terça-feira, 30 de abril de 2013

iguais

Foto: Tania Dubois

o vento que bate na parede
levanta meu cabelo pintado...
e minhas ideias,
entre choques e serpentes,
se perdem no indefinível do meu olhar.
sinto sede de camelo
e a brisa que arrepia minha pele
não sopra.
estou pintado como cada fio,
curtido com o leito do rio,
meu cabelo não nega,
mas só diz entre filamentos
as verdades que revela o vento.
são todos iguais.
somos todos iguais.
a ventania bate na minha parede
e já não posso ser mais o mesmo.

I.R.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

barquinhos de papel

Foto: Stefan Patay

colocamos nossas certezas
e apostamos todas as nossas fichas
em coisas vazias.
criamos ídolos,
e quando não os criamos,
então cremos nos já pré-existentes.
não vamos contra a corrente,
mas descemos o rio em barquinhos de papel,
sem perceber que na fragilidade da embarcação
se encontra a resposta para a própria viagem.

I.R.

sábado, 27 de abril de 2013

imensidão

Foto: Simão Salomão

a vastidão do mar nos recorda o infinito,
e  a pequena faixa de areia que pisamos,
essa que nos dá uma segurança ilusória,
é testemunha de nossa história
em nossa busca pela eternidade.

e se nadamos em mares errados,
ou se mergulhamos num pequeno pedaço de areia,
talvez seja porque nossa veia corra como um ampulheta.

não estamos sós.
nunca estamos sós...
ou só estamos sós
quando perdemos a noção de que não somos eu.

a vastidão do mar nos recorda o infinito,
e as pequenas ondas nos mostram como é bonito ir e vir.

I.R.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

ser ou não ser

ser ou não ser
é sempre a questão.
até onde chegamos
ou do que abrimos mão?

se não ser é o caminho fácil,
não é fácil ser coisa.
mas não percebemos que ser coisa é não ser.

ser ou não ser
é sempre a questão.
e a pessoa que não se questiona
está a caminho da ilusão.

entre o iludido e o iluminado
há um abismo
que só pode ser atravessado
quando somos.

não tenho respostas para minhas dúvidas.
mas tenho dúvidas para todas as respostas que posso dar.

ser ou não ser
é sempre a questão...
questão de atitude,
questão de postura,
declaração de identidade,
existência em afirmação.

I.R.

terça-feira, 23 de abril de 2013

a vida é bola

Foto: Francisco Alexandre Alencar

voando,
boiando,
em ação
no ar ou no mar,
como a achatada onde vivemos
ou a de fogo da qual dependemos.
a vida é bola
e viver é circular.
e nessa circunferência
a única ciência,
nosso maior inconveniente,
é saber como jogar.

I.R.

domingo, 21 de abril de 2013

arte em branco

Foto: Magdalena Roseler

a arte de um quadro em branco
é como um livro que podemos escrever
como uma vida que podemos pintar,

a arte de um quadro em branco,
nem abstrata ou moderna,
não é um picasso ou um dali,
um da vinci ou uma anita,
um quadro em branco, mas não vazio,
é um universo de possibilidades
é um descobrir sensibilidades,
é uma tábua de salvação.

um quadro em branco é pura arte,
é o todo visto em parte,
é aprender a domar o pincel
e ser pintor e ser painel,
criador e criatura,
pintor e pintura,
um quadro em branco é a dúvida
de viver e se saber em formação.

I.R.

sábado, 20 de abril de 2013

chuva em sampa

Foto: Luis Fernando Rabatone

correr na chuva e manter a elegância
em cima do salto...
o sol nasce para todos,
mas a chuva fria,
morna,
a chuva ácida
é privilégio de poucos.

no guarda-chuva talvez haja uma mensagem,
enquanto no coração do homem habita um deserto.

correr na chuva e manter a aparência
em cima do salto,
com a vida aparecendo de assalto
em forma de gotas.

I.R.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

fadado

Foto: Jose Pedroso

não acredito em fadas,
mesmo que meus olhos a vejam.
e se meus olhos a veem,
então não acredito nos meus olhos,

mas se por entre as grades da ilusão
meus olhos veem fadas,
talvez seja a hora
de eu fechar as pálpebras
ou as cortinas

ou talvez seja o tempo
de abrir os olhos um momento
e compreender que se percebo as fadas
é porque a vida que antes era foda,
agora é sonho.

e se a vida é sonho
e a fada está em foto,
eu já não noto o que não percebo
não ligo ao que não recebo
e não falo do que não acredito.

I.R.

terça-feira, 16 de abril de 2013

fonte

Foto: Lena Maia

somos feitos de água,
em um planeta de água,
cercado de terra por todos os lados.

mais do que um balé,
precisamos de malabarismos
para driblar as correntezas.

entre colunas líquidas,
desafiamos em clave de break dance,
com a mão na massa molhada,
às águas em calmaria,
paradas, estacionadas,
causadoras de doenças.

lutamos a favor dos ventos
para que espalhem gotas de nós
e gritem por aí o que ouvimos
em forma de sussurro.

