quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

amarelinha

Foto: Ronaldo Nacarati

talvez a gente não perceba
que chegar ao céu
não é importante...
talvez seja hora apenas
de saber brincar,
talvez nos levemos a sério demais
e nos atribuamos importâncias
e pedestais sem sentido...
talvez nos preocupemos demais
com o céu,
esquecendo que o importante
é o caminho, o pé no chão,
é aprender a pular
sem perder o equilíbrio,
é saber avançar
sem deixar a pedrinha cair.

I.R.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

memórias

Foto: Jacqueline Hoofendy

leio notícias velhas,
porque o tempo não passa rápido
nem passa devagar,
o tempo apenas passa,
e me aproprio dele
em cada presente que vivo.
e em cada experiência,
em cada café que não tomo,
em cada verso que não escrevo
ou em cada cigarro que não fumei
um segundo transcorre,
as coisas que não escolhi
ou as que escolhi não viver
também são parte de mim.

I.R.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

no parque

Foto: Jorge Alberto Soares

nem tanto ao mar
nem tanto à terra,
nem oito
nem oitenta,
caminho do meio.
e se é bom aprender
a pular as poças,
é necessário saber
que às vezes
vamos nos sujar.
equilíbrio,
jogo de cintura,
impulso.
é preciso saber balançar.

I.R.

domingo, 27 de dezembro de 2015

Carta e Verso - 8 anos


este texto autorreferente
não é diferente de outros
que escrevi,
este rascunho
é um testemunho,
um diário
da vida em movimento.
com doses de realidade,
com toques de ficção,
onde mostro uma fração
do que estou sendo,
do que penso
e do que engano
no correr desses anos,
num armar e desarmar planos...
o jogo continua,
até quando não sei,
até quando quiser...
enquanto escrever for bom,
vou adiando a bola oito.

I.R.

sábado, 26 de dezembro de 2015

o que fingimos não ver


a falta de amor,
mais do que o ódio,
explicam o que é hoje
o trabalho servil.
o amor ao dinheiro,
a ganância,
a adoração ao lucro,
explicam, mas não justificam,
nos dias de hoje,
a escravidão.
isso não se chama carma,
mas falta de dignidade humana,
e não é da vontade de nenhum deus,
mas é nossa conivência,
que preferimos olhar para o lado,
que tapamos o sol com a peneira
e enchemos a boca
pra falar de 'amor'.

I.R.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Outro mito natalino

Era uma vez Papai Noel, nascido em algum lugar do Polo Norte, não se sabe exatamente se na Finlândia ou na Noruega, exemplo vivo de um milagre. Nasceu velho, como Benjamin Button, mas não ficou jovem à medida que o tempo passava. Jamais foi criança. Diz a lenda que quando nasceu se alimentou de leite de renas, o que lhe deu superpoderes.

Não se sabe exatamente quando nasceu, mas os seres humanos viram nele uma espécie de santo, de messias, de deus e começaram a lhe fazer pedidos por carta, sentados em seu colo e, mais recentemente, pelo whatsapp para serem realizados entre 24 e 25 de dezembro, dia em que se comemora sua existência.

Há quem peça por saúde, pela paz mundial e como seu dia está perto do último dia do ano, há quem aproveite e peça por uno novo ano melhor. Há quem peça bicicletas, bonecas, bolas e videogames. Os poderes do velho Noel são quase infinitos, mas arraigadamente capitalistas. Noel é uma espécie de deus do consumo, maquiado com uma coisa chamada espírito natalino, que vende uma fraternidade e um amor que, muitas vezes, dura até a necessidade do primeiro envelope de antiácido.

Há quem fale de um tal Jesus também, mas acho que a ideia de um cara que ganha presentes, em vez de dar presentes não vai funcionar muito bem. E só mesmo um ser divino para aguentar o calor tropical vestido de roupa de frio e coturno sem derreter.

Ho Ho Ho,

I.R.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

costura

Foto: Lassina Badolo

entre as coisas que falo
e os textos que escrevo,
estão as coisas que sinto
aberta ou veladamente...
está tudo o que vivo.

colcha de retalhos,
de um ser cheio de falhas,
que sabe que costurar
não é exatamente o seu forte

I.R.

domingo, 20 de dezembro de 2015

dos sentimentos

às vezes uso palavras
pra dizer que não tenho palavras,
mas não posso usar o sentimento
para dizer que não sinto,
pois tudo é sensação
ou sentimento
e ao que sentimos
não se necessitam palavras,
apenas sentidos.

