quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Carta para o Império Serrano

Buenos Aires, 25 de fevereiro de 2009.

Querido Império Serrano,

Antes de mais nada, e como já é um costume em minhas cartas, quero explicar o que me leva a escrever para você. Escrevo, amigo Império, para declarar a minha solidariedade no dia de hoje.

Ainda não sou um entendido em segunda divisão. Minha estreia vai acontecer em alguns meses, mas mesmo não sabendo o que se sente estando lá, sei que é duro chegar. No caso que me toca, o do Vasco, você sabe que a segunda divisão foi o merecido castigo por uma péssima política que governou o time da caravela por tantos anos. Mas no seu, amigo Império, foi covardia.

Não vi todas as escolas. Simplesmente não aguento ficar acordado, e mesmo se aguentasse não poderia. Aqui não é feriado, nem informalmente como no Brasil, e em todos os dias seguintes eu tinha de acordar cedo para trabalhar. Mas apesar de não ter visto todas, vi algumas, e te vi, Império.

E vi como a sua história mais uma vez a mostrou grande na Avenida. Você estava alegre, cheia de vida, levantando a Marquês de Sapucaí. Foi um desfile bonito, simples, carregado de energia e emoção. Um desfile digno de um carnaval em tempos de crise.

Mas não bastou. Foi pouco, ao menos para os jurados. Parece que os julgadores do carnaval seguem a máxima de Joãosinho Trinta: “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”, e não quiseram ver o seu Luxo, Império Serrano. E o seu Luxo foi o esse mesmo povo cantando o seu samba-enredo, foi a sua bateria dar um show de musicalidade, foi a sua garra de fazer um trabalho lindo numa época de vacas magras.
Não tem nada, não. Você, e nós também, saberemos dar a volta por cima. E ninguém tira os seus 9 títulos, e ninguém se esquece de “Lendas das Sereias, Mistérios do Mar”, nem de “Aquarela Brasileira”, nem de “Cinco Bailes na História do Rio” ou “Heróis da Liberdade”, “Exaltação a Tiradentes” e muito menos “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”.

Império Serrano, você não só é parte da história do carnaval. Você é carnaval.

Agora, frente à cegueira dos julgadores do carnaval deste ano (e procurando voltar ao lugar de onde não deveríamos ter saído), apenas nos resta cantar... Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Um abraço do mangueirense,

I.R.

PS: Não gosto de multidão. Não gosto de suar no meio da multidão. Não gosto dos excessos desses quatro ou cinco ou sete dias de folialoucura. Mas daqui desses muitos quilômetros de distância, só me resta assumir a minha verdade. Sinto saudade do carnaval. Gosto de batucada, gosto de samba, acho que o axé pode ser muito divertido, mas em excesso me cansa. E o funk? Ah, o que seria do carnaval atual sem certas pérolas do funk?

PS2: Ao Salgueiro, meus parabéns!