sexta-feira, 28 de julho de 2023

policromia

a vida é uma viagem
onde só temos passagem de ida,
onde tudo é passageiro,
transitório,
e onde transitamos
amarguras, amores e problemas
entre risos e abraços,
choros e poemas,
no quebra-cabeça de fazer a nossa mala.
amá-lo, amá-la...
é preciso coragem,
vivenciar a vertigem,
enfrentar as dores que nos atingem
botar o pé na estrada
colorindo nossa existência...

mas é preciso paciência.
...

vamos um dia de cada vez.

I.R.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

ábaco

a cabeça do poeta faz cálculo com as palavras,
e se palavras não são números,
são inúmeros universos,
incalculáveis interpretações...
calculo verbos, pronomes, conjunções,
conjuro substantivos em vez de equações,
equaciono períodos compostos,
equilibro apostos,
e não aposto nos vocativos
ou nos períodos simples.
e falo das coisas, talvez de mim,
não como operação aritmética,
evitando a arritmia e a homilética,
me apoiando nos dicionários...
mas não escrevo diários.

quando termino, o poema é teu,
e eu já não tenho nada a ver com isso.

I.R.

quarta-feira, 19 de julho de 2023

meu coração

tenho um coração
que não sabe de distâncias,
não mede centímetros
milímetros e quilômetros,
não conhece tamanhos,
hectares, acres e alqueires.
tenho um coração que segue o sol,
que nasce na paraíba e se põe no acre,
um coração sem lacre,
onde a luz que o ilumina,
e clareia a negridão da noite
também o desbota.
tenho um coração que não sabe
da dicotomia do doce e do amargo,
mas da luta entre o suave e o rascante,
tenho um coração itinerante
que não sabe de saberes,
mas se entrega entre sabres e sabores

I.R.

quinta-feira, 13 de julho de 2023

sabor do vento

liberdade, quero sorver-te,
como sorvete na casquinha,
sentando na calçada,
esperando um trem
que não tem hora pra chegar. 
liberdade, quero abraçar-te, 
como arte atemporal, 
temporal de fótons, 
fotos em pose, polaroides, 
selfies de posse de um sorriso, 
de quem chega sem aviso
sem correntes nas mãos. 
liberdade, quero-te, 
recatada e erótica,
prática e teórica, 
energia eólica soprando onde quer. 
mas, liberdade, não venha... 
pode deixar que eu vou

I.R.

terça-feira, 11 de julho de 2023

costões rochosos

ela se diz doidinha e eu discordava,
mesmo sabendo que todos
somos e devemos ser um pouco.
então tá, ela é doidinha,
e é garcinha,
não pela garça,
mas pela graça de brincar.
ela é caos e ocaso,
amanhecer e calmaria,
cal viva e mar, marejando vida,
mexendo comigo nas minhas vivências,
no decorrer dessa viagem...
onde vou e venho, onde ia e vinha,
texto de reticências...

o que são as entrelinhas
senão a própria mensagem?

I.R.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

ciclos

uma ideia que se descola
e se desloca,
que requer escola,
sequer escolha...

escolha livre o que é que se quer.

a ideia não é a louca,
é a que aloca,
pipoca de sal e doce...

decida no malmequer.

uma ideia que não se idealiza,
pois a consciência está na pergunta
na dúvida que se realiza
na forma total como se pôs...

o que vem após?

I.R.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

gris

um céu cinza
de uma manhã cinza,
com um coração cinza,
que segura com pinça
o cinzel que entalha...
o desejo que se retalha...
ah, o desejo,
o que vejo, o que interpreto,
a ânsia, o longe, o perto.

talvez a resposta esteja no mar
onde desaba a tempestade.

I.R.