domingo, 30 de dezembro de 2012

sequência

Foto: Santiago Plata

o tempo passa
as pessoas mudam
as pessoas passam
o tempo muda,
os anos não iniciam
nem acabam,
a vida segue
e nem a morte consegue
ofuscar a esperança.

o tempo passa
as pessoas mudam
as pessoas passam
o tempo muda,
os anos não começam
nem terminam
a existência prossegue
e antes de outra tempestade
sempre vem outra bonança.

I.R.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

o que planejo

tudo o que planejei
foi por acaso,
e o nascente e o ocaso
dos meus planos
seguiram cursos,
alegrias e desenganos
que nem o melhor estrategista
poderia desenhar.

tudo o que planejei
foi por acaso,
inclusive este verso,
pescado num berço singelo
na beira do mar.

I.R.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

carta e verso - 5 anos


de verso em verso
este blog se fez menino,
e aos cinco anos fala,
anda e se expressa
quase sozinho.

e se depende de mim
para continuar dizendo,
o que diz e disse
já não é meu.

é verso,
de um quase converso
é carta aberta a todos,
é um menino que gosta de brincar
e que hoje, em seu aniversário,
sorri.

I.R.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

fim do mundo

o fim do mundo,
o dia, a hora, o mês, o ano,
a data, enfim, do fim,
não é importante.

basta viver cada dia
(nem como o primeiro
nem como o último.)

basta viver cada dia
(como o único)

I.R.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

pré-natal

Foto: Marta Monaco

a manequim de braço dourado espera,
com a mão na cintura,
a hora de os clientes começarem a comprar.

do lado de dentro da vitrine,
a ansiedade e a vontade de ser comprado
só não se comparam
à avidez com que os compradores
se lançarão sobre qualquer produto.

do lado de fora, os consumidores,
prontos para consumir,
sabem que chegou a hora de comemorar
o nascimento do papai noel
regado a champanhe e pernil.

e a manequim sem cabeça, que não pensa,
presencia tudo isso
ao lado da manequim de braço dourado,
com a mão na cintura,
sem nada entender.

I.R.

domingo, 16 de dezembro de 2012

doce

Foto: Denise Mascarenhas

as dificuldades existem
e nem tudo é mar de rosa,
mas a vida, no ritmo da poesia
e com a pontuação da prosa,
só é amarga pra quem não sabe
agir com doçura.

I.R.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

28 vezes 13 a 5 de 2

Foto: Rubens Guerra

junto as minhas coisas
com as suas coisas
com as nossas coisas,
e ao pesar na balança,
sei que não juntamos
para acumular.

compartilhar é nosso verbo

e o amor que não se vende em lugar algum,
não nos faz um,
mas nos faz dois
unidos na diversidade.

I.R.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12-12-12

Foto: Luis Saraceni

um-dois, um-dois, um-dois,
no ritmo da marcha,
como o tique-taque do relógio,
o homem tenta dominar o tempo,
que marcha inexorável.

nem a velocidade do som
nem a velocidade da luz
se comparam à velocidade do tempo,
ao acontecimento que passa,
ao momento que corre,
ao instante que escorre,
à toque de caixa.

um-dois, um-dois, um-dois.

I.R.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

o outro e eu

Foto: Betina Dohmann Silbert

o outro está na minha frente.
mas de que lado estou,
e de que lado está o outro?
não vejo o outro ao torná-lo objeto,
não me vejo, ao me tonar coisa.

mas o outro está na minha frente
e estou de frente para o outro.

só que só há outro e só há eu,
quando aprendo a olhar
e a perceber que não sou banco,
mas estou sentado de frente
para o outro,
assim como o outro
se senta de frente para mim.

I.R.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

o tempo e a passagem

Foto: Igor Ravasco

a passagem do tempo
é um bilhete só de ida,
onde nossa essência atemporal
às vezes vai driblando
ou empurrando com rodinhas
as secas e temporais do dia a dia.

