sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

deslimite

Foto: Jacqueline Hoofendy

nenhum espelho é retrato fiel,
espelhos invertem o que se vê,
espelhos têm moldura e limitam,
se oxidam e delimitam
o que em teoria deveria ser ilimitado.
mas espelhos também são aprendizado,
momento de encarar-se,
de procurar onde melhorar,
de fazer catarse...
espelhos são o exercício de ver
o que não está refletido
instante de ter coragem,
de ser destemido,
e buscar no deslimite
o que há no todo de nós

I.R.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

eus

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

teço com vários eus a teia
que forma a minha vida,
subo e desço em cada fio,
sentindo o arrepio
do roçar da brisa no meu rosto,
tenho na boca o gosto...
aquele sabor que me avisa
que é na corda bamba
que meus eus vão se encontrar

I.R.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

na beira do mar

a gente se abraça
e se equilibra
diante do balanço do mar,
tentando um não pisar
o pé do outro,
como quem aprende a dançar.
a gente se equilibra e se abraça,
achando graça
de nossos corpos ao sabor da maré
e das ondas...
abraçados,
mas quando pisarmos no pé um do outro,
como aqueles dançarinos
que ainda não sabem,
nos olharemos nos olhos,
cheios de sal e carinho
e nos pediremos desculpas,
antes de continuar

I.R.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Carta e Verso - 9 anos

pouca carta,
porque elas requerem tempo
e me mostrar mais.
muito verso,
no inecessário de ser explícito
onde me coloco nas entrelinhas
ou me afasto do texto escrito
neo-parnasianismo mágico,
falso tropicalismo antropofágico...
igor ravasco brincando de ser
igor ravasco...
carta e verso,
onde curto imerso
essa grande diversão de escrever

I.R.

domingo, 25 de dezembro de 2016

entre o céu e o caos

Foto: Luiz Bhering

entre o sonho e a realidade,
a razão e a sensibilidade,
entre o amor,
a crueldade e a esperança,
entre a têmpera e a temperança,
andamos na corda bamba
e nos equilibramos...
de olhos abertos para ver,
de braços abertos para abraçar

I.R.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

oceânico

sou pacífico
quando estou no atlântico...
e se não indico
banhos de água fria
como terapia,
é porque entre o ático e o ártico,
o antártico, a antártida
e a antártica
há uma coisa fantástica
que se chama livre-arbítrio

I.R.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

o desencontro dos eus

tenho versos abstratos
sem sentido
ou carregados de sentimento,
porque escrevo como quem fala
em voz alta
na frente de um espelho...
escrevo como quem sussurra
palavras de amor ao pé do ouvido
da pessoa amada,
escrevo como quem grita
contra esse mundo injusto,
justamente por saber que o grito
é minha forma de luta.
escrevo como quem se autoanalisa,
como quem pinta sua mona lisa...
mas isto não é um diário.
sou eu, onde o eu não está

I.R.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

encontro de eus

hoje quem fui
se encontra com quem sou
refletido no espelho do mar,
com areia entre os dedos...
meus segredos dispersos na rede,
minha sede de terra e de infinito

I.R.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

sonâmbulo

entre o sono e o sonho
há mais do que um agá
de diferença.
há presença ou potência
e a vontade
de dormir ou de acordar

I.R.

sábado, 17 de dezembro de 2016

tenho que

tenho que escrever,
tenho que trabalhar,
tenho que...
comer, dormir, respirar,
tenho que verbalizar...
e fazer minha mala,
que está quase na hora...

I.R.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

comunicação

encontrar a maneira de dizer,
de comunicar,
é um ato quase de rebeldia.
gritar não é necessariamente
uma denúncia,
e a renúncia a falar
pode não ser uma escolha,
mas uma forma de violência.
é necessário doçura,
é fundamental paciência...
também é preciso firmeza,
clareza,
às vezes um pouco de ironia
e altas doses de bom humor

I.R.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

babel

penso em português,
falo em espanhol,
rezo em hebraico,
com uns toques de aramaico,
a minha volta, há música em inglês,
vendedores que falam chinês...
e escuto o hino armênio com atenção...
não sou poliglota,
só estou cercado de idiomas
por todos os lados

I.R.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

sobrevoo

ideias e ideais sobrevoam
um dos hemisférios do meu cérebro...
mas nada celebro,
enquanto em palavras ou em atos
nenhum deles aterrissar

