segunda-feira, 16 de março de 2009

Carta para os carecas

Buenos Aires, 16 de março de 2009.

Prezados Carecas,

Diz a lenda que é de vocês que elas gostam mais. Mas não pretendo discutir com você sobre a veracidade ou não do dito popular. Se é por causa do excesso de testosterona ou pela economia que significa na hora de comprar produtos de higiene pessoal, como o xampu. Realmente, não vem ao caso.

O fato é que venho percebendo que os carecas estão dominando o mundo. O mundo, sem que percebamos, está se tornando calvo. Talvez o desmatamento das florestas seja além do reflexo de que o ser humano é capaz de se autodestruir, um sinal visível de que o homem quer tornar o planeta à sua imagem e semelhança. Calvo.

Basta andar pelas ruas para ver que a calvície se alastra pelas cabeças masculinas e, por que não, das femininas também. Mulheres com cabelos ralos, com pouco cabelo, com entradas, com o couro cabeludo à mostra. Um dia ainda diremos: “é das carecas que eles gostam mais”. Ou, numa entrevista sobre sedução: “qual é a parte da mulher que mais te seduz? a primeira para onde você olha, a coxa, os seios, o bumbum?” “que isso?! não há nada melhor que um bom couro cabeludo, uma careca brilhante, estilo Pinah, mas sem raspar, natural.”

Isso me faz lembrar que existem os falsos carecas. São aqueles que tendo vasta cabeleira, resolvem raspar a fim de enganar a população simulando serem do novo grupo dominante. O falso careca te engana, te promete calvície eterna, mas tem de passar máquina ou gilete de x em x tempo para não deixar à mostra quem ele realmente é, um impostor.

Poucas telhas à parte, sempre achei mais digno ver um careca assumido do que um envergonhado que, vendo o seu cabelo dar-lhe adeus, resolve fazer alguma coisa para diminuir o impacto visual de sua falta de material capilar. O que eu não entendo é se eles não percebem que tentar disfarçar a careca é ridículo? Ou alguém acha bonito ver um homem com o lado direito da cabeça (o rodapé) com longas madeixas, prontas para serem passadas pela cabeça calva (como se fosse uma ponte), para o lado esquerdo, grudando os fios com saliva, água ou gel. Ou ainda os que deixam os fios da parte de trás crescerem e jogam para a frente, sobre a testa proeminente, de um 20 centímetros, talvez. Alguém olha e consegue não sentir vergonha pela outra pessoa? E implante? Tem coisa mais horrenda que ver um careca da noite para o dia, como num passe de mágica ou um milagre, acordar com cabelo e topete?

Sim, tem, uma coisa mais horrenda. Peruca. E aqui eu me calo. Não há nada que eu possa dizer que vai explicar o desagradável que é ver uma peruca caminhando pela rua com uma pessoa embaixo dela.

E existem loções, tratamento pseudocientíficos, injeções, massagens e uma variedade enorme de etcs. O que me leva a resumir no seguinte: quando o assunto é queda de cabelo, a esperança não é a última que morre. Sabemos que o primeiro que morre é o próprio cabelo. Mas a última que morre, é a vergonha.

Um abraço,

I.R.