I.R.

domingo, 9 de dezembro de 2012

allium

Foto: Luis Saraceni

na réstia da parede,
não há uma réstia de sol,
mas há um resto de mim
que deixei ali pendurado.

a corda feita de palha,
não revela o palhaço que sou,
e o que olha meu olho
é o alho antes de fritar no óleo,
alioli com meus miolos,
enquanto meus pensamentos voam
em um balão de hélio,
que o resto da réstia da parede
já não pode olhar.

I.R.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

ontem... hoje...

Foto: André Bauduin

minhas ideias balançam,
enquanto meu corpo descansa,
fugindo do sol.
minhas ideias balançam,
e o que eu acredito,
e o que falo,
o que faço,
ou o que escrevo,
balançam junto,
sabendo que vivemos para brincar,
enquanto brincamos de viver.

I.R.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

sintomático

posso descrever um sintoma,
na busca de resolver um problema,
posso dizer o que dói,
posso apontar onde arde,
mas não me peçam
para descrever um sentimento.
pois os sentimentos se sentem,
e são impossíveis de se descrever.

posso dizer o que dói,
mas não explicar uma dor.
não posso descrever uma tristeza,
uma alegria ou uma emoção,
não posso descrever um sentimento,
uma sensação,
por isso não me peçam,
só me deixem sentir,
que isso não é pressentimento de nada.

I.R.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

individualidade

Foto: Jorge Simão Meira

nesta vida, só há uma coisa igual
para todo o mundo:
o fato de se estar vivo.
depois, todo o resto é diferente,
cada um tem sua história,
cada um tem seu banco vermelho-sangue
onde se sentar.

I.R.

domingo, 2 de dezembro de 2012

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

luz e estrada

Foto: Luiz Alfredo Ardito

a luz no fim da estrada
e a estrada mesma
não têm um sentido religioso,
nem místico,
nem sobrenatural.

mas a luz no fim da estrada
e a estrada mesma,
assim iluminada,
assim transparentemente iluminada,
trazem as marcas do natural.

e o natural é que a vida segue seu curso,
e o pensamento e o discurso
são caminhos com curvas,

e as marcas de pneu na estrada,
são a prova de que nada
é agora como um dia se conheceu.

I.R.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

siga a seta

Foto: Jose Roberto Magalhaes

se perdi o rumo
ou se perdi o prumo,
não foi por imprudência,
foi por pressa,
por impaciência,
por ter muitas alternativas
e nenhuma opção.

I.R.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

redes

Foto: Bikramjit Debroy

vivemos um mundo de redes
e a rede que conecta
não é a mesma que roda,
mas rede, enfim,
rodopia, gira,
e pesca,
uma música, um programa, uma foto,
uma amizade ou um problema.

eu não pesco,
e peco pouco,
porque minha rede não gira,
não roda, não rodopia,
balança, levemente, pra lá e pra cá
ao sabor da brisa.

e a rede, teia humana
segurança e fonte de alimento,

a rede também roda,
gira no ar
e cai no rio
ou cai no mar,
lançada
pela habilidade do pescador.


I.R.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

mera maré

Foto: Tato Souza

a mera menção da palavra arte
não é garantia de nada.
a mera menção da palavra mero
não é garantia de rede
ou de mesa farta.

a mera menção da palavra bênção
não garante a oração,
a mera menção de mencionar
não é garantia de não estar
em cima do muro.

e eu, marujo velho,
não devia,
mas me mareio
ao sabor da maré.

I.R.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

bate o sino









Foto à esquerda: Angela Zaremba                                                                                                                   
Foto à direita: Helo Von Gal

de perto ou de longe,
importa a distância?
a verdade nunca é uma só.
sempre existem, pelo menos,
dois sinos batendo,
cada um com seu tom,
cada qual com seu soar.

mas os desavisados,
aqueles que ouviram um sino tocar,
mas não sabem onde,
pegam o primeiro badalo que ouvem
e o declaram verdadeiro,
e o estipulam e o estimulam
como certeza,
verdade absoluta.

mas de perto ou de longe,
a distância só importa
para nos fazer ver e ouvir
vários sinos, vários badalos,
diversos tons, variados sons,
verdades várias
anunciadas por um
ou por muitos carrilhões.