I.R.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

backstage

Foto: Natal Marques

às vezes a remo,
de vez em quando a motor,
de barco não chegarei a roma,
nem navegarei no mar do amor...
tudo isso é cafonice
ou recurso de verso barato...
talvez eu devesse fazer um trato
com a inspiração ou com a musa
fazer um esforço...
pra não ludibriar o leitor.
no siempre se navega en aguas cristalinas...
a veces es necesario remar en dulce de leche

I.R.

domingo, 11 de dezembro de 2016

solo un fragmento

hablaría de lo mismo
todos los días,
me repetiría,
sería redundante...
yo, que soy mitad profesor,
y cien por ciento estudiante,
reaprendo lo que, tal vez,
nunca lo supe,
o simplemente no lo veía,
como la luna durante el día
semi oculta en el cielo azul

I.R.

sábado, 10 de dezembro de 2016

contate

Foto: Tatiana Aste

no vai e vem dos sentidos,
entra em jogo os sentimentos,
falam alto as sensações...
e ainda que eu saiba
ser fundamental escutar
ou importante ver,
por mais que no paladar
também sinta prazer,
o fato é
que não ponho o foco no olfato,
mas reúno meus cinco sentidos
no ato de tatear
I.R. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

biopoema

Foto e Mandala: Laura Taveira

se é verdade que a vida por si só
não tem sentido,
então ao que falta por viver
e ao já vivido
cabe a cada um dar direção...
talvez, motivo.
e os textos escritos,
independente da quantidade de cadernos,
serão sofridos e também ternos,
e as capas não nos dirão tudo...
não sou um livro aberto nem terminado
e a mandala, com suas curvas e linhas retas,
mostram que não existe a palavra certa
para me definir...
para nos etiquetar.
folhas, flores, raios de sol,
um polvo imaginário
sou eu desenhando meu itinerário
reunindo em coletânea
todas essas folhas dispersas

I.R.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

salva-vidas

Foto: Angela Melim

minha alma não precisa de salvação...
mas meus pensamentos
necessitam ser libertos
da escravidão da ignorância,
da prisão das imagens projetadas...
quero ter minha mente como um mar
e os grãos de areia colados na pele
quando volto pra casa.
não conheço a salvação da vida,
talvez o salva-vidas seja uma metáfora
do que é preciso erguer ou destruir,
do que é necessário ressignificar
quero sentir na palma das mãos
toda essa espuma,
sem pressa alguma...
esperando, quem sabe,
que a chuva caia...
não com uma falsa ideia de pureza,
mas para que, encharcado de natureza,
eu me pesque ou eu me perca

I.R.

domingo, 4 de dezembro de 2016

do amor e de outras ideias

Foto: Igor Ravasco

tenho ideias doces,
nem sempre originais,
umas suaves como coices,
outras legalmente marginais.
ideias que iluminam
e que ajudam a reler
que a vida é arte do encontro
ou que é impossível
ser feliz sozinho...
tenho ideias, sinto ideias
que alumbram meu caminho...
preciso dar amor...
de amigo, de irmão,
de filho, de pai,
amor de amante numa relação,
preciso dar amor de ser humano...
amor sem engano,
sem medida...
sem pieguice
desses que curam qualquer ferida,
que não nos deixa cair na mesmice
tenho ideias doces,
que não são ideias minhas...
mas não preciso de originalidade,
quando, na verdade,
só quero aprender a amar mais

I.R.

sábado, 3 de dezembro de 2016

declaração

declaro para os devidos fins,
que pretendo até o fim
tocar a vida com bom humor...
apesar de algum momento ranzinza...
com a certeza de que o cinza
também é uma das cores do arco-íris
declaro neste preciso momento,
precioso e pleno de sentimento
que todo dia é dia de viver,
plenamente e em abundância,
com a constância de abrir os olhos
e pensar por conta própria.
todos temos digitais, que não são iguais,
não se repetem em nenhum humano...
declaro que já sei qual é meu plano:
meu plano é viver,
sem deixar a peteca cair.

