sábado, 31 de janeiro de 2009

Linha

A linha divisória delimita
E faz-me dos sentidos prisioneiro
Olho a agulha e me lanço costureiro
Mas a linha irrisória me limita

E todo mundo espera que eu reflita
Que desamarre o nó de marinheiro
Mas amarrado eu sou mais um cordeiro
Pra que esse sacrifício se repita

E a linha que demarca essa paisagem
Me avisa que isso tudo é uma miragem
E ser cordeiro é o mesmo que ser porca

Pois essa linha em corda se transforma
E o que eu vejo também já se deforma
No instante em que linha a mim me enforca

I.R.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Tamanho 52

um pé-de-chinelo
sem um pé-de-meia
um pé-rapado
sem um tostão
prum pé-de-moleque
e por ser pé-frio
e por não ser pé-de-valsa
pede uns merréis como bom pé-de-cana
e agora que não tira pé o pé da lama
já bota meio pé na cova.
que pena.

I.R.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Saldo

muito carinho,
muita roupa,
muito brinquedo,
muita esfiha,
muita pizza,
muita, argh, coca-cola,
muitas, muitas ladeiras,
muitas, muitas igrejas,
muita gente,
muitos carros,
muita comida
e alguns quilos a mais.

I.R.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Mediocridade

Vivo num mundo medíocre,
cheio de gente fútil,
repleto de mentes vazias,
pleno de falta de ideias,
de originalidade e
o mínimo de bom senso
ou talvez pudor.
Vivo num mundo violento,
cheio de gente agressiva.
Vivo num mundo
de pessoas ignorantes
em todos os sentidos.
Vivo num mundo sem sentido,
onde, infelizmente,
não sou exceção.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Aro 20

o verso e o reverso
a roda...
o dobrar-se e o desdobrar-se
a roda
que se move...
o verter e o converter
o sono e o sonho
a roda
e os seus raios incontáveis...
a dor e o computador
a roda
que gira...
a insatisfação e o gozo
a roda
em incansável movimento...
o verso e o universo e a roda
que roda sem nunca se cansar.

I.R.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Carta para um evangélico

São Paulo, 21 de janeiro de 2009.

Prezado evangélico,

Não me dirijo a todos vocês, evangélicos, mas aos seguidores do casal Hernandes. Primeiro quero me solidarizar com o desastre que vocês sofreram no último fim de semana. Meus sentimentos às famílias dos mortos. Meus votos de uma rápida recuperação aos feridos.

Agora, não acreditem nesses pastores picaretas que dizem que o que aconteceu foi uma provação. Não acreditem que o melhor lugar para morrer era dentro da Igreja Renascer. Isso é mentira, é enganação.

Esse é um discurso armado de última hora para desviar a atenção de vocês das responsabilidades da Renascer nesse acidente. Primeiro eles disseram que não haviam reformado o telhado recentemente, mas tiveram que mudar o discurso quando encontraram restos novos nos escombros. Aí descobriu-se que a tal reforma não tinha sido autorizada e nem era de conhecimento das autoridades competentes.

Cuidado. Eles sabem manipular a Bíblia. E eles querem enganar você.

Eles não se importam com o seu bem-estar. Eles não ligam para a sua fé. O tal apóstolo e a tal bispa querem apenas o seu dinheiro, e já começaram a pedi-lo. Para quê? Para a construção de um novo templo.

Pense bem... eles não fizeram a manutenção correta de seu templo... o telhado do templo caiu... e é você, com dinheiro do seu bolso, quem vai pagar pela construção de um novo templo... Glória a Deus! O dinheiro jamais sairá dos dólares que o casal Hernandes leva ilegalmente para o exterior. Nunca vai sair das fortunas que eles arrecadam mediante esse comércio da fé que eles criaram.

O apóstolo e a bispa, senhores da enganação, mestres na arte do 171, não pagarão pelos pecados que cometem. Prisão domiciliar nos Estados Unidos... E enquanto estão “presos” continuam livres para aumentar o próprio império, para vender um lugar no paraíso, para alugar um pouco de esperança durante um culto... desde que o telhado não caia na cabeça de inocentes em busca de umas doses de jesus.

Abra o olho, amigo. Tenha cuidado. Os Hernandes são apenas um exemplo atual. Como eles existem muitos por aí, infestando os canais de televisão, acampados nas esquinas de suas ruas, batendo nas portas das suas casas, instalados nas praças, e em casos católicos, te esperando pra sair por aí numa procissão.

