domingo, 13 de abril de 2008

Carta para o Sr. Coto

Buenos Aires, 13 de abril de 2008

Prezado Sr. Coto,
Eu tenho certeza de que o senhor tem muito mais o que fazer do que ler uma carta minha, principalmente estando ela em português. Mas tenho certeza de que o senhor deve ter algum escra..., digo, funcionário, que conheça alguma coisa de português para lhe fazer a leitura em voz alta.

Gostaria de lhe dizer que não agüento mais o seu supermercado e as longas filas que ele me oferece todos os sábados. Eu entendo que ficar na fila uns 10, 15 minutos, é parte das regras do jogo. Agora, 45, 50 minutos, como ontem, acho que é um abuso.

Às vezes faço cálculos, e penso que se perco em média meia hora por sábado, em um ano terei perdido mais de um dia de vida dentro do seu estabelecimento comercial... na fila! Isso pensando em 30 minutos, não em 50, como ontem. O que o senhor pretende, colocar-nos nas prateleiras, vender-nos também? Acho que não vale o investimento, ainda sou mais osso do que carne, não sirvo para churrasco. Sou melhor para divertimento de cachorro.

Com certeza o senhor me dirá que eu tenho outros supermercados onde comprar. Mas não é bem assim. Dos 4 lugares onde morei aqui em Buenos Aires, tive o seu supermercado perto de mim por 3 vezes. E agora, para compensar a única vez em que o senhor não estava presente, tenho dois supermercados seus. E um deles, enorme.

Então o senhor vai me dizer que eu posso comprar pela internet. Ok, até poderia, mas não poderia comprar tudo. Produtos de limpeza, produtos enlatados, engarrafados ou empacotados, até poderia. Mas não compraria frutas, verduras, legumes e carne (espero que meus pais vegetarianos não estejam lendo isso, e se estiverem que passe por cima da frase como se não a tivessem visto) pela internet. Eu preciso olhar esses produtos, ver que cara têm, que cor, que cheiro. Isto é, não dá para fugir do seu reino, apenas que eu decida viver como faquir.

Se eu tenho alguma sugestão? Claro. Capacitação, senhor Coto. Capacitação. Os rapazes e moças que trabalham nos caixas são lentos, e são jogados ali como Daniel na cova dos leões, ou como cristãos no coliseu. O treinamento que recebem, se é que recebem, não é suficiente. Com certeza, assim é mais barato, ou estou enganado?

Não acredito que o senhor se ofenda com esta carta. Perceba que evitei falar em preços. Não porque veja nos seus domínios a cobrança do preço justo, mas porque já não adianta reclamar. Comida, todos continuaremos comprando, e, com o passar do tempo, de alguma forma assimilamos o aumento e voltamos a consumir produtos que estivemos por um tempo sem comprar. E sei também que nesse nosso capitalismo, não se cobra o preço justo, se cobra o preço que o senhor e seus amigos querem. Então, ok.

Mas será que é pedir muito para o senhor agilizar os caixas e a tortura de pagar as compras ser a mais rápida possível? Me diga uma coisa e eu termino minha carta por aqui... o senhor é sádico, ou faz isso só para sacanear?

Cordialmente,

I.R.