I.R.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

como em oz

um céu de ouro
estampa o dia
num fim de tarde
na terra da prata...
e eu, nem feito de bronze,
mas armado de lata,
redescubro o coração
numa estrada de tijolos amarelos

I.R.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

no tom

Foto: Jose Pedroso

afirmo,
como forma de afirmação...
afino,
como estrela em ascensão...
rasgo o solo
e planto no meu colo,
cordas e riffs,
modas e moldes,
formas
e fome de glória...
mas não sou um astro de rock
nem um personagem da história
e estou mais para clown
do que para menestrel...
não conhecerei o céu...
sou o bobo de uma corte sem rei,
sou o xerife e o fora da lei
atravessando o deserto
sem sair do tom

I.R.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

o caso do acaso

Foto: Jane Cassol

o acaso
é um desconhecido íntimo
que causa medos, alegrias,
que nos assusta,
pois nunca nos preparamos
para sua chegada...
ele vem sem hora marcada,
chega chegando,
sem nunca avisar...
o acaso é quem dispõe,
enquanto o driblamos
e tentamos dominá-lo...
tentei, mas não coinsegui crer
nas causalidades...
fiquei com as casualidades
e as escolhas que podemos fazer
enquanto a bolha de sabão
não estourar

I.R.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

na hora da dor

num momento de dor,
não há palavra que amenize
e talvez nem deus que conforte.
é estranha a vida,
quando violentamente chega a morte...
num acidente aéreo...
numa guerra...
num desastre natural,
na inaturalidade de seres humanos
que todos os dias ainda morrem de fome

I.R.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

sopro

na quietude,
a fala do vento
batendo na janela
não rompe o silêncio
nem desestabiliza
minhas inquietações.
estou pleno de emoções
que não desinquietam,
repleto de plenitude
e incompleto
em minha totalidade...
a felicidade só é possível
quando sei que a quero

I.R.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

bancando

Foto: Paulo Loureiro

não banco o bambambã,
nem me acho...
e se me encontro de vez em quando
é porque na arte do encontro
também há lugar pra mim...
no banco do calçadão
desfilei descalço,
qual passarela,
minha solidão
e minhas mágoas,
meu descanso
e meu olhar posto nas águas do mar,
no concreto da avenida,
no objeto e no ponto de partida...
não banco o sabe tudo,
sou cheio de poréns e algum contudo,
talvez por isso,
sentado como o pensador,
apenas aprecio...
apreciar também é uma forma de agir

I.R.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

na lata

Foto: Adriano Mello

consumo ideias enlatadas
e tenho pensamentos enlatados,
com latas amassadas,
correndo o risco de botulismo...
mas sei que é preciso abrir os olhos,
abrir a mente,
se quero abri-las.
nem todas vem com abre fácil,
nem todo abridor é confortável
para o manuseio...
quero um pouco de devaneio...
não são ideias em conserva,
o que preciso conservar
mas a habilidade de abrir as latas,
a minha capacidade de pensar.

I.R.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

descartadas

Foto: Nilson Brandao Junior

onde antes se depositava informação,
sonhos, notícias,
primícias, mensagens de amor...
onde as frases eram definitivas,
lapidadas durante rascunhos...
onde antes havia espera,
havia entrega,
agora só há propaganda
e folhetos religiosos...
e, claro, contas,
muitas contas pra pagar

I.R.

domingo, 20 de novembro de 2016

Carta aos pedreiros

Foto: Jose Luiz Monteiro

Buenos Aires, 20 de novembro de 2016

Prezados,

Só posso entender o combate ao racismo, se combatemos a ideia de que seja possível existir um racismo. Já que o racismo, baseado no conceito de raças, não pode existir. Temos de partir do ponto de que só existe uma raça, a humana, diferenciada pela cor da pele, formato dos olhos, tipo de cabelo,  preferências sexuais, por suas tradições e pela cultura. E se não existe raça, não pode haver racismo.

O que existe (e persiste, também dentro de nós) é a discriminação, o preconceito, o medo e a aversão pelo diferente. O que resiste, entrincheirado, com medo de perder seu poder, é essa ideia de homem ocidental, branco, cristão, heterossexual, rico ou de classe média, que se entende como o ápice da criação, a última pedra no topo da pirâmide da cadeia alimentar.

O mundo globalizado tem de assumir definitivamente o que aos poucos foi descobrindo. Somos um planeta repleto de diversidade, o que nos enriquece como seres humanos. O mundo globalizado, o mundo, dito civilizado, deve repensar o caminho que percorreu para chegar até aqui e aprender dos erros de seu passado.

Mudar é um trabalho difícil, pensar, abrir a mente, reconhecer-se apenas como um ser humano no meio de todos os seres humanos... dizendo para si, o que também digo para mim... que não me importa em que Deus (ou nenhum Deus) as pessoas acreditam. Não me importa se são homens ou mulheres ou se transam com homens ou mulheres, assim como não me importa a cor de suas peles. Não me importa em que parte do planeta nasceram. E também não me importa se são ricos, pobres, se têm alguma deficiência ou por que time torcem.

