sábado, 24 de outubro de 2009

Pilus

Quando criança, seus únicos pelos eram eram os cabelos cortados em forma de tigela. Os anos se passaram e na adolescência, junto com a mudança de voz, vieram o buço, os pelos nas axilas e os primeiros pentelhos.

A saída da adolescência e a entrada na vida adulta o viu com os cabelos compridos, barba, bigode, pelo no peito, nas costas, embaixo do braço, nas pernas, pentelhos e "cuelhos".

Parecia o elo perdido.

Com roupas hippies ou de terno e gravata, o que terminava chamando a atenção era o seu cobertor natural.

Quando transou pela primeira vez, teve que avisar à mulher que já estava nu. E agradecia o fato de pelo menos a cebecinha não ser peluda. De fato, era a única parte do seu corpo sem pelo algum.

E foi essa cabecinha que, com o correr dos anos, terminou por lhe dar a ideia e mais do que isso, animá-lo a realizá-la, de começar um processo gradual de depilação. Queria que seu corpo fosse lisinho, como a cabeça de seu pau, como a pele de um atum.

Munido de tesoura, gilete, navalha, cera e tudo o mais que pudesse eliminar os seus pelos, deu início ao autodesmatamento. Primeiro foram o peito e as costas. Como não podia fazer tudo num único dia, pensou que isso era uma vantagem. As pessoas, principalmente a sua namorada, se acostumariam gradualmente.

O passo seguinte foi depilar braços, pernas, suvaco, pentelhos, pelos das mãos, dos dedos, deixando apenas o seu rosto e a sua cabeça intocados. Tinha medo de mexer na cara. Receava não se reconhecer.

Por isso, primeiro fez parte da barba, deixando um cavanhaque. Dois dias depois raspou o cavanhaque, restando apenas o bigode, que desapareceu três dias depois. O passo seguinte foi ver-se livre das sobrancelhas. O cabelo foi o último. Máquina zero. E o sonho de um corpo liso, completamente liso, realizado.

Estava tão feliz, tão extasiado com o seu novo corpo, sua nova pele, que não percebeu que os pelos não voltavam a crescer. Pensou que fosse uma bênção e que tinha tirado a sorte grande.

Dias, semanas e meses se passaram e a desconfiança de que algo estava errado veio quando percebeu que não podia defecar. Simplesmente não saia. Depois foi a coceira na garganta, uma sensação estranha no estômago, o coração batendo em outro ritmo e o sangue circulando mais devagar. E a certeza de que a coisa era mais séria chegou no dia em que ejaculou pelos pela primeira vez.

I.R.