terça-feira, 31 de março de 2009

olhos em órbita

paulo coelho está enganado,
o universo não conspira a nosso favor,
pois não conspira, não expira,
não inspira
nem me inspira a nada

o universo gira em minha mente,
como o mundo gira
como os ponteiros giram,

gira como a roleta

(a sorte está lançada
e a morte é uma simulação do fim)



I.R.

segunda-feira, 30 de março de 2009

beijos, sorrisos e baba

Levantam-se as cortinas:

Cena 1: Pai babando sem cessar.

Descem as cortinas.




Levantam-se as cortinas:

Cena 2: Pai ainda babando sem cessar.

Cai o pano.



I.R.

domingo, 29 de março de 2009

foco

quando o fogo encantado
desceu ou subiu para nós,
nos descobrimos.

quando o fogo nos consumiu,
encantando com a nossa carne,
com o gosto de queimado da nossa pele,
nos descobrimos.

quando o encantamento
ardente como o fogo
nos descobriu,
nos descobrimos.

e imploramos pela chuva,
não para apagar,
mas para alimentar o fogo,
para eliminar a seca...

a água, um fogo encantado
que nos lava
criando um mar
onde nos descobrimos.



I.R.

sábado, 28 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

cinco

a sua praticidade me intimida
mas a minha cabeça-dura procura deixar
as coisas nos eixos.

você é estourada,
irritada,
impaciente,
mas reconheço que as suas virtudes
superam os seus defeitos.

você é inteligente,
carinhosa,
divertida,
lutadora,
...
e apesar de suas virtudes serem maiores
do que os seus defeitos,
durante a sua tpm
sempre penso em passar
uns dias no iraque ou no afeganistão.

os dias se passaram, uns 1826,
e aqui estamos, antes dois,
agora três.

cinco pontas
cinco pontos
cinco sentidos

chanel n°cinco
cinco vezes para meca
jackson cinco

cinco anos
nem cinco minutos guardados
amo você.

quanto?
mais de cinco.



I.R.

PS: Onde se lê 26 de março, leia-se 27 de março.

As aparências...



Buenos Aires, 26 de março de 2009

Prezado,

Sei que é mais fácil julgar pela aparência do que conhecer os fatos ou as pessoas. É prático bater o olho, alegar problemas de sangue que não cruza ou santo que não bate e, normalmente a partir disso, criticar, falar mal, condenar, etc.

Acontece que nossos olhos não são de muita confiança. Vemos o que queremos ver. Somos donos das verdades falsas de acordo com as nossas certezas pré-concebidas.

Por isso, convidei Vivian Wheeler para participar deste bilhete, para que você a conheça.

Um abraço,

I.R.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Carta para um católico

Buenos Aires, 25 de março de 2009

Prezado católico,

O principal problema da sua organização é também a questão menos resolvida da humanidade. O sexo.

Desde que o mundo ocidental se tornou católico que sexo e culpa ou sexo e pecado se tornaram sinônimos. Um de mão dada com o outro. O sexo passou a ser um tabu e como tal deve ser temido.

Poderíamos enumerar algumas questões como o celibato dos padres, a virgindade até o casamento, a insistência sobre um Jesus solteiro e a santificação da virgindade de Maria, antes e depois do parto. Durante, não. Mas segundo a crença, houve uma restauração milagrosa do hímen. (Fala sério!)

Certa vez perguntaram a um padre: Padre, o sexo antes do casamento é pecado? Ao que respondeu: Só se atrasar a cerimônia. Desde quando a virgindade é sinônimo de virtude? Por que nós, humanos, que temos a noção de prazer, teríamos relações sexuais apenas para a procriação? Porque um papa, um bispo, um padre, pedófilo ou não, homo ou heterossexual, decidiu que vamos todos para o inferno por isso? Por que ele não pode, ninguém mais pode?

Que culpa tenho eu se a organização resolveu proibir o casamento deles por motivos econômicos? Ou você acreditava nessa lenga-lenga de que o padre não se casa porque assim pode servir melhor a Deus. Mentira. Não se casa, porque ao casar-se e ter filhos, estes passariam a ter direito à herança. E quem é que paga essa conta?
Vocês preferem um modelo hipócrita, onde os padres se masturbam ou atacam crianças ou tem namorados ou namoradas clandestinos ou escondidas, mas são solteiros, são aparentemente castos. Ok. Dou a mão à palmatória, existem raras exceções. Tão raras que contamos com os dedos da mão esquerda do Lula.

