Buenos Aires, 07 de maio de 2008.
Amado Santiago,
Esta é a segunda carta que escrevo para você. Espero que essas linhas que te escrevo fiquem circulando por este blog até você ter idade e maturidade suficientes para ler sozinho. De qualquer maneira, tenho certeza de que antes de ler essas histórias, reais, você já vai conhecê-las por transmissão oral.
Há quatro dias, Santiago, você veio ao mundo. Isso aconteceu no “Sanatorio de La Trinidad”. Vale o esclarecimento que “sanatório” em espanhol é hospital, clínica, não é lugar para loucos. Se bem que no sábado, dia 3, acho que eu merecia um sanatório mesmo, por causa da loucura de ver você nascer.
Seu nascimento me provou uma coisa muito simples. Eu não sou tão covarde quando pensava ser. Não sou tão fraco. Durante meses, sua mãe e eu assistimos programas que mostravam partos, programas que mostravam bebês, e, principalmente nos partos, e mais principalmente nas cesarianas, eu não podia ver nada dos programas. Me dava aflição, muita aflição. E isso que esses programas mostram pouco e quase nada.
Mas muito bem, meu filho, chegou o dia da sua cesariana. Sua mãe foi para a sala de cirurgia, para que lhe dessem a anestesia, e eu fui levado para uma salinha, onde me deram uma roupa amarela para vestir. Eu fiquei parecendo um patinho. E foi assim que me levaram para a sala de parto. Me fizeram lavar as mãos, e me disseram para não tocar em nada. Depois dessa indicação, me sentaram ao lado da sua mãe, que estava deitada em uma “cama”, sendo aberta para você vir ao mundo. Eu fiquei sentadinho, e meu medo de tocar em algo era tanto, que nem encostei na sua mãe. Foi preciso um médico colocar a minha mão na mão dela.
Desta maneira, de mãos dadas, sua mãe e eu, é que vi você vindo ao mundo. Vi o seu primeiro choro, quando cortaram o seu cordão umbilical, a sua primeira puxada de ar, e quando sua mãe disse no seu ouvidinho enquanto te dava o seu primeiro beijo: “não, chora; não chora”.
E nem tão covarde, vi o seu primeiro xixi, e estive presente na sua primeira vacina. Vi quando você começou a aprender a respirar e, mesmo ainda não tendo trocado uma fralda sua (vamos devagar com o andor porque o santo é de barro), não tive o menor nojo ao ver os seus primeiros cocôs. Agora, meu filho, tenha certeza, a sua mãe os lamberia se fosse necessário. Eu sou pai... e não sei se chegaria a tanto. Mesmo assim, eu sei que você já sabe que amo você.
Um beijo do seu papai,
I.R.