domingo, 31 de janeiro de 2016

por baixo

Foto: Ike Bittencourt

por baixo de nossos ternos...
os baratos
ou os de alfaiate
por baixo de nossos vestidos...
os de festa
ou os de noiva...
por trás de nossas misérias
e de nossas máscaras,
por baixo de nossos pudores,
de nossos moralismos,
de nossos temores...
estamos todos nus.

I.R.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

futurama

Foto: Marina Lombardo

não pense no futuro
nem viva planos
que você não possa adaptar
ao sabor das marés
e às surpresas das adversidades.
aos seis, não imaginamos
como seríamos ao vinte e dois.
aos vinte e três, não fazíamos ideia
de como seríamos aos quarenta e um,
aos quarenta e dois,
o futuro seguirá uma incógnita,
uma janela aberta,
uma cortina corrida,
um sem saber o que há do lado de lá.

I.R.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

erosão

Foto: Ingrid Silveira

o sol não nasce nem se põe,
enquanto nos movemos
e nos transformamos...
e se às vezes não vemos o horizonte
ou nem sempre sentimos a liberdade
é porque estamos presos
à saudade de nossos dias nublados,
não vivemos o que não pode nos conter
e o que não pode ser contido,
só pensamos na areia do tempo perdido
derramada na imensidão

I.R.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

respiração profunda

Foto: Jacqueline Hoofendy

tenho mares dentro de mim,
abrigo oceanos e nuvens,
tenho mares de nuvens brancas
num céu azul de brigadeiro,
transformo realidade em sonho,
para acordar no meio da noite
com um déjà vu, como o já vivido.
e assim inspiro, expiro,
esse ar que respiro e é gás, é água...
sou sete mares não navegados,
cumulus ainda não singrados...
a liberdade é um diafragma,
que em mim eu vou navegar.

I.R.

domingo, 24 de janeiro de 2016

sudestada

Foto: Márcia Barbosa Serra

armava um castelo de cartas,
de cartas marcadas
ou sem destinatário
que o correio, um dia,
iria me devolver.
só que a vida não é um jogo de dados
nem honestos nem viciados...
armei um castelo de areia,
mas sou vento sudoeste,
transformando em cinza o azul-celeste,
aprendendo a reconstruir

I.R.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

com a minha mania

Foto: Carla Domingues

nem toda,
mas muita...
muita e variada,
diversa, pessoal
vida reversa,
e sem voltar ao ponto de partida...
eu sei...

hesito, mas no final insisto:
quase toda loucura é sã
e só nos resta abraçá-la
e já só quero vivê-la,
sem importar
se é uma obra com o final aberto...

I.R.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

na onda

Foto: Bruno Kaiuca

as coisas acontecem
de um modo inesperado,
mudando o curso dos planejamentos,
desafiando os planos,
desfiando certezas
e fazendo do acaso um modo de vida.
as coisas acontecem,
talvez de um modo estranho...
somos surfistas do estranho,
descemos marolas e ondas gigantes,
fazendo de cada instante
o único a se viver.

I.R.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

pelo tefone

Foto: Christian Cross

um beijo no telefone,
um beijo pelo telefone,
distância e proximidade...
teu corpo, meu corpo,
intimidade...
o pulso, o impulso
e as pulsações,
um toque discreto,
um sentimento concreto
que nos volta a ligar.

I.R.

sábado, 16 de janeiro de 2016

homem tapume

Foto: Paulo Mittelman

o homem tapume se esconde,
se desconstrói,
se reforma.
o homem tapume se cobre,
se tapa...
o homem tapume casulo
se renova
e ao estar escondido
ainda não sabemos como vai ficar.

I.R.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

labirinto

Foto: Renato Santicchia

no final do labirinto
de linhas, margens,
parágrafos,
eu grafo minhas histórias
ou meus versos...
não há minotauro nem ícaro,
não há dédalo,
mas um guardião lê e relê
a dedo,
o que talvez eu não escreva.
o que escrevo
e provavelmente já não viva.
o que vivo,
mas que não pretendo escrever.

I.R.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

combustão

Foto: Adriano Mello

para além das cercas,
o carro de lenha
se põe ao meu alcance.
não se trata de mágica,
mas de trabalho
e sentimento...
pois depois da chama acesa,
depois de abraçar a dúvida
e beijar a incerteza,
vem o desejo
de ver a fogueira
não só queimar,
mas continuar queimando

I.R.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

inércia

Foto: Iron Alves

rotação,
translação,
nunca estamos parados,
nem estamos no mesmo lugar...
movimento constante,
elipse, círculo,
de preferência acompanhado
e com um mínimo de segurança.
cabe a cada um
saber onde está o foco,
uma questão de eixo...
o que se tem
e o que se adquire,
o que se perde
e o que é preciso perder.

I.R.

sábado, 9 de janeiro de 2016

entre o céu e a terra

Foto: Eric Monvoisin

entre o céu e a terra
há filosofia e mistério,
mas não certezas,
além de nossas respostas pessoais,
que não passam de filosofia
ou de fé.
o mistério não se explica,
não se desvela,
não se revela, mas se vive,
talvez como um negativo.
não há nada de errado na dúvida
nem na incerteza,
a natureza não é menos bonita,
se deus não existir.

I.R.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

autorretrato sobre natureza morta

Foto: Jacqueline Hoofendy

a moldura rachada
não pode enquadrar
aquilo que não tem limite,
e não há reflexo possível
ou capaz de refletir
aquilo que não tem forma...
eu te ofereço flores
ou me ofereço em cores...
natureza imóvel
permeando
meus pensamentos intranquilos.

I.R.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

deserto

Foto: Cadu de Castro

cada um atravessa
seu próprio deserto,
seja em quarenta dias
ou em quarenta anos,
seja procurando oásis
ou enfrentando miragens...
cada um cruza
seu próprio deserto
onde não existe longe
e muito menos perto,
apenas um mar de areia,
um oceano de grãos de areia,
ampulheta quebrada,
despreocupada com o tempo.

I.R.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

sinuoso

Foto: José Roberto Bassul

não posso estar lá e aqui,
atacar em duas frentes,
mas quem determina
o que é lá
ou o que é aqui
no sangue que corre
pelas minhas veias?
me dicen que no se puede
estar allá y acá,
no se puede jugar a dos puntas,
pero ¿quién tiene la última palabra?
talvez eu seja um poeta sem poesia,
talvez eu seja pura poesia
que não se traduz em poema...
¡qué lástima que lastimo!,
me encantaría no hacerlo,
mas talvez eu espere muito de mim.

I.R.

sábado, 2 de janeiro de 2016

41


quarenta e um verões
não me fazem mais sábio
que oito outonos
ou menos sábio
que oitenta primaveras.
nem sempre sou sábio,
não sei se sou sábio
ou se alguma vez fui...
mas procuro estar desperto...
(nem que seja para gritar bingo)
sei que o que diz meu documento
nem sempre corresponde
à minha idade mental...

I.R.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

mosaico

Fotos: Simão Salomão

por estradas sinuosas,
por linhas retas
por mar, por terra...
pelo ar,
vago.
com pressa ou devagar,
ansioso,
contra a corrente
ou no marchar da multidão,
vou.
esperança que não morre,
todo dia é em si mesmo
o último e o primeiro,
como vivo esse dia?
o que faço no caminho?

I.R.