quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Carta de fim de ano

Arraial do Cabo, 31 de dezembro de 2009

Prezados,

2009 está chegando ao final em pouco mais de uma hora, pelo menos na Nova Zelândia. Aqui no Brasil falta um pouco mais de horas, e na Argentina uma hora a mais do que aqui. Mas isso não importa. A contagem e a passagem do tempo só não são 100% relativas por causa das rugas e da necessidade do viagra que surgem com os anos.

Esta é a época das promessas de fazer ginástica, parar de fumar, rever os amigos, começar uma dieta, ler mais, voltar a estudar, ter mais paciência, que se tornarão novamente promessas a partir de 20 dezembro de 2010, aproximadamente.

Esta é a época dos mapas astrais, das previsões do futuro, do sol e dos planetas nas casas astrológicas indicando que caminhos tomar e mostrando o que pode acontecer em nossas vidas de acordo com a estrada que tomamos. Mas nunca sem levar em conta os asteroides.

Não venho aqui falar que o mundo vai terminar em 2012 por culpa de um asteroide, ou que foi por causa de um deles que os dinossauros se extinguiram na Terra. Não sou um cientista, nem um erudito. Sou apenas um poeta que não quer que suas casas astrológicas sejam ocupadas por planetas. Os planetas são grandes e o impacto deles na vida acabam sendo pouco tranquilos. Quero um asteroide da casa 1à casa 12.

Um asteroide no meu mapa astral, e a serenidade de não fazer promessas de fim ou de início de ano. Começo 2010 com um estilo de vida robertocarliano, uma vida sem promessas, mas com propostas. Deu para fazer? Ótimo. Não deu? Paciência. E a tranquilidade de que nem tudo o que você disser será usado um dia contra você neste tribunal.

Abraços e feliz 2010,

I.R.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Perto do mar

Certas coisas não se explicam, e outras, mesmo explicadas, não se entendem. Não quero ofender, não quero magoar, não quero ferir. Quero ser uma pessoa melhor, e procurar dizer as coisas como sinto é parte do processo. Que o tempo me julgue.

"¿Qué le voy a hacer si yo nací en el... 'Océano Atlántico'?"


I.R.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

quadro

o sol que se põe atrás das nuvens na praia grande
pinta um quadro onde sou personagem,

um com a natureza,
tenho o corpo feito de areia,
meus cabelos são algas,
mexilhões, conchas e peixes me dão forma,

meu coração é um polvo batendo no peito
e embaixo do céu azul,
ou sobre o oceano da mesma cor,
tenho um mar nas veias,
por onde o sal corre,
fazendo eu-personagem me personificar.

I.R.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Carta e Verso - 2 anos



Arraial do Cabo, 27 de dezembro de 2009

Prezados,

hoje o Carta e Verso faz 2 anos. Tanta coisa mudou no mundo e em mim nestes dois anos, tantas novidades, tantas incertezas. E minha única segurança é a de querer, de precisar, continuar escrevendo.

Já disse várias vezes que não escrevo um diário nem uma autobiografia. Não estou aqui para falar de mim, ainda que esteja em muitas, mas nem em todas, entrelinhas.

Escrevo como forma de expressão, como desabafo, como brincadeira, como forma de me posicionar no mundo, escrevo para me contradizer e como forma de mostrar meus sentimentos, mostrar o que senti e o que sinto e o que quis e o que quero.

Espero que os que por aqui passam continuem vindo, continuem comentando (os que gostam de comentar), o Carta e Verso é escrito por mim, mas também pertence aos que o leem. Espero que o terceiro ano deste blog seja como os outros dois, com textos, poemas, música e aquela sensação de que escrever e poder ser lido é muito bom.

Um abraço,

I.R.
(ou para quem me conhece, Igor Ravasco)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Na véspera da festa do Sol Invicto


Buenos Aires, 24 de dezembro de 2009.

Meu filho,

antigamente o Natal era uma festa onde se lembrava o nascimento de Jesus (por mais que não tenha nascido no dia 25 de dezembro, se é que nasceu), e, em função disso, se dava algum presente para os familiares ou mesmo para os amigos mais íntimos.

Hoje, o Natal é a festa de um Papai Noel imposto pela Coca-Cola, onde o que importa é se empanturrar e consumir até não poder mais. Jesus? A Madonna diz que vai bem, obrigada.

Nesta véspera da festa do Sol Invicto, meu filho, o que quero lembrar a você é que não importam os nomes de Deus nem de seus filhos. Não importam as datas, pois são meras convenções. Importa manter acesa a chama do Amor.

Comamos, bebamos, ganhemos presentes, mas sem nos esquecermos de que o Amor, o Sol Invicto, deve brilhar e emanar todos os dias de nós.

Um beijo, amo você,

I.R., seu pai.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

um sentimento

um sentimento que não posso descrever,
pois não é meu e não o sinto,
pousa em sibir.
e mesmo sem poder descrevê-lo
ou poder senti-lo,
termino com ele ao lado
e o comungo
e o trago para dentro

compartilho a sua existência
através da palavra
e mesmo sem uma descrição,
posso escrevê-lo
desenrolando o novelo
fazendo da novela
mais do que um sentimento,
ou uma sensação.

posso ver como sibir se ilumina
sorri
e se sente
e se descobre
e se descreve
e reescreve os seus sentimentos,
a sua história.

