quarta-feira, 26 de março de 2008

Carta para os (ex-)colegas de faculdade

Buenos Aires, 26 de março de 2008

Queridos (ex-)colegas de faculdade*,

desde dezembro do ano passado que tenho vontade de escrever para vocês. Afinal, no dia 5 de dezembro do ano passado completamos nossos primeiros 10 anos de formatura. O tempo passa e muitas vezes nem percebemos... é, minha gente... 10 anos... 10 anos.

Há 14 anos, no vestibular, a redação que todos tivemos de fazer tinha como tema: Vida, arte do encontro. E acho, meus colegas, que foi isso o que fizemos durante os nossos quatro anos de estudo. Nós nos encontramos. E podemos entender esse encontro de diferentes maneiras, podemos encará-lo como o encontro que tínhamos todos os dias, e com alguns nos churrascos de fim de semana. Mas também podemos entender esse encontro como a oportunidade que tivemos de nos conhecer, de trocar de idéias, de nos tornarmos amigos e termos um passado bacana em comum.

Como diz Vinícius, a vida é a arte do encontro, meus colegas, e embora haja tanto desencontro pela vida, não acredito que esses anos em que não nos vemos tenham sido desencontrados. É o curso da vida, e cada um tem uma história a seguir, uma história para continuar escrevendo. Mas no livro de todos nós há um capítulo em comum. Um capítulo que eu gostaria de ler nos livros de vocês, já que a minha percepção não é igual a de ninguém, é minha e intransferível.

E enquanto eu penso nessa carta para vocês, percebo que o que escrevo agora vale para inúmeras outras situações e momentos de nossa vida, de pessoas que passam por nós e que escrevem conosco um ou dois, ou vários capítulos da história da nossa vida, e da delas também. Um casamento, um casamento desfeito, um antigo trabalho, um trabalho atual, um namorado, uma namorada, um grupo de amigos de infância, nossos pais, tios, avós, primos, sobrinhos, os livros que lemos, a música que escutamos...

A vida é a arte do encontro, mas é só é a arte do encontro para quem está disposto a se encontrar. Para quem não está, a vida não é nem desencontro, é fardo, é peso, é obrigação, e a felicidade se tornar um artigo de luxo difícil de se conseguir.

Não posso ler o que está escrito no livro de vocês, mas no meu, diz que foram quatro anos incríveis. Anos divertidos, de aquisição de conhecimento, de fazer amizades, de bons churrascos, de descoberta da literatura, de cerveja, anos de encontro com as meninas do primeiro ano, anos de pneumotórax e crescimento pessoal.

Tive sorte. Poderiam ter sido anos chatos, com pessoas chatas, numa clima pesado, onde o estudo poderia ter sido encarado apenas como um mal necessário para chegar ao diploma. Há situações em que isso acontece assim, ou quase assim, na vida. Mas este não foi o caso.

Aqui em Buenos Aires está chovendo, e eu não tenho vontade nenhuma de trabalhar. Mas o mal necessário é assunto para outra carta.

Um beijo grande para todos vocês. E proponho que continuemos esse nosso encontro, que nem o tempo nem a distância física são capazes de desencontrar.

I.R.

PS: *Mesmo sabendo que serei injusto e esquecerei o nome de alguém: Izabel, Andréia, Velma, Marisa, Gesseldo, Rodrigo Leitão, Ronaldo Lobão, Mauro, Denise, Rafaela, Alessandra (e o marido Marcelo que não era da turma, mas era como se fosse), Alexandra, Luciana, Leandra, Ana Paula, Fábio, André (29 ou 30), Ivan, Júnia, Márcia, Simone, Simone (de novo),  Luceli, Noélia, Katty, Eva Sandra, Angélica, Márcia, Nilton (Mutante), Cristiane, Dog (como se chamava oficialmente?... Antônio), Bebel, Flávio, Benilda, Viviane...