sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Carta para Mercedes Sosa

Buenos Aires, 01 de outubro de 2009.

Querida Mercedes Sosa,

acho que as homenagens devem ser feitas em vida. Para que esperar a morte e aí sim reconhecermos a importância que alguém teve em nossa vida? Infelizmente, não sei se por preguiça, por acharmos que somos eternos, por preferirmos falar de alguém depois que morre, esperamos a pessoa não estar mais para, então, falarmos dela.

Sua presença na minha vida é grande. Você é uma das minhas primeiras lembranças do espanhol como idioma. Me lembro das tardes, quando criança, ouvindo sua versão de ‘Volver a los 17’, com Milton, o Bituca. Me lembro ainda melhor de outras tardes, já com meus 20 anos, saboreando cada música de seu CD de 30 anos de carreira. E foram muitas essas tardes, em que deitado na cama, com os pés na janela, eu ouvia uma e outra vez cada música desse CD, quando Buenos Aires era apenas a capital da Argentina, um lugar onde tinha estado uma vez, com o Coral Cantavento, mas essa é outra história.

Você foi uma das escolas que tive para abrir meu ouvido a outros tipos de música. O ‘folklore’, a música de protesto em espanhol, León Gieco, Atahualpa Yupanqui, la zamba, la chacarera e até mesmo Charly García. Um novo universo ao alcance dos meus ouvidos.

Obrigado. Muito obrigado.

E aqui estou eu, querida Mercedes, escrevendo com você viva, lutando para se manter viva, com todos nós, seus admiradores, torcendo para que você fique conosco por mais tempo. Sabemos que quando você não estiver com sua presença, sua voz será sua mais fiel representante nesta terra. Seria bom tê-la mais tempo, desfrutar mais tempo da sua voz em vida. Agora, se você não puder mesmo ficar, vá com os mesmo anjos, esses que sempre foram testemunhas do seu canto.

Das poucas coisas que sinto não ter feito nesta minha ainda curta vida, incluo nunca ter ido a um show seu. Paciência. Em outra vida será.

Um grande abraço,

I.R.