O mundo globalizado se descobriu plural, se viu colorido, e é triste, mas ao mesmo tempo normal, que o velho mundo queira levantar muros, para tentar resistir. A dúvida é se estamos com os tijolos na mão para ajudar a construí-los ou já pegamos as marretas e começamos a derrubá-los dentro de nós.

Abraços,

I.R.

sábado, 19 de novembro de 2016

dedicatória

Foto: Eduarda Duvivier

as flores que pintei,
o buquê que fotografei,
o jardim que imaginei...
...
minha racionalidade,
meus pensamentos,
as contradições e os sentimentos,
numa efusão de cores,
nesse despertar de amores...
...
dedico a você

I.R.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

soltando as amarras

Foto: Amora Mel

a vida está cheio de elos,
além de alelos,
reação em cadeia,
encadeamento de ideias,
idealização...
realização de sentimentos...
o caminho das pedras
e uma pele de estrelas...
as correntes nem sempre prendem,
também conectam, concatenam,
sequências de gerações,
600 metros de emoções,
caminhar lado a lado
ou andar de mãos dadas
é o que solta as amarras,
gera força na união

I.R.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

substrato

Foto: Renê Martim

rasgo o concreto
para ver mais concreto
e me abstraio no abstrato
que meus olhos
aparentemente não veem
concretizo o abstrato...
nenhum relato é melhor
do que a vida em movimento.
há barracos e arranha-céus,
apontando para o alto...
mas nada disso é mais intenso
que o seu gosto
no meu céu da boca.
rasgo o concreto
em busca do contrato,
encontro o substrato,
que não está no eu,
nem no nós
o alicerce ou nossa laje
é a força de eu e tu

I.R.

domingo, 13 de novembro de 2016

fragmentos de un domingo

en ese instante
en que tu mirada cruza con la mía
y aunque no seamos espejo,
nuestras sonrisas son el reflejo
una de la otra,
hay miles de palabras
listas para despegar...
en la punta de mi lengua.
pero hay un poco de vergüenza,
mezclado a un toque de timidez,
donde también se agregó
el filtro del tiempo...
todavía no es el momento
de las palabras,
y así dejamos que los abrazos
digan todo lo que nos queremos decir

I.R.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

poema protesto

a poesia não para o racismo,
nem impede a homofobia,
a poesia não proíbe
movimentos xenofóbicos,
nem elimina a misoginia...
a poesia não impede os feminicídios.
a poesia não trava a máquina
geradora de mortes,
criadora de guerras, de fome,
de tristeza, de miséria...
mas pode se erguer,
quase como uma voz profética,
pode nos trazer a discussão da ética
em forma de arte.
a poesia pode se erguer
no meio desse deserto coletivo,
reconhecendo que nos retrocessos
não há nada definitivo,
a derrota só é real
quando cruzamos os braços,
fechamos as bocas
e paramos de agir

I.R.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

tolerância

não quero ser tolerado
por minha religião,
ou pela ausência de uma,
o que quero é respeito...
respeitar e ser respeitado,
conviver, aprender,
com toda e qualquer diversidade,
porque não creio na verdade,
pois só acredito no amor

I.R.

domingo, 6 de novembro de 2016

contador

Foto: João Andrade

construo vivências,
seiva, suor e saliva...
e se rascunho algo,
escrevo pouco.
conto contos
e sei quando aumento os pontos,
pois brinco com a intensidade...
sou contador de histórias,
um desconhecedor da verdade...
histórias minhas e emprestadas,
que carrego em gavetas, em pendrives,
em baús,
como se fossem um tesouro,
como se eu fosse um pirata,
buscando uma ilha deserta
para enterrá-lo...
com direito a um mapa
e o desenho de um grande X

I.R.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

depois dos dias

Foto: Mara Echeverría

após o dia das bruxas,
depois do dia dos santos,
finalizado o dia dos mortos,
resta a certeza de que as fogueiras
ainda queimam inocentes,
e que a perfeição é exclusiva
dos que faleceram...
vassouras que não voam
já não limpam,
e enquanto não virarmos cinza
ou pó,
nos veremos refletidos
naquele gato preto,
perseguido em nome do inexistente,
escondido por causa da superstição.

