Buenos Aires, 29 de agosto de 2008
Caetano,
você merece mais do que um bilhete, mas uma carta, acontece que estou sem tempo. Quando o trabalho diminuir eu escrevo para te contar algumas coisas que penso e que me acompanham há alguns anos.
Mas na pressa, queria dizer apenas um muito obrigado. Obrigado por essa letra e por essa melodia que me acompanham desde que eu era/sou criança.
Um abraço,
I.R.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Num sábado à tarde
Na hora de fechar a porta, o susto,
E mais do que ele, a dor de não saber
O que me aconteceu ou vai haver
Ou se tudo isso é bom ou se é injusto
Querer fechar a porta a qualquer custo
E um cordeiro imolado vir a ser
Não é bem o que eu chamo de prazer
Mas não sei se sou vítima ou foi justo
Me vi num pastelão, mas sem o bolo
Quando à cabeça veio o tal tijolo
E me bateu sem pena, sem doçura
E me deixou um galo que não canta
Uma aporrinhação que se agiganta
E a certeza de ser cabeça-dura.
I.R.
E mais do que ele, a dor de não saber
O que me aconteceu ou vai haver
Ou se tudo isso é bom ou se é injusto
Querer fechar a porta a qualquer custo
E um cordeiro imolado vir a ser
Não é bem o que eu chamo de prazer
Mas não sei se sou vítima ou foi justo
Me vi num pastelão, mas sem o bolo
Quando à cabeça veio o tal tijolo
E me bateu sem pena, sem doçura
E me deixou um galo que não canta
Uma aporrinhação que se agiganta
E a certeza de ser cabeça-dura.
I.R.
domingo, 24 de agosto de 2008
Décimo bilhete para um world músico
Buenos Aires, 24 de agosto de 2008
Prezado,não sei se você está de acordo comigo em que a fusão de estilos não os destrói, mas que pode ser um estimulante para os ouvidos, para aumentar o nosso cardápio musical.
Quando você se encontrar com Don Jaime em Montevidéu, diga que lhe mandei um abraço. E, por favor, agradeça a ele por tudo em meu nome.
Um abraço para você e sua família,
I.R.
Prezado,não sei se você está de acordo comigo em que a fusão de estilos não os destrói, mas que pode ser um estimulante para os ouvidos, para aumentar o nosso cardápio musical.
Quando você se encontrar com Don Jaime em Montevidéu, diga que lhe mandei um abraço. E, por favor, agradeça a ele por tudo em meu nome.
Um abraço para você e sua família,
I.R.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Miséria
A miséria que bate à minha porta
A fome desses tantos semelhantes
Aparentam ser duras, bem mais que antes
Arma que à minha carne aos poucos corta
A criança sorridente, feia e morta
Estende a mão em vários mil instantes
Velhice, naturezas dissonantes,
A ninguém nestes trilhos nos importa
Pois neste mundo feio e pessimista
Sou mais um cidadão, mais um autista
Que vê no fim do túnel uma luz
É o trem que vem depressa atropelar
Vem correndo e não vamos nem salvar
Nossa cabeça atroz que é de avestruz
I.R.
A fome desses tantos semelhantes
Aparentam ser duras, bem mais que antes
Arma que à minha carne aos poucos corta
A criança sorridente, feia e morta
Estende a mão em vários mil instantes
Velhice, naturezas dissonantes,
A ninguém nestes trilhos nos importa
Pois neste mundo feio e pessimista
Sou mais um cidadão, mais um autista
Que vê no fim do túnel uma luz
É o trem que vem depressa atropelar
Vem correndo e não vamos nem salvar
Nossa cabeça atroz que é de avestruz
I.R.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Carta para o Fagner (ia ser apenas um bilhete)
Buenos Aires, 20 de agosto de 2008
Prezado Fagner,
fiquei sabendo que você disse que a Bossa Nova é coisa de mauricinho e que é música americana, além de afirmar ser música de elevador e de sala de espera de dentista.
Bem, vamos por partes, acho que num elevador e numa sala de espera procuram colocar músicas mais suaves, talvez por isso coloquem mais bossa nova do que forró, por exemplo. Então, esse papo de onde toca ou deixa de tocar o ritmo a, b ou c, não vem ao caso.
Concordo que a Bossa Nova é música americana se pensarmos que o Brasil é parte da América. Mas não estou de acordo se com isso você afirma ser a Bossa Nova uma música dos EUA. É inegável na Bossa Nova a sua influência jazzística mas ou você nunca ouviu samba ou vai me dizer que o samba foi inventado em alguma esquina do Harlem. Me diz uma coisa com a mão no coração, você nunca sentiu a batida do samba na Bossa Nova de João Gilberto, por exemplo.