Um abraço... e não dê nem meio centavo aos vendedores da fé,

I.R.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Horologia

o gnômon,
a clepsidra,
a ampulheta,
o de pêndulo,
o de azeite,
o de quartzo,
o digital,
o eletrônico,
o atômico,
o Big Ben
o da Central,
o biológico
e Cazuza
nos mostram
que o tempo não para.



I.R.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Bilhete para uma fadista

São Paulo, 18 de janeiro de 2009

Prezada,

tenho certeza de que você é triste.
E na sua tristeza reparte angústia.
E na sua angústia espalha saudade.
E com a sua saudade nos transmite solidão,
E com a sua solidão nos revela lá no fundo a alegria.

Meus respeitos,

I.R.

Fugindo do óbvio, deixo Amália Rodrigues, grande senhora. E vou de Mísia... vou de Mariza.





Divirtam-se... isto é, entristeçam-se!

I.R.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Carta para a família Rossi

São Paulo, 15 de janeiro de 2009.

Prezada Família Rossi,

Há dias venho me lembrando de vocês, e de como a presença de tantos membros seus vêm marcando, discretamente, a nossa história.

Convivo com os Rossi desde pequeno, uma convivência renovada todas as vezes em que minha mãe trocava a vassoura Rossi que usávamos e continuamos usando para varrer o quintal, a sala, a cozinha, os quartos e os banheiros. Minha mãe sempre pediu para olharmos bem a Rossi, para ver se não havia nenhuma lacraia entre a piaçava.

Talvez seja para evitar esse problema que agora ela tenha tantas vassouras em casa e fora dela.

Aos sete anos, um Rossi me deixou marcas profundas e me fez chorar pela última vez durante uma partida da seleção brasileira. Paolo Rossi 3, Brasil 2. Jamais vou me esquecer de tamanha tristeza, ainda sem entender muito bem como Zico, Sócrates, Falcão, Éder, Leandro, Júnior, Cerezo e Telê podiam estar fora da copa. Paolo Rossi matou, ali, o futebol arte coletivo do Brasil.

Com Valentino Rossi nunca tive muito contato. O seu sucesso nas pistas de Moto GP nunca se traduziu, para mim, em um desejo de maior aproximação com o universo das corridas de moto. Tive minha fase de acompanhar, principalmente quando havia um brasileiro competindo, mas sempre gostei mesmo de Fórmula 1, onde até tentaram colocar o Valentino, mas sem o sucesso nos treinos que justificasse uma mudança de esporte.

Já o Marcelo, é, para mim, chato pra burro. Entendo que ele faça companhia pra muita gente e até leve conforto para outras muitas mais. Mas não desce. Não gosto do seu modo de falar, não gosto do seu programa no rádio, não gosto do seu discurso conservador normalmente cheirando a mofo. Vejo Marcelo Rossi como um produto. Assim como Paulo Coelho é um produto nascido da necessidade de muita gente de uma espiritualidade de farmácia, Marcelo Rossi também o é, só que da farmácia que atende apenas os católicos. Pela quantidade que os dois vendem, podemos ver que há bem menos católicos do que à toas neste mundo.

Dos Rossi, o que eu mais gosto é o Reginaldo. Reginaldo Rossi pretende vender o discurso de que é bonito e um grande cantor. Isso é tão bizarro e beira tanto o ridículo que só pode ser considerado engraçado.



Bem, volto ao trabalho.

Um abraço,

I.R.

PS: Ítalo Rossi dirá que a sua família é mara!



I.R.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Décimo-quinto bilhete para um world músico

São Paulo, 13 de janeiro de 2009

Prezado,

por mais que a geografia política diga que não, se você se aprofundar um pouco sobre o Brasil vai me dar razão. Hoje, eu estou na capital (econômica) do Brasil, que é, ao mesmo tempo, a principal cidade do Nordeste brasileiro.

E nada melhor para marcar esse momento do que oferecer a você um pouco de forró.



