezes,
é atravessar o compasso,
e improvisar na batida,
ex-mandamentos,
um andamento que não volta atrás

I.R.

terça-feira, 28 de março de 2023

expressão

a batida acelerada do coração,
o arrepio, o suor frio,
o amor, a paixão...
a intensidade
de uma pessoa emocionada
querendo se revelar...
eu te amo? i love you?
te curto, te adoro?
te quiero mucho?
pretencioso,
sem brilho, sem purpurina.
não há nada mais lindo,
mais romântico, mais gostoso
que um "quer alguma coisa da cantina"?

I.R.

quarta-feira, 22 de março de 2023

palavras que habitam

o sentimento se sente e se vive,
se experimenta,
se experiencia...
experiência em movimento.
sentir é mais que um momento,
é criar palavras
pra tentar explicar
o que só pode ser vivido.
vozes ganhando ânima...
sentimento que se faz verbo
e se faz carne
para habitar entre nós.

I.R. e D.da N.

sexta-feira, 17 de março de 2023

abordando

sem pressentir,
a emoção se abre,
ainda sem saber a direção,
e o que se sabe
é o que não se cabe
de um eu emocionado, exagerado,
transbordado,
bordando a viagem,
vertigem, passagem.
é preciso pulsar...
eu preciso arriscar,
o risco de sempre sentir.

I.R.

terça-feira, 14 de março de 2023

existindo

não acredito em destino,
e acho que a existência se destina
a existir com insistência,
com um sorriso de menino
estampado no rosto e na alma.
existir é como remar na neblina
firme e com calma,
é parar, encerrar ciclos,
e avançar séculos, disparar,
pra 'desparar' o querer

I.R.

domingo, 12 de março de 2023

s

siso, sisudo, sorriso,
solitário, solidário, solitude,
simplicidade.
seiva, sêmen, saliva,
servo, sirva,
sol
sou
samba soul
som...
sei.
sagacidade, sinceridade,
separação,
suavidade, sinto...
sal, saldo, sonho,
superação

I.R e Dama da Noite

quinta-feira, 9 de março de 2023

des-dando conta

dar conta de tudo,
você dá conta de tudo,
você tem que dar conta de tudo...
repete-se, repete-se,
como um mantra absurdo,
na trama da demanda externa,
na teia da usurpação extrema.
cumprir, fazer, realizar
e esvaziar o ser de desejo,
de humanidade,
para enchê-lo de estresse,
de ansiedade...
mas é preciso parar,
porque a parada é outra,
ninguém dá conta de tudo,
você não vai dar conta de tudo
a gente faz o que dá,
a gente faz o que pode,
e tá tudo bem.

I.R.

terça-feira, 7 de março de 2023

inspirar-ação

é preciso ir lá nessa noite de luar,
deixar sair sem ensaiar,
mas porque está encarnado, 
é feito do respirar. 

efeito do respirar. 

jogar palavras à língua 
ou às pontas dos dedos. 
e ajustá-las com a melodia, 
com a criatividade, 
assim, na assertividade, 
ajusto, farejo, provo, 
deixo grudar no céu da boca. 
a vida nunca é pouca, 
não é uma guerra, 
é abraçar as árvores, 
La Madre Tierra, 
o mar, o amor e a maré 

Dama da Noite e I.R.

segunda-feira, 6 de março de 2023

relações

palavras são pérolas,
são pedras,
são pétalas,
palavras libertam,
são flechas,
mechas,
consolam
e podem machucar...
pois a palavra não está viva,
vivos estamos nós,
que as tornamos ato,
e, no contato, as usamos com intenção.

I.R.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

vaivém

no balanço da rede,
no balanço do mar,
no balaço do tiro de festim,
há festa em mim, arrastão...
lanço de rede ou de ideias,
emoção à flor da pele,
pérolas imperfeitas de ostras belas
surfando na ginga das ondas,
se agigantando como swell.

I.R.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

ondas

encontros, desencontros,
o medo e os monstros de estimação
encontram a cabeça um turbilhão,
como uma ressaca na Praia Grande.
relações no metaverso,
fragmentadas, fragmentárias,
conexões refratárias...
o dia que passa, a vida que passa...
vozes desconexas
e o pôr do sol aplaudido de pé.

I.R.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

caminho

no envio da mensagem,
aquilo que se compartilha,
o todo e a parte
a sorte de se doar,
e de ser do ar,
a arte de se domar
de ser do mar...
no envio da mensagem
a construção de pontes
na medida infinita do horizonte
observado de lados opostos da calçada
e viver um com o tudo,
e então ser um com o nada.

I.R.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Presente

O que se espera e o que acontece,
As pequenas supresas desta vida,
Isso que a deixa alegre e colorida
Chega, fica, se instala e agora cresce

E chega por si só, e não por prece,
Sem pressa, mas sem pausa e mais querida
Na construção diária que é vivida,
Na nossa trama urdida que se tece

E isso que chega em forma de presente
É pra viver agora, vida urgente,
Unida ao todo, unida ao que revele

Que num abraço cabe um universo
E que não há no mundo nenhum verso
Que se compare ao toque da tua pele

I.R.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

hilaridade

lábios desenhados,
boca que se abre,
dentes que se mostram,
como num mostruário de humanidade,
de quem luta contra os monstros
sem perder a ternura,
na dura e bela realidade do dia a dia.
o sorriso que comove,
o riso que remove,
a gargalhada que contagia.
amaria, verbo condicional;
cuja condição é a emoção do infinito.

I.R.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

surgimento

há poucas respostas
e muitas perguntas
dentro de outras perguntas.
inventamos lendas, o que nos conforte,
um destino, uma sorte,
criamos alívios pelo peso de desconhecer
o que não iremos saber...

surgimos do caos e do acaso
soldado raso que se pensa general
somos matéria
e o mistério que lhe dá vida,
essa que não veio do barro,
mas nasceu no mar.


I.R.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

mar-ritmo

não sei se sou filho de Yemanjá,
nunca vi no ifá,
mas amo seu reino.
cresci e moro no Cabo,
onde o carro de Apolo
vai do Anjo à Grande,
consciência que se expande,
com ciência de quem se é.
preciso salgar os meus pés
pra adoçar minha alma.
nem sempre o mar está em calma,
mas me acalma saber
que a onda que quebra na areia
circula na minha veia
seguindo o ciclo da maré

I.R.

sábado, 21 de janeiro de 2023

kintsugi

somos peça única,
mas não somos inteiros,
nos formamos na colagem,
no reparo e no remendo,
na coragem do rejunte.
somos louça, louca ideia,
somos espírito e matéria,
areia transformada em vidro
que um dia há de quebrar,
vidro temperado em mil fragmentos
vida vivida e vívida em momentos
onde somos luz e lustre
e ilustre cerol


I.R.