Cara, João Gilberto, teve a sacação do ritmo (sem falar em Jobim) e você vem me reduzir tudo a ser ou não ser música de mauricinho? Desculpa, mas você acha que o seu LP (tô ficando velho, meu Deus!) Traduzir-se ou Traducirse é um trabalho super popular? Sejamos sinceros, é um trabalho que qualquer um consideraria sofisticado, inteligente e para um público reduzido, provavelmente classificado de mauricinho.
Depois, acho feio você vir com esse papo sobre a Bossa Nova depois de ter gravado o disco Demais, em 1993, onde você canta "Eu sei que vou te amar", "Minha namorada" e "Dindi", entre outras. Sem falar que num dos seus maiores sucessos, "Canteiros", uma das músicas incidentais é "Águas de Março".
Li uma entrevista sua onde você se gaba de ter modernizado a música brasileira, de ter feito algo diferente ao misturar o baião com guitarras. Fagner, a geléia geral, a mistura, a neo-antropofagia é o Tropicalismo e sem o Tropicalismo talvez nem tivesse havido Fagner.
A música brasileira não precisa de mais um cantor/compositor polêmico. Já temos Caetano, nosso polêmico maior, e Lobão, nosso polêmico menor. Acho que um é pouco, dois é bom, mas três é demais.
Sabe, fiquei aqui pensando, você se gabando tanto, se orgulhando de ser uma espécie de renovador da música brasileira... é engraçado... de qual Fagner estamos falando?
Deste que usa a "música de mauricinho" quando lhe convém:
Ou deste que renova a música brasileira gravando em português um grande sucesso de um cantor da República Dominicana, Juan Luis Guerra:
O original:
Fagner, cante, componha, mas fale menos, pois como diria o Romário, você de boca fechada é um filósofo.
Um abraço,
I.R.
PS: E para quem gosta de shows em elevadores, eu recomendo:
Prezado Fagner,
fiquei sabendo que você disse que a Bossa Nova é coisa de mauricinho e que é música americana, além de afirmar ser música de elevador e de sala de espera de dentista.
Bem, vamos por partes, acho que num elevador e numa sala de espera procuram colocar músicas mais suaves, talvez por isso coloquem mais bossa nova do que forró, por exemplo. Então, esse papo de onde toca ou deixa de tocar o ritmo a, b ou c, não vem ao caso.
Concordo que a Bossa Nova é música americana se pensarmos que o Brasil é parte da América. Mas não estou de acordo se com isso você afirma ser a Bossa Nova uma música dos EUA. É inegável na Bossa Nova a sua influência jazzística mas ou você nunca ouviu samba ou vai me dizer que o samba foi inventado em alguma esquina do Harlem. Me diz uma coisa com a mão no coração, você nunca sentiu a batida do samba na Bossa Nova de João Gilberto, por exemplo.
Cara, João Gilberto, teve a sacação do ritmo (sem falar em Jobim) e você vem me reduzir tudo a ser ou não ser música de mauricinho? Desculpa, mas você acha que o seu LP (tô ficando velho, meu Deus!) Traduzir-se ou Traducirse é um trabalho super popular? Sejamos sinceros, é um trabalho que qualquer um consideraria sofisticado, inteligente e para um público reduzido, provavelmente classificado de mauricinho.
Depois, acho feio você vir com esse papo sobre a Bossa Nova depois de ter gravado o disco Demais, em 1993, onde você canta "Eu sei que vou te amar", "Minha namorada" e "Dindi", entre outras. Sem falar que num dos seus maiores sucessos, "Canteiros", uma das músicas incidentais é "Águas de Março".
Li uma entrevista sua onde você se gaba de ter modernizado a música brasileira, de ter feito algo diferente ao misturar o baião com guitarras. Fagner, a geléia geral, a mistura, a neo-antropofagia é o Tropicalismo e sem o Tropicalismo talvez nem tivesse havido Fagner.
A música brasileira não precisa de mais um cantor/compositor polêmico. Já temos Caetano, nosso polêmico maior, e Lobão, nosso polêmico menor. Acho que um é pouco, dois é bom, mas três é demais.
Sabe, fiquei aqui pensando, você se gabando tanto, se orgulhando de ser uma espécie de renovador da música brasileira... é engraçado... de qual Fagner estamos falando?
Deste que usa a "música de mauricinho" quando lhe convém:
Ou deste que renova a música brasileira gravando em português um grande sucesso de um cantor da República Dominicana, Juan Luis Guerra:
O original:
Fagner, cante, componha, mas fale menos, pois como diria o Romário, você de boca fechada é um filósofo.
Um abraço,
I.R.
PS: E para quem gosta de shows em elevadores, eu recomendo:
terça-feira, 19 de agosto de 2008
Carta para o Dunga
Buenos Aires, 19 de agosto de 2008.