I.R.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

caiu

a ira e o irã
o ira e o irão
e o irei
e o rei
deposto ou não

o afeganistão,
os estados unidos
a opressão

aqui, ali, alá
e o aiatolá

eta, olha o eta!

olha a guerra,
a motosserra.

cadê a árvore que estava aqui?

I.R.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

sábado, 19 de dezembro de 2009

Tamanho

De grandeza nós temos a mania
De sermos o melhor da criação
Ou sermos o final da evolução
Pra quem prefere tal filosofia

Cremos possuir a ciência e a magia
E que Deus tem por nós predileção
Ou o acaso, se Deus é ilusão,
É quem nos faz senhores e nos guia

Só rio, sem ser dono da verdade
Pois eu acho que nossa realidade
É sermos uma mancha, uma sujeira

Ou ser então do arroz só o gorgulho
Pois mais é pretensão, é muito orgulho
Já que somos do nada quase poeira.

I.R.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Vigésimo sétimo bilhete para um world músico

Buenos Aires, 18 de dezembro de 2009

Prezado,

você já sabe que não falo todos os idiomas do mundo. Para ser sincero, falo dois, e quero aprender mais um. Mas quando falamos de música, sabemos que não é necessário entender o que se canta, basta sentir. E a voz se torna mais um instrumento.

E quando se trata de Emil Zrihan, meu amigo, não estamos falando de qualquer voz.


Agora, só um comentário. A voz é incrível, mas você não acha que ele deveria dar uma passadinha pelo cabeleireiro?


Um abraço,

I.R.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

flor entre flores


Fonte: Flickr

no centro do bosque
há um jardim escondido,
no centro do jardim,
uma flor,
amarela e branca,
segura outras flores,
e me convida a compartilhar o momento.

as flores, em número ímpar,
sinal de vida,
sabem-se mais bonitas
ao estarem em boas mãos,
no centro de um jardim escondido,
no centro de um bosque.

e do centro desse jardim escondido,
no centro desse bosque,
o delicado perfume se espalha,
se intensifica
e explode
em milhares de píxels
enquanto a flor sorri para mim
ofuscando as outras flores,
e o milagre da vida é redescoberto
na simplicidade da natureza.

I.R.



terça-feira, 15 de dezembro de 2009

aquilo que executa

quando o vento passou,
inesperado,
arrancando meu telhado,
eu não sabia quem eu era.

quando aquilo que vem e vai,
aquilo que inspira e executa,
passou como o vento
e arrancou meu telhado,
(e minhas paredes)
mesmo sem saber quem era,
ou o que vinha,
sem teto e sem abrigo,
me senti inspirado a descobrir.

I.R.

domingo, 13 de dezembro de 2009

meu deus


meu deus não tem cara nem nome,
e se o chamo deus é por costume.
poderia chamá-lo natureza,
pachamama, mãe-terra,
e seu efeito em mim seria o mesmo.
creio em seu amor,
até mais do que creio em seu poder,
creio em sua misericórdia,
e, sobretudo, creio em sua liberdade.
meu deus é livre,
livre de regras,
livre de livros,
livre de religiões.
um deus tão pessoal
que às vezes penso
que se tivesse nome
também se chamaria igor.

I.R.

Não junteis

Os planos econômicos sempre nos fizeram perder dinheiro, isso quando não decidiram diretamente confiscá-lo. A inflação faz com que o valor da moeda seja menor. A desvalorização em relação à uma moeda mais forte também afeta o nosso poder de compra, o preços dos produtos. Os divórcios nos fazem perder objetos. Os ladrões ou assaltantes nos fazem perder nossas posses. Os estelionatários e as igrejas também encontram a maneira de levar o seu quinhão. O dinheiro, as posses, os objetos, o que é material vai e vem, perece, fenece, enferruja, apodrece. Vão-se os anéis, mas fiquem os dedos. Nem tudo o que brilha é ouro, nem todo Ouro realmente brilha.


I.R.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

bétula


sei que seu jardim é grande,
e nele há mais do que rosas,
margaridas, violetas e qualquer outra flor.
há pinheiros, carvalhos, tílias
cogumelos, batatas,
tomates,
pequenos animais...
pois você não tem um jardim,
tem um bosque,
e nesse bosque quero entrar
e ser transformado pela sua guardiã,
sua feiticeira,
em bétula.
quero ser bétula,
e como bétula ser abraçado todos os dias.

I.R.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Carta para quem foge do confronto

Buenos Aires, 09 de dezembro de 2009

Prezado/a

Só temos uma vida para viver, e não é possível vivê-la sempre em função do outro, dos outros. Não devemos, ou pelo menos não deveríamos, pautar nossas decisões em procurar agradar os demais, em fazer com que as pessoas criem ou mantenham uma imagem que têm de nós.

Não podemos pseudo-viver, nos anulando em função da manutenção de uma vida que não é nossa, mas que outros, pai, mãe, mulher, marido, ex-mulher, ex-marido, namorado, namorada, filho, patrão, amigos, gostariam que fosse.

Não podemos eternamente fugir do conflito, do confronto. Fugir do confronto é um dia se deparar com o confronto em um nível mais elevado, com consequências maiores. Fugir do confronto é viver num estado de frequente angústia pela vida vivida pela metade, é ver que a vida passa por você e não você por ela.