I.R.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

pausa reflexiva

preciso da pausa,
da reflexão
por cima do cansaço...
preciso deixar um pedaço de mim,
mesmo numa pausa nua,
ou principalmente numa pausa assim.
preciso do descanso
do descaro...
dum descaroçador,

I.R.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

dulce o truco

no creo en las brujas,
no creo en las hadas,
tampoco en los gnomos,
duendes, leprechones
o santos.
no creo en ogros,
unicornios, monstruos,
y a dios, en todas sus formas,
le doy el beneficio de la duda.
pero creo en el ser humano,
el ser de las decisiones... 
ese que elige el camino del mal,
o ese que se decide por el camino del bien,
aunque se estrelle contra las paredes...
ese que, aunque sea contradictorio
y equivocado,
pone la mano en el arado
por un mundo mejor.

I.R.

domingo, 30 de outubro de 2016

cavalar

Foto: Igor Ravasco

não me dei um cavalo de troia
em troca de um cavalo de batalha...
nem alazão, nem pangaré,
mas cavalo de pau,
para um cara de pau...
pois montado como um jóquei,
cavaleiro solitário,
montado como o zorro,
não corro,
nem saio do lugar

I.R.

sábado, 29 de outubro de 2016

encaminhado

Foto: Adenor Gondim

se me disserem para tomar
o caminho da esquerda...
se me impuserem
o caminho da direita...
se me recomendarem
voltar atrás,
ao ponto de onde parti,
direi não,
talvez até sem agradecer.
só posso pisar
um caminho já traçado,
se é por vontade própria,
do contrário,
é melhor pisar o deserto,
ter a mente e o coração abertos,
para criar um caminho meu

I.R.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

cromossomos

Foto: Jacqueline Hoofendy

o que é você
e o que te representa...
como você se apresenta
e quem você é...
expressos num autorretrato.
onde você sou eu
e eu sou o outro
que é um vizinho,
que não está sozinho
onde você somos nós...
não há banalidades nas extremidades,
somos o que caminhamos,
o que tocamos,
engraçados, ecléticos,
gordos, esqueléticos, ousados...
somos... de braços e pernas esticados,
pois isso nos eleva,
e leva a mente além

I.R.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

minta-me

minta-me
com sabor de menta,
monta-me,
para me desarmar...
desarma-te,
prepara-te,
enquanto me preparo
sem desespero.
ame-me
com tua mente,
queira-me com teu corpo,
pois eu, absorto,
espero a morte do mote,
a glosa do bote
para te poder gozar.

I.R.

domingo, 23 de outubro de 2016

mudar ou emudecer

perdi a magia
e desandei a receita.
fiquei sem fala,
sem vontade de voz...
proclamo em silêncios potentes,
anúncios mudos,
com a força de cem clarins.

I.R.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

biblioteca

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

também sou um livro aberto
ao mesmo tempo
em que estou escrito em código
ou sou um livro de consulta.
sou uma obra de gravuras,
literatura fantástica,
cheio de figuras...
sou um policial,
um livro de mistério,
um drama de amor
e de adultério,
adulterado
por algum copista medieval.
sou dicionário
e livro de receitas,
sou sidur, antes breviário,
empilhado na estante,
na gaveta do armário,
pronto para ser folheado...
e às vezes indisposto para ser lido

I.R.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

unipalavras

não,
nada,
nunca,
jamais,
são,
fada,
nuca,
ramais...
monossílabos...
tônicos,
daltônicos,
conversa
experimental,
experiência,
diálogo,
monólogo,
logos.
'atchéso'
logo
invisto

I.R.

domingo, 16 de outubro de 2016

aproveite o dia

Foto: Gustavo Chagas

a natureza contemporânea da arte
reside sempre na parte
em que não é de todo espontânea...
como nós, fruto de diferentes épocas,
originados em diferentes escolas...
lá onde o mar e o céu se juntam,
abandonei a luta,
açúcar amargo de um pão com bolor.
há dias de alegria
e dias de dor...
carpe diem,
enquanto meus lábios sorriem
e o coração tranquilo
já não implora amor.

I.R.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

cascanueces

Foto: Victoria Cornejo

la vida es riego
y es riesgo
y más que lucha,
la vida es baile,
es ballet...
vida en punta de pie
y entrenamiento,
para que lo difícil parezca fácil,
y no se vea más el dolor
que la belleza...
vida de piruetas,
juego de volteretas
como baryshnikov...
vida que se toma,
como agua
o por las riendas,
mientras uno aprende a esquivarse
como muhammad ali

I.R.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

elo

sonhei versos,
que ao acordar me esqueci...
a palavra é tão tênue,
o ritmo, tão frágil...
sonhei ideias,
que, ao despertar, bocejei.
só o silêncio, talvez,
me traga de volta
o elo perdido.