Pouco prezado Dunga,
É meio-dia. Há pouco mais de 10 minutos o Brasil perdeu para a Argentina por 3 a 0 no Jogos Olímpicos de Pequim e eu não posso deixar de agradecer a você pelo dia maravilhoso que você acaba de me proporcionar.
Cara, você não tem idéia do dia lindo que começará para mim, em mais ou menos 57 minutos, quando eu começar a primeira aula do dia, aqui em Buenos Aires. Brasileiro em Buenos Aires sofre, meu camarada, e acho que você não deve ter a menor idéia disso.
Tem certas coisas que eu não entendo, com um jogador como Thiago Neves entrando bem em todas as partidas você me deixa o cara no banco e só o coloca para jogar quando a partida já estava 2 a 0... Por quê? Deve ter sido para ele ser justamente expulso e tornar a nossa participação na olimpíada ainda mais bonita.
Não é possível, deve ser pessoal... você tem problemas de relacionamento com 180 milhões de pessoas... Mas posso te garantir que as centenas que moram aqui em Buenos Aires, como eu, teremos ou já estamos tendo um dia maravilhoso.
Me diga a verdade, você achou que era um treinador vitorioso quando o Brasil goleou a forte seleção da Nova Zelândia?
Amigo Dunga, você não sabe a minha vontade de sair de casa. E para melhorar hoje tenho a primeira aula em uma universidade... com alunos que já me conhecem e têm intimidade para falar de futebol comigo sem terem medo de eu os reprová-los.
Sabe, Dunga, você como técnico é um excelente ex-jogador... ou excelente modelo das roupas da sua filha... sei lá... Mas como amigo eu não tenho nada do que me queixar. Você é um amigaço! Você, sim, soube como dar emoção à minha terça-feira pós-feriado aqui na Argentina.
Deus lhe pague, e que a Branca de Neve lhe dê um prato extra de sopa hoje à noite.
Agora, pensando bem, meu amigo, muito obrigado não só pelo dia de hoje, mas pela semana inteira. Acho que nem o argumento de que já ganhamos 5 copas do mundo vai me ajudar muito nos próximos dias.
Sem mais, te agradece de coração,
I.R.
Pouco prezado Dunga,
É meio-dia. Há pouco mais de 10 minutos o Brasil perdeu para a Argentina por 3 a 0 no Jogos Olímpicos de Pequim e eu não posso deixar de agradecer a você pelo dia maravilhoso que você acaba de me proporcionar.
Cara, você não tem idéia do dia lindo que começará para mim, em mais ou menos 57 minutos, quando eu começar a primeira aula do dia, aqui em Buenos Aires. Brasileiro em Buenos Aires sofre, meu camarada, e acho que você não deve ter a menor idéia disso.
Tem certas coisas que eu não entendo, com um jogador como Thiago Neves entrando bem em todas as partidas você me deixa o cara no banco e só o coloca para jogar quando a partida já estava 2 a 0... Por quê? Deve ter sido para ele ser justamente expulso e tornar a nossa participação na olimpíada ainda mais bonita.
Não é possível, deve ser pessoal... você tem problemas de relacionamento com 180 milhões de pessoas... Mas posso te garantir que as centenas que moram aqui em Buenos Aires, como eu, teremos ou já estamos tendo um dia maravilhoso.
Me diga a verdade, você achou que era um treinador vitorioso quando o Brasil goleou a forte seleção da Nova Zelândia?
Amigo Dunga, você não sabe a minha vontade de sair de casa. E para melhorar hoje tenho a primeira aula em uma universidade... com alunos que já me conhecem e têm intimidade para falar de futebol comigo sem terem medo de eu os reprová-los.
Sabe, Dunga, você como técnico é um excelente ex-jogador... ou excelente modelo das roupas da sua filha... sei lá... Mas como amigo eu não tenho nada do que me queixar. Você é um amigaço! Você, sim, soube como dar emoção à minha terça-feira pós-feriado aqui na Argentina.
Deus lhe pague, e que a Branca de Neve lhe dê um prato extra de sopa hoje à noite.
Agora, pensando bem, meu amigo, muito obrigado não só pelo dia de hoje, mas pela semana inteira. Acho que nem o argumento de que já ganhamos 5 copas do mundo vai me ajudar muito nos próximos dias.
Sem mais, te agradece de coração,
I.R.
segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Carta para o Inventor dos Feriados
Buenos Aires, 18 de agosto de 2008.
Prezado Inventor dos Feriados,
Esta é uma carta póstuma, com certeza. Não póstuma no sentido de que o escritor esteja morto, pois estou aqui vivo, escrevendo, e espero que possa continuar fazendo isso por pelo menos mais uns 97 anos. Mas póstuma no sentido de que você, senhor Inventor dos Feriados, deve estar morto há muitíssimos anos.
