terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Carta para um preconceituoso

Buenos Aires, 22 de janeiro de 2008

Sr. Preconceituoso,

Há coisas que não entendo nessa sua postura discriminatória. Um ser humano é sempre um ser humano.

Por que um homem é mais do que uma mulher? Por que existem trabalhos de homem e trabalhos de mulher, e aos primeiros lhes pagam mais quando fazem um mesmo trabalho?

Por que um negro é inferior a um branco? Por que o branco tem maior acesso à educação, ao trabalho, ao respeito, e ao negro lhe espera sempre o papel de empregada doméstica nas novelas da Globo?

Por que um hétero é mais normal do que um homossexual? Desde quando a normalidade do ser humano é definida pelo que (ou como) fazem com seus orifícios? Quem determinou que o amor é exclusivo da heterossexualidade?

Por que um cristão é melhor do que um muçulmano? Quem decretou que Deus, Javé, Jeová é mais poderoso que Alá. Quem tem a autoridade para condenar os umbandistas ao fogo eterno e mandar os evangélicos para o paraíso? Quem determina que a Bíblia é mais sagrada que a Bhagavad Gita ou o Corão?

O mundo não pertence com exclusividade aos homens brancos, cristãos e heterossexuais. O mundo é plural, e o ser humano precisa aprender a viver em meio às diferenças. Ninguém é melhor do que ninguém, como se a vida fosse um jogo de cartas Supertrunfo.

Há atitudes boas e ruins nas pessoas, e isso não depende da cor da pele, da crença, de ter ou não alguma deficiência física ou mental, do sexo e da opção sexual. Isso depende de cada ser humano, da educação que teve, da maneira como encara a vida.

Em nome da superioridade muita coisa ruim já foi e é cometida. Em nome da superioridade, o Brasil nasceu à custa do trabalho escravo, Hitler assassinou 6 milhões de judeus, que, por sua vez, impedem a existência de um Estado Palestino. Em nome da superioridade, os cristãos foram perseguidos, e um dia passaram a ser perseguidores. Em nome dessa mesma superioridade, um milhão e meio de armênios morreram nas mãos dos turco-otomanos, no primeiro genocídio do século passado. Em nome da superioridade, gays, lésbicas, imigrantes, migrantes, favelados, povo de santo, ciganos, minorias dos mais variados tipos, sofrem pelas ruas, guetos e acampamentos de refugiados do mundo.

Até quando?

Atenciosamente,

I.R.