Era uma vez um casal armênio que não nasceu na armênia. Eram gregos. Quer dizer, ela era grega e ele também, mas nascido numa cidade que depois de seu nascimento tornou-se turca. Para os gregos, ele era turco. Conheceram-se, casaram-se. Tiveram uma filha na Grécia. Mas saíram de lá depois da segunda guerra. Foram para a então Iugoslávia. Mais uma filha. Em busca de uma vida melhor foram para o Brasil. Mais uma filha. Próxima parada, a Argentina. Agora não veio mais uma filha. Nasceu o único menino.
Esse menino de sangue armênio cresceu e fez parte da viagem dos pais ao contrário. Não foi muito longe, parou no Brasil onde conheceu sua mulher, filha de um espanhol com uma mineira. Mineira dessas misturadas do Brasil, cuja família só reconhece algum antepassado índio.
O casal teve três filhas. A mais velha, depois de um casamento fracassado no Brasil, com um paulistano filho de gaúcho com baiana, resolve retomar a viagem dos avós ao ponto final. A Argentina. Disposta a conhecer algum argentino interessante, bonito, gostoso, ela acaba se deparando com um carioca franzino, mas nem por isso nem um pouco interessante ou gostoso.
Carioca. Maneira de dizer.
Era uma vez um holandês que se casou com uma francesa e tiveram uma filha brasileira, branca dos olhos bem azuis. Essa mesma branca se casou com um mulato e tiveram vários filhos, entre eles um com cara e pinta de galã, sedutor e que de farda devia realmente arrasar muitos corações. Esse jovem galã foi casado por uns 50 anos, mas antes desse longo, houve outro de uns 11 anos. Há “erros” pelos quais devemos agradecer sempre.
Desse de 11 anos, foram três, do de 50 mais dois. Dos três primeiros, o primeiro homem, carioca, conheceu uma paraense. Era uma vez um português que conheceu uma índia. Casaram-se, tiveram vários filhos e uma delas se casou com um homem de quem não conheço muito bem os detalhes da origem. Tiveram uma filha, a paraense que se casou com o carioca.
O primogênito foi um também carioca criado no interior que quando cresceu resolveu seguir o mesmo curso daquele casal armênio do começo desta história. Foi para Buenos Aires, casar-se com uma portenha filha de uma jujeña (que era filha de um homem da Sardenha com uma mulher de Jujuy mesmo) com um cordobês.
Mas assim como o casamento da portenha com o paulistano fracassou, também não deu certo o do carioca com a portenha. E quis o destino, os deuses, o acaso, a força das marés ou seja lá o que for que carioca e portenha-brasileira-armênia se encontrassem.
E juntos, aqui, ainda em Buenos Aires, produzissem meio sem querer alguém que se tornou mais uma peça nesse emaranhado de nacionalidades, de credos, de desejos, de vontades, de ânsia, no fundo, de apenas uma coisa... Ser feliz.
I.R.