I.R.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

ao encontro

Foto: Ana Galano

uma pedra ao lado da outra
forma um mosaico,
constrói um calçadão.
enquanto o mar de areia da praia
é feito de grão a grão.
gota a gota nasce um oceano,
sob o céu que é,
sem precisar de um plano,
nem de um pano de fundo...
amar não deveria ser profundo,
é necessidade básica,
a base de onde podemos construir.

I.R.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

leitor

Foto: Miguel Côrte-Real Matias

quero ler os cometas,
declamar as estrelas
e interpretar os planetas.
desejo recitar os mistérios da natureza,
decorar os mapas e os planisférios,
desconstruir os mitos,
entender o infinito...
entender? infinito?
preciso aprender o beabá
e o alvoroço
de minhas próprias entranhas.

I.R.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

monumento

a humildade,
ao passo que a humanidade caminha,
deveria ser preocupação de todos.
enquanto passamos,
à medida que passeamos,
deveríamos nos reconhecer humanos
e abraçar essa não divindade que somos
em nome de cada um e para todos.
não se trata de passividade,
mas de luta.
muito menos de agressividade,
mas de respeito e justiça...
para todos, não só para mim.
também estarei disposto
a descer de meu próprio pedestal?

I.R.

domingo, 13 de dezembro de 2015

acontecer

Foto: Jacqueline Hoofendy

dedilho nossa verdade
como quem toca
uma melodia
nas cordas de aço...
componho um espaço,
meio dueto e meio solo
nessa sinfonia...
sou aranha de jardim
tecendo sobre teia usada,
sou aranha ausente,
tecendo num jardim
de um éden inventado,
pois não há paraíso possível,
só a música...
dedilhada nas cordas de aço,
nascida como um longo abraço,
café da manhã do amanhã de nós dois.

I.R.

sábado, 12 de dezembro de 2015

ele e eu



há um pouco de mim nele
e um muito dele em mim,
mas nem sou ele,
nem ele sou eu,
assim como já não sou eu
e nem ele é ele...
momentos congelados
de um passado diferente,
genética e vida,
presente reatualizado,
atualidade de um futuro
que só ganha sentido
e significado
ao se tornar (ou ao se saber)
presente.

I.R.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

paraquedas

Foto: Laura Mancini

talvez tudo seja risco
e o que chamamos
de traço fino do artista
não passe de rabisco
feito por mãos que pouco tremem.
talvez tudo seja risco
e os que temem
sair da zona de conforto
para viver o traço torto,
não percebam que reto
não é sinônimo de certo
e o incorreto
pode ser o paraquedas aberto
em nossa descida.
talvez tudo seja arisco
e o desejo de não seguir à risca
nenhum roteiro
entre uma piscada e outra.

I.R.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

resistência

Foto: André Lucas Almeida

a violência chega em forma de pé,
calçado, lustrado,
armado e investido de autoridade.
violência que ultraja o sonho,
e vandaliza a realidade.
violência paga,
autoridade de sicários,
que, sem argumentos,
mas de armas na mão,
lançam bombas de efeito moral,
reflexo imoral
do governo ou do poder
que representam.
a violência pisa, machuca,
conivente com quem a autoriza
e com aqueles que se calam...
porque muitos de nossos pés,
impolutos,
estão em cima desse pulso,
que insiste, valente,
estuda,
toma porrada,
e resiste...

I.R.

sábado, 5 de dezembro de 2015

mar

Foto: Antonio Carlos Silva

vou ao mar
como quem vai
à fonte da juventude.
me lanço ao mar
como quem
não confia no destino
e se vê um menino
que só quer ir pescar.
me dirijo ao mar,
como quem abraça a vida.
amar,
verbo transitivo,
por onde transitam meus sonhos,
minhas utopias...
amor,
e a paz que se aproxima
querendo pousar.

I.R.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

caleidoscópio

Foto: Hudson Modesto

ver a realidade por um tubo,
no fundo de um triângulo de espelhos,
num jogo de reflexos,
mas sem aceitar
que as miçangas coloridas
que vemos ou que nos dão
são a verdade.
mudamos de ideia,
trocamos de discurso
erigimos e destronamos
nossos deuses
com a velocidade do raio de zeus,
e um leve girar de pulso...
sentimos a pulsação
em seu máximo por minuto,
vida na veia,
a realidade caleidoscópica
pode durar uma fração de segundo.