E você vem me dizer que a Bíblia não fala sobre nenhuma mulher de Jesus. Bem, a Bíblia não é um diário ou um blog. Também não fala que Jesus cagava, arrotava e soltava peidos fedidos. Ou você acha que quando ele soltava um gás, fazia um milagre para que tivesse cheiro de rosas?

Agora, para mim, a melhor de todas é que Maria, nasceu virgem, concebeu virgem e morreu virgem. Já que depois do parto um hímen santo voltou a aparecer no lugar do anterior. Não será demais? Isso me faz lembrar uma garrafada que vendiam no Pará ou no Amazonas que prometia a volta da virgindade. Isso antes do tempo da himenoplastia. Não estou discutindo a santidade de Maria. Acho que Maria é santa, intercede por nós e é tão ou mais importante do que o Pai, agora, se você acredita que ela é tudo isso por causa de um hímen, então retiro tudo o que disse sobre ela.

Afinal, Maria era casada com José e o que é normal numa relação a dois é que, pelo menos de vez em quando, exista uma relação sexual, ou chame como quiser, coito, foda, trepada, metidinha. E ao imaginar José e Maria tendo relações sexuais, filhos (incluindo Jesus, por que não?) isso não a faz menor ou menos importante. Isso a faz grande. Uma mulher completa. Completa e feliz.

Amigo, católico, preocupe-se menos com virgindades, castidades, celibatos, etc. Vá namorar, beijar na boca, transar e ser feliz.

Um abraço,
I.R.

terça-feira, 24 de março de 2009

Há 33 anos

um general cinza
tomou a casa rosada
pintou a democracia de preto
os rios de vermelho
criou uma esperaça marrom

e hoje, de cabelos brancos
e um sorriso amarelo
pede piedade por ser um velhinho

para esse e outros soldados
uma justiça cor de ferro
uma condenação severa e transparente

Ni olvido ni perdón.

I.R.

segunda-feira, 23 de março de 2009

gravidade em cubos

um singelo uísque sem gelo é
um caubói sem cavalo rumo ao frio
em busca dos pinguins.

um singelo molusco que congelo
na minha maloca em Málaca
esperando que um maluco
traga os cubos com gelo é

a chegada à Patagônia
para vermos a geleira se desfazer

e a torrada cair com a geleia pra baixo.

I.R.

sábado, 21 de março de 2009

Bilhete para Bento

Buenos Aires, 21 de março de 2009

Prezado,

quando vejo suas imagens em Angola, falando contra o curandeirismo e proclamando a sua verdade, não posso deixar de pensar na história. De como seus antecesores, em nome de um falso cristo, por meio de diferentes países, tomaram a África de assalto e fizeram, em nome da conversão do negro, correr um rio de sangue.

A sua verdade, Bento, me dá nojo. Porque a sua verdade é adaptável no decorrer dos séculos. As atitudes da organização que você preside não atendem aos anseios dos seus acionistas, mas buscam manter o estatus dos seus diretores e executivos.

Bento, antes de falar de curandeiros e rebaixar crenças tão ou mais antigas do que as suas, seria melhor que você e seus amigos lavassem as batinas sujas que vocês vestem. Sujas de sangue escravo; daqueles negros que vocês diziam não ter alma. Você se lembra?

I.R.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma forma de amor

Sabemos que existem diversas formas de amor. Diferentes formas de amar. Poderia agora escrever sobre o amor de pai, de filho, de irmão, o amor sensual, o amor canibal, entre pessoas de sexos opostos ou do mesmo sexo... Disse bem. Poderia, mas hoje não.

Hoje é dia daquele amor que sofre, que é pisado, talvez traído, mas como uma doença rara ainda não sabe que remédio tomar para se ver livre dele.

A esse amor, meus respeitos e meu pedido pessoal de distância.



I.R.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Recado para um desconfiado/atrevido

Sr. Desconfiado,

na dúvida, não diga apenas não.
Diga não, mas apele para as suas crenças, para a tradição, para a ética e para a moral.

I.R.