I.R.

domingo, 9 de outubro de 2016

la vie est belle

a vida é bela
e é bonita,
também com seus pesares,
seus apesares...
assim, preciso sair do egito
rumo a palmares,
conquistar a liberdade
tantas vezes esquecida.
quero ser um mosaico,
uma obra de cacos
não terminada,
um peixe na parede,
colado apenas como símbolo
de que não estou mais colado ali

I.R.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

noventa

Foto: Ricardo Ramos

atravesso túneis a céu aberto
e buracos de espaço-tempo,
sem saber aonde vou.
o que há do outro lado?,
(se é que há outro lado)
apesar de me manter acordado,
a pergunta não tira meu sono.
nunca vou sobre trilhos,
mas gosto de abrir os braços
e fazer malabarismo sobre eles,
como numa corda bamba.
uma placa diz noventa,
e a esta altura,
não sei se são 90 quilômetros,
ou 90 quilômetros por hora,
não sei se são 90 poemas,
90 problemas,
se são 90 canções,
90 anos
ou 90 emoções descritas
após 90 suspiros,
30 de tristeza,
30 de saudade
e outros 30 de amor.
talvez sejam 90 passos,
quem sabe, 90 pedaços,
ou 90 botões,
desabrochando em flor...

I.R.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

estrelaria

por entre estrelas fixas,
uma estrela cadente,
incandescente,
ilumina meu caminho.
numa via láctea de luzes,
a energia que flui
é a vontade que constrói...
thomas edison nunca imaginou
que traria uma imagem do céu
para ampliar os limites
de nossas quatro paredes.

I.R.

Foto: Laura Taveira

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

fez-se luz

Foto: Ricardo Eiras

outubro começou
ecoando um silêncio
que ressoa em mim,
traduzido em páginas em branco.
talvez reste o escorrega,
esse tobogã dos sonhos infantis,
onde um sorriso incentiva
e a grande inventiva
é brincar...
a seriedade não passa de brincadeira
elevada à categoria de algo mais

I.R.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

verdor

um túnel verde relaxa meus olhos,
enquanto minha cabeça insiste em doer.
tenho os olhos e a paciência cansados,
e uma cabeça latejante,
dispersa num túnel verdejante,
que insiste em insistir.

I.R.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Pórtico

Poemas são seres vivos, com vontade própria, talvez. Mas são frutos de pensamentos, questionamentos, vivências, leituras, que não dependem do poema em si, mas de quem o escreve. Poemas não deveriam ser lidos em voz alta por quem os escreveu, salvo alguma exceção (como meu pai, por exemplo). Poetas muitas vezes não são bons leitores de seus próprios versos. Toda análise poética deveria ser feita com cuidado, e com uma taça de vinho... Poemas, problemas e suas (in)soluções, o sol no corpo, as insolações... o solitário exercício de viver em sociedade, a prática de pensar... o ato de escrever.

I.R.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

ladeira abaixo

Foto: Marcelo Durães

eu preciso arriscar,
pois viver é mais que rascunho,
vai além de rabiscar...
por isso, antes da curva,
ladeira abaixo,
sei que perdi a noção do perigo...
em alta velocidade,
sem capacete e fora dos trilhos,
se bater, não me restará
nem os cílios
prum reconhecimento facial

I.R.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

escribirte

podría escribirte poemas en castellano,
mientras caminamos de la mano,
y en cada esquina te abrace,
antes de cruzar las calles,
y te mire a los ojos...
podría escribirte en castellano,
porque me gustás
y te siento en porteño...
podría solo escribirte en español,
y en un momento cursi,
entregarte el mar
o regalarte el sol
podría solo escribirte
en el idioma de ceratti...
mas nasci no de caetano,
e se te quiero em castelhano,
um pouco mais de cada vez
é porque ao mesmo tempo
te gosto... te quero...
e te adoro em português

I.R.

domingo, 25 de setembro de 2016

na primavera

Foto: Jacqueline Hoofendy

se as de plástico não morrem,
as flores naturais também não...
pois secas, viram lembranças,
dessas encontradas nos livros,
esquecidos nas prateleiras,
enquanto na terra,
transformam-se em adubo,
num ciclo de renovação...
e nessas novas gerações,
há flores que são estrelas,
supernovas amarelas,
que arrastam nosso olhar
à uma galáxia interior,,
que explode em amor
de onde brota uma constelação.

I.R.

sábado, 24 de setembro de 2016

milhagem

entre cansado
e com a cabeça nas nuvens,
escrevo,
pelo simples fato
de não poder parar de escrever.
somo milhas,
vivo...
com um sorriso no canto da boca,
sem vontade de contar por quê.