I.R.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

jogo de linhas

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

há quem caminhe na vertical,
há quem prefira a horizontal,
mas nem todos os caminhos
levam a roma.
há quem não siga um padrão,
quem ande na diagonal
em ziguezague,
há quem divague,
e mesmo tentando a contramão,
nem todos os caminhos
chegam ao amor.

I.R.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

bifurcação

Foto: Eduardo Lisker

chega um momento
em que os caminhos se dividem,
e as simbioses se desfazem...
um filho que cresce,
um amor que termina,
uma ideia que germina,
uma separação...
a chegada da morte,
uma mudança de norte...
bem me quer
e me mal me quer.
um mundo paralelo
de possibilidade infinitas
entre as coisas que são
o que ainda não é
e aquilo que não foi.

I.R.

sábado, 28 de novembro de 2015

na ponta dos dedos

Foto: Danilo Caymmi

os degraus não são iguais
nem têm a mesma cor
e não importa o material,
ou seu formato,
mas o seu conjunto,
formando uma escada.
há uma vida,
uma existência velada,
há uma comunidade,
um mundo
a se redescobrir...
há metáfora,
quase deixando de ser,
nessa escada,
que nem sobe nem desce,
mas inerte,
espera ser um caminho...
talvez de transformação.

I.R.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

abrindo os ouvidos

Foto: Ronaldo Nacarati

o surdo marca o passo
como um marcapasso,
corrigindo o coração,
e eu caminho o calçadão
um caminho sonoro,
som primitivo
convocando à resistência,
repensando a consciência...
surdo que abre os ouvidos,
e que nos arrepia,
comunicação tribal,
além de qualquer música.

I.R.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

questão de ótica ou ética

Foto: Rafael Rezende

se as pessoas se detestam
e  a vingança é moeda corrente,
se o ódio pelo diferente
é o tom da conversa
e a ordem inversa
põe a indiferença como valor,
não me desculpem,
prefiro ir na contramão.

I.R.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

falta

Foto: James Patrick Suplicy Conway

o que nos trava,
ou o que nos impede,
aquela dificuldade
que ninguém pede...
a barreira
não está onde pensamos,
mas no lugar em que queremos.
posta na frente,
disposta atrás,
saindo do meu campo de visão,
batendo em retirada...
enquanto pego na veia,
com o peito do pé.
um chute forte,
rumo a um norte
que não sei qual é...
uma bomba,
que não sei
se vai se transformar
em gol.

I.R.

domingo, 22 de novembro de 2015

escancarar

Foto: Jacqueline Hoofendy


tem dias que não quero conversa
e abomino bate-papo...
dias amargos,
tardes cinza,
modelo antissocial.
mas tem dia,
ah, tem dia...
que escancaro a janela
como quem abre o melhor
ou o maior sorriso,
como quem perdeu o juízo,
e a partir de agora é o próprio sol
de meio-dia.
e falo, gesticulo,
abro os braços,
envolvo o mundo em meus abraços
e ultrapasso a linha da mediocridade,
aquela que quer apontar o que é loucura
aquela que querem impor como sanidade.

I.R.


quinta-feira, 19 de novembro de 2015

como peter pan

 Foto: Apolo Salomão Sales

independente de quanta poesia,
apesar de tanta filosofia,
apesar dos pesares
ou de tanta erudição,
às vezes não passamos de crianças
em nossas emoções
num sem fim de interações
divinas e humanas,
em nossos dramas...
de vez em quando somos crianças
presos a uma falsa segurança,
enganados pela ilusão
de não querer crescer.

I.R.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

uma pitada de fé

Foto: Lily da Silva Prado
 
tenho uma fé diferente,
que desanima,
mas é persistente,
tenho uma fé utópica.
de que não olharemos
por cima ou através dos muros,
que só separam,
sem nos deixar seguros...
tenho fé em derrubá-los.
muros escorrendo pelos ralos
de um mundo novo,
sem divisões, sem divisórias,
uma nova história,
uma humanidade una com a natureza
e, nas diferenças, unida entre si.

I.R.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

desânimo

pouco e nada inspira
enquanto o mundo
lentamente expira.
talvez a arte se retroalimente...
não sei.
tem dias que a humanidade me desanima,
mas não considero deus
uma resposta satisfatória.

