sexta-feira, 30 de julho de 2010

ofício

o vivido e o não,
a experiência própria e a criada,
necessidade mental e física de escrever.

com ou sem forma,
com ou sem verdade,
entrelinhas, subtexto, invenção...

não me procurem apenas no que escrevo.

longa vida aos poemas
longe de quem os escreveu.

poetar: estado limite,
fronteira sem necessidade de passaporte
entre a graça divina e a maldição.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

karma

nem boas nem ruins,
ou boas e ruins ao mesmo tempo.
boa sorte, má sorte,
quem poderá dizer?
a vida é cheia de surpresas,
a vida é cheia de consequencias.

ação e reação movendo a roda.

I.R.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

malandragem

na batida do samba,
no ritmo da percussão,
no sabor do som, nossas bocas
se procuram e se encontram,
se conhecem e se descobrem,
enquanto nos apresentamos
como se fosse a primeira vez
e reaprendemos a saber quem somos.

I.R.

sábado, 24 de julho de 2010

ciclo


Foto: B.L.R.

sólo el sol
y la soledad
pueden cambiar
los destinos
de un ser humano.

I.R.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

meia, meia, meia

nem tudo tem solução
ou remédio
ou paliativo,
nem tudo se resolve
nem tem meia solução.

não acredito em meia intenção,
as intenções se não são plenas...
são falácias,
premissas falsas,
miragem no deserto.

não acredito em papai noel,
não deixo meu sapatinho
ou minha meia na janela
esperando um presente.

outra noite sonhei com a morte,
duas vezes na mesma noite,
mas não me assustei.
não morri.
e se morri,
renasci das cinzas
de dois pacotes de lucky strike.

I.R.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

the end


Foto: B.L.R.

nesta vida em que tudo passa
não sou quem para esperar eternidade.
eterno é o momento que flui
eterno é o instante, o fragmento,

é terno o fim
tanto quanto o durante,

e é passageira a eternidade
em barcos sobre o rio da prata.

tudo é passageiro
e toda dor passageira
é eterna como a imagem
de um pôr-do-sol.

I.R.

sábado, 17 de julho de 2010

menu a la carte

às vezes o corpo,
não, o corpo não,
a cabeça...
às vezes a cabeça pede um pouco de ácido
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acetilsalicílico.

I.R.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

linha curva

a distância entre o sim e o não
é uma estrada de 'se' e 'talvez'
o limite entre a loucura e a sensatez
é essa distância entre a calma e a ânsia
e o que nos distancia
é o que é.
e o que não é.

a reta talvez seja o caminho mais curto entre dois pontos,
mas o meu é curvo,
longo e sinuoso,
o que somado à minha bagagem,
ora pesada, ora leve,
faz com que poucas viagens sejam fáceis
neste meu fusca 75.

I.R.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

de poeta e de louco

não sou um, dois, cinco ou dez,
sou centenas, sou milhares,
pois há muitos eus convivendo
nem sempre em harmonia
dentro de mim.

eus que não estão separados
e que às vezes agem hora um, hora outro,
mas quase sempre agem juntos,
se entrechocando,
como os carrinhos de um parque de diversões.

em mim co-existem pessoas, personas e personagens,
há um tímido, um extrovertido,
um professor,
um poeta,
um babaca, um pai,
um filho da puta
e um inseguro que busca um pouco de afeto.
há um velho, uma criança,
um namorado, um leitor,
um tranquilo e um ansioso
e um romântico cheio de afeto para dar.
há tantos e talvez tão poucos...

em mim, resistem ideias e se combatem conceitos,
se perdoam pecados e se acumulam defeitos...

em mim habita a esperança que o mim se estilhace
em milhares de mins
e que os eus espalhados fertilizem o solo,
priorizem o todo,
e eu não seja único nem o único a pensar assim.

I.R.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sem título

não há lugar para as metáforas
nem para as comparações
o poema deve ser simples
objetivo, direto,
dizer apenas
as penas ou os amores
que a gente sente
que às vezes a gente sente
sem lugar para as comparações
ou metáforas
simples no formato
complexo no abstrato das entrelinhas

I.R.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

flower power


Foto: B.L.R.

uma bomba de formas e cores,
cai em mim numa explosão de aromas
durante um ataque sensorial.

um míssil de dimensões suaves,
queima em minhas mãos,
entra por meu nariz e meus poros,
fazendo arder os meus olhos
e o meu coração.

as flores mortas fedem
e as de plástico não têm vida.

é preciso seiva,
é necessário ser da seiva
para que um dia a selva de pedra
venha a sucumbir.

I.R.

domingo, 4 de julho de 2010