Buenos Aires, 18 de agosto de 2008.
Prezado Inventor dos Feriados,
Esta é uma carta póstuma, com certeza. Não póstuma no sentido de que o escritor esteja morto, pois estou aqui vivo, escrevendo, e espero que possa continuar fazendo isso por pelo menos mais uns 97 anos. Mas póstuma no sentido de que você, senhor Inventor dos Feriados, deve estar morto há muitíssimos anos.
De qualquer maneira, acho que você merece não só uma carta, mas uma estátua em praça pública. Só uma estátua não, merece ser nome de rua... rua é pouco, de avenida! Não, só nome de avenida ainda é pouco. Para lembrarmos você, acho que você merece um feriado!
Já sei que existe, mas certas frases devem sempre, para ter efeito, ser do estilo “não existe”... Não existe nada melhor do que um feriado! E melhor do que feriado na segunda é feriado na terça, quando a segunda pode ser enforcada, a mesma regra valendo para os feriados de quinta-feira, com o conseqüente “assassinato” da sexta.
Acontece que já não moro no Brasil e não posso curtir essa contribuição brasileira para a melhoria da existência dos feriados. Aqui na Argentina nunca existe um fim de semana de quatro dias, exceto na semana santa. E os brasileiros que estiverem lendo esta carta saberão concordar comigo, feriadão é tão bom quanto ver o seu time de futebol campeão brasileiro, ou tão bom quanto ir à 25 de Março e voltar pra casa com as sacolas cheias de coisinhas a preços de banana.
Senhor Inventor dos Feriados, também não quero ser injusto com os feriados argentinos que curto há 10 anos. Existe um ponto positivo em alguns feriados daqui. É que alguns feriados são móveis, isto é, passam para a segunda-feira anterior ou posterior de acordo com a vontade do governo, e proporciona dias como os de hoje. Na verdade o feriado teria sido ontem... mas sejamos honestos, deveria haver uma lei que proibisse a existência de feriados no domingo. Todo feriado que cai no domingo deveria ser passado para a primeira segunda-feira posterior. E se não fosse pedir muito, todos os meses deveria ter um feriado.
Se o feriado de hoje pudesse ter sido na sexta-feira, dia que eu trabalho mais, teria sido ótimo, mas acho que pensar apenas em mim e não no bem comum é exageradamente egoísta. De qualquer maneira, não importa. Espero que os meus alunos de hoje não fiquem chateados, não é nada pessoal, mas estou adorando não ter que vê-los. E tomara que o dia passe devagar, lento e preguiçoso como eu.
Mas como tudo passa, e alegria de pobre dura mesmo pouco, a partir de amanhã já começo a contagem regressiva para o próximo, dia 8 de dezembro.
Um abraço,
I.R.
PS: Por que será que quando se comemora algum personagem histórico o feriado é sempre o dia da morte, e não o do nascimento? O único que conheço que tem o nascimento, mas também a morte, comemorado é Jesus. Será que conseguir isso foi um milagre?