I.R.

domingo, 15 de novembro de 2015

não se trata só...

não se trata só da frança,
nem só do líbano,
não se trata só de mariana,
de israel ou da palestina
do iraque ou da nigéria,
se trata da miséria...
da ganância,
das armas, do tráfico,
do pequeno fanático
que todos carregamos
dentro de nós.
se trata do coração do homem,
e do dever de casa,
que cada um poderia fazer.

I.R.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

derivaciones de un rostro

Foto: Duda Firmo

no somos uno,
sino miles,
porque somos múltiples,
polifacéticos,
contradictorios.
somos poéticos,
románticos o patéticos,
lectores medios y mediocres.
y en nuestros rostros
traemos las marcas
de nuestras derivaciones.
sonreímos y lloramos
como variaciones
sobre un mismo tema,
porque sabemos
que el verdadero anatema
es creerse una unidad.

I.R.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

guerra e paz

se não atiro a primeira pedra,
não é por ser puro
ou livre de pecado.
se procuro não revidar,
isso não significa que
aprendi a dar a outra face.
não sou santo
nem penso que sou napoleão.
mas cinquenta por cento de paz,
sempre é mais tranquilo
que cem por cento de guerra.

I.R.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

a um passo

 Foto: Rachel Louback

dar um passo
rumo ao desconhecido
é embarcar na descoberta
do conhecimento...
um passo difícil,
incômodo,
que nos faz confrontar
nossas verdes verdades
pré-estabelecidas,
nossa suposta maturidade,
imatura,
nosso não saber
de que nada sabemos.
corpo e mente em movimento
dando um passo à incerteza,
onde não existe uma área de conforto.

I.R.

domingo, 8 de novembro de 2015

qual bolha

Foto: Luis Saraceni


escrevo
uma história que se acopla
a outra história,
experiência gregária,
formação da memória...
vida volátil
que voa ao sabor do vento
ou talvez das marés
imprevisível como bolha de sabão.
vou nesse voo sem escala,
colorido, caloroso,
que cala no fundo do peito,
vou, mesmo sem jeito,
me solto no mundo,,
vou brincando... vou brincar...
até a bolha explodir.

I.R.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

connivencia

si me callo,
lo acepto...
si no grito
o no digo,
si no pregunto
y no hago valer mi voz,
lo acepto.
y si lo acepto,
aunque mucho me moleste,
soy cómplice de toda esta farsa.

I.R.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

bolshoi

Foto: Jacqueline Hoofendy

no exercício do olhar
damos sentido ao passado,
interpretamos o futuro,
e reconhecemos fragmentos da realidade
nos roteiros que escrevemos...
por isso na ponta do pé da bailarina,
as piruetas já não têm calos nem dor,
mas emanam calor,
música, movimento, emoção...
e rodopiam no coração da bailarina,
como uma  folha que se estiliza e que se afina,
num emaranhado de ramificações.

I.R.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

contraposição

Foto: Binno Frann
 
gostaria de poder ver
as coisas com tranquilidade
e essa paz que hoje não sinto.
não ponho o acento na tristeza,
mas não vejo a beleza do natural,
nem a lagoa azul,
nem o céu de brigadeiro,
apenas a simplicidade perdida,
o incômodo primeiro,
aquela estranha espinha de peixe
atravessada na garganta,
que se multiplica por mil.

I.R.

domingo, 1 de novembro de 2015

no cimo do silêncio

Foto: Jacqueline Hoofendy
 
aquilo que se esconde,
como um segredo
ou um bem precioso,
talvez não esteja escondido.
talvez seja um botão de rosa,
regado na água que corre
antes de desabrochar.
talvez seja uma pedra,
pronta pra ser levantada,
a ponto de ser lançada,
movendo a água em círculos
que se espalharão
como um despertar da consciência...
ou talvez seja um soco,
desses que assustam um pouco
quando vem à boca do estômago,
nos tirando a respiração
e nos fazendo acordar.

I.R.

sábado, 31 de outubro de 2015

gostosuras ou travessuras

não acredito em bruxa,
não acredito em fada,
nem em gnomo,
duende, leprechaun
ou santo.
não acredito em ogro,
unicórnio, monstro,
e a deus, em todas as suas formas,
dou o benefício da dúvida.
mas acredito no ser humano,
o ser das decisões...
esse que escolhe o caminho do mal,
ou esse que se decide pelo caminho do bem,
mesmo dando cabeçada...
esse que, mesmo contraditório
e errado,
põe a mão no arado
por um mundo melhor.

