segunda-feira, 2 de março de 2009

Para o meu filho

Buenos Aires, 02 de março de 2009

Amado filho,

primeiro que tudo, obrigado por ser meu filho. Obrigado por estar me ensinando a ser seu pai enquanto aprende a ser meu filho. Afinal, a vida também é isso, não é? Uma troca entre as pessoas, um aprendizado mútuo.

Meu filho, falar sobre você e para você é uma necessidade nova, deste pai que é discretamente coruja e profundamente babão. Gosto de estar com você, de brincar junto, de sair para dar uma volta, de fazer e dar a sua mamadeira (mesmo às três da manhã) e quando chego em casa, cansado ou não, ver o seu sorriso e a sua alegria são algo que não pode ser definido com palavras.

Dá trabalho. É cansativo, afinal não deixei de ser marido (às vezes até que sim, e peço perdão), professor, tradutor, co-dono de dois gatos... Mas vale. Pra mim, vale.

Santiago, você chama a atenção na rua por ser ruivo e ter olhos azuis. As pessoas sempre comentam sobre a cor dos seus olhos. Mas sabe, meu filho, eu disse outro dia à sua mãe que a cor dos seus olhos é apenas a cereja do bolo. Na verdade, o que é mais bonito é o seu olhar. Você tem um olhar profundo, sedutor, observador. Sair com você na rua é divertido, pois vejo que você não distribui sorrisos por aí, mas olha para tudo e para todos com muita atenção. Algumas pessoas até pensam que você é sério. Nós sabemos que não.

Sinto que poderia ficar escrevendo por muito tempo, divagando, escrevendo parágrafos sem um nexo entre si, apenas para falar sobre essa experiência nova de ser pai, de ser seu pai. Sabe, uma coisa é certa, hoje eu te amo mais do que quando você nasceu. E isso não significa que eu não te amasse antes. Mas é que a gente não se conhecia. E normalmente é difícil amar o que não se conhece.

Obrigado por existir, Santiago. E, como não sou de grandes expectativas, espero ver você apenas crescendo saudável, feliz. Espero que você seja uma criança, um adolescente, um adulto, um velho, realizado. E feliz. Mas basta a cada dia o seu cuidado.

Um dia após o outro. Um pé após o outro... como você faz, quando o seguramos pelas mãos.

Um beijo do seu pai,

I.R.