_____________________________________________________________________________________


Sr. Atrevido,

na dúvida, não diga simplesmente sim.
Não diga nada e se jogue de cabeça.

I.R.

(Para uma Desconfiada ou uma Atrevida, passe o vocativo para o feminino)

quarta-feira, 18 de março de 2009

desmedido

a palavra exata
a medida justa
a quantidade certa
o momento preciso
a hora h
o dia d
e o excesso
o que seria de nós sem ele?

I.R.

terça-feira, 17 de março de 2009

St. Patrick's Day



São Patrício está para a cerveja assim como Baco está para o vinho.

Saúde!


I.R.

Sem falar que certas fotos dão uma sede...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Carta para os carecas

Buenos Aires, 16 de março de 2009.

Prezados Carecas,

Diz a lenda que é de vocês que elas gostam mais. Mas não pretendo discutir com você sobre a veracidade ou não do dito popular. Se é por causa do excesso de testosterona ou pela economia que significa na hora de comprar produtos de higiene pessoal, como o xampu. Realmente, não vem ao caso.

O fato é que venho percebendo que os carecas estão dominando o mundo. O mundo, sem que percebamos, está se tornando calvo. Talvez o desmatamento das florestas seja além do reflexo de que o ser humano é capaz de se autodestruir, um sinal visível de que o homem quer tornar o planeta à sua imagem e semelhança. Calvo.

Basta andar pelas ruas para ver que a calvície se alastra pelas cabeças masculinas e, por que não, das femininas também. Mulheres com cabelos ralos, com pouco cabelo, com entradas, com o couro cabeludo à mostra. Um dia ainda diremos: “é das carecas que eles gostam mais”. Ou, numa entrevista sobre sedução: “qual é a parte da mulher que mais te seduz? a primeira para onde você olha, a coxa, os seios, o bumbum?” “que isso?! não há nada melhor que um bom couro cabeludo, uma careca brilhante, estilo Pinah, mas sem raspar, natural.”

Isso me faz lembrar que existem os falsos carecas. São aqueles que tendo vasta cabeleira, resolvem raspar a fim de enganar a população simulando serem do novo grupo dominante. O falso careca te engana, te promete calvície eterna, mas tem de passar máquina ou gilete de x em x tempo para não deixar à mostra quem ele realmente é, um impostor.

Poucas telhas à parte, sempre achei mais digno ver um careca assumido do que um envergonhado que, vendo o seu cabelo dar-lhe adeus, resolve fazer alguma coisa para diminuir o impacto visual de sua falta de material capilar. O que eu não entendo é se eles não percebem que tentar disfarçar a careca é ridículo? Ou alguém acha bonito ver um homem com o lado direito da cabeça (o rodapé) com longas madeixas, prontas para serem passadas pela cabeça calva (como se fosse uma ponte), para o lado esquerdo, grudando os fios com saliva, água ou gel. Ou ainda os que deixam os fios da parte de trás crescerem e jogam para a frente, sobre a testa proeminente, de um 20 centímetros, talvez. Alguém olha e consegue não sentir vergonha pela outra pessoa? E implante? Tem coisa mais horrenda que ver um careca da noite para o dia, como num passe de mágica ou um milagre, acordar com cabelo e topete?

Sim, tem, uma coisa mais horrenda. Peruca. E aqui eu me calo. Não há nada que eu possa dizer que vai explicar o desagradável que é ver uma peruca caminhando pela rua com uma pessoa embaixo dela.

E existem loções, tratamento pseudocientíficos, injeções, massagens e uma variedade enorme de etcs. O que me leva a resumir no seguinte: quando o assunto é queda de cabelo, a esperança não é a última que morre. Sabemos que o primeiro que morre é o próprio cabelo. Mas a última que morre, é a vergonha.

Um abraço,

I.R.

Bilhete informativo para os leitores

Buenos Aires, 16 de março de 2009

Amigos,

este pequeno bilhete é para dividir com vocês que além do tradicional cartaeverso.blogspot.com, agora o Carta e Verso pode ser acessado no endereço cartaeverso.tk. O blog é o mesmo, mas com um endereço um pouco menor.

Espero que continuem passando por aqui, lendo os textos, ouvindo as músicas, comentando quando quiserem.

