quinta-feira, 30 de outubro de 2014

anticíclico

a vida é um ciclo,
as fases da lua,
a rotação, a translação,
o universo também...
dias, meses, anos, séculos,
o tempo é um ciclo...

só o poder criador do homem
pode ir além desse círculo vicioso.

I.R.

domingo, 26 de outubro de 2014

tirando a máscara

a ditadura em que vivemos,
aquela que não percebemos,
é a prisão nossa de cada dia.
é não sabermos quem somos
e onde queremos estar.

a outra ditadura,
também real,
é aquela que prende,
tortura, degrada,
é aquela que mata.

se você a defende,
se candidata a repressor
ou prefere terceirizar?

I.R.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

balão de hélio

Foto: Paolo Silva

não tenho a pretensão de sê-lo,
não sou o sol,
só o levo como um balão de hélio,
carro de apolo
como um passeio de bicicleta.

em meu passado tupi-guarani
astro-rei, nascido anjo,
findado grande,
agora, disco de prata,
manso como um rio.

não lhe confiro poderes mágicos,
nem lhe confio minha vida,
nem rá, nem mitra, nem hórus,
o sol nasce pra todos.

carro de apolo,
como um bom passeio de bicicleta.

I.R.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

livre circulação

se me divido em muitas gavetas,
em múltiplas prateleiras,
em um sem-fim de compartimentos
com espaços e medidas desiguais,
ilusão de ter tudo separado,
organizado,
delimitado por fronteiras,
não percebo nesses limites,
que meus eus não precisam de passaporte,
eles vêm e vão, sem visto de entrada
e sem tratado de extradição.

I.R.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ósculo

Foto: Sandra Santos

o beijo furtivo da arte
apoiando o beiço em quem passa,
enquanto olha para outro lugar,
é como um beijo tímido,
mas decisivo.
um beijo rápido, talvez,
mas carregado de paixão.
o beijo da arte,
à luz do dia e a céu aberto
é sinal de que é preciso estar desperto,
pois doce, veloz e molhado,
esse beijo surpreende um bocado
e chega quando menos se espera.

I.R.

domingo, 19 de outubro de 2014

ordem e progresso

Foto: Luiz Cavalli

a desordem pode não ser a resposta,
mas a ordem imposta,
traz em si a marca da intolerância,
da intransigência e da ditadura.

o progresso egoísta,
destruidor da natureza e do homem,
é um retrocesso fantasiado de positivo.

o amor não cabe nas bandeiras,
porque as bandeiras não unem,
dividem e reúnem subdivisões
em nome de nacionalismos alienantes.

meu verde e amarelo
poderia ser preto e branco,
cinza e marrom, roxo e rosa
multicolorido.
nenhuma cor me define,
eu mesmo me defino
ao fechar meus olhos,
ao me olhar no espelho.

o progresso que quero,
e a ordem que espero,
só podem chegar
em mundo onde a única fronteira
é o respeito pelo outro.

I.R.

sábado, 18 de outubro de 2014

vulto de mel

Foto: Jacqueline Hoofendy

podemos guardar
ou preservar,
festas e alegrias
sofrimentos e horrores,
momentos...
os que quisermos,
as que escolhermos,
aquilo que sentirmos,
em fotos e cartazes,
pendurados nas paredes da nossa vida.

mas nada do que vivermos é estático,
pois viver é mel que escorre,
é vulto que passa,
corpo que um dia morre,
embora registre e repense
em frágeis luzes sólidas
o que vamos vivendo por aqui.

I.R.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

creá con lo que ves

Ilustración: Flor Gri

tal vez una cerca viva de espinas desarmada
sea reflejo de como nos desarmamos,
porque no queremos hacer daño.

tal vez una mezcla de ideogramas,
pero no de ideas,
sea representación de lo mucho que me gustaría decir,
pero no debo, no puedo, o incluso a veces no quiero.

borrón y cuenta nueva,
garabatos sin conexión aparente,
laberinto enmarañado, telaraña vacía...
dejémonos llevar,

las manchas no nos dirán siempre lo mismo.