Um abraço,

I.R.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tapa com luva de pelica

não acredito em papai noel
assim como não acredito nos reis magos
em fadas
em duendes
em gnomos
não acredito que o total desprezo
se transforme no maior zelo
mas acredito na família
naquela que se assume
naquela que se auto-adota
e acredito que a rebeldia
pode não vencer o conservadorismo
mas pode dobrá-lo
e fazer com que ele engula
com um sorriso amarelo
boa parte da sua indiferença

I.R.

domingo, 11 de janeiro de 2009

As cidades e as suas frases

São Paulo, 11 de janeiro de 2009

Prezado Ministro das Cidades,

vindo de Cabo Frio para São Paulo, numa viagem de quase 9 horas, enquanto quase estava pegando no sono, comecei a me lembrar de que existem frases que podemos, ou ao menos eu posso, associá-las a algumas cidades.

Por exemplo, Buenos Aires para mim é: Decifra-me ou te devoro.

Pensando em outras, acho que posso dizer que...

Salvador é: Devagar se vai ao longe.

O Rio de Janeiro é: Ou dá ou desce.

E São Paulo é: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Tenho certeza de que para outras pessoas as frases poderiam ser outras, mas não pretendo ter a última palavra em nada. Também não poderia me aventurar com cidades das que não conheço quase nada, acho que não seria muito honesto.



Um abraço,

I.R.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Vida e Morte

a água-viva secando
na areia da praia
e a sempre-viva arrancada
jogada no chão
representam ao vivo
uma natureza morta

I.R.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Cordas angelicais

Dizem que é o instrumento dos anjos, mas ao vê-lo, não posso deixar de me perguntar quanta força deve ter e de que tamanho deve ser o anjo para carregá-lo.

A harpa, mas confesso que é melhor el arpa e ainda melhor the harp é um dos instrumentos mais antigos do mundo e, com todo respeito, talvez seja um dos mais sonolentos.

Agora, voltando a questão dos anjos, acabei descobrindo que dependendo do lugar de onde é o anjo, ele dá um jeito de levar a sua harpa.

Os anjos clássicos carregam as maiores e mais pesadas:



Os anjos celtas tocam um instrumento mais leve e às vezes bem menor:





Os anjos paraguaios tocam a harpa mais divertida, mais animada. Talvez a única que nos garanta um sonho com ação.



E a coisa é tão variada, que até os anjos da Birmânia têm a sua harpa, o saung ou harpa birmanesa.



No Brasil, na falta de uma harpa nacional, temos que improvisar com um cavaquinho ou com uma viola caipira, mas essas são outras histórias.

E que os anjos me desculpem por tanto sono.

I.R.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Questão de acento

Leia as frases e entenda o seu enunciado.

* A veia come aveia e isso é bom para a veia dela.

* O pinguim tinha um pinguim, mas acharam pouco. Então o pinguim passou a ter três pinguins, e estava bom. Mas três é demais, e repensaram a coisa ao ponto de um só passar a ser ótimo. E foi assim que pinguim voltou a ter só um pinguim. Até quando?

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Se ler as duas frases se tornou um exercício difícil, chato ou complicado, na grafia antiga a leitura, com certeza, seria mais rápida. Acho que não pensaram em certos casos da linguagem popular quando resolveram escrever e aprovar esse novo acordo ortográfico da língua portuguesa.

* A véia (velha) come aveia e isso é bom para a veia dela.

* O pingüim tinha um pinguim (pinguinho), mas acharam pouco. Então o pingüim passou a ter três pinguins, e estava bom. Mas três é demais, e repensaram a coisa ao ponto de um só passar a ser ótimo. E foi assim que pingüim voltou a ter só um pinguim. Até quando?

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Bem que os esporádicos leitores portugueses e moçambicanos do Carta e Verso poderiam escrever um pouco sobre como estão vivendo essas mudanças ortográficas, não? Fica o convite.

Procurando se adaptar,

I.R.

Plano de voo

A ideia de levantar voo
sozinho rumo ao desconhecido
é frequente em mim.
Longe de um ato heroico
ou de bravura,
o desejo responde a minha
mais baixa covardia
ao meu mais nobre egoísmo.
Porém fico em terra,
pois ideias são só ideias
e não aguento pensar
em desacomodar meu comodismo.

I.R.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Carta para um pacifista

Arraial do Cabo, 5 de janeiro de 2009

Prezado pacifista,

espero que você saiba muito bem que acredita numa mentira. A paz não existe. É um sonho impossível de ser atingido. Entendo a sua postura, a sua crença quase cega na humanidade, em ver o lado bom das coisas e das pessoas. Mas a verdade é que você vem sendo enganado há tempos. Mais precisamente, você está sendo enganado desde que o homem se tornou sapiens.