E só há uma forma de viver. Encarando as situações de frente. Ficando na frente do problema e assumindo nossos desejos, nossas vontades, por mais que isso doa no outro, por mais que isso cause o sofrimento dos que nos rodeiam. E, com respeito, ter a cabeça erguida para dizer que não. Ou para dizer que acabou. E também para dizer sim, para comunicar uma decisão, para anunciar um projeto, para mostrar uma novidade ou apresentar um amor.

Muitos de nós tomamos decisões que não queremos tomar e aceitamos situações em nome de uma aparência ou de uma imagem que se tem de nós. Criamos ícones de nós mesmos. Chegou a hora da iconoclastia. Chegou a hora de ser feliz.

Então? Você vem comigo?

Um abraço,

I.R.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Segundo bilhete para um músico popular brasileiro

Buenos Aires, 6 de dezembro de 2009

Prezado,

tem certas letras que são passíveis de várias interpretações. E ao dizer interpretações, penso não só no significado que se pode dar a elas, mas também na maneira de cantá-las.

Que cada um tire as suas próprias conclusões.




Um abraço,

I.R.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ser quem se é

O mais difícil de ser você mesmo é assumir-se como se é. Transformar em atos, em verdade, aquilo em que se acredita, aquilo que o coração fala, aquilo que a alma sabe que deve ser feito. Respeitar ou amar os outros só é possível quando existe dentro de nós a real coragem de Existir.

Aos poucos, aprendo.


I.R.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Poema do meu pai para minha mãe

Não costumo colocar poemas não escritos ou não traduzidos por mim neste blog. Mas hoje, abro uma exceção. Atendendo a um pedido do meu pai, publico o poema que ele escreveu para sua amada, minha mãe, no dia 29 passado.

ANIVERSÁRIO

o amor em mim ansiava por você
amada sempre amada
buscava em minha estrada
algo que a alma procura e não se vê

buscava de existir o meu sentido
no mundo em que perdido
vivia entristecido
e o meu sentido (amada) era você

hoje celebro alegre a sua vinda
ao mundo em que me achei
por tê-la achado amada
e a razão de existir agora eu sei

foi para sermos um que eu vim ao mundo
segundo por segundo
viver (amada) o amor
que nos faz um como o perfume e a flor

é seu aniversário e alegre canto
meu canto de poeta em seu louvor

Eraldo Maia

I.R.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

o meu coração pede

o meu coração pede,
pede cor,
pede ação,
cores vivas
e poesia,
energia,
frescor

meu coração pede,
que a vida seja plena como um abraço,
doce como um beijo onde me retiro,
roteiro não escrito,
mas disposto a ser filmado
cena por cena,
pedido por pedido

meu coração pede
fechamentos traduzidos,
pede aberturas sinceras,
pede simplicidade
ou simplesmente pede para ser feliz.

I.R.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Valores económicos

El PBI de California
es un Brasil.
El PBI de San Pablo
es una Argentina.
Y el fado portugués
es un mundo entero.

Fábio Racoski (Tradução: I.R.)


I.R.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

espelho, espelho meu



o espelho quebrado não é sinal de azar,
é apenas um aviso.
não acredite no espelho,
ele não é você.
se olhe,
se permita olhar diferente,
e deixe que a vida entre
por entre os cacos do espelho partido.

I.R.

domingo, 29 de novembro de 2009

Mensageira dos Deuses, a Deusa da Lua

61.
e aqui, a ordem também é aleatória.
mãe,
paciente,
forte,
frágil,
amorosa
e de sorriso aberto,
dentro dos meus mutismos, confidente,
sem críticas ou julgamentos,
abraço amigo,
cafuné amoroso,
palavra de consolo,
amiga.
parabéns.
que mais 61 possam
te ajudar a semear ainda mais amor neste mundo.

I.R. (ou B. ou G.)

sábado, 28 de novembro de 2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Bilhete para quem vai debater

Buenos Aires, 26 de dezembro de 2009

Prezado(a),

Num debate, não aceito Deus ou um argumento religioso para justificar posições e/ou opiniões no que diz respeito à vida civil.

Definitivamente, Deus não é um argumento válido. Afinal, se vivemos numa democracia, num mundo livre, a lei e os direitos e os deveres e o tratamento dado devem ser os mesmos para todos, tratando-nos por igual, sem preferência do credo ou da moral da religião A, B ou C.

Se a lei de Deus discrimina, das duas uma, ou é falsa e seu autor também, ou seus intérpretes ainda não puderam, quiseram ou se esforçaram para entendê-la.

Viva a pluralidade!

I.R.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

fresta

não me importa a fôrma
ou a forma.
me importa o forno onde
as palavras assam,
o caldeirão onde se misturam.

nem o fim ou o começo
me importam tanto.
quero o meio, o agora.

sou hermético,
embalado a vácuo
e o único ar que entrou em mim
foram dois pneumotórax espontâneos.

I.R.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

viagem de volta

os dias passam e a ansiedade aumenta.
como evitar,
como não ser assim
quando se está perto
da realização de um sonho?

era uma vez uma lagarta
que se transformou em borboleta,
mas queria ser lagarta,
não borboleta,
e um dia iniciou a viagem de volta.

não sou digno da sua fé
nem do seu amor,
eu tantas vezes falho,
eu tantas vezes vil,
que não me dou por completo,
não porque não quero,
mas porque não sei.

os dias se passam e a ansiedade aumenta
as cinzas estão quase no ponto
e a fênix quase pronta para renascer.

divido tanta felicidade,
e sinto como própria
essa emoção de voltar a ser lagarta.

