segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Carta para um pacifista

Arraial do Cabo, 5 de janeiro de 2009

Prezado pacifista,

espero que você saiba muito bem que acredita numa mentira. A paz não existe. É um sonho impossível de ser atingido. Entendo a sua postura, a sua crença quase cega na humanidade, em ver o lado bom das coisas e das pessoas. Mas a verdade é que você vem sendo enganado há tempos. Mais precisamente, você está sendo enganado desde que o homem se tornou sapiens.

Desde que o mundo é mundo, ao menos desde que o homem é homem neste mundo, vivemos em guerra. E não falo de uma guerra pelo conhecimento, de uma guerra para dominar os elementos, ou para se tornar senhor de sua própria história. Falo de uma guerra de ser humano contra ser humano. Vivemos numa guerra de gente contra gente, com o desejo de demonstrar superioridade, com a necessidade de o mais forte subjugar o mais fraco, com a celebração dos vencedores brindando com os crânios dos vencidos servidos por escravos.

O homem, dito sapiente, racional, nada mais é que uma máquina de guerra. E a nossa vida, nesse mercado, vale menos do que qualquer outra moeda de troca. E não importa a idade, a classe social, a cor da pele ou a crença do vencido. Exatamente por ser vencido, tais coisas são meros detalhes na história contada pelos vencedores.

E não estou falando apenas da Faixa de Gaza e do conflito israelo-palestino. Falo também da corrupção, da exploração do homem pelo homem, dos salários de fome, da falta de emprego, da falta de respeito no trânsito, dos piratas da Somália, dos conflitos no Sudão, do preconceito, da intolerância...

Fazendo um exercício de futurologia, gostaria que as futuras gerações vivessem realmente em um mundo melhor, mas não consigo acreditar nisso. Não haverá um mundo sem guerra. A indústria bélica não será detida e não retrocederá. O pacifismo continuará existindo, mas será como a idéia de oposição dentro de um regime totalitário. O futuro não nos reserva um mar de rosas, mas continuará sendo um banho de sangue, onde inocentes, incluindo os soldados mandados à guerra como quem manda animais para o matadouro, são todos vítimas de um sistema cruel.

Sabe, acho que não fomos feitos do barro. Das duas uma, ou fomos feitos de lama ou de merda cozida.

E que um míssil ou uma propina nos proteja!

I.R.