segunda-feira, 28 de julho de 2014

do humano

Foto: Letícia Gontijo

maior do que o céu
ou do que as montanhas,
maior do que a maior façanha,
é o coração do homem.
que pode ser bondoso,
generoso e compassivo,
e pode ser sádico, opressor
ou permissivo.
repleto de contradições.
nesse vale de escolhas e eleições,
o coração do homem
é um espaço infinito.

I.R.

domingo, 27 de julho de 2014

perguntar

Foto: Alisson Fernandes de Aguiar

a cor reflete o preto e branco
ou o preto e branco reflete a cor?
a pergunta que não se repete,
a pergunta para se transpor
e não se chegar a uma resposta
é uma luz disposta
a iluminar alguma noite fria.
responder escurece,
não esclarece, nem determina,
perguntar ilumina,
em preto e branco ou a cores,
onde somos os atores
de nossas várias questões.

I.R.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

sopro

Foto: Jane Rosa Cassol

na borda da música o mundo,
dentro do som,
mais do que o dom,
o tom de uma realidade,
não de um sonho.
no sopro da nota
o espírito abre a comporta,
e não importa se em bemol
ou sustenido,
importa sentir o sol
e descobrir o sentido
de que só vale a pena estar vivo
pela própria vida em si.

I.R.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

invasão dos homenzinhos vermelhos

Foto: Simão Salomão

pare,
e se possível não repare
nem olhe.
a força que tolhe
é a mesma que coage.
e se o espírito não age
não é por falta de querer.
se todas as setas apontam
para um único caminho
talvez seja melhor
furar o bloqueio
e embicar sozinho,
sem receio,
para onde me proíbem ir.

I.R.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

náufragos

Foto: Marlyn Tows

somos náufragos
em uma ilha deserta
dividida com bilhões de pessoas.
e em nosso desespero
jogamos garrafas ao mar
com pedidos de socorro,
esperando que um super herói
venha nos salvar.
só que os heróis só existem
no cinema ou nos quadrinhos...
estamos, mas não somos sozinhos,
e é preciso agir.
não podemos esperar
uma dessas garrafas chegar até nós.

I.R.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

antes do tempo

Foto: Suzane Grangeiro

não é verdade
que morremos quando chega a hora.
não é verdade nem certo,
nem justo.
a fome, o fanatismo,
o ódio, a ganância e a guerra,
postos acima da vida,
matam sem vencedores nem vencidos,
num mundo faminto de comida
e de justiça social,
um mundo sedento de água e de ética,
ao qual tapamos os olhos.
pelos mortos e pelos vivos,
acendo velas e me entristeço,
pois reconheço
que foram embora cedo demais.

I.R.

terça-feira, 15 de julho de 2014

dialogal

Foto: Teresa Oliveira

não se trata do que se vê
ou de como se é visto.
mas entender o que se ouve
sem se ver
saber o que houve,
e o que haverá,
depois de ouvirmos isto.

I.R.

domingo, 13 de julho de 2014

um para quatro ou quarenta e sete

a gente se reinventa
e se gosta e se perdoa
e se aposta e se quer.
esticando fronteiras
e encontrando maneiras
visuais, táteis e dialogais
de nos buscarmos mais.
e depois de um abraço apertado,
ficar juntos, lado a lado,
nos reinventando,
sendo,
até dormir.

I.R.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

multissetas

Foto: Mariana Topfstedt

as setas não indicam todos os caminhos,
há tantos caminhos
que nem todos podem ser indicados.
e o indicado?
de novo... há tantos...
quanta pretensão, quanta soberba
se escondem atrás do pronome "este".
por trás "deste", um poder hegemônico,
por trás "deste" um uni-pensamento asfixiante,
castrador, sectário e intolerante,
por trás "deste", a condenação
ainda que subliminar,
dos que escolheram ficar à margem.

I.R.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

olho no olho

o olho no olho vem nos mostrar
que tudo depende do olho que olhamos

é no olho no olho que devemos aprender
a hora de deixarmos de nos ver
para enxergamos o outro.
é no olho no olho que o outro, enfim,
deixa de ser um pedaço de mim,
assim como deixo de ser um pedaço dele.

é no olho no olho que se aprende a ser,
que se molda o ser que escolhemos,
segundo o espelho que escolhemos.
é no olho no olho do espelho
que me conheço e me reconheço,
e não esqueço que ao olhar de novo,
sempre verei um novo eu refletido ali.

I.R.

*Em parceria virtual com Júnior Carriço.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

às margens do tietê

Foto: Hélvio Romero

até o que parece feio,
até o que parece sujo,
até o que parece concretamente duro
traz a beleza em seu íntimo.
até onde a vida parece sem cor,
até onde dizem que não há amor
e o viver passa veloz pela pista,
é questão de ângulo, ponto de vista,
horário ou lupa,
a beleza está sempre aí.
o belo, o colorido,
revitalizam o olhar dolorido,
é só preciso ser preciso na mira,
é no olho no olho que se aprende a olhar.

I.R.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

é preciso

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

estamos todos no mesmo barco,
nesse barco que chamamos vida,
nesse barco que se divide
em pequenos barquinhos,
variados, diversos, individuais
e idênticos barquinhos,
onde remamos sós,
e não nos aventuramos só pela aventura,
mas pela ventura de parar num cais,
as vezes que quisermos,
antes de seguir navegando.

I.R.

terça-feira, 1 de julho de 2014

brincando

Foto: Jose Pedroso

o cais que invento
é brinquedo contra o caos,
e só me sento
porque sinto
que já não estou aqui.
talvez vá no barco,
simbad singrando os sete mares,
sozinho, sangrando novos ares,
talvez esteja na montanha,
montado num sonho bom,
domando uma nuvem, quem sabe?
não sei.
talvez eu seja um peixe
que saiu do fundo das águas,
para brincar de ser gente.
quem sabe?
talvez eu.

I.R.