De qualquer maneira, acho que você merece não só uma carta, mas uma estátua em praça pública. Só uma estátua não, merece ser nome de rua... rua é pouco, de avenida! Não, só nome de avenida ainda é pouco. Para lembrarmos você, acho que você merece um feriado!
Já sei que existe, mas certas frases devem sempre, para ter efeito, ser do estilo “não existe”... Não existe nada melhor do que um feriado! E melhor do que feriado na segunda é feriado na terça, quando a segunda pode ser enforcada, a mesma regra valendo para os feriados de quinta-feira, com o conseqüente “assassinato” da sexta.
Acontece que já não moro no Brasil e não posso curtir essa contribuição brasileira para a melhoria da existência dos feriados. Aqui na Argentina nunca existe um fim de semana de quatro dias, exceto na semana santa. E os brasileiros que estiverem lendo esta carta saberão concordar comigo, feriadão é tão bom quanto ver o seu time de futebol campeão brasileiro, ou tão bom quanto ir à 25 de Março e voltar pra casa com as sacolas cheias de coisinhas a preços de banana.
Senhor Inventor dos Feriados, também não quero ser injusto com os feriados argentinos que curto há 10 anos. Existe um ponto positivo em alguns feriados daqui. É que alguns feriados são móveis, isto é, passam para a segunda-feira anterior ou posterior de acordo com a vontade do governo, e proporciona dias como os de hoje. Na verdade o feriado teria sido ontem... mas sejamos honestos, deveria haver uma lei que proibisse a existência de feriados no domingo. Todo feriado que cai no domingo deveria ser passado para a primeira segunda-feira posterior. E se não fosse pedir muito, todos os meses deveria ter um feriado.
Se o feriado de hoje pudesse ter sido na sexta-feira, dia que eu trabalho mais, teria sido ótimo, mas acho que pensar apenas em mim e não no bem comum é exageradamente egoísta. De qualquer maneira, não importa. Espero que os meus alunos de hoje não fiquem chateados, não é nada pessoal, mas estou adorando não ter que vê-los. E tomara que o dia passe devagar, lento e preguiçoso como eu.
Mas como tudo passa, e alegria de pobre dura mesmo pouco, a partir de amanhã já começo a contagem regressiva para o próximo, dia 8 de dezembro.
Um abraço,
I.R.
PS: Por que será que quando se comemora algum personagem histórico o feriado é sempre o dia da morte, e não o do nascimento? O único que conheço que tem o nascimento, mas também a morte, comemorado é Jesus. Será que conseguir isso foi um milagre?
Prezado Inventor dos Feriados,
Esta é uma carta póstuma, com certeza. Não póstuma no sentido de que o escritor esteja morto, pois estou aqui vivo, escrevendo, e espero que possa continuar fazendo isso por pelo menos mais uns 97 anos. Mas póstuma no sentido de que você, senhor Inventor dos Feriados, deve estar morto há muitíssimos anos.
De qualquer maneira, acho que você merece não só uma carta, mas uma estátua em praça pública. Só uma estátua não, merece ser nome de rua... rua é pouco, de avenida! Não, só nome de avenida ainda é pouco. Para lembrarmos você, acho que você merece um feriado!
Já sei que existe, mas certas frases devem sempre, para ter efeito, ser do estilo “não existe”... Não existe nada melhor do que um feriado! E melhor do que feriado na segunda é feriado na terça, quando a segunda pode ser enforcada, a mesma regra valendo para os feriados de quinta-feira, com o conseqüente “assassinato” da sexta.
Acontece que já não moro no Brasil e não posso curtir essa contribuição brasileira para a melhoria da existência dos feriados. Aqui na Argentina nunca existe um fim de semana de quatro dias, exceto na semana santa. E os brasileiros que estiverem lendo esta carta saberão concordar comigo, feriadão é tão bom quanto ver o seu time de futebol campeão brasileiro, ou tão bom quanto ir à 25 de Março e voltar pra casa com as sacolas cheias de coisinhas a preços de banana.
Senhor Inventor dos Feriados, também não quero ser injusto com os feriados argentinos que curto há 10 anos. Existe um ponto positivo em alguns feriados daqui. É que alguns feriados são móveis, isto é, passam para a segunda-feira anterior ou posterior de acordo com a vontade do governo, e proporciona dias como os de hoje. Na verdade o feriado teria sido ontem... mas sejamos honestos, deveria haver uma lei que proibisse a existência de feriados no domingo. Todo feriado que cai no domingo deveria ser passado para a primeira segunda-feira posterior. E se não fosse pedir muito, todos os meses deveria ter um feriado.
