sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

tribunal

Foto: Jota Semeraro

o grafite que informa,
não se conforma
em ser só uma foto.
e num tom profético,
não sei se ético,
se autoabsolve
integrado nestes versos.

I.R.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

efeito

Foto: Luis Saraceni

na certa,
a única certeza
que podemos ter,
é a incerteza;
que traz certas lembranças,
que lembra nossas marcas.

caminhamos sobre cicatrizes,
as que abrimos
e as que nos são abertas.
as que abrem novas portas
aquelas que acariciamos no espelho...

I.R.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

unidos

Foto: Hélvio Romero

uma mão lava a outra
e várias empilhadas,
com sonhos apertados
e o sono da vida mal dormida,
vão juntas...
ao trabalho,
para casa,
pela vida,
por aí.

I.R.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

aquela que dói

Foto: Denise Mascarenhas

peguei aquela saudade,
aquela que dói na alma
ou no osso,
desci as escadas,
no final do corredor,
no fundo do poço
abri a porta
e a guardei ali.
não para esquecê-la,
para cuidá-la,
para vivê-la,
em cada passo dado,
em cada pontada,
em toda palavra escrita,
vida vivida
sob o mistério da poesia falada.

I.R.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

submundo

Foto: Simão Salomão

as mãos sujas,
o cabelo sujo,
o metrô sujo
e os passageiros
com cara de poucos amigos.

a cara suja,
os dedos sujos,
o vagão sujo
e os passageiros
viajando ao som limpo do sax.

I.R.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

physical grafitti

Foto: Hélvio Romero

ao sermos iguais
é que somos diferentes,
cada um é cada qual.
abertos, fechados,
mudados,
a meio abrir,
preto, branco,
vermelho, amarelo.
a roupa que nos distingue
também pode nos unir.
e quando vêm a ilusão
de nos ver idênticos,
é hora de apurar a vista
e descobrir que cada mancha nossa,
nessa parede coletiva,
é única.

ao sermos iguais
é que somos únicos.

I.R.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

quando elas não vêm

e quando elas não vêm?

quando não vêm
porque estão presas,
quando não vêm
porque não se estruturam
em uma massa sonora conexa
ou coerente?
quando não vêm
porque não são necessárias?

nem toda lembrança
precisa delas...
quando a própria lembrança
existe, resiste,
nos cinco sentidos.

e quando elas não vêm?

folhas brancas servem
para fazer aviões de papel.

I.R.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

quarenta e dois vezes treze

ampulheta,
clepsidra,
relógio de sol,
de corda,
digital
e atômico,
calendário maia,
solar, 
lunar...
contamos o tempo.
mas melhor é viver
(comigo e com você)
escolhendo todo dia.

I.R.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

crucifigere

Foto: Alberto Cardoso

a ganância que gera a miséria,
a injustiça que nos embrutece,
a indiferença...
não criamos máquinas de crucificar,
mas aperfeiçoamos o sistema
para fazermos com o mínimo de remorso.

I.R.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

saudade que gosto de ter

a saudade que eu gosto de ter
é o cheiro do pãozinho
da terra de vitorino carriço.
saudade de andar de mãos dadas
com os sonhos da juventude,
e com as frações de chocolate.
a saudade que eu gosto de ter
é a de declamar cecília meireles,
saudades antigas e recentes,
amigas e latentes,
da praia linda, da vila verde,
a saudade que eu gosto de ter
mora em mim,
não tem fim,
mas nasceu na terra de vitorino carriço.

I.R.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

pretensão

gostaria de ter a velocidade das libélulas
e a liberdade das pombas brancas,
um símbolo de paz...

mas minha guerra é diária.

I.R.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

arrasto

Foto: Iram Rubem Brandão

me jogo.
sem cuidado com a segurança,
e nem sempre com perseverança,
mas com a severidade
desses segundos perversos.
me jogo,
formando um mosaico
me lanço arcaico,
sem a certeza de o paraquedas abrir.

I.R.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ao poetar

preso em versos repetidos,
amarrado nas mesmas ideias,
perdido em em meus desejos,
o poema não flui.

busquei um soneto,
tentei uma rima,
mas perdi o fio da meada
no meio do labirinto.

nem dédalo nem ícaro
nem ariadne nem teseu
podem derrotar meu minotauro.

os versos estão perdidos
e os pedidos não param de chegar.

I.R.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

de ponta cabeça

Foto: Marta Monaco

sou o pássaro que voa
de cabeça pra baixo,
quando a vida se reflete no céu.
não existem águas tranquilas,
há sempre uma tempestade,
um tsunami num copo d'água
escondida numa calma aparente,
enquanto o céu reflete, repete
e copia o que vê.
é difícil ser livre,
e é impossível não me repetir.
então voo de ponta cabeça,
vou e venho viajando por aqui.

I.R.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

abrigo

Foto: Ricardo Prado

às vezes é preciso criar uma bolha
onde morar.
um mundo feliz,
justo,
pessoas que se respeitam,
e ainda que não se amem,
não fazem ao outro
o que não quer que lhes façam.

bolhas de sabão...
nos livros, nos filmes,
na nossa mente e no nosso coração,
que não mente sobre o que não é,
mas que sonha.

criamos refúgios,
mesmo que frágeis
até sem entender
que para essa bolha crescer
a força não está nos céus,
mas ao alcance de nossas mãos.

I.R.