Um abraço,

I.R.

sábado, 14 de março de 2009

em nenenês

angá, gu
dididi iê
aaaaaaaaaa
iê arrá
mamama
nenenê
pa anguê
nununá
vevê

S.R.P.

PS: Não me peçam para traduzir o poema acima. Ele foi ditado para mim em nenenês e o autor, sorrindo, me deu a entender que não queria uma tradução.

I.R.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Bilhete para um músico regional 2

Buenos Aires, 12 de março de 2009

Prezado,

acompanhe a lista:

tucupi,
tacacá,
muruci,
cupuaçu,
pirarucu,
pupunha,
cuia,
taperebá,
bacuri,
açaí,

não, essas não são as compras do mês da dona de casa indígena.

Isso é parte do meu sangue. É o Pará que habita em mim e que só conheço de nome, de foto e de alguns desses sabores. Dizem que o paraense sente saudade pelo estômago. Pode ser. Dizem que o doce de cupuaçu com queijo era servido no Olimpo, e que na última ceia o prato principal foi pato no tucupi. Regado a tecno brega, calipso e, principalmente, carimbó.



(Dando um toque modernoso à música paraense, um clássico...)



I.R.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O poeta e a tradução

A tradução não matou a poesia,
mas deixou o poeta tão cansado
que ele não sabe mais quem é
e nem mesmo o que dizer.

I.R.

terça-feira, 10 de março de 2009

Soneto da paixão fugaz

O mundo das paixões mais que fugazes
Chega ao fim quando chega a independência
E há resignação e incoerência
Por várias estações, em muitas fases

Há delírios oníricos loquazes
Torpores incostantes e inconsistência
Há o final quando chego à independência
E ela se afasta a passos contumazes

Fim da paixão platônico-moderna
Que por doze estações é mais que eterna
Numa falsa euforia e novo afã

E a possuo com olhos pouco astutos
Minha paixão de vinte e alguns minutos
Num metrô na segunda de manhã.

I.R.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Movimentos bruscos

- Bom dia, Maria, o que você está fazendo na minha sala?

- Bom, dia, doutor. Desculpa ter entrado, mas a secretária me disse que eu poderia esperar aqui dentro.

- Tudo bem. E o que a traz aqui?

- É um problema já com diagnóstico.

- Como assim?

- Estou tonta. Todos os dias sinto uma tontura horrível o dia todo. Não sei mais o que é viver sem sentir essa tontura.

- E que história é essa de você já ter o diagnóstico? Temos que fazer exames para ver se é um problema de labirintite.

- Não precisa perder tempo, doutor.

- E gravidez? Não poderia ser.

- Não me faça rir, doutor. Gravidez?! Essa é boa! Só se for do Espírito Santo ou do espírito de porco. Não sei o que é um homem há meses, desde que o José me largou para fugir com outra.

- Mas, Maria, eu não posso aceitar que você chegue aqui dizendo que já sabe o que tem. O médico aqui sou eu.

- Doutor, mas o meu problema é a rotação.

- O quê?

- É. A rotação da terra está me deixando tonta.

- Maria, não seja ridícula! As leis da física dizem que isso é impossível.

- Ah, doutor, era impossível. Agora não é mais. Um dia, eu acordei de manhã e enquanto preparava um café com leite, percebi que o mundo estava girando e esse movimento me deixou zonza, tonta, com vontade de vomitar. Confesso, com um certo nojo, que tenho vomitado bastante nas últimas semanas.

- Você tem certeza de que não está grávida?

- Doutor, já disse, desde que o José fugiu com aquela piranha da secretária dele não tive mais nada com ninguém. Quer dizer, dei uns amassos num colega de trabalho, mas sem penetração.

- Ah, minha filha, mas nas coxas também se engravida.

- Doutor...

- Não me interessa. Aqui está o pedido. Vai fazer os exames e depois que estiverem prontos você volta aqui e a gente conversa.

Poucos dias depois, o médico ao entrar na sua sala encontra a Maria agarrada ao pé da mesa, com as pernas para o alto, se segurando para não sair voando pela janela.

- Maria, o que é isso, pelo amor de Deus?

- É a translação, doutor. É a translação.