I.R.

domingo, 18 de novembro de 2012

do andar


Foto: Leticia Gontijo

se caminhamos sozinhos
ou acompanhados
é uma decisão pessoal.

também se caminhamos,
é uma decisão
que depende de cada um.

mas caminhando ou parado,
com os pés retos
ou esticados,
o segredo da companhia
ou da solidão é sempre o mesmo...

a resposta não está na cor do sapato,
o mistério não está na forma do laço,
mas como fazemos a bainha
e se pisamos ou não na calça
enquanto andamos.

I.R.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

dar e receber

é dando que se recebe,
mas o que não se percebe
é que não se recebe nada em troca.
não existe troca quando se dá.

dar, ceder, doar, conceder,
é um ato de desprendimento
e desprender-se é estar livre,
e estar livre é o ponto de partida
para qualquer doação.

dar e ir além da dor,
doar comida,
dinheiro, roupa,
doar o próprio tempo,
ir contra a corrente
e contra o vento,
não receber nada em troca,
pois o que nos move e o que nos toca
não são as recompensas.

é dando que se recebe,
que se recebe a satisfação
pelo gesto de dar,
e por mais nada
pela alegria de doar,
e por mais nada.

I.R.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

de pedra

Arte: Caravaggio

a fama de uns
é o anonimato de outros.
todos somos iguais,
exceto na genialidade artística,
no que conhecemos
e no que sabemos ou não fazer.

a arte tem poderes petrificantes,
e os olhos arregalados da medusa
fazem com que suas serpentes
me deixem paralisado diante do seu sangue,
me faz um desigual
diante do seu retrato.

I.R. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

para m.e.l.

hoje é catorze,
mas não importa que seja catorze,
pois na verdade não é.
hoje é treze,
porque todos os dias são dias treze
e comemorar o amor não tem dia
nem hora nem lugar.
hoje é treze.
amanhã é treze,
e até o dia treze
é treze também.

I.R.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

mãos de fé


Foto: Jonas S. Medeiros

as mãos do homem de fé agradecem
antes de implorar.
as mãos do homem de fé louvam
antes de pedir.
as mãos do homem de fé
nem mesmo precisa rogar,
pois o home de fé sabe
que a natureza segue seu curso
e que deus não está mais no céu
do que no calor de suas mãos.

I.R.

sábado, 10 de novembro de 2012

o que não sou

não sou profeta
nem poeta,
menos professor.
pois não profetizo,
não poemiso,
não ensino,
mas desde menino
professo o amor.

não sou aquele que prometeu
nem sou aquele prometeu
porque nada prometi, nada roubei,
nem o fogo nem a água
e meu fígado não guarda mágoa
de nenhum abutre qualquer.

I.R.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

alternativas


Foto: Marcia Vasconcellos

o vazio e o sentimento de vazio,
o apego ao vazio,
e a dependência...
... da luz elétrica,
do celular, da internet...
o apego à rotina,
e a sensação de perda,
de ausência,
normalmente estão por perto
querendo nos abraçar.

mas a ausência pode ser só aparência,
algumas bicicletas não tem rodas
porque podem voar.

I.R.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

a invenção da roda


Foto: Cris Almeida

a roda da fortuna
às vezes traz miséria.
e a roda dos renascimentos
pode ser o consolo do apego.

há dor na roda de tortura.

a roda gigante, onde cada rodado
leva em si um sonho rodante,
para depois de algumas voltas,
mas a impermanência não é circular.

o homem não criou o círculo,
inventou a roda,
e agora a roda que o homem adora
nem sempre é redonda, mas retangular.

mas roda também é brinquedo,
é colorido folguedo, roda viva, ciranda,
travessura de criança anotada no rodapé.