I.R.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

des-conto

Foto: Luiz Bhering

não vivemos um conto de fadas,
entre nós não há príncipes nem sapos...
não há princesas,
e se há maçãs envenenadas
é fruto do agrotóxico,
não dos feitiços
de alguma rainha má.
a terra encantada foi demolida,
pois é hora da realidade
na nossa vida.
mas se sou filho
do realismo mágico,
é porque sou neto do antropofágico,
e por que não há príncipes
ou princesas
é que duvido das certezas,
da falta de vida no beijo do final feliz

I.R.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

liberty destiny

Foto: Simão Salomão

liberdade, destino,
destino liberdade,
onde não há porto seguro,
mas me procuro,
e se me acho
é de maneira lúdica,
quebra-cabeça lúcido,
derrubando muros, paredes,
matando a sede...
de conhecimento
e de sua boca...
minha alma louca
é irremediavelmente sã...
por isso, vivamos o hoje,
o agora... sem demora...
talvez não exista amanhã

I.R.

sábado, 17 de setembro de 2016

mostruário

Foto: Marcos Mello

o que eu mostro
ou o que veem?
o que é monstro
ou o que vem?
nem sempre está tudo bom,
às vezes está tudo bem...
mas quando não é de meu domínio,
ou escapa de minhas mãos,
não posso ingerir no que falam
nem digerir o que fazem...
sou o que se vê
e o que se vê por trás do que se vê
sou o que se reflete
e o que não se vê,
edifício espelhado,
casa de sapê,
barraco de taipa
no barranco inclinado.

I.R.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

amor próprio

me perco num mar de imagens,
buscando a palavra perdida,
armando um quebra-cabeças
sem encontrar uma peça...
não há peça mais importante,
nem peça-chave,
e sei que não quero completá-lo
ou que interpretem os espaços vazios
sem o conhecimento dos bastidores.
me perco, me acho,
me volto a perder,
me perco, me cerco,
me solto...
quebro a cabeça
e me amo ao me armar

I.R.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

sorte no amor

Foto: Maria Luiza

amar não está no mercado
nem se rege por leis
de oferta e procura...
amar não é um estado de loucura,
mas a própria sanidade,
longe do egotismo,
do egoísmo
ou da vaidade...
amar não é só erotismo...
amar não é sorte,
nem loteria,
se opõe à morte,
abraça a alegria...
amar é um sorteio trapaceado,
onde nada está livrado ao azar.

I.R.

domingo, 11 de setembro de 2016

vigar

Foto: Simone Soares

é hora de levantar,
de escorar o alicerce,
de alicerçar a estrutura,
é hora de expor a viga,
sabendo que não há vida futura
sem o passo do presente.
todas as vigas conduzem a roma...
e se todo aroma se apaga,
e se todo sol se põe,
o segredo talvez esteja
no brilho da noite estrelada,
daquela da que não espero nada,
onde as estrelas cadentes
e os desejos candentes
rasgam o céu.

I.R.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

papagueio

Foto: Antonio Manuel Pinto Silva

nem sempre sou inteligente,
descolado, filosófico
ou dou um toque pessoal
no que expresso...
também repito coisas
que não conheço,
reproduzo conceitos
que desconheço
e preconceitos sem perceber.
na ânsia de falar,
não reflito o que repito...
mas me envergonho
se me exponho tosco...
preciso aprender a ser fosco,
após desaprender
a não querer brilhar

I.R.

domingo, 4 de setembro de 2016

radiografia

Foto: Jacqueline Hoofendy

na palma da minha mão
não há futuro
nem previsão,
só presente...
em cada sulco,
em cada linha,
há um traço de uma vida,
que também é minha...
na palma da minha mão,
a falta de tato
de quem não encontra o teto
ao levantar os braços,
ao julgar meus vetos
ou o que me permito...
na palma da minha mão
não há destino,
há um viver paulatino,
onde não há diamantes...
só carvão.