I.R.

domingo, 14 de abril de 2013

mito à contra luz

Foto: Simão Salomão

somos somente sombras do que somos
e andamos por aí fazendo mímica.

somos as sombras
que víamos nos espelhos da caverna.
somos um mito.

fogo fátuo,
sol de brinquedo,
somos um arremedo

esperamos o entardecer
para acendermos as luzes
e sermos sombras iluminadas.
esperamos o sol se pôr
para supor que iremos nos ver.

I.R.

sábado, 13 de abril de 2013

trinta e dois ou dois e oito

o querer estarmos juntos
não é uma verdade revelada,
mas é um estado que releva
buscando valorizar o relevante.

sem revelações,
o caminho são as ações,
as pequenas mudanças,
os pequenos gestos que se tornam grandes.

o querer estarmos juntos
é um contrato de amor entre as partes,
sem renovação instantânea.

não queremos um amor de piloto automático.
é bom quando cada um pega no volante.

I.R.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

legado

Foto: Ricardo Aprigio Fonseca

o que sou, o que fui,
o que serei.
e o que não serei, não sou
ou não fui,
mais o que poderia ter sido,
e o que talvez tivesse sido,
ou o que talvez seja,
o quem dera fosse
o quando for
e o secreto talvez já tenha sido,
são apenas uma parte
do intrincado de raias
por onde nadamos todos os dias
numa experiência de distância indefinida,
cujo final será sem troféu, sem medalha.
nada. nada além da certeza de se ter vivido.

I.R.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

a menor distância

Foto: Cesare Salvadeo

a menor distância entre dois pontos
não é uma linha reta.
e o mesmo banco que nos une,
também nos separa.
a menor distância entre os seres humanos
não é um banco em linha reta,
nem as águas doces de um rio,
nem o salgado das lágrimas ou do mar.
nossos barcos não deveriam ter âncoras.
nossos olhos deveriam saber interpretar o infinito.

I.R.

terça-feira, 9 de abril de 2013

vade-mécum

Foto: Marcelo Isidoro Alves

ré...
vê...
ou revê o horror
sem acentos ou com espaços
a imaginação abre seus braços
e a mente não desmente o que lê.

por onde for quero ser seu par,
mas se fico de costas
pra você ou para o mundo,
não construo uma solução.

domingo de 7 às 16
em 1897,
ou 1953...

por onde for quero ser seu par,
e de par em par rever o horror
para acentuar a vida
e diminuir os espaços,
de frente para o mundo.

vida plena,
não um prêmio de consolação.

I.R.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

fim do túnel

Foto: Esther Toledo

para quem tem fé no que faz,
não há uma luz no fim no túnel.
a experiência da travessia,
a aprendizagem do caminho,
fazem do túnel o espaço a ser
transitado, habitado, percorrido.

para quem acredita no que faz
o fim do túnel não é de luzes,
pois o túnel já é iluminado,
e brilha e irradia,
é todo caminho de luz,
um túnel inteiro que não tem fim.

I.R.

sábado, 6 de abril de 2013

stand up

Foto: Márcio Pimenta

o amor romântico não existe
fora das páginas dos livros.
o que não significa
que não exista amar.
na dinâmica de conversar,
de exigir e de ceder,
de ganhar e de perder
ou de perder para ganhar
as relações crescem...
depois das tempestades
os barcos viram pranchas
navegando num espelho d'água,
com uma equação de equilíbrio.

I.R.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

como livre é sonhar

Foto: Simão Salomão

o combustível mais barato
para viver outras vidas
e habitar outros mundos é o sonho.
talvez sonhemos demais
e já seja hora de acordar.

tatuamos profetas ou deuses,
uma massa de cabelos e rugas,
e carregamos esse peso
como uma asa quebrada
que nos faz voar em círculos.

dormimos como anjos caídos
atropelados pela ganância do lucro,
e não apoiamos a cabeça
em um travesseiro de penas...
nossa consciência é pesada
pelo pesadelo de nossos iguais.

I.R.

terça-feira, 2 de abril de 2013

na liberdade

Foto: Simão Salomão

vivemos atrás das barras da escravidão
barras que pintamos com sangue,
que lavamos com suor,
e ainda não sabemos que não nos libertaremos
em alta velocidade.

a libertação é um processo lento,
é a coragem de subir nas barras,
e dar um salto à estrada de nosso caminho.

há muitos caminhos,
sempre há muitas rotas.
podemos seguir a de todos
num esforço morno de liberdade...
podemos viver nossa rua,
e descobrir na seta reta
todas as sinuosidades e curvas
que nos tornam livres.

também vivo atrás das barras vermelhas da escravidão,
mas reteso o arco para atirar minha flecha.
.
I.R.