I.R.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

iluminação


Foto: Denise Autran

as luzes dançam sobre nossas cabeças,
(iluminadas e avoadas...)

balões acesos iluminam nossos pensamentos
enquanto ouriços sem espinhos espetam nossas ideias,

(fiat lux)

dando à luz à nossa imaginação.

I.R.

domingo, 4 de novembro de 2012

minha pátria é minha língua

se minha pátria é minha língua,
e minha pátria é minha língua,
não sou brasileiro.

se minha pátria é minha língua,
e minha pátria é minha língua
sou quase português,
e tenho alma triste e melancólica do fado.

mas se minha pátria é minha língua,
e de fato minha pátria é minha língua,
não sou apenas português,
porque sou cabista...
"muita coisa".

e "ô êdja" se escrevo e não me entendem,
mas, "hã, que é", o poema sempre tem um quê de pessoal
e ininteligível.
"cala a boca"!
e se você, "galo", estava lendo o poema até aqui e desistiu
por não entendê-lo,
de fato você não entende nada...
"usca, diá!"

minha pátria é minha língua, "galo!"
"baca!"

I.R.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

asas e pés da liberdade


Foto: Jose Pedroso

um homem livre tem uma mente livre,
voa como os pássaros
e sonha como um homem.

um homem livre venceu o tempo
e nenhuma grade
foi grande o suficiente
para aprisioná-lo, sufocá-lo,
para torná-lo coisa.

um homem livre tem uma ação livre,
voa como os pássaros,
mas vive como um homem.

I.R.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

começou novembro

começou novembro de novo,
e novembro não é o mês nove,
assim como setembro não é o sétimo,
o oitavo não é outubro
dezembro não é o mês dez,
e a segunda, na prática,
é o primeiro dia da semana.

a quem importa?
vivemos assim a séculos
e a nomenclatura não faz o tempo,
e o tempo não importa.
o que conta é o que fazemos com ele.

I.R.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

noite das bruxas


Foto: Ilana Lansky

na noite das bruxas,
a lua cheia fabrica as sombras.

só acredito em gato preto
porque sei que eles existem,
mas são tão inofensivos
quanto os cachorros de mesma cor.

não acredito em azar
e menos em sorte.

passo por cima e por baixo de escada,
e só não quebro espelhos
porque dá prejuízo.

não uso figa, pé-de-coelho,
trevo de quatro folhas ou ferradura,
apesar de às vezes ser meio burro
ou meio cavalo, dependendo da ocasião.

não creio em olho gordo,
olho magro, olho de dieta,
nem em promessa, simpatia
ou superstição.

yo no creo en las brujas,
y sé que no las hay,
porque no las hay.

I.R.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

o que é real?


Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

onde está a realidade?
pois o real não está naquilo que se vê
nem naquilo que se pensa que se sabe.
porque nossos olhos nos enganam
e o que supostamente sabemos
chega até nós passando pelos filtros
do preconceito, das experiências subjetivas
e pelas máquinas de lavar cérebros das grandes corporações.

as grandes marcas, as grandes mídias,
o capital e o ego, geradores de medo,
o medo do diferente, a rejeição ao outro.

a realidade não está naquilo que se vê
nem naquilo em que se crê.

pois quem acreditaria que somos o sol e a sombra?
quem aceitaria que somos cavalo e cavaleiro?

o real é que somos todos,
e sendo todos, somos nenhum.
somos um.


I.R.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

para passar


Foto: Luis Jungmann Girafa

dizem que se deus fecha uma porta,
abre uma janela.
mas não acho que deus seja engenheiro,
arquiteto
ou engenheiro.

nós abrimos e fechamos nossas portas,
nos trancamos e arrombamos nossas janelas,
construímos nossas paredes.

o mundo segue seu curso.

queremos passar pela porta paredão?
não esperemos um milagre,
usemos uma marreta.

