terça-feira, 12 de agosto de 2008

Carta para o Barão de Coubertin

Buenos Aires, 12 de agosto de 2008.

Prezado Barão de Coubertin,

Antes de mais nada, devo lembrar ao senhor que sou da filosofia do “viva e deixe viver”. Cada um na sua. Eu na minha, o senhor na sua e ele, quando houver, na dele.

Como diria um personagem do programa de TV “Cilada”, muuuito bem bolada essa sua idéia de ressuscitar os jogos olímpicos na era moderna. E com isso o surgimento do espírito olímpico, a glória não só de vencer, mas de participar. A glória apenas de chegar, com sacrifício, até mesmo em último lugar.

Mas os tempos são outros, senhor Barão, e se antes as guerras faziam uma pausa para a celebração dos jogos, agora elas começam durante os mesmos. Talvez seja parte do novo espírito olímpico, onde uma medalha de ouro conquistada com anabolizantes é algo corriqueiro, e a medalha de prata poderia ser de lata, que não faria diferença.

E é dentro desse espírito olímpico pós-moderno, século 21, neste mundo globalizado onde tudo é Made in China, inclusive a olimpíada de 2008, que eu fiquei surpreso ao ver que uma dupla feminina e outra masculina do vôlei de praia, ambas as duplas formadas por brasileiros como eu e como outros 180 milhões de pessoas, competem pela Geórgia.

Barão, o senhor leu direito, eles competem pela República da Geórgia, país localizado lá onde a Europa e a Ásia se encontram, perto da Armênia, do Azerbaijão, da Rússia e da Turquia. E o detalhe que me assustou é que esse pessoal não mora nem morou lá. Mas compete pelo país, sem nenhum problema.

Eu entendo, por exemplo, que Marcos Sena jogue pela Espanha. O cara mora lá há muito tempo, joga no país há muito tempo. Ele tem uma relação com tudo aquilo lá. Agora, apesar do “viva e deixe viver”, eu acho muito estranho alguém que não tem nenhuma relação com um lugar jogar e defender esse lugar como próprio. Seria como se eu, brasileiro, morador da Argentina há 10 anos, de repente fosse disputar uma olimpíada defendendo as cores da bandeira do Sri Lanka, ou da Nigéria, ou da... Geórgia!

Tá certo que, pelo que li, o presidente da Geórgia teria oferecido 500 mil euros para quem conquistasse uma medalha de ouro em Pequim, e não é todo dia que alguém tem a chance de embolsar 500 mil euros. Tá certo também que disputar uma olimpíada, seja pelo país que for, deve ser uma experiência incrível. Mas ou eu estou ficando muito ultrapassado, ou a modernidade e a globalização estão indo num ritmo que já está ficando difícil acompanhar.

ნახვამდის /najvamdis,

I.R.

PS: Que a dupla "georgiana" masculina se chame Geor e Gia me fez pensar em outras duplas possíveis: Bra e Sil, Uru e Guai, Argen e Tina, Portu e Gal, Moçam e Bique ou ainda Ang e Ola.

Um abraço,

I.R.