Buenos Aires, 20 de janeiro de 2008
Prezada Santa Cecília,
O que seríamos de nós sem a música? Mas não sei se posso falar por toda a humanidade... Bem, o que seria de mim sem a música? Obrigado por cuidar dela há tantos séculos.
Sabe, este blog não é autobiográfico, muito menos de reminiscências, mas é inevitável não me lembrar daquelas tardes quando eu era criança, e depois adolescente, quando passava horas ouvindo música. Doses cavalares de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Clara Nunes, Fágner, um grupo de música latino-americana chamado Tarancón, Mercedes Sosa, Milton Nascimento, um LP chamado Hare Krishna Festival, produzido por George Harrison, Gonzaguinha, Beth Carvalho, e tantos outros e outras. Ah, tive uma fase Mozart, Beethoven, Vivaldi, etc, também.
E o rock? O rock chegou mais tarde, apesar do vinil dos Beatles na prateleira de casa quando eu era pequeno. Mas um dia chegou o momento do Legião Urbana, do Cazuza, do Barão Vermelho, do Titãs, do The Cult e da Afrociberdelia de Chico Science e da Nação Zumbi. Mas confesso que escutei pouco do chamado rock internacional, apesar do Rock in Rio 3, e da presença na Praia de Copacabana no show dos Rolling Stones.
Sabe, Santa Cecília, acho que hoje, mais do que nunca, qualquer um grava um CD. Sei que não sou dono da verdade para dizer o que é bom e o que é ruim. Existem milhares de críticos de plantão prontos para apontar o que é chique, ou cult, e o que é brega, e eu não sou nem quero ser um deles. Acho que qualquer um tem o direito de ouvir o que melhor lhe chega aos ouvidos e ao coração. Mas, sinceramente, tem um monte de música por aí da qual eu não gosto. O mercado está cheio de música comercial. Já sei, se está no mercado é pra vender. O problema é que massificam certas coisas que... bem, sei lá. Não quero me contradizer ao ponto de dizer coisas desagradáveis sobre o trabalho de algumas pessoas. Não quero comparar Zezé di Camargo e Luciano à Maria Bethânia cantando a música “É o amor”. Esse é um trabalho que compete a cada um... se quiser.
Eu, mais do que ninguém devo calar a boca, afinal, também gosto de Sidney Magal, Odair José, e tantos outros cantores presentes em qualquer lista de música cafona, salvo o cacófato.
Música é música. Não é nem boa nem ruim. Toda classificação nesse sentido é parte de um projeto da elite, econômica ou cultural, para continuar submetendo a maior parte da população, rotulando-a com o selo do “mau gosto”.
Música é música, minha santa. E por isso, resolvi fazer uma coisa neste blog. Como eu escuto muita e variada música, quero compartilhar um pouco disso com meus leitores. (Terei algum além dos meus pais, da minha tia e alguns alunos?)
A música e a poesia caminham de mãos dadas. É o ritmo, Santa Cecília. Ambas precisam de ritmo. E ambas nos levam a outros mundos, ambas projetam mundos no mundo. E sonhos, e delírios, e prazer, e podem nos arrancar tanto uma lágrima quanto um sorriso.
Bem, minha santa. Vou ficando por aqui, mas quero compartilhar com você, e com todos, essa pequena lembrança de Pio Leiva e Ibrahim Ferrer. Dois cubanos que fazem muita falta nos palcos do mundo.
Um abraço em clave de sol... (ou de fá, por que não?),
I.R.