I.R.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

imagens


Foto: Marta Monaco

nem sempre sabemos o que vemos.

olhamos por um espelho,
vemos uma vitrine?

vemos um reflexo,
olhamos uma foto em movimento
ou é a realidade congelada?

quem somos nas esquinas,
o que fazemos na rua campinas?
porque sorrimos,
ou não sorrimos e estamos com a língua para fora?

o que vemos, o que sabemos,
o que somos?

cabem muitas respostas
nos olhos e na boca de nosso interlocutor,
desse com quem falamos, desse que nos vê,
desse que está do outro lado...
ou da mesa,
ou do vidro,
ou do espelho.

I.R.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

alfinetes


Foto: Mete Baskoçak

quando a boca não pode dizer,
os olhos gritam.

olhos que podem falar de amor
ou de alegria,
também berram tristeza,
melancolia.

o nariz que respira profundo
não fala.
as mãos que amparam,
que sustentam o mundo,
não gemem,

os olhos que veem
são os mesmos que choram.
os olhos que imploram,
são aqueles que dizem,
mas se não podem falar por si sós,
só dizem que eu penso que querem dizer.

I.R.

domingo, 21 de outubro de 2012

a arte


Foto: Murilo VS

se vemos o copo
meio cheio ou meio vazio,
se temos ideias próprias
ou terceirizamos o que pensamos,
se a felicidade é algo pessoal
que se desenvolve dentro
ou se vivemos descontentes
ancorando uma dependência fora,

ter ou ser?

a vida é uma arte.
a arte de encontrá-la
e agarrá-la com as duas mãos,
ou com uma só,
ou com as pernas,
ou com a boca, na ausência total de membros.

a vida nunca é como o ego pensa que deveria ser,
pois se fosse ou se um dia chegar a ser,
o ego arma sua teia e nos engana
para querermos o que não somos.

ser ou ter?

a vida é uma arte.
a simples (ou complexa)
arte de segurar o rojão.

I.R.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

vida de quadrinhos


Foto: Daniel Araújo

viajar no metrô apertado,
andar de ônibus lotado,
seres humanos cara a cara
sem nada a dizer...

fazer fila de 40 minutos,
50 minutos, uma hora,
não saber o motivo da demora...
fila no banco,
fila no mercado,
fila para esperar o transporte lotado...

a internet fora do ar
o celular que não tem sinal,
seres humanos longe a longe
sem nada a dizer,
nem mesmo por sinais de fumaça.

ladrões de colarinho branco
e batedores de carteira,
o roubo é flecha certeira,
só não sabemos de onde vem.

essa é nossa aventura diária
na selva de pedra encantada onde sobrevivemos.

a esperança é a última que morre,
mas enquanto ela não morre
e renasce no próximo número,
sempre há um novo dragão cuspindo fogo
que vem para nos desesperar.

I.R.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

para termos um mundo melhor...


Foto: Angela Zaremba

não basta plantar uma ideia,
é preciso plantá-la,
colocá-la ao sol
e regá-la de vez em quando.

não basta semear ideias.
é preciso plantá-las,
cuidá-las em suas diferenças
e regá-las com sua própria constância.

não basta enxertar ideias,
porque mais do que plantá-las,
colocá-las ao sol ou regá-las,
é preciso calçarmos nossas ideias plantadas
e sairmos por aí...

reflorestando o mundo.

I.R.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

cri-ar-te


Foto: Daniela Zuim

fazer arte é trabalho
e trabalho sério.
ensaio,
rascunho,
treino,
técnica,
e a própria entrega
da própria alma,
para que o espírito da arte
mostre sua vida,
e ensine,
divirta,
emocione,
transforme.

fazer arte, trabalho sério...

fazer arte é pôr a própria cara
a serviço da criação.
é nos olharmos no espelho
e não nos vermos,
mas vermos o criador.

I.R.

sábado, 13 de outubro de 2012

dois e dois


Foto: Marta Monaco


o amor não tem descanso,
tem dedicação.
tem todo dia
o dia todo,

saudável sensação.

e mesmo no desentendimento,
o amor não é sofrimento,
é gozo, aprendizagem,
é cuidado e não descaso,
é amanhecer e é ocaso

amar é ser.
e ser é viver o amor em abundância.

