quarta-feira, 29 de junho de 2011

pra você


Foto: Deste blog

até quando não escrevo pra você,
é pra você que escrevo.
seus comentários,
suas perguntas,
sua leitura me relê
e eu releio por seus olhos,
porque se escrevo por mim,
e é para mim que escrevo,
escrevo para e por você,
pois você está em mim
e eu estou em você
e nos resignificamos como dois
e a necessidade de escrever
para mim-você-e-nós
é o que alimenta a arte
a cada instante um pouco mais.

I.R.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

solucionática

nem todo soluço
tem solução.

e o que existe de mais absoluto
se torna,
me gera
e se regenera obsoleto
após cada nova geração.

I.R.

sábado, 25 de junho de 2011

de sorte


Foto: OaKoAk


de certo o que sabemos é pouco,
e os oásis podem ser reais
ou meras miragens.

sou um desertor,
no meio deste deserto de pedra,
e o camelo que carrego no peito
tem sede.

fome e sede de justiça.

I.R.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

o corpo de cristo

se o corpo de cristo é sagrado,
e acho que seja,
talvez fosse bom ampliar,
não o corpo, mas a ideia de cristo,
o ungido,
que não foi e não é apenas jesus.
ungidos somos todos,
natureza viva,
cujo maior pecado consiste
em não sabermos natureza,
originando a insistência diária
em nossa própria autodestruição.

I.R.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

esporeando


Foto: Adriano Mello

meto a espora nos meus sonhos,
não para apressá-los,
mas porque os submeto à paciência.

meto a espera nos meus sonhos,
pois não acredito nesse tipo de utopia.

e se a fantasia é real
é porque cada sonho traz em si
um embrião de realidade.

I.R.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

testamento

testo,
tento,
tenso a testa,
no entanto o texto
se deleta entre meus dedos.

I.R.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

fruto

fito a foto
vejo o feto
que não pediu para ser feito,
mas o fato
é que isso não importa,
pois tanto da porta pra dentro
quanto da boca pra fora
ele tem direito à vida que já tem
e merece respeito como um igual.

I.R.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

livro

hoje minha pátria é minha língua
mas não quero pátria
nem religião.

quero um povo,
comunidade que cresce junto
sem outro país ou capital
que não seja o livro
que não pode ser escrito
por nenhuma outra palavra
que não seja a dita por nossos atos.

I.R.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

304



se em outros nove poemas não disse,
e digo se, pois talvez tenha dito,
que estar com você é uma aventura,
tenho que lhe dizer isso agora.
a aventura do autoconhecimento,
do pensar o futuro
saindo da minha comodidade estabelecida,
a aventura de aprender a viver sem pavor
a aventura e a alegria de compartilhar,
a alegria e a felicidade de se viver.

I.R.

domingo, 12 de junho de 2011

12 de junho

amor com gosto de amora,
enamorar o namorado
e namorar a namorada,
a cama está feita,
a almofada está posta,
o jantar está servido
e você é o prato principal.

I.R.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

navegação

o barco parte rumo ao desconhecido,
levando consigo sonhos e esperanças,
a firme vontade de chegar a um porto seguro.

e à medida que o mar se agita
o barco se agiganta;
na medida das dificuldades, a superação.

o barco que sabe ir contra a maré,
sabe reerguer-se depois de quase ir a pique...
um barco vivo.

a nau de uma nação,
a nação que navega junto,
junto e firme para ser feliz.

I.R.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

a porta e a chave


Foto: Adriano Mello

o comum é pensar que existem muitas portas,
mas que apenas uma é a correta, a nossa,
e que as outras nos levam a um lugar maldito.

é fácil sentir-se dono da porta verdadeira,
e mais fácil ainda é querer que todos entrem
pela mesma porta que nós.

mas a verdade é que não somos donos da porta
e que a verdade, se existe, não se esconde
atrás de porta alguma.

existem muitos caminhos e uma única porta,
uma porta única com muitos nomes,
com muitas formas e diversidade de cores.

existe apenas uma porta
e somente uma chave pode abri-la
para que entremos na sala do vazio.

uma porta de muitos nomes.
uma chave mestra de um nome só.
quando teremos coragem de usá-la?

I.R.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

no tabuleiro


Foto: Mariana Matos

às vezes ajo como um sábio
antes de ir pro xadrez
ou pra fogueira
e sou um peão desafiando um grão-mestre.

monto meu cavalo,
parto rumo a uma torre que me abrigue,
fugindo dos bispos que me tomam por herege.
perdi a proteção do rei,
os favores da rainha.

e só não perco tudo
porque divido o xeque-mate em dois:

o cheque pra saldar as dívidas,
o mate pra tomar com o resto da peãozada.

I.R.

domingo, 5 de junho de 2011

caça à palavra

na praça, entre balanços,
gangorras, escorregas,
um grupo de crianças
deixa os brinquedos vazios
e prefere caçar palavras.
as palavras,
escritas nos brinquedos, nas grades,
em papéis jogados no chão,
se transformam em tesouro na mão daqueles meninos
e isso alimenta meu vício, mania,
vontade, necessidade de continuar escrevendo.

I.R.

sábado, 4 de junho de 2011

pesadelo demonstrativo

aquela que para aquele
é seu calcanhar de aquiles,
para mim é apenas quimo,
quilo,
grama transformada em pasta,
em suco gástrico,
aquilo que está onde esta sonha
em plantar a planta do pé.

e o ele é dele,
e o esse é isso,
osso reabastecido na esso,
céu da boca estrelado na shell.

I.R.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

esferográfica


Foto: Adriano Mello

a caneta azul descansando no copo
é apenas o reflexo de que não tenho o que dizer.

falar é fácil,
e falar demais é mais fácil ainda,

abobrinhas,
besteiras,
segredos que escapam,

e por que não, sabedoria,
romantismo,
filosofia,

a bic tampada e o bico fechado,
num copo preparado para o silêncio.

I.R.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

cogito, ergo sum

quando querem que eu peça a peça,
peso o valor da palavra,
aumento o valor do que se preza,
rezo a reza,
e balanço a cabeça do batista
numa balança de precisão.

quando querem que eu peça a peça,
peço licença,
e peça por peça
ergo um castelo de cartas marcadas,
oro uma hora à órus,
agora que posso,
e estaciono meu carro na contramão.

I.R.