I.R.

domingo, 8 de março de 2009

Carta para as mulheres em seu dia

Buenos Aires, 08 de março de 2009

Prezadas,

Definitivamente, a vida de vocês não é fácil. Ou pelo menos, ainda não é. A gente nunca sabe quando o mundo das invenções e da tecnologia vai inventar algo novo e vai revolucionar todos os nossos conceitos.

Mas num mundo predominantemente machista, nascer mulher é duro. Falando de coisas que podem ser mudadas, é vergonhoso ver que no mercado de trabalho, em pleno século XXI, as mulheres ainda ganham menos do que os homens, ainda ocupam menos cargos de chefia, estão menos presentes na estrutura de poder dos países e das organizações internacionais e todos os dias têm que matar um leão para provar que a competência é maior do que uma cara bonita.

Esse é um outro ponto. Ser mulher e bonita, no mercado de trabalho, é duas vezes mais complicado. As cantadas dos colegas, do chefe, o assédio sexual, o disse-me-disse de que a promoção foi fruto do sofá, não do trabalho bem feito, tudo isso exemplifica como ainda é duro ser mulher no mundo corporativo. Não falo das escolas, onde as mulheres são maioria, e aí o mais difícil é ser homem.

Isso sem falar das agora secretárias do lar, antigas empregadas domésticas, que depois de fazer todo o serviço na casa onde trabalha, tem de trabalhar o mesmo ou o dobro na casa onde mora.

Não entro nessa discussão imbecil sobre quem é mais inteligente ou tem mais neurônios. Somos igualmente inteligentes ou burros. Mas temos maneiras de pensar diferentes. Vemos o mundo, as relações humanas, o sexo, o trabalho, a fofoca, a arte, de uma maneira diferente. É por isso, acredito, que temos mulheres com cérebro masculino e homens com cérebro feminino, e não estou falando aqui de opção sexual.

Agora, saindo dessa questão trabalhista e cerebral e voltando ao início desta carta, ser mulher não pode ser fácil. Mulher tem TPM. Mulher menstrua. Mulher, normalmente, faz xixi sentada e tem que se enxugar depois. Mulher tem que se depilar (graças a Deus). Não, eu não aguentaria. Sou fraco, covarde demais para ser mulher. Não gosto de ver sangue, não poderia arrancar meus pelos, não suportaria a cera ou a maquininha de depilar. Não.

Meus maiores respeitos à mulher. E sem esse papo de santa. Tô cansado dessa santificação da mulher apenas por ser mulher. Mas sem essa também de que se não é santa, é puta, ou Eva ou Maria. Eva, Maria, Adriana, Iris, Ana Cristina, Honorina, Heloïsa, Eneida, Eliana, Wanda, Vanda, Idalina, Elisa, Grace, Celina, Matilde, Dulce, Jacirema, Luísa, Ana Augusta, Pedrina, há tantos nomes, tantos seres humanos, com virtudes e defeitos.

Parabéns, mulheres, pela data que marca o seu dia de luta por um mundo mais igualitário entre vocês e nós. Espero ainda poder ver um mundo menos sexista, onde a mulher não sofra violências. Mas, não posso negar uma coisa: Fazer xixi em pé, dar uma balançadinha e não ter que usar papel higiênico depois, é o máximo, e não troco por nada desse mundo.

Meus parabéns,

I.R.

sábado, 7 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

quiromancia

enquanto lia a mão da cigana
nada pude lhe dizer sobre seu futuro.
seu passado era de fama,
rainha dos ciganos,
seu futuro deveria ser promissor também,
mas nada pude ler
na palma de sua mão
que não fossem notas musicais,
bemóis, sustenidos,
bodas e funerais,
festa cigana, dor cigana.
enquanto lia essa mão
via a sua garganta
sorvia a sua voz.



E um outro vídeo... maior, mas de qualidade inferior.



I.R.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Décimo-sétimo bilhete para um world músico

Buenos Aires, 05 de março de 2009

Prezado,

trago de Mompox um exemplo vivo de que a ideia de fusão na música não é uma novidade. Ela teve inicio há muito tempo, há séculos vem sendo cozinhada no grande caldeirão da multiculturalidade. Eita palavrinha complicada de difícil, sô!

E se a fusão na música é antiga, antiga é a minha certeza de que se não fossem os negros, até hoje estaríamos dançando minuetos e valsas nos salões.

Salve Totó La Momposina! Viva a Colômbia! "Deus salve a América do Sul!"