I.R.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

só o silêncio


Foto: Vicente Sampaio

no solo árido
não existe consolo
para a falta de chuva.

caminho seco,
trilha de pedras,
o sol queima plantas
e ideias...

a solidão do homem
na aridez do solo
é só parte da estrada.

o último trem já passou.

no solo árido
não existe lágrima
para a falta de consolo.

no solo árido,
a lágrima do homem
é uma gota que evapora no ar.

I.R.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

paralelas


Foto: Denise Autran

caminhos paralelos,
texturas paralelas,
para onde vamos?

caminhos para ler,
textos para parar,
paralelismo onde somos.

como paraquedistas em queda livre,
a terra é o limite.

caminhos paralelos,
texturas paralelas,
diversidade...

... a possibilidade
de múltiplas leituras,
e a inevitabilidade de o paraquedas
um dia não abrir.

I.R.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

maratona


Foto: Jose Pedroso

uma filha corre paralela ao pai.

vai correndo e vai crescendo,
vai crescendo e se desenvolvendo
a filha que brotou no pai,
o amor do pai por sua filha...

universos paralelos,
mar de rosas,
caminho de pedras,

uma filha corre paralela ao pai,
um pai, depois da pausa da foto,
corre paralelo à filha.

I.R.

domingo, 7 de outubro de 2012

luz de artifício


um mundo de luz e sombras,
sombras entre sombras e luz,
luz entre luz...
fogos de artifício caindo
sobre as águas tranquilas do paraná.

e eu, evitando maniqueísmos,
me escondo na sombra
me deixo iluminar na luz,
e explodo no céu,
como cascata dourada
que sabe que só pode ser muitas
se for uma só.

I.R.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

realidade


Foto: Fernando Dassan

a realidade só é real quando a vemos
com nossos olhos,
não por olhos alheios.

o real dá trabalho,
e é mais fácil terceirizar do que se envolver.

realidade: conjunto de notas musicais
ensaiadas com esmero e aprendidas com paciência.
(tocar de ouvido não nos aproxima.)

realidade: novela de ficção-científica,
confundida com livro de auto-ajuda.
(literatura de cordel, sim. mas as bulas de remédio
não podem nos dar uma ideia do que seja.)

o mundo só é real quando o vemos com nossas cores,
quando pintamos nossos quadros,
nossas sombras
e nossas imagens refletidas.

isso não significa que a realidade seja real.
isso não que dizer que o real seja verdade.

mas é nosso.

I.R.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

da rua


Foto: Ricardo Aprigio Fonseca

o verso de pé quebrado
ou a rima pobre,
a falta de ritmo...

o lugar comum.

falta de talento,
elogios vãos,
o descompromisso...

o senso comum.

pois a anti-estética
é caixa vazia,
e porque vazia
é que pesa mais.

I.R.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

para sophia



o homem não é bom nem mau,
mas todos os dias nos desviamos do caminho.

buscamos fama, poder, dinheiro,
queremos glória
e alimentamos nosso ego
com altas doses de biotônico,
dizemos e escrevemos palavras vãs,
sílabas vazias,
massa sonora inerte e inútil,

mas retornar é possível.
reviver nosso lado humano,
buscar o conhecimento,
ser amigo da sabedoria.

nascemos sem conhecimento disso.
mas antes de nos encontrarmos,
devemos crescer e nos perder.

seja bem-vinda!

I.R.

Poema para minha sobrinha, nascida hoje, 01/10.

domingo, 30 de setembro de 2012

espejito, espejito


Foto: Marcia Minillo

lo que vemos es lo que vemos,
no lo que es.
porque a lo que miramos, 
más que un filtro,
le ponemos un espejo.

así, a través de nuestro espejo
fragmentado en miles de partes,
vemos lo distorsionado
que creemos (o queremos) real. 

y lo que vemos y juramos real
es la realidad de lo que nos venden
verdad empaquetada, reflejada
en hermosos espejitos de colores.