Se o feriado de hoje pudesse ter sido na sexta-feira, dia que eu trabalho mais, teria sido ótimo, mas acho que pensar apenas em mim e não no bem comum é exageradamente egoísta. De qualquer maneira, não importa. Espero que os meus alunos de hoje não fiquem chateados, não é nada pessoal, mas estou adorando não ter que vê-los. E tomara que o dia passe devagar, lento e preguiçoso como eu.
Mas como tudo passa, e alegria de pobre dura mesmo pouco, a partir de amanhã já começo a contagem regressiva para o próximo, dia 8 de dezembro.
Um abraço,
I.R.
PS: Por que será que quando se comemora algum personagem histórico o feriado é sempre o dia da morte, e não o do nascimento? O único que conheço que tem o nascimento, mas também a morte, comemorado é Jesus. Será que conseguir isso foi um milagre?
domingo, 17 de agosto de 2008
Bilhete para um músico brega
Buenos Aires, 17 de agosto de 2008
Prezado,
você já sabe que não sou ninguém para dizer o que é brega ou o que não é. Não sou a consciência do mundo, nem o dono da Música. Mas estamos de acordo em que a música romântica sempre pôde ser associada ao movimento brega... e mais de acordo com que certos cantores também.
Não é o caso de Zé Ramalho, mas...
E como não sou crítico, nem o Olho Vigilante do Mundo (dizer Big Brother hoje dá margem a outras interpretações), só posso dizer do que gosto e do que não. E estou de acordo com você em relação à essa música. Eu também gosto dela.
Um abraço,
I.R.
Prezado,
você já sabe que não sou ninguém para dizer o que é brega ou o que não é. Não sou a consciência do mundo, nem o dono da Música. Mas estamos de acordo em que a música romântica sempre pôde ser associada ao movimento brega... e mais de acordo com que certos cantores também.
Não é o caso de Zé Ramalho, mas...
E como não sou crítico, nem o Olho Vigilante do Mundo (dizer Big Brother hoje dá margem a outras interpretações), só posso dizer do que gosto e do que não. E estou de acordo com você em relação à essa música. Eu também gosto dela.
Um abraço,
I.R.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Blues
Um céu sem nuvens
Um mar sem algas
Dois terços da bandeira,
a da Argentina,
A tinta da bic
que uso para escrever
isto, que não ouso chamar poema
Nenhuma fruta
Nenhuma folha
Um sorvete,
Algumas roupas que tenho no armário
Um papel de bala,
um sugus de abacaxi,
Mas não vejo
Nenhum azul mais bonito
E não procuro
Nenhum azul mais bonito
Pois não existe
Nenhum azul mais bonito
Do que o azul profundo dos teus olhos
I.R.
PS: Já sei que os poemas não tem PS. Mas quem disse que isto é um poema? Estas palavras são apenas o espelho escrito de um pai coruja.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Bilhete para um jogador de basquete e para um cozinheiro
Buenos Aires, 13 de agosto de 2008
Prezados jogador e cozinheiro,
gostaria de compartilhar com vocês e com todos os leitores uma coisa... a descoberta de que uma bola de basquete nem sempre é usada para a prática esportiva, e a de que uma panela às vezes produz outro tipo de "comida".
Aqui a máxima de "uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa" não funciona, já que "uma coisa pode ser outra coisa, e a outra coisa já nem sei que coisa é".
Um abraço aos dois,
I.R.
Prezados jogador e cozinheiro,
gostaria de compartilhar com vocês e com todos os leitores uma coisa... a descoberta de que uma bola de basquete nem sempre é usada para a prática esportiva, e a de que uma panela às vezes produz outro tipo de "comida".
Aqui a máxima de "uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa" não funciona, já que "uma coisa pode ser outra coisa, e a outra coisa já nem sei que coisa é".
Um abraço aos dois,
I.R.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Carta para o Barão de Coubertin
Buenos Aires, 12 de agosto de 2008.
Prezado Barão de Coubertin,
Antes de mais nada, devo lembrar ao senhor que sou da filosofia do “viva e deixe viver”. Cada um na sua. Eu na minha, o senhor na sua e ele, quando houver, na dele.
Como diria um personagem do programa de TV “Cilada”, muuuito bem bolada essa sua idéia de ressuscitar os jogos olímpicos na era moderna. E com isso o surgimento do espírito olímpico, a glória não só de vencer, mas de participar. A glória apenas de chegar, com sacrifício, até mesmo em último lugar.
Mas os tempos são outros, senhor Barão, e se antes as guerras faziam uma pausa para a celebração dos jogos, agora elas começam durante os mesmos. Talvez seja parte do novo espírito olímpico, onde uma medalha de ouro conquistada com anabolizantes é algo corriqueiro, e a medalha de prata poderia ser de lata, que não faria diferença.
