sábado, 17 de maio de 2008

Carta para F. e M.

Buenos Aires, 17 de maio de 2008.


Prezados F. e M.,

Antes de comentar um pouco sobre o assunto que me motivou escrever para vocês, a feira do livro, quero dizer umas coisinhas.

Primeiro, parece brincadeira, mas já faz mais de um ano que nos conhecemos. E, por mais que não nos conheçamos profundamente, sinto um grande apreço por vocês. Vejo em vocês pessoas inteligentes, afetuosas, e que mantém um relacionamento muito bonito, mesmo com as briguinhas de vez em quando. Na minha humilde opinião, e acho que ela não conta muito, acredito que vocês se completam.

Mas esta carta não é para falar de vocês, mas da feira do livro. Concordo com vocês quando falam em seus respectivos blogs sobre esse excesso de consumismo que se respira nesse evento. Esse piso sem vida, essa espécie de passarela, tapete vermelho, por onde desfilam leitores-consumidores, realmente pode ser muito chocante. E mais do que isso, pode causar dor nas pernas depois de estar por mais de 3 horas caminhando entre stands caros, entre livros de caráter duvidoso e entre consumidores ávidos por ofertas, entre os quais mais ou menos me encontro.

Hã? Como mais ou menos ávido por ofertas? É. Procuro bons preços. Sempre tenho a ilusão de que os preços serão mais competitivos do que nas livrarias da avenida Corrientes ou da calle Florida. Vou sabendo que é ilusão. Em anos que freqüento a feira sei que isso é muito mais um desejo do que uma realidade. Mas procuro ofertas. Só que não compro apenas por ser uma oferta. Algo tem que me atrair no livro. Às vezes, muito mais do que o autor. Às vezes um bom título, ou uma boa orelha, uma boa quarta capa, sei lá, não há ciência. O livro tem que gritar o meu nome e implorar para que eu o compre. E como posso fazer isso com um salário de professor? Ofertas!

Agora, é verdade, a feira do livro é como um salão do automóvel. É como uma exposição rural, uma feira de bois e vacas. Talvez seja por isso que a façam nas instalações da Sociedade Rural... Seria necessário pesquisar mais sobre o assunto. As pessoas caminham, olham, tocam, compram os mesmos best-sellers que comprariam em qualquer livraria, fazem caras de intelectuais e mantém conversas de típica masturbação mental. Mas isso é a casca, é o que se vê por cima, e que, é claro, também está presente.

No interior dessa casca, existe uma outra feira. Me recuso a aceitar que tantas árvores mortas sirvam apenas como “papel higiênico”. No interior da casca, vejo gente em busca de algo, vejo gente que lê, e “consome” cultura, além de consumir batatas fritas e refrigerantes a preços abusivos.

Pessoalmente, destaco os livros que comprei, a bom preço e a boa história. Quanto às Ofertas, com o maiúsculo, acho bom não ter essa ilusão para o ano que vem. Se eu quiser preço, é melhor ao sebo do Parque Rivadavia.

Bem, M. e F., acho que me excedi nos comentários. Vocês já devem estar cansados de tanto blá-blá-blá. Está na hora de eu dormir, pois já é tarde.

Um abraço, e até amanhã na aula,

I.R.

PS: F., não me incomoda que você lembre a derrota do Vasco para o Boca. Deve ser a faixa diagonal o elemento que nos torna “pechos fríos”.

M., muito obrigado por me mostrar a pilha dos livros por 10 pesos.

I.R.