segunda-feira, 31 de agosto de 2015

origami

Foto: Rico Sombra

como aquela que varre,
fazendo do ato de molhar
algo místico,
onde nos percebemos
uma gota que se levanta
com outras gotas
no oceano...
esse é o plano.
chegar até a beira e voltar,
batendo as asas da liberdade,
voar contra a mesmice
e a inconformidade.
ser uma onda origami,
ser mil tsurus
construtores de paz.

I.R.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

luz de presságios

Foto: Jacqueline Hoofendy

o que se intui,
o que se pressente,
aquilo que se sente
ao fazer uma sombra chinesa
cobrar vida...
contra toda cerca,
contra todo arame farpado,
o dragão na parede,
enjaulado,
já não quer ser sombra,
mas um feixe de luz.

I.R.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

coletivo

Foto: Marcia Barbosa Serra

nascemos sós,
morremos sozinhos.
vivemos em comunidade,
para aliviar a solidão.

I.R.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

dicotomia

Foto: Mauricio Theo

moramos empilhados,
uns sobre os ombros dos outros,
em propriedades verticais,
de muitos andares,
com muitos tijolos,
eretos ou inclinados,
moramos vivemos,
entre elevadores e becos,
entre terraços e lajes,
sabendo que o pão,
infelizmente,
não é para todos,
e o açúcar,
às vezes,
é amargo demais.

I.R.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

na bateia

Foto: Vicente Sampaio

queria escrever
um poema sem palavras
em um caderno sem margens,
um poema de imagens,
garimpando a melodia
do que não está escrito.
não queria um poema restrito
por nenhuma massa sonora,
apenas o aqui e o agora
de um sem horizonte,
um instante, talvez não captado,
mas que sem palavras,
talvez nem fosse um poema.

I.R.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

este

Foto: Ronaldo Miranda Fialho

o sol nasce para todos,
no rio da prata,
na praia dos anjos,
levantando seus raios
diante de meus olhos.
o sol nasce para todos,
no leste como uma espécie de norte,
marcando o caminho,
orientando como um farol,
de que estamos todos no mesmo barco,
que a humanidade
navega o planeta água
chamado terra
girando como um baile sufi
pelo espaço sideral.

I.R.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Φωτογραφία

Foto: Jacqueline Hoofendy

a luz que incide na retina
se fixa em uma superfície sensível,
à flor da pele.
e o que impele a cada um
é descobrir em liberdade
que o obturador,
assim como o amor,
tem várias velocidades
e que a luz não entra como quer.
ela vem na cadência
do batimento cardíaco,
da respiração diafragmática
e do diafragma que regula
se em doses homeopáticas ou cavalares.
desenhar com luz,
com luz e contraste,
a serviço da realidade,
aos desejos da arte...
a luz que incide na pele,
retrato que não coincide,
que não revele só o que vemos,
mas quem somos e quem queremos ser.

I.R.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

paralelas

Foto: Adriano Mello

jamais seremos um
nem nossa linha
se encontrará no infinito.
somos paralelas,
individualidades,
nunca seremos uma só carne...
mas podemos estender dormentes
como se fossem pontes,
para estarmos despertos,
enquanto compartilhamos a via
por um intervalo de tempo,
lado a lado entre algumas estações.

I.R.

domingo, 16 de agosto de 2015

paralelo

Foto: Jacqueline Hoofendy

há um leque de opções,
impactante como cauda de pavão,
possibilidades,
mundos possíveis,
paralelos,
como as abas abertas
no meu navegador...
em cada dobra
um caminho para as índias
e um adamastor.
há um leque de opções
ou um cocar desbotado,
não sei...
raios convergentes,
sentimentos encontrados
sensações latentes,
talvez um dia eu me seque,
mas há opções,
há um mundo de emoções,
abertas como um leque.

I.R.

