segunda-feira, 31 de maio de 2010

refazendo a rota

passo a passo desfaço
peça a peça eu peço
e reconstruo
poça a poça
molhando meus pés
escapando molhado desse puçá.

I.R.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

sorte

sorte? existe sorte,
se não se trabalha,
se não se corre atrás,
se não se vai à luta?

sorte? existe a sorte
de se estar no lugar certo,
de se fazer o adequado,
de que ela bata na sua porta?

existe essa entidade mágica
que tudo oferece,
nada nos nega,
e algo nos dá?

sorte...não sei...
só sei que não posso dar mole para o azar.

I.R.

terça-feira, 25 de maio de 2010

bicentenário


Imagem

terra da prata,
que me acolhe,
me abraça e me dá de comer,
parabéns pelo seu dia.

terra da prata,
que me ensina,
se doa e se dá,
tristeza e alegria,
saúde e alergia,
parabéns pelo aniversário de sua revolução.

terra da prata,
que a memória da tua revolução
seja parte da revelação
de que a prata
não é nada
comparada ao barro
com que é constantemente moldada.

parabéns.

I.R.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

saudade profunda

tem dias que a saudade se sente
quase imperceptível,
e passa, e não faz morada,
some rápido como quem pega o metrô por duas estações.
tem dias que a saudade é como a fome
depois de uma manhã de trabalho
quando o almoço salvador acontece às três.
alguns dias ela é brisa constante,
em outros temporal,
raio, trovão, relâmpago, furacão...
tem dias que a saudade é um monstro
que nos ataca o sonho
pronto para nos devorar.
mas em mim,
que também sofro de todo tipo de saudade,
ela é uma criança,
um amor de criança,
abrindo os braços e me chamando de papai.

I.R.

terça-feira, 18 de maio de 2010

genialidade

no meio desse mundo colorido,
festivo, alegre, pra cima,
sempre há um dia cinza.
mas os dias cinza não me interessam.
me importam os dias albinos,
e toda a música que esses dias trazem.

I.R.



I.R.

sábado, 15 de maio de 2010

Para duas pessoas do dia 15 de maio.

Buenos Aires, 15 de maio de 2010

Queridos aniversariantes,

sempre digo que este blog não é um diário e que meus poemas são independentes, têm vida própria e espero que possam, pelo menos alguns, me sobreviver.

Digo e continuo dizendo isso como forma de preservar minha intimidade, não expor ao mundo o que sinto, o que quero, o que pretendo, o que amo, o que descubro. E sei que isso é bom. Afinal, minha vida não precisa ser um livro aberto, e tenho o direito a ter algo não compartilhado com os demais, sejam os demais quem forem.

Não nego que meus poemas tenham muito de mim, e que possam ser estudados como uma espécie de arqueologia igorravasquiana, fazendo referência ao meu nome, que poucas vezes escrevi por aqui, e que o que sinto ou senti, pretendo ou pretendia, amo, amei, amava, possa ser lido nas entrelinhas ou nas linhas, nas fotos ou nas músicas de todo este espaço.

Mas hoje, meus queridos, pelo menos hoje, quero me comprometer com minhas palavras, assinar claramente o que digo.

Passado e presente juntos. Passado que sempre esteve presente na minha vida e que continua presente, não por costume, mas por amor. Presente novo, em início de construção, que ainda não sabemos aonde vai dar, mas que sentimos que a construção está sendo feita com os ingredientes necessários. E de repente o passado e o presente se encontram num dia 15 de maio.

Que fique registrado que no dia 15 de maio de 2010, meu coração de filho e meu coração de homem estava cheio de alegria, ternura e emoção por poder compartilhar esse momento tão importante em suas vidas. Parabéns, meu pai; parabéns, Becky. Deus, chamem com o nome que quiserem, me permita viver muitos anos mais de momentos como esse, em muitos outros 15 de maio, ao lado de vocês.

Amo você, pai. Te quiero, Becky.