Desde que o mundo é mundo, ao menos desde que o homem é homem neste mundo, vivemos em guerra. E não falo de uma guerra pelo conhecimento, de uma guerra para dominar os elementos, ou para se tornar senhor de sua própria história. Falo de uma guerra de ser humano contra ser humano. Vivemos numa guerra de gente contra gente, com o desejo de demonstrar superioridade, com a necessidade de o mais forte subjugar o mais fraco, com a celebração dos vencedores brindando com os crânios dos vencidos servidos por escravos.

O homem, dito sapiente, racional, nada mais é que uma máquina de guerra. E a nossa vida, nesse mercado, vale menos do que qualquer outra moeda de troca. E não importa a idade, a classe social, a cor da pele ou a crença do vencido. Exatamente por ser vencido, tais coisas são meros detalhes na história contada pelos vencedores.

E não estou falando apenas da Faixa de Gaza e do conflito israelo-palestino. Falo também da corrupção, da exploração do homem pelo homem, dos salários de fome, da falta de emprego, da falta de respeito no trânsito, dos piratas da Somália, dos conflitos no Sudão, do preconceito, da intolerância...

Fazendo um exercício de futurologia, gostaria que as futuras gerações vivessem realmente em um mundo melhor, mas não consigo acreditar nisso. Não haverá um mundo sem guerra. A indústria bélica não será detida e não retrocederá. O pacifismo continuará existindo, mas será como a idéia de oposição dentro de um regime totalitário. O futuro não nos reserva um mar de rosas, mas continuará sendo um banho de sangue, onde inocentes, incluindo os soldados mandados à guerra como quem manda animais para o matadouro, são todos vítimas de um sistema cruel.

Sabe, acho que não fomos feitos do barro. Das duas uma, ou fomos feitos de lama ou de merda cozida.

E que um míssil ou uma propina nos proteja!

I.R.

Enquanto há chuva

Se eu fosse poeta,
talvez ao falar da chuva que
cai lá fora,
ao menos dentro de mim
brilharia um sol.
Mas não sou.
...
Enquanto isso
chove.

I.R.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Bebidas

O chimarrão quente que tomo no verão
é apenas a ponta do iceberg
de minhas contradições.

Para mim,
existem três coisas piores
do que a Coca-Cola:
a Coca Zero,
a Coca Light
e a cocaína.

I.R.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cordas dos ancestrais

De Portugal o que poderia vir? Além de Cabral, da língua portuguesa, do fado, do vinho do Porto, do bacalhau, que não é português, e de parte de minha família, claro que a guitarra portuguesa.

E com ela, a certeza de que nenhum acordo poderá unificar a nossa língua cem por cento. Toca aí, Antônio, digo, António Chainho.



I.R.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

34



Albrecht Dürer

Trinta e quatro

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

34
Cardinal: Trinta e quatro
Ordinal: trigésimo quarto

Propriedades matemáticas

Fatorização: 2 x 17
Função totiente: φ(34) = 16
Número de divisores: τ(34) = 4
Soma dos divisores: σ(34) = 54
Contagem de primos: π(34) = 11
Função de Möbius: μ(34) = 1
Função de Mertens: M(34) = -2

Outros sistemas de numeração

Sistema binário: 100010
Sistema octal: 42
Sistema duodecimal: 2A
Sistema hexadecimal: 22
Numeração romana: XXXIV
Numeração grega: ΔΔΔIIII
Numeração jónica: λδ'
Numeração hebraica: ל"ד
Numeração armênia: ԼԴ
Numeração Āryabhata: यघ


O trinta e quatro (34) é o número natural que segue o 33 e precede o 35.
É um número composto, que tem os seguintes fatores próprios: 1, 2 e 17. Como a soma dos seus fatores é 20 < 34, trata-se de um número defectivo.
É o nono termo da sucessão de Fibonacci, depois do 21 e antes do 55.
Pode ser escrito de quatro formas distitas coma a soma de dois números primos:

Outras ocorrências

34 é o número atômico do selênio (Se) (Sou filho de Selene)
Está presente na pintura Melencolia por meio do chamado quadrado mágico (grade com a série de números de 1 a 16 cuja soma das partes em linhas horizontais e verticais resulta em 34)

Um auto-abraço, ou seria autoabraço?,

I.R.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Oh!

(Obama) (Obina)
(Osama) opina
que o ocaso ocasiona o oco,
e que o gogó rouco
pouco a pouco
obscurece ou oclui
o orador.

I.R.