Um abraço,

I.R.

quarta-feira, 4 de março de 2009

quando Aziza tocou seu jazz

quando Aziza tocou seu jazz,
me levantei do jazigo,
se renovou a jazida,
e o piano de Aziza
passou a dizer
aqui jazia,
mas não mais jaz
um homem que não sabe escutar.
quando Aziza tocou seu jazz
os anjos deixaram suas harpas,
Jasão abandonou o velo de ouro,
Josué desistiu de Jericó
e Judas e Jesus deram-se as mãos
e fizeram as pazes.
quando Aziza tocou seu jazz
seu piano invadiu minha casa
e por dez dias não pude dizer a verdade.
quando Aziza tornou-se Jazziza
a música agradeceu e nesta noite
nos sentimos bem,
e sentimos o mundo
numa esquina montanhosa
do Azerbaijão.



E em Orfeu Negro



I.R.

terça-feira, 3 de março de 2009

Bilhete para o Polaco da Nhanha

Buenos Aires, 03 de março de 2009

Prezado Polaco,

Sei que você gosta de música. E pelo pouco que nos conhecemos, acho que você tem um gosto variado. Aliado a isso, aproxima-se o Dia Internacional da Mulher. Não me interprete mal, não o estou chamando de mulherzinha. Só que pelos seus textos, percebe-se que você tem um carinho, uma admiração e um interesse profundo por elas.

Por isso, gostaria de dividir com você o prazer de ouvir esta mulher.



Ou estas mulheres...



Um abraço,

I.R.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Para o meu filho

Buenos Aires, 02 de março de 2009

Amado filho,

primeiro que tudo, obrigado por ser meu filho. Obrigado por estar me ensinando a ser seu pai enquanto aprende a ser meu filho. Afinal, a vida também é isso, não é? Uma troca entre as pessoas, um aprendizado mútuo.

Meu filho, falar sobre você e para você é uma necessidade nova, deste pai que é discretamente coruja e profundamente babão. Gosto de estar com você, de brincar junto, de sair para dar uma volta, de fazer e dar a sua mamadeira (mesmo às três da manhã) e quando chego em casa, cansado ou não, ver o seu sorriso e a sua alegria são algo que não pode ser definido com palavras.

Dá trabalho. É cansativo, afinal não deixei de ser marido (às vezes até que sim, e peço perdão), professor, tradutor, co-dono de dois gatos... Mas vale. Pra mim, vale.

Santiago, você chama a atenção na rua por ser ruivo e ter olhos azuis. As pessoas sempre comentam sobre a cor dos seus olhos. Mas sabe, meu filho, eu disse outro dia à sua mãe que a cor dos seus olhos é apenas a cereja do bolo. Na verdade, o que é mais bonito é o seu olhar. Você tem um olhar profundo, sedutor, observador. Sair com você na rua é divertido, pois vejo que você não distribui sorrisos por aí, mas olha para tudo e para todos com muita atenção. Algumas pessoas até pensam que você é sério. Nós sabemos que não.

Sinto que poderia ficar escrevendo por muito tempo, divagando, escrevendo parágrafos sem um nexo entre si, apenas para falar sobre essa experiência nova de ser pai, de ser seu pai. Sabe, uma coisa é certa, hoje eu te amo mais do que quando você nasceu. E isso não significa que eu não te amasse antes. Mas é que a gente não se conhecia. E normalmente é difícil amar o que não se conhece.

Obrigado por existir, Santiago. E, como não sou de grandes expectativas, espero ver você apenas crescendo saudável, feliz. Espero que você seja uma criança, um adolescente, um adulto, um velho, realizado. E feliz. Mas basta a cada dia o seu cuidado.

Um dia após o outro. Um pé após o outro... como você faz, quando o seguramos pelas mãos.

Um beijo do seu pai,

I.R.

domingo, 1 de março de 2009

Djivan e Djavan

Qual a diferença?
São de diferentes países,
com diferentes culturas,
experiências diversas.
Qual a diferença?
Quando a sensibilidade,
a musicalidade,
e a entrega à emoção
são enormes
e são idênticas...
Qual a diferença?
Um i, um a.
Qual a diferença?
...
Engana-se quem pensa que existe alguma.

Djivan (e amigos)



Djavan



I.R.