terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carta para uma amiga

Buenos Aires, 12 de fevereiro de 2008

Querida amiga,

a gente não percebe como os anos passam rápido. Sei que é um pouco lugar-comum dizer isso, mas os anos voam. A vida passa na velocidade de um raio ou de um piscar de olhos. (Introdução típica da "Filosofia de Bar".)

Parece que foi ontem... eu estava na faculdade, era uma quinta ou sexta-feira, quando meu pai nos apresentou e disse que eu seria seu aluno no ano seguinte. E fui seu aluno, e sendo seu aluno me tornei seu amigo.

Os anos passam, minha amiga, e a gente não percebe que deveria ter dito certas coisas específicas, e, se as dissemos, nunca temos a certeza de se as dissemos da maneira como gostaríamos de tê-las dito. Sei que parece confuso, mas para quem entendia a minha letra e as minhas idéias nas provas, isto aqui não é nada.

Não posso deixar de agradecer a você por ter me apresentado Cortázar quando eu estava no terceiro ano de faculdade, apesar de sua matéria ser Literatura Portuguesa. Não posso não agradecer a você pelo enorme incentivo que me deu quando eu dava meus primeiros passos poéticos. A sua paciência na hora de ler meus rabiscos, de dar idéias e até de tentar me fazer publicar (em papel), coisa que, afinal, todos já sabemos, não aconteceu.

Há mais ou menos 5 anos não nos vemos, ou não nos víamos. Nesse período, eu sei que você ficou doente e pelo que me disseram, você já não era você. Há alguns meses procurei seu nome no Google. Havia um endereço de e-mail, mas já estava desativado e a mensagem voltou.

Há mais ou menos 5 anos não nos vemos, ou não víamos, mas eu tinha a esperança de voltar a vê-la, de que você estivesse bem e tivesse voltado a ser você. E que a gente pudesse bater um bom papo, e que você me contasse as suas histórias e que eu contasse a você sobre este blog enquanto o samba corresse solto entre um copo e outro de cerveja.

É, amiga, mas não vai dar. Nesta vida já não vai dar. A esperança, neste caso, morreu. Ficam comigo as histórias. Ficam as boas lembranças. Ficam nossas reuniões com outros professores e vários colegas no Dose Dupla. Ficam os poemas que escrevi na sua casa tomando café da manhã. Fica também a ausência destes últimos anos, alheia à minha vontade.

Quem sabe, um dia a gente se encontra? Só não tenho certeza se tem cerveja no céu.

Um beijo,
I.R.