I.R.

domingo, 22 de novembro de 2009

Vigésimo-sexto bilhete para um world músico

Buenos Aires, 22 de novembro de 2009

Prezado,

uma das coisas que mais gosto na música é a falta de fronteiras. Você já reparou que os limites e as distâncias não são nada quando falamos de música? É por isso que um compositor uruguaio de Montevidéu pode ser tocado pela Siberian Brass, de Novosibirsk, e ouvido aqui em Buenos Aires por mim, e por você, onde quer que esteja.


Um abraço,

I.R.

sábado, 21 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Entrega em domicílio

Envio uma energia positiva
Que é grátis e embalada pra presente
Que sai de mim pelo poder da mente
Que as pilhas recarrega e o corpo ativa

Uso uma fórmula xamã nativa
Pra enviar essa energia transparente
Que nos renova assim tão simplesmente
Deixando a cara boa e a alma viva

E a energia que brota de eu-menino
Chega imediatamente ao seu destino
E se renova em mim toda a magia

Assim, reenviá-la eu posso uma vez mais
Por cima do Himalaia e dos Urais
Com a força do pensar, telepatia

I.R.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

a fogo lento

o movimento suave, calculado,
a caixa na mão
e os dedos que a abrem

vagarosamente
a parte central desliza
deixando à mostra vários pedaços de madeira

a caixa aberta na mão esquerda
o indicador e o polegar
fazendo pinça,
escolhem um fósforo

a caixa na mão

o movimento suave, e a tampa deslizando
com lentidão,
fechando-a novamente

caixa fechada e os dedos friccionam
o palito contra a lixa

um instante...

em milésimos de segundo
a primeira fagulha
acende o fogo da eternidade


I.R.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Recreio

Tá cansado? Precisa de uns minutos de descanso, mas as aguinhas de feng shui e os .pps com fotos de paisagens e mensagens de paz te deixam irritado?

Relaxe pouco mais de 9 minutos ao som de Mongo Santamaria.



I.R.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

pelo caminho

não quero voltar aos vinte
e ter certeza de tudo
e ser bom em quase tudo
tendo todo o mundo,
toda a vida, pela frente

não quero voltar aos vinte
e ser um gênio
e ser poeta
tendo todos os versos,
todas as rimas, pra escrever

não quero voltar nem ter vinte
não agora que as certezas são dúvidas
e que sei não ser poeta
nem gênio, nem grande

sou quase nada

e isso não me torna um ser especial
nem faz de mim um escolhido
sou poeira cósmica no universo
pronto para ser varrido

e se de mim se sabe quase nada
se sabe muito, se conhece a minha essência,
ainda mais se a sobrevivência for o meio
e a felicidade a parada final

aos trinta e meio
sei que não sei, que não vivi
sei que não vejo, nem conheci
sei que falta
sei que bato na trave, bato na porta

sei que sou quase

I.R.

domingo, 15 de novembro de 2009

aqueloutro

aquelas queixas repetidas,
aquele queijo vendido a quilo,
nada disso ou daquilo
é o que danilo ou o que aquiles quer
tampouco querem queixo,
tampouco querem gueixa,
um, por pouco, quer o nilo,
isto que corre pelo egito
e seus peixes
e o outro não quer ouro,
só quer que aqueles
que o seguem
queiram deixá-lo chegar à farmácia
pra comprar band-aid
pro seu calcanhar

I.R.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

universo



quero ser buraco negro
no seu céu de uma estrela
ai, sê-lo <...>
e assim poder comê-la.

I.R.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Atualização em Lá Menor

Buenos Aires, 11 de novembro de 2009

Prezados,

depois de um tempo com a Rádio Carta e Verso tocando "Dona Zica", chegou a hora de dar uma renovada. A partir de hoje, e não sei até quando, a rádio toca "La Minor".


I.R.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Às margens do rio Ob



Me chamo Igor, olá, muito prazer,

Não sou monstro nem tenho uma corcunda
Nem peito definido ou boa bunda,
Alguém normal, legal de conhecer

Vivo o que dá e não o vir-a-ser,
Sou o que posso, vida não profunda,
Sonhador, sonho com um sonho que me inunda
E se renova a cada renascer

E em meu sonho sou livre, sou guerreiro,
Nascido n'algum dia de janeiro,
Lutando dia a dia com a matéria,

Pois o meu corpo está bem amarrado,
E pra evitar que eu fique congelado,
Aqueço minhas veias na Sibéria.

I.R.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

cercado


20 anos depois do muro

constroem-se muralhas,

e, se não existe segurança,

sempre existirá o orgulho

da supremacia burguesa ocidental

arrotando suas virtudes

doutrinando-nos com sua moral,

destilando nosso modo de pensar

e de agir

com os seus bons costumes.

e não é difícil se achar superior

ou se aceitar inferior,

pois difícil mesmo é saber-se igual.