E é dentro desse espírito olímpico pós-moderno, século 21, neste mundo globalizado onde tudo é Made in China, inclusive a olimpíada de 2008, que eu fiquei surpreso ao ver que uma dupla feminina e outra masculina do vôlei de praia, ambas as duplas formadas por brasileiros como eu e como outros 180 milhões de pessoas, competem pela Geórgia.
Barão, o senhor leu direito, eles competem pela República da Geórgia, país localizado lá onde a Europa e a Ásia se encontram, perto da Armênia, do Azerbaijão, da Rússia e da Turquia. E o detalhe que me assustou é que esse pessoal não mora nem morou lá. Mas compete pelo país, sem nenhum problema.
Eu entendo, por exemplo, que Marcos Sena jogue pela Espanha. O cara mora lá há muito tempo, joga no país há muito tempo. Ele tem uma relação com tudo aquilo lá. Agora, apesar do “viva e deixe viver”, eu acho muito estranho alguém que não tem nenhuma relação com um lugar jogar e defender esse lugar como próprio. Seria como se eu, brasileiro, morador da Argentina há 10 anos, de repente fosse disputar uma olimpíada defendendo as cores da bandeira do Sri Lanka, ou da Nigéria, ou da... Geórgia!
Tá certo que, pelo que li, o presidente da Geórgia teria oferecido 500 mil euros para quem conquistasse uma medalha de ouro em Pequim, e não é todo dia que alguém tem a chance de embolsar 500 mil euros. Tá certo também que disputar uma olimpíada, seja pelo país que for, deve ser uma experiência incrível. Mas ou eu estou ficando muito ultrapassado, ou a modernidade e a globalização estão indo num ritmo que já está ficando difícil acompanhar.
ნახვამდის /najvamdis,
I.R.
PS: Que a dupla "georgiana" masculina se chame Geor e Gia me fez pensar em outras duplas possíveis: Bra e Sil, Uru e Guai, Argen e Tina, Portu e Gal, Moçam e Bique ou ainda Ang e Ola.
Um abraço,
I.R.
Prezado Barão de Coubertin,
Antes de mais nada, devo lembrar ao senhor que sou da filosofia do “viva e deixe viver”. Cada um na sua. Eu na minha, o senhor na sua e ele, quando houver, na dele.
Como diria um personagem do programa de TV “Cilada”, muuuito bem bolada essa sua idéia de ressuscitar os jogos olímpicos na era moderna. E com isso o surgimento do espírito olímpico, a glória não só de vencer, mas de participar. A glória apenas de chegar, com sacrifício, até mesmo em último lugar.
Mas os tempos são outros, senhor Barão, e se antes as guerras faziam uma pausa para a celebração dos jogos, agora elas começam durante os mesmos. Talvez seja parte do novo espírito olímpico, onde uma medalha de ouro conquistada com anabolizantes é algo corriqueiro, e a medalha de prata poderia ser de lata, que não faria diferença.
E é dentro desse espírito olímpico pós-moderno, século 21, neste mundo globalizado onde tudo é Made in China, inclusive a olimpíada de 2008, que eu fiquei surpreso ao ver que uma dupla feminina e outra masculina do vôlei de praia, ambas as duplas formadas por brasileiros como eu e como outros 180 milhões de pessoas, competem pela Geórgia.
Barão, o senhor leu direito, eles competem pela República da Geórgia, país localizado lá onde a Europa e a Ásia se encontram, perto da Armênia, do Azerbaijão, da Rússia e da Turquia. E o detalhe que me assustou é que esse pessoal não mora nem morou lá. Mas compete pelo país, sem nenhum problema.
Eu entendo, por exemplo, que Marcos Sena jogue pela Espanha. O cara mora lá há muito tempo, joga no país há muito tempo. Ele tem uma relação com tudo aquilo lá. Agora, apesar do “viva e deixe viver”, eu acho muito estranho alguém que não tem nenhuma relação com um lugar jogar e defender esse lugar como próprio. Seria como se eu, brasileiro, morador da Argentina há 10 anos, de repente fosse disputar uma olimpíada defendendo as cores da bandeira do Sri Lanka, ou da Nigéria, ou da... Geórgia!
Tá certo que, pelo que li, o presidente da Geórgia teria oferecido 500 mil euros para quem conquistasse uma medalha de ouro em Pequim, e não é todo dia que alguém tem a chance de embolsar 500 mil euros. Tá certo também que disputar uma olimpíada, seja pelo país que for, deve ser uma experiência incrível. Mas ou eu estou ficando muito ultrapassado, ou a modernidade e a globalização estão indo num ritmo que já está ficando difícil acompanhar.
ნახვამდის /najvamdis,
I.R.
