Antes de mais nada, é importante que se separe quem é quem. Não sou o personagem central desta história, sou seu narrador. Aceito que, como narrador, também sou personagem, mas que fique claro que o fato não aconteceu comigo.
O autor também não é o personagem central. Autor é autor, não personagem. E se me perguntarem se essa história é real, direi que sim, aqui, nestas linhas, é tão real quanto a crise econômica ou a Torre Eiffel.
Agora, se quem me lê quer saber se essa história é baseada em fatos reais ou veridíca, o que dá quase na mesma, sinceramente, não sei. Reproduzo o que me contaram.
Um conhecido me disse que tem um amigo que é professor. Esse professor trabalha em uma universidade, dando a mesma matéria para diversas turmas diferentes. Todas as semanas, nos turnos manhã, tarde e noite, ele tem que repetir seu discurso, suas explicações, seus exemplos, suas piadas.
No início, achou tudo muito prático, já que ter de preparar apenas uma aula lhe permitiria se dedicar a outras coisas, como assistir televisão ou jogar playstation. Era tudo tão prático. Uma aula preparada, sem muito esforço por ser matéria conhecida, e depois TV, livros, Internet, videogame, sesta, um vidão.
Seus colegas lhe perguntavam se ele não se cansava de repetir exatamente as mesas coisas na sala de aula. Ao que ele respondia que a única coisa que o cansava era ter de preparar aquela aula semanal, origem de todas as outras.
As semanas e os meses se sucediam e a prática docente se renovava apenas semanalmente. Aula após aula, manhã, tarde e noite, os alunos ouviam as mesmas brincadeiras, viam os mesmos ejemplos, riam das mesmas bobagens ditas pelo professor e aprendiam os mesmos conteúdos. Tudo milimetricamente calculado.
Quando acontecia de alguém não entender alguna explicação ou não rir de uma piada, o professor fingia que a dúvida não tinha sido perguntada ou que a risada tinha acontecido e continuava desenrolando o seu script.
Assim transcorreu o semestre letivo. Uma aula depois da outra.
Foi aí que esse professor resolveu colocar em prática uma ideia. No primeiro dia do novo semestre letivo, ele entrou em sala, se sentou sobre a mesa, para ficar em um lugar mais visível. Posicionou suas orelhas como se fossem caixas de som potentes, abriu a boca, apertou o nariz, e a sua aula começou a ser ouvida em toda a sala. Os mesmos exemplos, as mesmas explicações, as mesmas brincadeiras e piadas do semestre anterior. Tudo gravado. Transportado em um pendrive.
Só não me perguntem onde esse professor o conectou.
I.R.