Um beijo no coração de vocês,

Igor Ravasco

PS: 01 de setembro de 2010

O primeiro homenageado desta carta, meu pai, continua sendo meu pai, e espero continuar comemorando seu aniversário por muitíssimos anos. A segunda homenageada resolveu que 2010 seria a única vez em que eu participaria do seu aniversário. Desejo que seja feliz.

I.R.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Bilhete para mim

Buenos Aires, 13 de maio de 2010,

Querido eu,

Entre o trabalho e a alegria imensa, a vida segue, a vida vai, e eu transito com um sorriso no rosto. Entre as dores de cabeça, as aporrinhações e as exigências sem fundamento que não me tiram o sono, a vida segue, vai, e eu, com um sorriso no rosto sei que as alegrias são maiores., (e que a Felicidade ou Deus é mais!).
E que Caetano saúde o dia, enquanto, pouco prosa, tento aprender a escrever prosa, e trabalho antes que o sono me devore.

Certo de que já não sou escravo, me abraço,



I.R.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

La vita...

na vida,
nem sempre se trata de recomeçar,
muitas vezes se trata de re-ser.

I.R.

...è adesso

segunda-feira, 10 de maio de 2010

felicidade


Foto: B.L.R.

a felicidade não se compra
nem se encontra em cada esquina.
não é fácil,
é construção se genuína,
e mesmo sem cair do céu
nos vem de graça,
com esforço e adesão.

a felicidade é gol de craque,
mas não de atacante,
centroavante,
artilheiro.
é gol suado, sofrido, chorado,
gol de beque,
triunfo de zagueiro.

I.R.

sábado, 8 de maio de 2010

frontal

Foto: B.L.R.

sou visto, tocado e lambido,
lambo e toco,
e toco e sinto,
e vejo
a cortina que revela
apenas parte...
um olho preto,
uma boca fechada
que me diz,
que me mostra
o amanhecer alaranjado
onde ver, lamber e tocar
é apenas parte
do processo de ser.

I.R.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bilhete para um músico bebum

Buenos Aires, 5 de maio de 2010

Prezado,

sei que você é daqueles que dormem abraçados à garrafa. Daqueles que veem as taças e sempre pensam que ela está meio vazia, não meio cheia. E, provavelmente, água, seja um líquido pouco consumido, não? Afinal, água pode enferrujá-lo.

É, meu amigo, mas para a Hydrodaktulopsychicharmonica, o negócio é aguinha na taça, mesmo. Nada de vinho, conhaque ou espumante.

Boa música! À nossa saúde!



I.R.

terça-feira, 4 de maio de 2010

silêncio

os silêncios nunca são iguais...

um silêncio de angústia
outro de perplexidade
algum de tristeza
talvez de saudade
um silêncio de raiva
e o que nada diz
pois tudo está dito

o silêncio à distância
e o que distancia
o silêncio junto
e o que alivia

o silêncio de dor
o silêncio de amor
e o que extasia

os silêncios nunca são iguais...
os silêncios...

um silêncio que vem da boca
e que evoca a alma
um silêncio que fere
outro que acalma
um silêncio que ao viver
sacode ou silencia
um silêncio de amar ou de querer
de chorar ou de prazer
que nada diz
pois a tudo principia.

I.R.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bilhete de aniversário para o meu filho

Buenos Aires, 3 de maio de 2010

Amado filho,

dentre as milhares de coisas que poderia (e tenho) para escrever para você neste dia do seu aniversário, prefiro escrever apenas uma. Amo você. Amo muito você.



I.R.

domingo, 2 de maio de 2010

suas costas


Foto: B.L.R.

se digo que gosto de suas mãos,
de sua boca,
de seus olhos de gueixa
ou de sua língua,
me torno tão previsível,
não acha?

se falo de suas carícias,
de seus abraços,
de seu carinho,
sou tão óbvio,
tão repetitivo, não é?

talvez não deva dizer nada,
absolutamente nada,
e continuar beijando,
acariciando e lambendo
as suas costas.
percorrendo cada pedaço de suas costas
com mãos e língua,
cobrindo-as com meu peito,
deitado sobre você.

talvez não deva dizer nada,
absolutamente nada,
e tatuar-me em você,
como extensão do seu tribal.

I.R.