I.R.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

si de cambio se trata...

está medio de moda
hablar de cambios,
pero me pregunto
a qué cambio se refiere,
porque si es solo al candidato que se prefiere,
creo que es un cambio chato,
o un símil cambio...
cambiemos
es la palabra de orden,
pero cambiemos de verdad,
independiente de corrientes políticas
o del presidente de turno,
cambiemos de actitud,
sin esperar
a que vengan políticos mágicos,
presidentes míticos,
discursos místicos...
cambiemos
la forma como miramos al otro,
para que este no sea un mundo de enemigos,
un planeta de excluídos.
cambiemos nuestros corazones,
para que más allá de las ideologias
vivamos lo que es el amor.

I.R.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

a primeira pedra

é fácil condenar no noutro
o defeito que perdoamos em nós,
pois jogar essa primeira pedra é fácil,
independente de... ou principalmente
por termos pecado.
estas linhas não são de baixo astral
ou de baixa autoestima,
longe de mim tal atitude,
não sou o dono da verdade
nem o paladino da virtude...
apenas reflito sobre o que faço,
sobre o que falo, o que calo
e me questiono sobre minhas ações.

I.R.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

não toco de ouvido

Foto: Ricardo Eiras

não sou poeta,
mas também sei
que não toco de ouvido .
sou uma espécie
de 171 das palavras.
embaralho umas ideias
numa cabeça em ebulição
utilizo uns verbos,
mexo nuns conectores
e meto a mão na frase
naquilo que poderia chamar verso,
se poeta fosse.
não sou poeta,
sou um vigarista,
mas uso a língua
para expressar
um pouco do que penso,
um muito do que sinto.
um honesto trapaceiro
que não quer fazer mal a ninguém.

I.R.

sábado, 24 de outubro de 2015

nariz de pinóquio

Foto: Luis Saraceni

nem todas as verdades devem ser ditas,
nem todas as verdades são verdade,
mas a linha que separa uma meia verdade
de uma meia mentira é tênue,
neste mundo de pinóquios.
nem tudo aquilo que se vê,
nem todo deus em que se crê,
nem toda filosofia, ideologia,
não é toda hora
nem todo dia,
mas onde está a verdade
naquilo que se fala
ou daquilo que se supõe verdadeiro?
talvez na natureza,
no espaço infinito,
talvez numa casca de noz,
ou dentro de nós,
nos cantos menos tocados
de nosso pensamento.

I.R.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

vidarte

Foto: Isaac Ramos

disse o poetinha
em sua bênção
que 'a vida é a arte do encontro,
embora haja tanto desencontro
pela vida',
e não é pra ser do contra,
mas pra agregar,
que a vida é a arte do encontro
e do controle,
embora haja tanto desencontro,
tanto descontrole pela vida.
a vida não como um bate-boca,
mas como um bate bola,
de mim pra você,
de você pra mim,
mantendo no alto,
jogando pra cima,
nem sempre com métrica,
às vezes com rima,
sincopado, ritmado,
sem deixar a peteca ou a bola cair...
vida em abundância.
como a arte de ser feliz.

I.R.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

rumo ao alvo

Foto: Jacqueline Hoofendy

de repente a flecha,
voando rumo ao alvo,
abre as asas
e nos mostra
que é possível mudar de direção.
e não se trata do acaso
ou do improvável,
nem mesmo tem a ver
com o fato de podermos voar.
mas se trata de nosso foco,
nossa meta,
que transmuta,
que transmite
no desfoque das asas abertas
que sempre podemos buscar,
em permanente estado de alerta,
novos alvos e novas direções.

I.R.

domingo, 18 de outubro de 2015

corredor

Foto: Cristina Matthiesen


preciso correr de mim
em direção a mim
e assim talvez me encontrar,
e me ver no meio da multidão...
o sol não gira a meu redor,
nem estou no centro dos anéis de saturno,
tenho dias felizes
e dias soturnos,
mas nada do que me acontece
acontece comigo
por um motivo especial.
todos perdemos um ônibus
ou um amigo...
não sou o umbigo do mundo,
não tenho a chave dos mistérios,
mas aprendo a correr...
corro de mim para me achar
e me abraçar no meio da multidão.

