Buenos Aires, 21 de abril de 2008.
Prezado Ser Humano,
é, isso mesmo, você que está aí em algum lugar, lendo estas linhas, seja um freqüentador assíduo deste blog ou não. Quero compartilhar uma idéia com você.
Estamos indo para o fundo do poço. A minha dúvida é apenas saber se o poço realmente tem fim.
E, se tiver fim, o que há no fundo? Não sei, mas por como estamos, acho que não há um colchão macio.
Na quarta passada saí para trabalhar. A linha de metrô que eu pego estava com demoras, e depois quando os trens começaram a passar, vinham tão cheios que era impossível entrar. Pelo menos para mim e para vários passageiros que calmamente esperávamos na estação.
Mas um homem que também estava lá esperando o metrô não compartilhava da nossa opinião. Pára o metrô, e o cidadão força para entrar, tentando esmagar um passageiro... ou tentava arrancá-lo de dentro do vagão e eu não percebi? Era triste ver uma sardinha brigando com outra para saber quem iria ter o privilégio de estar na lata. Como o que estava dentro não cedeu um milímetro, basicamente porque não havia o que ceder e dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, o de fora começou a ofendê-lo. O de dentro revidou, e as sardinhas quase espalharam óleo comestível para todo lado.
Talvez você, ser humano, me diga que isso é normal, que faz parte do estresse da vida louca das cidades grandes, mesmo às nove da manhã. Mas continuo achando que compramos uma passagem só de ida para o fundo do poço.
Vendo o Domingão do Faustão ontem, fiquei impressionado com o nível de espírito de equipe, de solidariedade, que existe entre nós. No programa, havia um concurso para escolher uma invenção como a melhor de todas. Em segundo lugar ficou um colete multiuso de segurança para motociclistas; em terceiro, um consultório dentário ambulante (que poderia ser usado em diversas comunidades carentes); em quarto, uma cadeira de rodas todo-terreno que até sobe e desce escadas. E depois de todas essas invenções realmente interessantes, qual foi a vencedora? Qual?! Uma máquina para gelar latinhas... Sim, vocês leram bem... uma máquina para gelar la-ti-nhas. E não foi uma eleição disputada. A tal máquina recebeu 47% dos votos.
Acho que qualquer comentário que eu fizer será um excesso. Os fatos falam sozinhos. Em algum momento da história do mundo, nós pegamos um atalho acreditando que chegaríamos mais rápido a algum lugar melhor, mas o único que conseguimos foi nos perder. E não temos um guia Quatro Rodas na mão. E não sei se temos dinheiro para pegar um ônibus, ou um metrô... E no metrô, pode ser que a linha esteja funcionando com atraso, pode ser que vejamos uma briga de sardinhas.
Um grande abraço, e a gente se vê lá no fundo,
I.R.