sábado, 29 de novembro de 2014

vulcão no leito do mar

Foto: Frank Rustad

lá no fundo do mar comprido,
ladrilhei uma calçada de mar,
fiz uma ciclovia com pedrinhas de brilhantes,
conchas, búzios,
e não fugi do canto da sereia...
uma melodia alegre, profunda,
cheia de cicatrizes,
que inunda a alma e a veia
com sua voz doce.
lá no fundo do mar,
na calçada do mar
onde a onda quebra,
a sereia fechou sua janela,
mas sentou na porta,
de costas pro mundo
e de frente pra vida,
olhando pra mim...
pra ver a lava passar
cantando coisas de amor.

I.R.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

do amor

Foto: Jacqueline Hoofendy

há um momento em que os escombros
são só restos em pé sem sentido,
e o que está construído
é só o chão de um céu
que não interessa alcançar.
há um momento em que o olhar
é amor e é respeito...
é entrega...
a câmera que se estende
é o próprio coração que se dá.

I.R.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

na bomba

Foto: Silvio Dutra

não é uma questão
de mais ou menos paciência,
nem de conveniência ou não.
o brilho mágico só acontece
quando o tanque está cheio,
e cada motor sabe
que combustível lhe convém.

I.R.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

montanha-russa

Foto: Marlyn Tows

a vida não é uma montanha-russa,
as reviravoltas são diferentes,
os altos e baixos
nem sempre são conscientes,
o carrinho sempre volta ao lugar de partida.
a vida, definitivamente,
não é uma montanha-russa...
os loopings do viver não têm um risco calculado.

I.R.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

obra-prima

Foto: Keila Figueira

não é fácil saber quem somos
nem o que queremos,
mas talvez estar enquadrado
nos limites de uma moldura
não nos faça obra de arte.
é preciso romper o esquema perverso
que nos deixa sentados
olhando um nada
que nos cala, nos sufoca,
é preciso superar o cerco
onde nos alienamos.
não é fácil saber quem somos
ou o que queremos.
ninguém disse que seria.

I.R.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

a vida num filme

Foto: Vicente Sampaio

nem todo açúcar é doce,
ou toda pureza é branca,
nem todo ser humano
é tratado com respeito,
nem toda criança
é tratada como criança.
e nas leis do capitalismo selvagem,
quando parece que a boia será quente
e haverá dignidade,
o caminhão que levava para a exploração,
agora leva para a negação
da própria humanidade.
e as máquinas que fazem o trabalho de mil,
escondem os homens para fora do canavial.

I.R.

domingo, 16 de novembro de 2014

mestizo

no toque da percussão
nasce a fusão,
axé, flamenco, rumba,
fusões que rumam
e arrumam a casa,
coração que bate,
pulsação.
no toque da percussão
o sonho de um blues,
em frente ao mar azul,
pulso baqueta,
diapasão.
no toque da percussão,
a mistura se fez música,
se fez arte,
fez do inteiro só uma parte
e repercutiu entre nós.

I.R.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

ciclovida

Foto: Felipe Scapino

não se trata de dinheiro,
todos temos o pé rachado
e a sandália usada.
as plásticas apenas escondem as rugas
que temos sob nossa pele
todo tênis de marca,
salto alto ou sapato italiano se gasta,
todo chinelo se consome
pelo uso ou pela ação do tempo.
não há tempo a perder,
cada pedalada traz em si
a necessidade de pedalar,
onde pedal, guidom, quadro e freio
(nada bonito e nada feio)
adquirem em momentos diferentes
a mesma vital importância.

I.R.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

da terra

Foto: Stanley Wagner

nem sou pescador
nem sou peixe.
não sou gaivota
nem turista.
não sou filho da terra,
de uma terra onde não moro,
mas sei que é minha,
sempre será,
por escolha, por eleição.
talvez a praia grande não saiba,
mas talvez ela sinta,
que este filho pródigo,
que se foi sem nunca ter ido,
está por chegar.

I.R.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

mapeando

Foto: Jacqueline Hoofendy

talvez tudo seque
e esta seja a chave
que já não abrirá uma porta sequer.
a água seca
cria rachaduras,
levanta e se faz deserto,
terra seca, contorno de continente,
um mapa sem litoral.
a moda ao sol também seca,
assim como o coração.
mas se eu quero abrir a porta,
mas se eu quiser encontrar a chave,
ou se ainda quisesse mergulhar no mar azul,
precisaria de uma demão,
de um motivo,
necessitaria um anticorrosivo
para desoxidar a corrosão.

I.R.

domingo, 9 de novembro de 2014

ferramentas

Foto: Charles Lab

às vezes,
antes de dar o passo seguinte,
é preciso aprender o passo anterior.
caminhar, navegar, voar, pedalar,
não digo cada coisa em seu lugar,
pois viver é administrar contradições.
sonhar é bom,
mas se o quisermos real
temos de conhecer as ferramentas,
temos de abrir o final

I.R.

sábado, 8 de novembro de 2014

sala de espera

Foto: José Carlos Eustáquio

nem a mão amiga
nem a pedra,
nem o escárnio
ou uma carícia,
nem o dinheiro
nem um favor,
um elogio
ou um beijo de amor...
não espere nada de ninguém.
anime-se ao primeiro passo.

I.R.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

namoradeira

Foto: Paula Ganeme

talvez a namoradeira não saiba
que não existe príncipe encantado,
que ele foi inventado,
pra manter um esquema de dominação.
mas se ela sabe,
e apenas quer
o mesmo que o parceiro quer,
se ambos entendem que a perfeição é um mito
e que não há príncipes nem princesas
nem sapos nem realezas,
é porque se entendeu que o papo
desde o princípio é entre humanos,
passíveis de erros possíveis,
dispostos também a falhar.

I.R.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

palma da mão

Foto: Soninha Coelho

nem batida nem tirada,
apenas realizada,
feita como um portal.
viajo à pindorama,
volto à praia da rama
que américo pisou.
ida e volta em filamento,
uso a máquina do tempo
pra rever outro arraial.

I.R.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

esqueleto

Foto: Simão Salomão

é de linhas
e entrelinhas
que se faz um andaime,
e que se chega às estrelinhas.

é de texto e subtexto
que se escreve um código urbano
vívido no contexto da amizade,
vivido como um pretexto
para subir a um suposto nada.

pois o nada,
mais que suposto, é porto,
onde me comporto
não como querem,
mas como quero,
é caminho de andaime,
é carinho de estrelas
são linhas e entrelinhas
unidas numa 'desestrutura' em sintonia.

I.R.

domingo, 2 de novembro de 2014

burbujas

Foto: Jesús Caño Benito

las burbujas son espejitos de colores
que nos saben cautivar.

nos atrapan con sus tonos,
con su brillo,
con su aspecto sencillo...

trampa en forma de juego,
belleza a la que luego, consciente,
uno simplemente la quiere reventar.

I.R.

sábado, 1 de novembro de 2014

halloween de santos finados

nem todas as bruxas,
nem todos os santos,
nem todos os mortos,
podem endireitar caminho tortos
ou enganar com seus encantos,
pois nem todo morto,
nem todo santo,
nem toda bruxa,
entende que o que puxa
à outra dimensão
nem sempre é a razão,
mas o sentimento,
que assim como o vento,
pode ser uma brisa
ou pode ser um tufão.

I.R.