20 anos depois do muro

delimitam-se fronteiras

e conhecemos,

sabemos quem são os excluídos,

e eu, por ser imperfeito,

mas não querer ser contraditório,

escolho estar com eles,

do lado de fora da cerca.
I.R.

domingo, 8 de novembro de 2009

o dia de galileu



no dia em que galileu veio ao mundo
as estrelas souberam
que não seriam mais as mesmas
o mundo descobriu
que não teria a primazia
de ser o centro do universo

houve festa na via láctea,
foguetório no sol,
e um cometa marcou
seu lugar de nascimento.

no dia em que galileu veio ao mundo
não se fez um silêncio profundo,
houve chuva de estrelas cadentes,
baile de meteoros,
e o cosmo sorriu satisfeito
ao ver o jogo a seu favor.

e agora, estrelas, cometas, sóis e luas,
meteoros, planetas
e até o buraco negro
com vida no céu sobre nossas cabeças
podem dizer como gagarin
que a terra é azul.

I.R.

sábado, 7 de novembro de 2009

Voltamos


Buenos Aires, 07 de novembro de 2009

Não sei se disse alguma vez que morar longe do Brasil me fez torcer menos, me emocionar menos com o futebol. Nunca fui um torcedor fanático, nem do meu clube nem da seleção. Mas sempre torci, sempre acompanhei e se fiquei triste com a última eliminação do Brasil na copa do mundo, muito mais triste fiquei quando o Vasco caiu para a segunda divisão no ano passado.

Hoje, 11 meses depois, morando longe, ouvindo o jogo pelo rádio, vibrei como há muito tempo não vibrava. Me emocionei com o segundo gol, com o final da partida, com a torcida vibrando no Maracanã lotado.

Resta ser campeão brasileiro em 2010 para consolidar que “o Vasco é o time da vida, o Vasco é o time do amor”. Bem, na verdade, espero apenas que o time seja armado, estruturado e faça um bom campeonato no ano que vem, para que a segunda divisão seja apenas um fato isolado na história vitoriosa do clube.

E já que estou falando de segunda divisão, faltando 4 rodadas para o final da série B, não posso deixar de dizer que quero esse título. Quero ver o Vasco campeão da segundona. Quero poder dizer ao meu amigo G., torcedor do Flamengo, que tenho um título que ele não tem.

O gol da volta:

I.R.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um pouco de sol

Sexta-feira costuma ser um dia cansativo para mim. Coloquemos um pouco de luz, um pouco de sol, e um pouco de um amor quase adolescente nesse dia.



I.R.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Para começar


O meu sexto sentido me desperta
Lendo o mundo que vive à minha volta,
E o espírito do corpo então se solta
Saltando rumo à vida, à descoberta.

Sexto sentido agudo que me alerta,
Ícone meu servindo como escolta,
Alerta máximo, alma sem revolta,
O dom de adivinhar que me liberta.

Livre pra receber o seu afago,
Escrevo como um bobo ou como um mago,
Sabendo não ser mais um prisioneiro

Sou todo, por inteiro, coração,
Inteiramente entregue à sensação,
Assim como aprendiz de feiticeiro.

I.R.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O que importa

Não.




Não importa.


Não importa o que temos em cima da cabeça



Importa o que temos dentro dela.

I.R.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mais de 4 décadas

Quando meus pais se conheceram, minha mãe tinha namorado. Cresci ouvindo a história do trabalho fino que o meu pai fez para que ela terminasse com o outro e ficasse com ele. Como ele, fazendo uma comparação com um filme da época, avisou, de maneira nada sutil, que os aviões às vezes partem e as pessoas que chegam tarde aos aeroportos nem sempre tem a possibilidade de um segundo voo.

3 de novembro. Acho que já se passaram uns 41 ou 42 dois anos, meu pai ou minha mãe me corrijam e me confirmem, dessa decisão de pegar esse avião.

Amo vocês.


I.R.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Carta para um coveiro

Buenos Aires, 02 de novembro de 2009

Prezado coveiro,

sei que seu sindicato tem trabalho o ano inteiro, sem interrupções, sem se dar ao luxo de que ninguém trabalhe aos domingos ou feriados como hoje. Seu trabalho é constante, diário e de sol a sol.

Enterrar pessoas deve ser uma tarefa dura. Cavar sepulturas, carregar caixões, limpar jazigos, lidar com a tristeza dos parentes e dos amigos da pessoa falecida, nada disso deve ser fácil. Sei que nos acostumamos com tudo, e que vivemos em uma espécie de anestesia constante quando nosso trabalho envolve dor e sofrimento, mas, confesso, não gostaria de estar nunca em seu lugar.

Não sei se ao trabalhar com a morte tão de perto, você também se faz essas perguntas que filósofos, teólogos e frequentadores de bar, entre os quais me incluo, sempre fazem. Para onde vamos? O que é a morte?

Aviso, se você espera de mim uma resposta, esqueça. Não tenho nenhuma. No entanto, posso dizer em que não acredito. Espero que você não se choque. Não acredito no céu ou no paraíso, chame como quiser, assim como também não acredito no inferno.

Não posso acreditar que existam esses dois lugares para onde vamos depois de termos sido julgados (?!). Como acreditar em um julgamento feito por um deus que já sabe de antemão o veredito? E não me falem de livre-arbítrio. Se Deus, por causa do meu ‘livre-arbítrio’ fosse um juiz que não soubesse com antecipação o resultado do julgamento, então ele não seria deus.

Julgamento? Não acredito. Céu, inferno, um lugar para tocar harpa sobre uma nuvem ou levar chicotadas o dia inteiro, ardendo num fogo que não se apaga? Não sei, mas acho que os autores dessas histórias deveriam ser contratados como roteiristas nos grandes estúdios americanos.

