domingo, 31 de agosto de 2014

fazendo arte

Foto: Sandra Santos

a palavra que me expõe,
me desnuda, frágil,
ou que me envalentona,
é a imagem que me traz à tona,
em entrelinhas de alegria
e de tristeza,
como um desenho da própria natureza,
natureza humana,
das pessoas que sou.

I.R.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

wormhole

Foto: Ricardo Apparicio

entro num túnel
como se entrasse
num buraco de minhoca.
passageiro no tempo,
viajante de sonhos que não escrevo,
não descrevo
e que às vezes duvido se algum dia sonhei.
entro num túnel
como se do outro lado
existisse uma nova história,
não uma nova memória
ou uma luz salvadora.
não acredito nas salvações
e as ilusões podem virar
realidades ou utopias.
entraria já num túnel,
mas moro numa cidade plana,
sem montanhas para escavar.

I.R.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

metros do metrô

Foto Alexandre Urch

somos mais um passageiro
nessa viagem sobre trilhos
sem saber nossa estação final.
vivemos entre estações,
onde lemos e amamos,
dormimos e sonhamos,
trabalhamos, pensamos, sentimos...
e enquanto os passageiros
entram e saem,
viajamos em pé, sentados no chão,
trocamos de lugar, de atividade,
trocamos de destino
cedemos nosso lugar
ou nos mudamos de vagão.

I.R.

domingo, 24 de agosto de 2014

da natureza

Foto: Cristina Oliveira

às vezes chega-se a um ponto
em que já não sabemos
se as linhas convergem a um ponto em comum,
ou se esse é o ponto de partida
para as linhas se distanciarem,
se abrirem rumo ao desconhecido.

I.R.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

atuando

Foto: Simão Salomão

não se tratam
de inúmeras realidades
que inventamos ou não.
até nas realidades irreais,
podemos perceber
a mudança de cenários,
a troca de figurino,
e como às vezes na pressa
algum elemento não combina,
não concorda
e nos desatina.
é bom saber que na falta
de uma cortina sempre há uma porta
que nos leva a um camarim.

I.R.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

chute

Foto: Luiz Navarro

e naquele momento
em que a bola está suspensa
entre o goleiro, a emoção,
o suspense e o artilheiro,
podemos ouvir um coração que bate
ou o ar que entra e sai dos pulmões...
só isso corta o silêncio,
não a ansiedade.
a bola viaja enquanto as variáveis
são embaralhadas
e postas sobre a mesa...
não se trata só de comemorar
um gol ou uma defesa,
as bolas também batem na trave,
e os goleiros às vezes dão rebote.

I.R.

domingo, 17 de agosto de 2014

em nossas mãos

Foto: Patricia Mousinho

se em nome da paz,
se em nome do amor,
alguém quer impor suas ideias,
seu modo de vida, suas crenças,
seus valores e suas preferências,
esse é um ato de violência,
e uma declaração de guerra.
a liberdade imposta pelas armas
não é liberdade,
é uma mentira que encerra em si o ódio,
que encerra o homem num muro de morte,
que o deixa livrado à própria sorte...
mas, e nós,
o que seguramos em nossas mãos?

I.R.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

saindo do muro

Foto: Fernando Kinukawa

precisamos nos libertar
das caixas que nos estreitam a visão,
que nos reduzem o pensamento;
devemos nos liberar
das caixas de nossas mãos,
prisões que nos impedem agir,
vemos, mas não podemos tocar,
nosso movimento, enfraquecido,
perde os dedos e a sensibilidade;
devemos nos livrar
das caixas de nossos pés,
sapatos incômodos
que amoldam nossos passos
a caminhos estranhos a nós,
mas aos que nos entregamos
como robôs.
precisamos arrancar
a caixa do nosso peito,
a caixa que nos oprime,
a caixa que não somos,
mas que aceitamos quando nos botam,
as caixas que nos embotam,
onde dentro há um coração quadrado
com medo de se molhar
e de se rasgar como papelão.

I.R.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

quatro versão um

mil quatrocentos e sessenta
ou sessenta e um,
contando um ano bissexto,
de mais alegrias que tristezas,
de ensino e aprendizagem,
tantos dias... e um balanço feliz.
tantos dias, tanta vida,
e uma história,
entalhada no coração
de que valeu à pena
cada instante até aqui.

I.R.

quatro versão dois

nem o amor nem um relacionamento
condicionam a que dois sejam um.
dois são dois,
e sempre serão dois...
em todo caso, serão três, quatro, cinco,
às vezes onze,
mas nunca um.
essa é a chave da encruzilhada,
se seremos felizes sendo dois,
se seremos felizes
cada um pelo seu lado.
o amor romântico vende bem nos filmes
e nos romances água com açúcar,
a vida real começa
depois do beijo do final feliz.

I.R.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

mickey monster

Foto: Luiz Alfredo Ardito

entre muro e cerca
me estampo,
e se não me espanto
é por saber que estou cercado
de força interior.
com chapéu de minnie,
e de olhos esbugalhados
sei que os grandes estão acuados,
e me torno atena,
uma antena, um ponto de contato,
sou minerva
que faz careta
como arma de sabedoria
quando os caretas da cavalaria
avançam sobre mim.

I.R.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

o eterno deus mu

Foto: Marisa Versiani Formaggini

nossas transformações
devem partir de dentro pra fora,
pois a revolução começa no íntimo,
na intimidade do coração,
não na pintura da cara.
mas e se a cara pintada 
e o corpo enfeitado
forem apenas reflexo de um interior?
aprendo que não devo julgar.
viver e deixar viver
é mais do que uma máxima,
é o máximo de responsabilidade
pela liberdade de meu semelhante.
é estar atento a cada instante
para dia a dia me desfanatizar.

I.R.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

sombreado

Foto: Jose Vilar Jordán

o que fui
é sombra de um caminho pisado
que não chega a pisar
o que serei.
mas as linhas de partida
ou de chegada
só encontram sentido na estrada
e não nas linhas por si só.
fui e serei só,
e só sou só
porque dessa solidão
pode nascer a emoção
de me achegar ao outro
que também caminha sozinho.

I.R.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

quantos sou?

Foto: Beto Andrade

quantos sou (?)
é o que me pergunto...
e me reconheço frágil
ou me desconheço forte,
indo para o sul
sempre buscando o norte,
sou poeta e professor,
sou pai e filho,
irmão, amigo e amor,
sou palhaço
e o que não sabe o que faço;
sou vários,
mas não sou todos,
sou muitos,
e não sei tudo.
talvez não haja cadeira suficiente
para meus eus.

I.R.

sábado, 2 de agosto de 2014

visões do mesmo

Foto: Maria Cecilia S. Martins

o seu ângulo
não é o meu ângulo,
e o que você vê,
por mais que pareça
o que eu vejo,
não é o mesmo.
talvez seja impressão.
talvez? não.
é a impressão gravada em cada retina
do que capturamos no que vemos.
é a impressão digital intransferível
de que o mesmo
não é mesmo o que parece ser.

I.R.