quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O livro antigo



Quando entrei na livraria, levado por um certo sexto sentido, não sabia em que estava me metendo. Na vitrine, um exemplar com gravuras muito interessantes me vira passar e sussurrara através do vidro “vem, entra”.

Dentro da loja, pedi exatamente esse exemplar que me intrigava. Era um livro do século XVI, de 1500 e alguma coisa, cujo nome já não me lembro. Antes mesmo de começar a ler, perguntei o preço. O vendedor me disse que já estava vendido, mas que eu podia folheá-lo.

Entender o idioma era algo que me intrigava. Afinal, só falo português e espanhol, no entanto, compreendia cada linha à medida que avançava as páginas.

E assim estava, completamente absorto, quando li algo que não esperava. Meu nome. Mas não foi como ler meu nome e não ser eu. Era meu nome. Meu nome e meu sobrenome. Meu nome completo estava ali diante dos meus olhos em um livro do século XVI.

Um nome de origem escandinava, uma variedade de sobrenomes, nascido no Rio de Janeiro, em janeiro, filho de, neto de, aos 3 anos foi para o Arraial do Cabo. E na minha frente começaram a desfilar amigos de infância, as diversas escolas onde estudei, meus colegas, as praias, os primeiros discos ouvidos, as brincadeiras sozinho.

Ia passando as páginas e me assombrava ao ver meus amigos, meu primeiro beijo, a primeira namorada, minha primeira transa, meus irmãos, o seminário, a faculdade. Era difícil acreditar que tudo aquilo tivesse sido escrito há 500 anos, quando o Brasil recém tinha sido descoberto.

Reli minha chegada a Buenos Aires, meu casamento, minha separação, minhas aulas, as mais chatas, as mais divertidas, uma segunda convivência, um filho. Revivi meus caminhos, minhas histórias. E não estava nem na metade do livro, quando sua dona chegou. Estava lendo a parte em que eu entrava numa livraria, atraído por um livro na vitrine e me descobria nas suas páginas.

Interrompi a leitura. Ela, com seus olhos de feiticeira, olhava para mim. Eu sabia que queria o livro que lhe pertencia. Mas queria saber como a história terminava. Pensei em comprá-lo dela, mas não só não tinha dinheiro, como sabia que não me venderia. Foi então, que me enchendo de coragem pedi que me emprestasse o livro, que me deixasse lê-lo até o final. Sim ou não? A pergunta na minha garganta. O medo da resposta. Sim ou não? Como termina a história?

Ela pegou o livro da minha mão e foi embora sem dizer uma palavra.

Por favor, se você estiver lendo este blog, me conte como essa história termina. Se alguém souber de que livro eu estou falando e já tiver lido um pouco de suas páginas, por favor, não deixe de me escrever.

I.R.