Voltar ao mundo reencarnado em qualquer coisa? É uma opção. Mas não consigo acreditar que um dia serei como o porco que comi hoje no almoço, e que me servirão assado com uma maçã na boca, seguindo a melhor tradição das revistas em quadrinhos.

Outra opção é a reencarnação pura, voltar à vida em outro corpo, viver novamente, me esbarrar com seres queridos de outras encarnações e procurar reconhecê-los através dos sinais, das marcas do destino. Não é uma ideia ruim, mas também não me interessa.

Talvez reste apenas não acreditar em nada, só que essa proposta também não me convence e de maneira alguma me atrai. Ter estado aqui, comer, beber, transar, ter filhos, ler, sofrer, ouvir música, navegar na internet, tomar Viagra, conversar, amar, um longo etc., depois morrer e acabou? Bom para ateus, o que não é meu caso.

Prefiro acreditar que esta é a última vez que estou aqui. E que no futuro me integrarei com a natureza, e a minha energia resistirá naqueles que se lembrarem de mim, e a minha força existirá nas coisas que eu tiver feito, e que minhas cinzas serão espalhadas por aí, em um quintal, na Praia Grande, aos pés do Obelisco, no meio da 9 de Julho ou da Presidente Vargas na hora do rush.

Bom trabalho para você. E aos seus “pupilos”, feliz dia.

I.R.

domingo, 1 de novembro de 2009

Bilhete a um fundidor

Buenos Aires, 1° de novembro de 2009

Prezado fundidor,

Hoje é dia de São Nunca. O dia de São nunca à tarde é agora, e todos os desejos são permitidos, são atendidos. Tudo se torna realidade.

Nesse espírito, agua e azeite se misturam e a fusão é con, é in, é di. Tudo ao mesmo tempo agora. O destino escrevendo seu caminho, sem as interferências de um acaso cada vez menos real. E a fé em São Nunca como única afirmação libertária.

Por isso, neste dia fundamental, quero dividir com você esta mistura, que não se dá na forma, mas na concepção e na leve malícia do jogo de palavras.

O que tem a ver isto:


com isto?


Aparentemente nada. Até o nascimento de Luiz Gonzaga, o rei do baião.


I.R.

sábado, 31 de outubro de 2009

Extrato de aula

Paga pra ver,
dizem que os dedos sentem sabor,
quem vai saber
santo, __________, sagrado amor.

Segredo ou secreto? Epa! Em português existem as palavras "segredo" e "secreto", que apesar de parecidas na escrita e de terem um significado que as aproxima, não são a mesma coisa.

"Segredo" é um substantivo, e podemos usar a palavra em frases como: "Vou contar a vocês o meu segredo." "Só eu sei o segredo do cofre." "O segredo do sucesso de Fulano é...".

Já a palavra "secreto" é um adjetivo, variando em masculino e feminino, singular e plural, de acordo com o substantivo que acompanha. Assim, temos: "um caminho secreto", "uma passagem secreta", "as receitas secretas" e "um amor secreto".

Amor secreto? Santo, secreto, sagrado amor.


I.R.


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

melancolia poética

a melancolia, a tristeza, a dor,
podem ser apenas melancolia
e dor e tristeza,
ou não.
pois elevadas
à categoria de arte
podem ser dor,
e tristeza e melancolia
com um gosto de prazer,
um sabor de quero mais.

I.R.


I.R.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O livro antigo



Quando entrei na livraria, levado por um certo sexto sentido, não sabia em que estava me metendo. Na vitrine, um exemplar com gravuras muito interessantes me vira passar e sussurrara através do vidro “vem, entra”.

Dentro da loja, pedi exatamente esse exemplar que me intrigava. Era um livro do século XVI, de 1500 e alguma coisa, cujo nome já não me lembro. Antes mesmo de começar a ler, perguntei o preço. O vendedor me disse que já estava vendido, mas que eu podia folheá-lo.

Entender o idioma era algo que me intrigava. Afinal, só falo português e espanhol, no entanto, compreendia cada linha à medida que avançava as páginas.

E assim estava, completamente absorto, quando li algo que não esperava. Meu nome. Mas não foi como ler meu nome e não ser eu. Era meu nome. Meu nome e meu sobrenome. Meu nome completo estava ali diante dos meus olhos em um livro do século XVI.

Um nome de origem escandinava, uma variedade de sobrenomes, nascido no Rio de Janeiro, em janeiro, filho de, neto de, aos 3 anos foi para o Arraial do Cabo. E na minha frente começaram a desfilar amigos de infância, as diversas escolas onde estudei, meus colegas, as praias, os primeiros discos ouvidos, as brincadeiras sozinho.

Ia passando as páginas e me assombrava ao ver meus amigos, meu primeiro beijo, a primeira namorada, minha primeira transa, meus irmãos, o seminário, a faculdade. Era difícil acreditar que tudo aquilo tivesse sido escrito há 500 anos, quando o Brasil recém tinha sido descoberto.

Reli minha chegada a Buenos Aires, meu casamento, minha separação, minhas aulas, as mais chatas, as mais divertidas, uma segunda convivência, um filho. Revivi meus caminhos, minhas histórias. E não estava nem na metade do livro, quando sua dona chegou. Estava lendo a parte em que eu entrava numa livraria, atraído por um livro na vitrine e me descobria nas suas páginas.

