sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Carta para um ex-blogueiro

Buenos Aires, 04 de janeiro de 2008

Prezado ex-blogueiro,

Estava eu procurando alguma “informação” sobre música uruguaia, para não dizer que estava à procura de algum cd de candombe para um bom download, quando vi que você encerrava as atividades do seu blog.

O que mais me chamou a atenção não foi o fato de você desistir do blog, afinal qualquer um pode começar um blog e abandoná-lo. O que me deixou pasmo foi ver você na despedida reclamar das pessoas que acessaram (umas 50.000) o seu blog sem sequer deixar uma palavra de agradecimento pelo seu trabalho.

Sabe, em minha opinião, o que menos te importava era compartilhar suas idéias, seus conhecimentos, seu amor pela música. Você era, ou é, como a maioria. Só se importa com o reconhecimento, com os louvores e os aplausos. Só pode ser feliz se tem um séquito de puxa-sacos dizendo a você, pelo menos, um muito obrigado.

Vou te dizer uma coisa. Um “obrigado” de vez em quando é bom, claro. Também não vamos ser hipócritas. Assim como um aumento salarial também é bom, e o trabalhador também precisa desse tipo de reconhecimento para ter acesso ao básico e ao mínimo conforto nesse mundo capitalista. Mas, às vezes, amigo, em certas ocasiões, não há salário ou obrigado que tenha maior valor que o simples fato de compartilhar algo.

E podemos compartilhar tantas coisas... desde nosso tempo aos nossos conhecimentos, passando por nossos gostos, por nossa arte, por nossos sonhos, desejos, planos, projetos, vida. Compartilhar é vida. E a vida não pode depender se nos dizem obrigado ou não.

É difícil escrever sem pensar que um dia posso ser vítima de meus próprios comentários ou minhas críticas. Mas uma coisa é certa, eu escrevo sem esperar críticas ou mesmo elogios. Escrevo por necessidade. A necessidade de me expressar e, com quem me lê, a necessidade de compartilhar vida.

Espero, ex-blogueiro, que um dia você possa pensar nessas coisas. E, de repente, voltar ao blog. Sem esperar nada. Absolutamente nada. O que vem é sempre lucro.

Um abraço,

I.R.