PS: Que a dupla "georgiana" masculina se chame Geor e Gia me fez pensar em outras duplas possíveis: Bra e Sil, Uru e Guai, Argen e Tina, Portu e Gal, Moçam e Bique ou ainda Ang e Ola.
Um abraço,
I.R.
domingo, 10 de agosto de 2008
Nono bilhete para um world músico
Buenos Aires, 10 de agosto de 2008
Prezado,
Se você tem acompanhado os jornais, sabe que a Rússia e a Geórgia estão em pé de guerra e já se enfrentaram em combates. Você sabe muito bem quem é que paga a conta dessa e de qualquer outra disputa político-econômico-territorial, não é? É isso aí, a população paga, e o preço nunca é baixo. É alto, e cobrado com juros. Ambos sabemos que seria muito melhor que russos e georgianos se dedicassem mais à música e menos à guerra. Não concorda?
Um abraço,
I.R.
Prezado,
Se você tem acompanhado os jornais, sabe que a Rússia e a Geórgia estão em pé de guerra e já se enfrentaram em combates. Você sabe muito bem quem é que paga a conta dessa e de qualquer outra disputa político-econômico-territorial, não é? É isso aí, a população paga, e o preço nunca é baixo. É alto, e cobrado com juros. Ambos sabemos que seria muito melhor que russos e georgianos se dedicassem mais à música e menos à guerra. Não concorda?
Um abraço,
I.R.
sábado, 9 de agosto de 2008
Como nasce um soneto
Escrever um soneto é uma aventura
Que eu nunca sei ao certo aonde vai dar
Não sei do seu começo ou terminar
E nem quero saber se isso tem cura
Ou se é rima de verbo ou com frescura
Também não sei se é bom meu delirar
Só sei que assim a coisa, nesse andar,
Fica bem mais difícil, fica dura
E quando eu o termino estou cansado
Mais que o corpo, meu cérebro esgotado
Mais que a mente, o espírito moído
Pois quando eu o termino estou exausto
Porque não fiz um pacto como Fausto
E o soneto não nasce, ele é nascido
I.R.
Que eu nunca sei ao certo aonde vai dar
Não sei do seu começo ou terminar
E nem quero saber se isso tem cura
Ou se é rima de verbo ou com frescura
Também não sei se é bom meu delirar
Só sei que assim a coisa, nesse andar,
Fica bem mais difícil, fica dura
E quando eu o termino estou cansado
Mais que o corpo, meu cérebro esgotado
Mais que a mente, o espírito moído
Pois quando eu o termino estou exausto
Porque não fiz um pacto como Fausto
E o soneto não nasce, ele é nascido
I.R.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Carta para a falta de assunto
Buenos Aires, 06 de agosto de 2008
Prezada Falta de Assunto,
Sei que de vez em quando você ronda as cabeças de poetas, romancistas, roteiristas, blogueiros e tantos outros que dependem da presença do assunto, do motivo, da inspiração, dirão alguns, para escrever.
E aí, quando você resolve aparecer, como se fosse um fantasma, e não estou falando do Gasparzinho, afinal, ele é camarada, a única maneira de exorcizá-la é exatamente a invocando. Por isso é que todo mundo que escreve, bem ou mal, não importa, um dia termina escrevendo sobre você, a falta de assunto.
Só tem um problema, dona Falta de Assunto, eu não estou sem assunto. Como assim? É, eu, conscientemente, estou escrevendo para a falta de assunto, mas tendo assunto para escrever. Posso escrever sobre meu filho, aquele do paraíso dos 50 peitos, que está com sono, mas não consegue dormir. Posso escrever sobre a novela das 8, que agora passa as 9, e aqui em Buenos Aires passa as 10, e de como a Flora é dissimulada, ou como o nome Zé Bob é bastante horrível para ser o nome do galã da novela.
Poderia escrever também sobre as aulas que começam na universidade, e de como fico nervoso quando começo a trabalhar com um grupo novo. Poderia escrever sobre o arroz estilo oriental que preparei para o jantar, que tem um cheiro e um gosto deliciosos, apesar de sempre ficar grudado... sei lá, acho que é característica do arroz mesmo.
Mas não. Prefiro escrever para a falta de assunto, para dizer a ela que a acho levemente necessária. É como se a falta de assunto fosse o momento de intervalo que ficaria vazio entre um assunto e outro, mas que nós teimamos em não deixá-lo em brancas nuvens. A senhora, dona Falta de Assunto é o momento em que os escritores inteligentes, criativos, mostram ao mundo que nem sempre é possível ter uma imaginação recheada de novidades; e também é o momento em que os escritores mais ou menos medíocres usam para fazer uma filosofiazinha de bar daqueles bem pé sujo.