Interrompi a leitura. Ela, com seus olhos de feiticeira, olhava para mim. Eu sabia que queria o livro que lhe pertencia. Mas queria saber como a história terminava. Pensei em comprá-lo dela, mas não só não tinha dinheiro, como sabia que não me venderia. Foi então, que me enchendo de coragem pedi que me emprestasse o livro, que me deixasse lê-lo até o final. Sim ou não? A pergunta na minha garganta. O medo da resposta. Sim ou não? Como termina a história?

Ela pegou o livro da minha mão e foi embora sem dizer uma palavra.

Por favor, se você estiver lendo este blog, me conte como essa história termina. Se alguém souber de que livro eu estou falando e já tiver lido um pouco de suas páginas, por favor, não deixe de me escrever.

I.R.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

remédio

tomo uma aspirina,

aspiro seu sorriso,

minha cabeça continua doendo,

mas meus olhos se sentem melhor.

tomo um calmante,

tento dormir,

não me acalmo

e aclamo minhas câimbras

como causa da minha insônia.

tomo um antiácido,

faço terapia,

tento arrancar a razão dessa agonia,

que me tenta,

me atonta

e me lança ao centro da tormenta.

passo um ungüento,

tomo um viagra,

uma vodca, uma cachaça,

paro na beira do abismo

sem paraquedas,

e só preciso de mais um sorriso

para, enfim, me atirar.

I.R.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Pedido especial

Certos pedidos especiais merecem, pelo menos, uma resposta. Se a resposta é tão especial quanto o pedido, essa é uma outra questão.

A., amo tu.

E a difícil escolha é sua.



Talvez juntos...


I.R.

domingo, 25 de outubro de 2009

Domar o domra

se domo o domra,
o faço com prazer,
e a honra de poder tocá-lo.
se o domra me doma
ou me domina
é porque sabe que em cada esquina
procuro sua melodia,
me denuncio em sua sinfonia
e me dedico à sua emoção.

I.R.

PS. Este é o domra, ou домра.





I.R.

sábado, 24 de outubro de 2009

Pilus

Quando criança, seus únicos pelos eram eram os cabelos cortados em forma de tigela. Os anos se passaram e na adolescência, junto com a mudança de voz, vieram o buço, os pelos nas axilas e os primeiros pentelhos.

A saída da adolescência e a entrada na vida adulta o viu com os cabelos compridos, barba, bigode, pelo no peito, nas costas, embaixo do braço, nas pernas, pentelhos e "cuelhos".

Parecia o elo perdido.

Com roupas hippies ou de terno e gravata, o que terminava chamando a atenção era o seu cobertor natural.

Quando transou pela primeira vez, teve que avisar à mulher que já estava nu. E agradecia o fato de pelo menos a cebecinha não ser peluda. De fato, era a única parte do seu corpo sem pelo algum.

E foi essa cabecinha que, com o correr dos anos, terminou por lhe dar a ideia e mais do que isso, animá-lo a realizá-la, de começar um processo gradual de depilação. Queria que seu corpo fosse lisinho, como a cabeça de seu pau, como a pele de um atum.

Munido de tesoura, gilete, navalha, cera e tudo o mais que pudesse eliminar os seus pelos, deu início ao autodesmatamento. Primeiro foram o peito e as costas. Como não podia fazer tudo num único dia, pensou que isso era uma vantagem. As pessoas, principalmente a sua namorada, se acostumariam gradualmente.

O passo seguinte foi depilar braços, pernas, suvaco, pentelhos, pelos das mãos, dos dedos, deixando apenas o seu rosto e a sua cabeça intocados. Tinha medo de mexer na cara. Receava não se reconhecer.

Por isso, primeiro fez parte da barba, deixando um cavanhaque. Dois dias depois raspou o cavanhaque, restando apenas o bigode, que desapareceu três dias depois. O passo seguinte foi ver-se livre das sobrancelhas. O cabelo foi o último. Máquina zero. E o sonho de um corpo liso, completamente liso, realizado.

Estava tão feliz, tão extasiado com o seu novo corpo, sua nova pele, que não percebeu que os pelos não voltavam a crescer. Pensou que fosse uma bênção e que tinha tirado a sorte grande.

Dias, semanas e meses se passaram e a desconfiança de que algo estava errado veio quando percebeu que não podia defecar. Simplesmente não saia. Depois foi a coceira na garganta, uma sensação estranha no estômago, o coração batendo em outro ritmo e o sangue circulando mais devagar. E a certeza de que a coisa era mais séria chegou no dia em que ejaculou pelos pela primeira vez.

I.R.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

escrito nas estrelas

com a cabeça nas nuvens
e o coração nas estrelas,
... vivo...
prisioneiro da razão,
fiel cumpridor da ordem,
mantenedor do status quo,
sem questionamentos ou rebeliões,
transitando entre agá-pês,
i-bê-emes e agá-esse-bê-cês.

escrevendo é como me engano,
é minha válvula de escape,
meu telescópio
me permitindo ver além do que é possível,
vejo vênus e o asteróide b612
com seu pequeno príncipe,
olho a face oculta da lua,
observo as três marias e a ursa maior
admiro o asteróide 2616,
onde quero ter uma casa
e me vejo,
passeando pelo espaço,
pelas estepes de uma galáxia qualquer.

