Arraial do Cabo, 22 de dezembro de 2008
Querido Papai Noel,
antes de começar preciso lhe dizer que fui um bom menino durante todo o ano. Me comportei bem, não fiz malcriação e mereço um bom presente.
Se eu fosse criança seria muito mais fácil pedir. Poderia começar com uma bicicleta ou com uma bola, presentes clássicos da minha época. Ou talvez um playstation, clássico do século 21.
Mas, apesar de me sentir bastante criança, deixei essa frase para trás há algumas décadas e os pedidos acabam se tornando um pouco mais complexos. O que pedir? Uma casa ou um apartamento? Um carro, pelo menos usado, já que um 0km tá difícil até com incentivos do governo? Uma viagem para a Europa?
Essa história de pedir a paz mundial não vai dar, até porque você é conhecido como distribuidor de presente, não como fazedor de milagre. Também não vai dar para pedir por políticos mais honestos, pois além de não ser milagreiro, não acreditamos em coelhinho da páscoa, não é mesmo?
Peraí... não acreditamos em coelhinho da páscoa? Bem, então eu tenho uma notícia que talvez você não goste muito. Eu não acredito em você. E não é por ter 33... em contagem regressiva (faltam 11 dias) para os 34. Eu nunca acreditei em você. Se tiver alguma criança me lendo agora, por favor, se você não quiser perder a ilusão, se não quiser saber a verdade, pare de ler este blog agora ou passe para outro texto. Papai Noel não existe. Quer dizer, você, Papai Noel, não existe e nunca existiu para mim. E não estou falando de uma infância triste e pobre onde meus pais não tinham dinheiro para comprar nem um pirulito. Estou falando de ter crescido sem precisar de um velhinho de barba branca que me desse presente. O meu pai, jovem e de barba preta, era quem ralava para comprar o brinquedo.
Cresci ouvindo do meu padrinho os seguintes versos em forma de canção:
"Papai Noel não existe não.
Papai Noel é tapeação.
Papai Noel é pra garoto bobo
que fica em casa vendo televisão."
E assim como você nunca fez falta, os reis magos também nunca fizeram nem o coelhinho da páscoa, nem Rodolfo, a rena do nariz vermelho, nem o pote de ouro no final do arco-íris, se bem que eu não me queixaria se encontrasse um.
Mas sabe, Papai Noel, para que a sua tristeza neste Natal seja maior, meu filho também não vai acreditar em você. Não tem necessidade. A vida e a fantasia não são mais interessantes com a crença na sua existência. Prefiro que meu filho saiba que o pai e a mãe dele ralam pra cacete para pagar as suas roupas, a sua escola, a sua alimentação e os seus brinquedos, a sua diversão, também. Por que ficamos só com a parte da obrigação e você, Papai Noel, leva a fama pela parte mais divertida?
Abaixo você, Papai Noel! Lutemos por um Natal sem a necessidade de neve artificial e duendes espalhados pelos shoppings dos países de Natal tropical. Lutemos por um Natal mais humano onde a alegria não está no velhinho de roupa vermelha e barba branca, mas se encontra no nosso encontro com cada pessoa, independente da cor de roupa que usamos e da idade que temos.
Agora, se quiser se lembrar de mim e me dar um 0km de presente... tô precisando.
Um abraço,
I.R.