- Bom dia, Maria, o que você está fazendo na minha sala?
- Bom, dia, doutor. Desculpa ter entrado, mas a secretária me disse que eu poderia esperar aqui dentro.
- Tudo bem. E o que a traz aqui?
- É um problema já com diagnóstico.
- Como assim?
- Estou tonta. Todos os dias sinto uma tontura horrível o dia todo. Não sei mais o que é viver sem sentir essa tontura.
- E que história é essa de você já ter o diagnóstico? Temos que fazer exames para ver se é um problema de labirintite.
- Não precisa perder tempo, doutor.
- E gravidez? Não poderia ser.
- Não me faça rir, doutor. Gravidez?! Essa é boa! Só se for do Espírito Santo ou do espírito de porco. Não sei o que é um homem há meses, desde que o José me largou para fugir com outra.
- Mas, Maria, eu não posso aceitar que você chegue aqui dizendo que já sabe o que tem. O médico aqui sou eu.
- Doutor, mas o meu problema é a rotação.
- O quê?
- É. A rotação da terra está me deixando tonta.
- Maria, não seja ridícula! As leis da física dizem que isso é impossível.
- Ah, doutor, era impossível. Agora não é mais. Um dia, eu acordei de manhã e enquanto preparava um café com leite, percebi que o mundo estava girando e esse movimento me deixou zonza, tonta, com vontade de vomitar. Confesso, com um certo nojo, que tenho vomitado bastante nas últimas semanas.
- Você tem certeza de que não está grávida?
- Doutor, já disse, desde que o José fugiu com aquela piranha da secretária dele não tive mais nada com ninguém. Quer dizer, dei uns amassos num colega de trabalho, mas sem penetração.
- Ah, minha filha, mas nas coxas também se engravida.
- Doutor...
- Não me interessa. Aqui está o pedido. Vai fazer os exames e depois que estiverem prontos você volta aqui e a gente conversa.
Poucos dias depois, o médico ao entrar na sua sala encontra a Maria agarrada ao pé da mesa, com as pernas para o alto, se segurando para não sair voando pela janela.
- Maria, o que é isso, pelo amor de Deus?
- É a translação, doutor. É a translação.
I.R.