sexta-feira, 18 de abril de 2008

Carta para as forças da natureza

Buenos Aires, 18 de abril de 2008.

Prezadas forças da natureza,

Resolvi escrever para vocês por um motivo muito simples. Não agüento mais. Pensei que tivesse paciência, ou pudesse aturar um pouco mais, mas não deu. Ou melhor, e sem gerundismo, não está dando.

Sei que estamos acostumados ou condicionados a achar que os dias bonitos são aqueles com a temperatura em cerca de 22 graus, com sol, pouco vento, ou acima dos 30 graus, sol e praia. E esse nosso condicionamento, ou percepção unidireccional, nos faz dizer que os dias frios ou chuvosos são feios. O que considero uma injustiça com o frio e com a chuva.

Agora, qual seria a classificação que a nossa mente condicionada daria para um dia enfumaçado?

Pois é, há quase 3 dias que Buenos Aires está escondida sob um manto de fumaça, fruto das queimadas produzidas pelo setor agropecuário. E é tanta fumaça que já sinto saudade da velha nuvem preta dos canos de descarga dos automóveis, ônibus e caminhões.

E a roupa, os cabelos, os lençóis, as toalhas, tudo fica fedendo à fumaça. A sensação é a de ter os poros entupidos. A garganta e os olhos ficam irritados, e o Corpo, pelo menos o meu, se sente como se estivesse em uma panela de pressão, mesmo que eu nunca tenha estado dentro de uma.

Outra impressão é a de que a cidade vai ficar assim para sempre. Mas isso também acontece quando chove sem parar por mais de 5 horas.

Estou vendo que até agora eu falei (ou escrevi) sem parar, e não disse, explicitamente, o que quero. Simples. Quero vento. Quero chuva. Quero voltar a respirar sem sentir esse fedor de mato queimado. Quero caminhar sem me sentir, visualmente, em um show de reggae.

E aí, como vocês chamam um dia enfumaçado? Eu não o chamo de horrível, mas em Nome das minhas vias respiratórias, do meu aparelho circulatório, eu peço ajuda.

E à fumaça, se ela estiver lendo esta carta, eu peço trégua.

Suplicante,

I.R.

PS do dia 20 de abril: Não sei se você entende de computação, mas detesto o word que passa o que escrevo em português para um portunhol básico! :-)

Um abraço com o texto corrigido,

I.R.