I.R.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

suave na nave

Foto: Seba Aprovechala

suave, na nave,
se dedilham histórias,
na nave suave,
com penas e glórias
nascem versos
a clarice e à lua,
aos calangos, a charly...
e uma saudade de tango,
percorre seus caetanos,
seus lenines.

suave na nave,
se evoca uma rave,
um guião que pulsa,
no compasso da nave
que navega no cabo,
que cabe em cada palavra,
de toda tradução
de cada poema
ou de todo mistério
em que se puder dedilhar.

I.R.

domingo, 12 de outubro de 2014

viela

Foto: Luiz Alfredo Ardito

mil olhos que a veem passar,
a caminho de algum lugar,
olhos que veem, coração que sente
e boca que sorri,
calçada que se enche de cor,
mil olhos que ainda não falam de amor,
mas que sorriem
enquanto ela passa
cheia de graça, a caminho de amar

I.R.

sábado, 11 de outubro de 2014

debruçado

Foto: Gabriel Bianchi

no descanso nem sempre há descanso,
no patamar alcançado,
no caminho descascado,
um olhar vazio olha o vazio
e nem sempre sabe por onde seguir.

I.R.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

intolerância

há um cheiro de intolerância no ar,
de prepotência,
de não aceitação das diferenças.

o debate vira desqualificação,
uma ideia "é" verdade,
não opinião,
e o respeito se mostra (talvez) teórico,
mas longe da prática.

há um cheiro de intolerância no ar,
há um clima de discórdia,
quase belicoso...
me belisco
por se for um pesadelo,
mas estou acordado.

será?

I.R.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

insight

Foto: Jacqueline Hoofendy

bebendo na fonte cristalina
de onde a luz emana,
me abstraio em lucubrações filosóficas
e percepções visuais.

improviso,
como se fosse músico ou poeta,
improviso porque uma janela aberta
pode ser um caminho
quando as portas se fecham.

I.R.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

banda sonora

Foto: Ximena Echague

mientras caminamos
tratamos de poner música a nuestra vida,
sintiendo los acordes que llenamos de sentido,
y armamos nuestra banda de sonido
sin darnos cuenta
de que a veces hay que improvisar.

la pauta de lo que tocamos
no siempre se encuentra en las partituras.

I.R.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"pimba no brain"

Foto: Jose Pedroso

parece que estamos todos acorrentados,
mas eu não diria acorrentados,
parece que estamos todos conectados,
unidos de alguma forma,
como conexões cerebrais,
axônios e axiomas
à serviço de um todo ramificado,
onde o dano ou a tempestade cerebral
é se sentir separado do tronco,
é se sentir só no inverno
sem a esperança de que na primavera
juntos nós faremos sombra.

I.R.

domingo, 5 de outubro de 2014

giratório

Foto: Leonora Fink

não se trata de tristeza
ou de alegria
mas de metáfora, de alegoria,
já que nem águas
nem ventos passados
movem moinhos.
e talvez os moinhos sejamos nós
aprendendo a mover nossas pás,
não monstros
contra os quais imaginamos lutar.

I.R.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

dar adeus

ele deu a deus
um adeus definitivo,
mas não há adeuses
aos deuses infinitos
se os afirmamos com a ação.
vivo, morto,
não importa,
nem a fé nem a ciência
valem mais que a consciência
e se o próprio deus se dá adeus
e só nos resta a arte,
ao fazermos nossa parte
existe algo sem fim no meio de nós.

I.R.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

carpediniano

não existe o poema definitivo
nem o verso definitivo
e o amor-perfeito é apenas uma flor.

é de imperfeições que vivemos a vida.

não existe o roteiro sem rasuras,
transitamos um rascunho
que vai sendo reescrito a cada cena.

I.R.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

investigando

Foto: Jacqueline Hoofendy

a lupa que você usa para me ver
não chega nem perto
do microscópio que uso em mim.
vejo poros e plaquetas,
virtudes e defeitos
e os efeitos de uma tosse
que é quase um moto-contínuo.
essa lupa que me espia enquanto vou,
não vê a metade do que sou enquanto venho.
mas lupa e microscópio se usam de perto.
há quem tente me ver com binóculos,
ou com telescópios,
tendo que adivinhar suas conclusões,
sem perceber a delicadeza das minhas rugas
e a beleza das minhas marcas de catapora.

I.R.