I.R.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

de asas e barbatanas

Foto: Jacqueline Hoofendy

volto à praia,
sempre volto à praia,
apesar dos mergulhos profundos,
independente dos arrecifes
ou dos bancos de coral.
volto à praia,
como uma tartaruga fêmea
preservando a espécie.
volto à praia,
de onde nunca parti.
volto, sempre volto,
com asas e barbatanas,
mergulhado no céu,
trazendo todo o oceano
dentro de mim.

I.R.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

variantes sobre o mesmo

os caminhos que sigo,
as ideias que tenho,
o outro, a palavra,
o deus e os deuses
e seus mitos,
o universo,
os seus e os meus mistérios,
o amor,
aquilo que circula,
que gira,
que volta todo o tempo
viver, conviver,
gozar e glosar...
e a comida
que quase queima
na boca do fogão.

I.R.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

dia das crianças

Foto: Adrianne Ferrer
 
cresci
e gosto de ter crescido.
desfruto do pensamento abstrato,
curto escrever
com algum sentido estético,
trato de ser ético
e me divirto
tendo uma consciência de adulto,
tentando não perder a ternura jamais.
gostei de ter sido criança,
mas não sonho
com uma infância perdida.
cresci
e aos poucos envelheço,
com a alegria de não querer ser
quem um dia fui.

I.R.

domingo, 11 de outubro de 2015

rascunho

tudo é ensaio,
acerto e erro.
o definitivo,
o perfeito,
o santo,
nada disso está vivo.
tudo é rascunho
escrito à mão.

I.R.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

da teia

Foto: Luiz Alfredo Ardito
 
sou pequeno
diante da imensidão
do espaço infinito.
sou mesquinho,
diante da grandeza
que também carrego em mim...
enquanto teço meu emaranhado
cheio de ideias,
de vida e de sensações,
teço casa,
repouso e caça,
e só cabe a mim dotá-la de luz.

I.R.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

despontando


 Foto: Rubens Chaves

de mim ao outro
ou do outro a mim
sempre haverá uma ponte,
quando soubermos quebrar
a desgraça da solidão.
conheço pontes com barreiras,
obstáculos,
com postos de fronteira...
mas não gosto
de pontes com pedágios.
se é preciso pagar,
se a relação é de comércio,
não de carinho,
esse é um arremedo de ponte,
é uma afronta
e minha alma está pronta
pra desviar desse caminho.

I.R.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

a todo vapor

Foto: Sandra Baldo

sou água,
mais da metade água,
mas não lavo, não molho,
não limpo,
não sou santo,
orixá,
deus do olimpo...
tô na luta,
tô de olho,
e quando as paredes,
sólidas,
não quiserem me deixar sair,
virarei vapor
e zarparei
em busca da liberdade.

I.R.

sábado, 3 de outubro de 2015

filosofia materna

o que talvez não se entenda,
paciência,
é que há coisas
que quero melhorar,
aperfeiçoar,
achar um melhor caminho...
mudança sem reinício,
o que em si é um novo começo.
eu vivo, logo vivi, logo agrego.

I.R.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

del oficio

Foto: Patricia Blasón
 
lo que te pueda decir en español,
solo te podré decir en español,
porque las traducciones ayudan,
acercan,
pero algo siempre cambian,
aunque sea un bemol
o una milésima de segundo...
y aunque no me entiendas,
no te lo podré decir de otra manera.
o que eu disser em português,
só poderei dizer em português,
porque as traduções ajudam,
aproximam,
nem que seja um bemol
ou um milésimo de segundo...
e mesmo que você não me entenda,
não poderei dizer de outra maneira
y lo que no te pueda decir,
quedará solo conmigo,
en el idioma que sea...
o entre nosotros.

quem sabe?

I.R.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

apesar das janelas

Foto: Jacqueline Hoofendy
 
até onde a vista alcança
aquilo que não se compra,
nem a prazo nem à vista,
sem data de vencimento,
sem prazo de validade...
e quando a vista já não chega
nos restam as palavras
e o pensamento
nem à vista nem a prazo
sem prazo de vaidade,
com sede de conhecimento.
e onde a vista já não chega
e as palavras já não bastam,
sem prazo, sem ordem, sem data,
sem contas nem prestação,
existe a imaginação,
que resiste,
que insiste nessa brincadeira
de seguir seguindo.

