Buenos Aires, 21 de maio de 2008
Prezados alunos (e ex-alunos),
Como vão vocês, tudo bem? Eu espero que sim. Não cito nomes porque vocês são muitos e, apesar de ter uma boa memória visual, tenho uma péssima memória para os nomes. E nesses 10 anos, já nem faço idéia de quantos vocês foram e nem mesmo de quantos são.
Gostaria de lhes dizer algumas poucas coisas. Vocês já sabem que tentei ser uma pessoa séria, mas não consegui. Acabei descobrindo que podia fazer um trabalho sério sem ser uma pessoa séria. Bem, quanto ao trabalho sério, espero que vocês possam senti-lo ou vê-lo da mesma forma que eu o vejo. Eu tenho um compromisso com vocês, que é ajudá-los a “adquirir” a língua portuguesa, e procuro me desempenhar da melhor maneira possível.
E aí entra outra história. Será que sou um bom professor? Será que consigo transmitir essa flor do Lácio, chamada língua portuguesa? Será que junto com a língua consigo passar um pouco da história, da cultura, da diversidade do Brasil e do jeito de ser do brasileiro? Sinceramente, não sei. Imagino que para alguns sim, e isso se reflete, inclusive, no quadro de mensagens do Carta e Verso. E, acho que para outros não. Ninguém pode pretender ser perfeito, ou impactar em todas as pessoas da mesma forma.
Eu acredito na diversão, e que o processo ensino-aprendizagem pode e deve acontecer em um ambiente relaxado, sem tensão. Mas até que ponto uma aula minha é divertida, não faço a menor idéia. Afinal, não sou comediante, mas sim professor de português. O meu trabalho não é divertir as pessoas, só que eu tenho a sensação de que fazer o mesmo sem uma pitada de diversão seria condenar vocês, alunos, a mais momentos chatos que a própria vida já nos dá de graça.
Para mim, as aulas são encontros. São momentos em que estamos juntos durante a semana e podemos e devemos gerar uma boa energia. Assim, recarregamos as nossas baterias, conhecemos gente nova (nos casos dos grupos), entramos em contato com coisas diferentes, música, literatura, costumes, história, e até língua portuguesa.
Espero estar sendo ou ter sido um bom professor para vocês. Alguém que aproxima as ferramentas, mas que deixa vocês as usarem. Alguém que mostra o caminho das pedras para vocês, mas os deixa vocês fazerem o caminho. Alguém que ajuda, mas que não é o dono da verdade. Alguém que tem a humildade de dizer não sei, ao invés de inventar palavras ou definições. Alguém que gosta de falar, mas que sabe ficar quieto para que o aluno seja o verdadeiro protagonista.
Espero, alunos e ex-alunos, que vocês tenham boas lembranças das aulas e deste professor que escreve para vocês. E espero, ainda mais, que as aulas tenham servido. Tanto em relação ao idioma, quanto em relação à vida.
Um abraço para todos,
I.R.
PS: Devo dizer que foi um renovado prazer, inoxidável, orgasmático, quase sexual, ter estado com (escrito para) vocês nesta quarta-feira, 21 de maio de 2008, faltando dois dias para a sexta-feira.