Buenos Aires, 8 de janeiro de 2008
Prezado escritor,
Antes de qualquer coisa, quero compartilhar uma idéia com você. Os homens que se aproximam dos quarenta também se sentem sós. Esse mito do homem que não quer formar família, que não quer compromisso, que prefere ir de festa em festa, é apenas isso mesmo, um mito.
Os homens também sonham em formar uma família. Os homens também querem ter filhos. Os homens também querem encontrar uma companheira (ou um companheiro, por que não?).
Mas não é exatamente sobre isso o que eu gostaria de conversar com você nesta carta. Pelo menos, não hoje.
O que gostaria de te dizer é que sim, tudo está escrito. Tudo está dito. Tudo o que você quiser escrever já foi feito por outro escritor, e, provavelmente, melhor do que você e do que eu... juntos! Mas sabe de uma coisa, isso não é uma verdade absoluta.
Bem, eu não acredito em verdades absolutas. E se não acredito em verdades absolutas, acho que apesar de muita coisa ter sido escrita, muita coisa ter sido muito bem escrita, sempre há algo novo para ser dito. Sempre há um enfoque novo, pessoal, e que é diferente do que escreveu Joyce, Borges ou Machado de Assis, apenas para citar alguns nomes.
E num mundo cheio de novidades, cheio de mudanças, num mundo que segue um ritmo vertiginoso, sempre vai haver algo para ser dito. Algo novo e coisas velhas, que também precisam ser ditas novamente. E se for necessário vomitar nossas misérias, vomitemos. E se for preciso gritar a alegria e o amor, por mais que pareça brega, antiquado, façamos, e que não nos importe se alguém já falou sobre isso, ou se é algo que está carregado de novidade.
Quanto aos leitores, sempre há alguém interessado em ler. Mesmo que não seja uma novidade. Quantas pessoas já escreveram sobre o fato de escrever não precisar estar relacionado com a novidade? Acho que muitos. Mas não importa. Importa a minha visão sobre o assunto. Importa a sua visão sobre tantos outros assuntos.
Cada um de nós tem um ponto de vista. Viveríamos num mundo melhor se nos escutássemos, se nos lêssemos um pouco mais, e se pudéssemos fazer ver os nossos pontos de vista sabendo respeitar os pontos de vista de todos.
Um abraço,
I.R.