I.R.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

carrossel

tenho medo de altura,

e da montanha russa

só gosto ao rés do chão

giro, subo, desço

passo no mesmo lugar

um raio não cai duas vezes no mesmo lugar,

um rio não passa duas vezes no mesmo lugar,

no mesmo lugar, dois corpos não ocupam o mesmo espaço

ao mesmo tempo,

nem no traço do artista,

nem num abraço,

subo, desço, giro,

volto ao mesmo lugar,

tenho medo de altura,

e ao rés do chão sou réu

e no chão sou apenas eu

desço, subo, giro,

fecho o tambor, engatilho

e reinicio essa roleta russa.


I.R.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

às vezes

às vezes a vontade de escrever é tanta que o texto não sai.
às vezes os assuntos dão volta, giram, rodopiam, mas os dedos não acompanham a velocidade da cabeça.
às vezes o melhor é não escrever nada, esperar a poeira baixar.
(às vezes nem uma imagem vale grande coisa)
e enquanto a poeira ainda sobe e o suor desce, é proibido cochilar.


I.R.

domingo, 18 de outubro de 2009

Bilhete à Senhora dos Remédios



"Miraculosa Rainha do Céu, sob o vosso manto tecido de luz, fazei que a guerra se acabe na terra e haja entre os homens a paz de Jesus."

Buenos Aires, 18 de outubro de 2009

Senhora dos Remédios,

a senhora sabe que não sou mais católico. Sou caótico. Caótico Apóstático Romântico. Mas isso não faz de mim alguém sem memória.

Não renego meu passado entre as paredes da sua casa. Não me esqueço das manhãs de sábado ou de domingo, e mesmo dos dias da semana passados aí, ajudando, aprendendo, conhecendo, consolidando amizades.

E uma vez por ano, no dia 18 de outubro, comemorávamos o seu dia. Procissão, festa na praça, leilão, shows. Marcas de infância, de início de juventude.

Parabéns, Senhora, pelo seu dia. E se não der para dar toda a cura, seja pelo menos uma aspirina para todos nós.

I.R.

sábado, 17 de outubro de 2009

périplo 2

se existe um caminho por lá

ou se é possível ir por ali,

não sei por que vou por aqui,

não sei nem se há um porquê.

será pelo poraquê que me espreita?

ou apenas obra do acaso,

que por acaso,

me espreme as espinhas?

serão as sobras do piraquê?

sei que não sei,

mas peço apenas

que me transportem num poracá

e que minhas possíveis respostas

sejam enterradas como um tesouro,

porém sem um mapa,

principalmente sem um xis.


I.R.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

olé!

time pequeno,
faltam jogadores,
mas quem nunca teve um sonho?
os onze em campo,
davi contra golias,
e no primeiro drible,
eu, único torcedor,
grito:
olé!
sozinho contra o mundo...
olé!
todo o estádio crava os olhos em mim.
olé!
oolé!
ooolé!
olé! se a culpa é querer,
desejo arder no fogo da grande área.
olé! se a culpa é desejar,
quero o castigo de pelo menos um gol anulado.
olé! se alguém não desejou o quase impossível,
que atire a primeira bola.

I.R.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

World Music

Gosto da bossa nova porque é light,
Como o deslizar suave do barquinho,
Na Ilha do Farol, no Rio Minho,
Enquanto tomo um vinho ou bebo Sprite

Se nessa bossa sempre rola insight,
Roça a raça com o jazz bem no escurinho,
Semeia o samba e o semba de mansinho
E canto a bossa nova no meu site

E as tardes em milhões de Itapuãs,
Só posso comparar com os Balcãs,
Quando me entrego ao som de Mesecina,

E esqueço a minha origem africana,
Indígena, holandesa e lusitana,
Na música da Bósnia-Herzegovina.

I.R.

Referência:

I.R

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Disjuntor desarmado




Na vida é assim, às vezes o nosso disjuntor cai. A tensão é tanta, o excesso de carga elétrica é tanto, que o disjuntor precisa cair para que o cérebro se reacomode, para que as coisas voltem à sua "normalidade", palavra posta entre aspas por não estar eu capacitado para definir o que é normal.

Quando isso acontece em casa, a luz falta para todo mundo, para quem mora no local ou para quem está apenas de passagem. Não há possibilidade do disjuntor cair apenas para os donos, deixando as visitas iluminadas como se tivessem um disjuntor próprio administrando um canhão de luz independente.

E o melhor a fazer depende da hora do dia. Se for de dia, o susto e a urgência é saber se faltou luz no bairro ou na rua toda, ou se foi mesmo só o disjuntor de casa. Se for de noite é fácil saber se o corte é próprio ou atinge os vizinhos também. O importante é não desesperar, não sair por aí gritando apenas porque está escuro. A carga era muita. A tensão era máxima. O disjuntor caiu. Acontece.

As visitas entendem que às vezes acontece. Quem nunca, em casa própria, não passou por situação parecida. É verdade que na hora a falta de luz é um pouco incômoda. Você é pego de surpresa e não sabe como reagir. Um tchau rápido normalmente é a melhor saída e "a gente se vê em duas semanas" a solução.

Afinal, é apenas uma falta de luz. Nada que os donos da casa não possam resolver levantando a alavanca para rearmar o disjuntor.

Eu estava na sua casa quando o disjuntor desarmou. Não me machuquei enquanto procurava a escuras a porta de saída. Desculpas aceitas.

I.R.