Acho que os únicos que não te conhecem são os Grandes escritores, mas esses habitam outras esferas. Mundos inacessíveis para um mortal como eu... se bem que alguns imortais... francamente...
Bem, vou continuar jantando. E vendo a Flora confessar que foi ela matou o marido da Donatela... É, poderia ter escrito sobre o fato de a novela aqui passar com um dia de atraso, mas isso é assunto para outra carta.
Um abraço,
I.R.
Prezada Falta de Assunto,
Sei que de vez em quando você ronda as cabeças de poetas, romancistas, roteiristas, blogueiros e tantos outros que dependem da presença do assunto, do motivo, da inspiração, dirão alguns, para escrever.
E aí, quando você resolve aparecer, como se fosse um fantasma, e não estou falando do Gasparzinho, afinal, ele é camarada, a única maneira de exorcizá-la é exatamente a invocando. Por isso é que todo mundo que escreve, bem ou mal, não importa, um dia termina escrevendo sobre você, a falta de assunto.
Só tem um problema, dona Falta de Assunto, eu não estou sem assunto. Como assim? É, eu, conscientemente, estou escrevendo para a falta de assunto, mas tendo assunto para escrever. Posso escrever sobre meu filho, aquele do paraíso dos 50 peitos, que está com sono, mas não consegue dormir. Posso escrever sobre a novela das 8, que agora passa as 9, e aqui em Buenos Aires passa as 10, e de como a Flora é dissimulada, ou como o nome Zé Bob é bastante horrível para ser o nome do galã da novela.
Poderia escrever também sobre as aulas que começam na universidade, e de como fico nervoso quando começo a trabalhar com um grupo novo. Poderia escrever sobre o arroz estilo oriental que preparei para o jantar, que tem um cheiro e um gosto deliciosos, apesar de sempre ficar grudado... sei lá, acho que é característica do arroz mesmo.
Mas não. Prefiro escrever para a falta de assunto, para dizer a ela que a acho levemente necessária. É como se a falta de assunto fosse o momento de intervalo que ficaria vazio entre um assunto e outro, mas que nós teimamos em não deixá-lo em brancas nuvens. A senhora, dona Falta de Assunto é o momento em que os escritores inteligentes, criativos, mostram ao mundo que nem sempre é possível ter uma imaginação recheada de novidades; e também é o momento em que os escritores mais ou menos medíocres usam para fazer uma filosofiazinha de bar daqueles bem pé sujo.
Acho que os únicos que não te conhecem são os Grandes escritores, mas esses habitam outras esferas. Mundos inacessíveis para um mortal como eu... se bem que alguns imortais... francamente...
Bem, vou continuar jantando. E vendo a Flora confessar que foi ela matou o marido da Donatela... É, poderia ter escrito sobre o fato de a novela aqui passar com um dia de atraso, mas isso é assunto para outra carta.
Um abraço,
I.R.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Oitavo bilhete para um world músico
Buenos Aires, 5 de agosto de 2008
Prezado,
um dos meus primeiros contatos com a música africana foi por meio de Bonga, um dos grandes nomes da música angolana. A gente conhece sempre tão pouco, não é mesmo? Por exemplo, da música de Moçambique eu não sei quase nada. Você tem mais infomações?
Um abraço,
I.R.
Prezado,
um dos meus primeiros contatos com a música africana foi por meio de Bonga, um dos grandes nomes da música angolana. A gente conhece sempre tão pouco, não é mesmo? Por exemplo, da música de Moçambique eu não sei quase nada. Você tem mais infomações?
Um abraço,
I.R.
domingo, 3 de agosto de 2008
Nas entrelinhas da mão
Ninguém é o que parece mesmo ser,
Todo mundo está cheio de entrelinhas.
Assim, você as suas e eu as minhas
Temos para jamais as entender.
Na dualidade dor versus prazer,
Felicidade em gotas, em latinhas,
Tristezas de umas vidas tão sozinhas,
Rugas das que não posso me esquecer.
E há vida pra apagar os desatinos,
A vida pra pagar tantos destinos
Errados ou errantes, não demonstro.
E é certo aqui, agora, em qualquer canto,
Que cada um carrega em si um santo,
Mas cada um também oculta um monstro.
I.R.
Todo mundo está cheio de entrelinhas.
Assim, você as suas e eu as minhas
Temos para jamais as entender.
Na dualidade dor versus prazer,
Felicidade em gotas, em latinhas,
Tristezas de umas vidas tão sozinhas,
Rugas das que não posso me esquecer.
E há vida pra apagar os desatinos,
A vida pra pagar tantos destinos
Errados ou errantes, não demonstro.
E é certo aqui, agora, em qualquer canto,
Que cada um carrega em si um santo,
Mas cada um também oculta um monstro.
I.R.
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