Foto: Jose Luiz Monteiro
Buenos Aires, 20 de novembro de 2016
Prezados,
Só posso entender o combate ao racismo, se combatemos a ideia de que seja possível existir um racismo. Já que o racismo, baseado no conceito de raças, não pode existir. Temos de partir do ponto de que só existe uma raça, a humana, diferenciada pela cor da pele, formato dos olhos, tipo de cabelo, preferências sexuais, por suas tradições e pela cultura. E se não existe raça, não pode haver racismo.
O que existe (e persiste, também dentro de nós) é a discriminação, o preconceito, o medo e a aversão pelo diferente. O que resiste, entrincheirado, com medo de perder seu poder, é essa ideia de homem ocidental, branco, cristão, heterossexual, rico ou de classe média, que se entende como o ápice da criação, a última pedra no topo da pirâmide da cadeia alimentar.
O mundo globalizado tem de assumir definitivamente o que aos poucos foi descobrindo. Somos um planeta repleto de diversidade, o que nos enriquece como seres humanos. O mundo globalizado, o mundo, dito civilizado, deve repensar o caminho que percorreu para chegar até aqui e aprender dos erros de seu passado.
Mudar é um trabalho difícil, pensar, abrir a mente, reconhecer-se apenas como um ser humano no meio de todos os seres humanos... dizendo para si, o que também digo para mim... que não me importa em que Deus (ou nenhum Deus) as pessoas acreditam. Não me importa se são homens ou mulheres ou se transam com homens ou mulheres, assim como não me importa a cor de suas peles. Não me importa em que parte do planeta nasceram. E também não me importa se são ricos, pobres, se têm alguma deficiência ou por que time torcem.
O mundo globalizado se descobriu plural, se viu colorido, e é triste, mas ao mesmo tempo normal, que o velho mundo queira levantar muros, para tentar resistir. A dúvida é se estamos com os tijolos na mão para ajudar a construí-los ou já pegamos as marretas e começamos a derrubá-los dentro de nós.
Abraços,
I.R.