I.R.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

fitinha

Foto: André Amaro

os passarinhos que não vejo
e as borboletas que ainda não são,
enclausuradas em seus casulos,
cores desbotadas
na minha falta de verbos
ou a alegria do desânimo...
usei uma medida do bonfim,
mas medindo as consequências...
peso as lembranças,
reconheço as falências
os desejos que pedi em cada nó
ficaram só no desejo...
não se pode usar tesoura,
resta voltar a pedir

I.R.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

viver

na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença.
sozinho, acompanhado,
à toa ou atarefado,
na riqueza e na pobreza,
na abundância de dúvidas,
a única certeza:
não importa o que tenho
nem se vou nem se venho
só sinto que viver é bom

I.R.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

transitória

Foto: Luiz Bhering

transito a arte
como um pedestre,
não como condutor.
arte efêmera,
imaginária, inconsciente
nem sempre coletivo...
transito o transitório,
pequeno envoltório
que me desarticula,
arte que gesticula
e salta das paredes...
transito a parte,
o ouro de tolo,
o todo não é para mim

I.R.

domingo, 28 de agosto de 2016

eletro

Foto: Sergio Ceribino

na linha, o desalinho,
transporte de energia,
pilha gasta,
220 ligado em 110,
sem transformador...
na linha, as linhas,
diversidade de caminhos,
abastecimento,
energético, alimento...
e meus postes,
que não resistem
às fracas tempestades,
parecem de concreto armado,
mas, na verdade, são de papel.

I.R.

sábado, 27 de agosto de 2016

felinamente

tenho poemas em preto e branco
e versos em tons de cinza...
já quis ser diferente,
mas sou um descrente,
que dá murro em ponta de faca.
insisto, repito,
descubro, encubro...
repito, encubro...
tapo com pedrinhas
antes de voltar a miar.

I.R.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

árvores de inverno

Foto: Igor Ravasco

gosto de árvores de inverno,
árvores desfolhadas,
como uma fênix vegetal,
metáfora do renascimento...
gosto de árvores de inverno,
que não dão sombra,
que não dão frutos,
árvores que parecem veias
irrigando o céu...
gosto de árvores de inverno
e daquela última folha,
que, como um simbolo de resistência,
ou de resiliência,
teima em não cair.

I.R.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

apenas palavras

palavras soltas ao vento,
porque toda palavra dita está solta,
mas nem sempre é livre...
palavras que voam,
que navegam,
com ou sem destino...
palavras de menino
e de homem feito...
palavras de um imperfeito
em busca de porto,
de aeroporto...
palavras de guarulhos,
de silêncios e barulhos,
palavras de cumbica e de galeão,
palvras que buscam um cais,
um desembarque feliz,
uma pista...
onde fazer um pouso alegre.

I.R.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

astros celestes

Foto: Rene Leal

os movimentos,
ora lentos, ora agitados,
vão além de um estado de espírito,
independem de um estado de humor.
são um estágio de amor à arte,
é a liberdade que nasce da vontade,
que parte de um mistério nada secreto,
acessível a todos, descoberto por poucos...
dançar é se comunicar com o universo
num movimento cósmico,
como um abalo sísmico,
sístole e diástole sideral...
e o corpo, brilhando como estrela,
indica o norte,
como um sinal de boa sorte,
um pulsar que não tem final.

I.R.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

das correntes


Foto: Luiz Bhering

elas vêm como ondas,
como massa encefálica,
emaranhado intestinal...
corredeira terminando
em cachoeira,
prendendo minha atenção,
nublando meu juízo,
minha percepção,
me amarrando ao que penso
ou ao que não digiro,
enquanto dirijo em zigue-zague,
procurando uma falha num elo,
no meio do relevo,
o que não revelo...
quero ser a outra corrente,
quero fluir sem obstáculos,
estender meus tentáculos
em direção ao desconhecido.

I.R.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

olimpismo

Foto: Bruno Kaiuca

enquanto a grécia é no rio
e o espírito olímpico paira
sobre as águas podres da guanabara,
meninas continuam sequestradas na nigéria,
seres humanos, escravizados,
continuam produzindo roupa
e colhendo cacau...
pessoas continuam morrendo
na guerra síria
e nas águas manchadas de sangue
às margens da europa...
enquanto a grécia é no rio,
a democracia brasileira cambaleia,
e naufraga num mar de golpe
e de corrupção...
enquanto a grécia é no rio,
na esquina dos jogos olímpicos,
nosso pão e circo de quinze dias,
um ser humano ganha o pão de todos os dias
numa enorme lata de lixo,
às margens das águas podres da guanabara...
enquanto não desgrudamos da televisão.

I.R.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

no espírito

Foto: Kariane Pontes

se o que importa é a medalha,
se o que vale é a vitória,
não a o esforço e a batalha,
se só torço por vencedores,
por vendedores de falsas conquistas,
se aceito a trapaça,
na água, no tatame ou na pista,
eu não entendi o espírito da coisa...
sou medalha de ouro
no espírito de porco,
exorcizaram o espírito olímpico
deste meu corpo que não lhe pertence.

I.R.