I.R.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

lua de erê

Foto: Manuela Cavadas

ver a lua vermelha,
amarela, cinza ou azul,
é olhar apenas para a porta
que dá para o quintal,
esse quintal enorme
onde não vemos o muro,
não imaginamos a cerca,
mas podemos divisar a horta,
distinguir o pomar...
eclipse de um dia doce,
num universo sem fim,
como um brinquedo de erê.
salve cosme, salve damião,
salve lua,
salve jorge e seu dragão.

I.R.

domingo, 27 de setembro de 2015

na beira do mar

Foto: André Rocha
 
a humanidade somos um,
mas esse um que é cada indivíduo,
este que sou,
no meio da multidão
ou na beira do mar,
está só,
caminha só,
e e só ao aceitar essa solidão
que se pode ser um com os demais.
ninguém está a meu serviço
ou feito sob medida para mim.
talvez eu me deixe enganar
pelas espumas como neve
ou pelo dourado do mar...
talvez eu não consiga ver
que as pegadas na areia
são sempre individuais.

I.R.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

nada

nada a dizer,
nada a declarar,
nada para compartilhar.
crise poética.

I.R.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

freudiano

 Foto: José Eduardo F. Boaventura

sou tímido...
ou em todo caso,
levemente acanhado,
e por isso falo demais.
falo para cobrir o meu eu,
uso o ego para mascarar o ego
e cubro minha boca, para mostrar
o que falo, o que expresso ou desejo.
escrevo por meio de alguma entrelinha,
desenho estrelinhas e/ou mapas do tesouro,
não sou um artista, estou longe disso, eu já sei,
mas me divirto com o que faço ou com o que sou.

I.R.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

da unidade

 Foto: Junior AmoJr

somos um,
não podemos ser mais do que um,
mas só somos um se formos dois,
se formos três, quatro,
se formos muitos.
e seremos luz que transpassa,
sombra e reflexo,
seremos simples
por sermos complexos,
seremos como deus
ao sermos humanidade.

I.R.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

balão mágico

Foto: Ingrid Merenfeld


nos jornais
e nos noticiários,
na via pública,
nos cruzamentos
e semáforos,
no trabalho,
nas fronteiras da guerra
e nas portas das igrejas,
nada é colorido
nem elevado...

mas ainda nos cabe a utopia
e o sonho transformado em ação.

I.R.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

o tempo e o centro

 Foto: Jacqueline Hoofendy

não quero parar o tempo...
trabalho hercúleo
e também impossível.
quero habitá-lo,
senti-lo e me sentir,
viver o instante,
a cada instante
e de repente,
sob um céu craquelado,
ser um com o todo.

I.R.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

um poema não termina com o título

nenhum poema dos que escrevo
está terminado...

todos podem ser mudados,
sempre há uma palavra
para entrar
ou pra sair,
uma vírgula para mudar de lugar,
uma letra
que modifica um sentido,
um sentido que pode ser escondido,
um sentimento que pode ser descoberto,
um redescobrimento,
uma releitura.
nenhum poema dos que escrevo
é um poema.
sou um poeta que só escreve rascunhos.

I.R.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

hora certa

Foto: Jefferson Ferreira

no meio do escuro,
onde tudo é incerteza,
e tudo é incerto,
tudo é dúvida
nunca há hora exata.
nunca há hora certa.
porque a hora é agora,
o momento é hoje.
o futuro é desconhecido,
o passado, sem volta.
não há hora certa ou exata,
pois o exato, a certeza,
é o presente em que estamos,
sempre reescrevendo,
sempre reinterpretando,
sempre aprendendo a viver.

I.R.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

sete de setembro

Foto: Bob Menezes

não acredito nos nacionalismos
ou nas delimitações de fronteira,
não creio na pátria
nem nos seus ritos.
mas acredito no ser humano
e que a verdadeira fronteira
se dá no limite
entre uma pessoa e outra.
acredito nas pipas
que elevamos ao céu
como forma de nos elevarmos,
experiência quase mística,
equilibrada na ponta da rabiola.

I.R.

domingo, 6 de setembro de 2015

peixaria

Foto: Pepe Fiorentino

se cada um vendesse seu peixe,
seu próprio peixe,
em paz...
sem se meter
com o peixe dos outros,
talvez vivêssemos
em um mundo mais tolerante.

I.R.