I.R.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

malabarismo


Foto: Madalena Simoes

troca de gentilezas,
intercâmbio de farpas.
troca de favores,
intercâmbio de ideias.
a arte do escambo.
ser que vem, ser que vai,
o olhar posto no outro
e a consciência de si mesmo.
concentração e destreza
e a possibilidade no erro
de começar de novo.

I.R.

sábado, 22 de setembro de 2012

balança


Foto: Neta Dekel

fora de mim há uma sombra,
que reflete a mesma sombra que há em mim

dentro de mim há o bem e há o mal,
um anjo e um demônio,
enquanto vivo,
enquanto existo e sou...

... sou uma balança.
em cada mão um prato onde peso
a bondade e a maldade gerada,
o que pesa mais e me pende o braço,
o que faço no mundo,
o que construo pelo mundo
e como o conserto... ou o estrago.

I.R.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

felicidade


Foto: Jose Pedroso

com as mãos para o alto
e a alegria que emana pelos dedos
como raios rumo ao céu...

com os braços erguidos,
expressão de contentamento,
forma de expansão do homem ao todo,
a esse tudo que também é nada...

braços para cima
e mãos dadas,
dedos entrelaçados,
e um sorriso que ilumina o mundo,
como um relâmpago...

felicidade:

a sabedoria de viver sem nenhum porém.

I.R.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

conversa de luz


Foto: Paulo Mittelman

uma luz conversa com outra
na presença de testemunhas.
duas portas fechadas não entendem
o que se fala de ondas e fótons,
não entendem a velocidade
dos diálogos, 
mais rápidos que o som
de quando um vento as fecha,
batendo com força.
não entendem a força
das ideias que iluminam a noite.
uma luz conversa com uma luz
e ambas alumiam, resplandecem,
com intensidades diferentes,
sob a presença muda de duas portas azuis.

I.R. 

domingo, 16 de setembro de 2012

nada como o lar



Foto: Adriano Mello

o lar é um estado do coração
que independe dos tetos,
porque nasce dos afetos,
e cresce além de quatro paredes.

nosso lar ou nosso ninho,
independe de uma telha,
pois nasce de uma centelha
de amor ou de carinho.

e nasce, e cresce, e voa,
muito além de quatro paredes.

I.R. 


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

cabeça de ano

um ano termina
e outro começa.

contagem do tempo circular.

o sangue que circula nas minhas veias
as batidas de meu coração,
e o oxigênio que entra e sai,
em constante renovação,
contam o que não se pode contar,
o que não se pode medir.

o que quero,
o que já não quero,
são parágrafos nas páginas do meu livro.

um novo ano começa
é hora de reinterpretar os parágrafos anteriores,
momento de ressignificar cada ponto, cada vírgula,
cada ponto e vírgula dessa história
que ainda está sendo escrita.

I.R.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

25... ou 762...


Foto: Jose Pedroso

a vida não passa, ela é vivida.

e com esse espírito,
o que são os dias,
o que são os meses ou os anos?

25... ou 762 ...
um ano bissexto
18 mil horas,
o que importa?

a contagem do tempo
é areia que escorre, e nada mais.

o que importa são os momentos,
importa você, importo eu,
juntos exportando a alegria da caminhada,
fazendo de um arco-íris
o nosso pacto de amor.

I.R.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

na velocidade da luz


Foto: Adriano Mello

momentos de angústia
ou horas de escuridão,
minutos de ausência de ideias
ou instantes em que temos um branco...

até que numa fração de segundo,
num de repente, 
uma ideia. 

de repente uma ideia,
de repente uma luz.

de quem é o dedo que aperta o interruptor?
somos livres para gerar e usar nossa energia?

de repente uma ideia
de repente uma luz.
fiat lux,
eureca!

numa fração de segundo,
num breve toque no interruptor.

I.R.