sábado, 15 de agosto de 2015

Sobre -ismos e religiões

     Há uns cem metros da minha casa há uma Igreja dos Santos dos Últimos Dias. Outro dia, passando com o jovem Ravasco, o primeiro nascido na Argentina, ele me perguntou o que era aquela construção. Eu lhe disse que era um templo de uma religião conhecida como mórmon. E o diálogo continuou com a pergunta: "Eles são católicos?". E eu lhe respondo que não, que eles são cristãos, mas não são católicos. E começo a lhe explicar um pouco sobre o cristianismo e suas muitas divisões.
     Talvez o que eu não esperasse foi a pergunta seguinte: "Papai, e você, acredita em Jesus?" E eu lhe digo que acredito que a mensagem de Jesus é boa, mas não sou cristão, pois para um cristão Jesus é Deus. E eu não acredito nisso. E lhe explico que sou judeu. E lhe falo um pouco sobre o judaísmo e suas diferentes linhas de pensamento e prática.
     E a conversa continuou sobre muitos -ismos, e apareceram Sidarta Gautama, o Buda, e o Budismo, Maomé e o islamismo, apareceu o hinduísmo e seus muitos Deuses, as religiões de matriz africana, o candomblé, a umbanda, e o ateísmo. E eu lhe dizia que não importa se você acredita em Deus ou não e nem que nome você dá a esse Deus se é que você acredita em um. Importa a maneira como vivemos, o que fazemos aqui, agora, e como trabalhamos para fazer deste mundo um lugar mais justo, mais igualitário. Algo como ama o seu próximo como a si mesmo. Ou não faça aos outros o que não gosta que façam com você.
     E quando parecia que a conversa tinha terminado, ele se virou para mim e me perguntou: "Papai, e o capitalismo?"
     Ri para dentro. Pensei um pouco e lhe disse: "Olha, meu filho, apesar do capitalismo não ser oficialmente uma religião, tem muita gente fazendo do dinheiro um Deus por aí."

I.R.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

versos do metrô

num vagão semi-vazio
minha mente meio cheia
desvia o pensamento
no olhar alheio.
há cansados e há tristes,
há sonolentos,
concentrados
e ninguém sorri.
num vagão semi-vazio,
minha mente vaga
fingindo que não se importa,
fugindo, dissimulando.
meus olhos não estão tristes
nem sorriem,
são olhos que divagam,
olhos de memória,
entrando numa nova estação.

I.R.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

no tempo

Foto: Flavia Costa

quando começamos a falar de infinito
percebemos que cada minuto
é uma milésima infinitesimal
diante daquilo que costumamos
chamar de vida,
daquilo que vivemos
em um determinado tempo ilusório,
que passa em alta velocidade
diante dos nossos olhos.
mas a verdade é que o trem não para
em nenhuma estação,
esperamos nosso momento
de entrar e sair dos vagões,
carregamos as nossas emoções,
com a locomotiva em movimento.

I.R.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

brincando

Foto: Victor Haim

a vida não é um jogo de dados
nem uma roleta
ou um teatro de marionetes.
mas acredito no acaso
e nas escolhas, que às vezes,
por acaso fazemos.
acredito nas intenções dos atos
e não no fato da sorte se interpor
como uma pedra em nosso caminho.
mas acredito nas pedras de gelo
que derretem no calor
seguindo as leis da natureza.
a vida não é um jogo de dados.
a vida não é um jogo...
mas pode ser uma brincadeira
das mais divertidas.

I.R.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

sigma

Foto: Danilo Caymmi 

na sensação de fim da linha,
ou de final do caminho,
labirinto de tijolos coloridos
descoberto,
percorrido,
com meditação
e rivotril calibre 38,
descubro uma porta aberta...
e o fim se desvanece,
se torna durante,
enquanto,
fluxo,
e a sensação desaparece
no próximo passo dado
na direção do desconhecido.

I.R.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

sinOpse

Foto: Duda Firmo

tem dias que me sinto criança,
sem saída,
com a cabeça pegando fogo,
num fervilhão de medos
mais do que de ideias.
tem dias que acordo de madrugada,
não entendendo nada,
vendo monstros na parede,
como se tivesse 4 anos,
com frio, com sede,
assustado, sozinho,
vendo monstros de neurônio
com muitos braços
ou algumas cabeças,
sem poder voltar a dormir.

I.R.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

na estrada

Foto: João Bosco de Almeida

dizem que pra baixo
todo santo ajuda,
mas na hora da curva,
no momento do desconhecido,
do novo, da vida que segue,
não há santo nem anjo nem deus
que possam viver por nós.

I.R.

domingo, 2 de agosto de 2015

escalada

Foto: Adriano Mello

com o pé de apoio posto,
estou a postos
pra continuar o percurso.
e se uso cordas
e equipamento de segurança
é porque apesar
da imprevisibilidade da vida
ninguém pode fazer um trajeto
totalmente sozinho.

I.R.

sábado, 1 de agosto de 2015

cafezinho

Foto: Victor Haim

não é no tarô,
na palma da mão,
no horóscopo
ou na borra do café
que saberei meu futuro...
nem olharei o mundo
através de cúpulas,
onde o ferro trabalhado,
por mais artístico que seja
não me deixe ver o céu em liberdade.
tomarei a vida em pequenos goles,
sorvendo,
absorvendo,
até o fundo,
até o final,
e comerei o açúcar de colherinha
e também a arte que tiver ficado ali,
enquanto a cúpula estrelada
me mostrar luas azuis
e cometas
e eu cometa a felicidade
de pedir mais uma.

I.R.