quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Carta para um preguiçoso

Buenos Aires, 24 de setembro de 2008.

Prezado preguiçoso,

Me dê as mãos e vamos sair juntos por aí dizendo ao mundo, bem lentamente, que não fazer nada é lindo!

Atire a primeira pedra quem não sentiu vontade de um dia, simplesmente, acordar, tomar um banho, preparar um chimarrão ou um café, umas torradas com manteiga, uns biscoitos, e ficar em casa... lendo o jornal, um livro, conversando, ouvindo música... E não estou falando de um domingo... Fazer isso numa quarta-feira sempre seria mais divertido. Ou estou exagerando?

Agora, quando falo em não fazer nada, estou falando do ócio produtivo, ou do ócio com o tempo preenchido por atividades, como ver um filme, ler, navegar na internet, escrever em um blog, bater um papo. Não falo de passar o dia inteiro na cama dormindo. Acho que ficaria maluco se tivesse que passar o dia na cama sem fazer nada... ou dormindo... Dormir tanto me cansa.

Atire a segunda pedra quem nunca sentiu vontade de inventar uma história qualquer no trabalho para simplesmente não ir e aproveitar o dia sem ter que agüentar chefe, escritório, alunos, colegas de trabalho, relatórios, planilhas, chamada, cartão de ponto, crachá.

Confesso. A tentação de não ir hoje ao trabalho é imensa. E não é nada pessoal. Os alunos são legais. Mas é aquela vontade de não sair, de viver uns minutos de “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Para se ter vontade de não trabalhar, o ambiente de trabalho não precisa ser ruim, o desejo de um dia de ócio, a vontade de se entregar à preguiça, não tem nenhuma relação com o ambiente. O chefe pode ser ótimo, o escritório bonito com uma linda vista, os colegas divertidos, o trabalho agradável e a foto no crachá, milagrosamente, bonita. A preguiça é algo interno, é da alma. Tenho alma de preguiçoso. E você, tem ou é um preguiçoso eventual?

Atire a terceira pedra quem nunca deixou para amanhã o que poderia ter sido feito hoje.

E não é necessário um dia de chuva para se sentir/viver preguiça. Pode ser um dia de chuva e um friozinho gostoso. Pode ser um dia bem de primavera, uns 15 graus, um solzinho, algum vento. Pode ser um dia de verão, com aquele calor que não estimula sair do próprio ar condicionado.

Atire a quarta pedra quem não estiver com preguiça.

Um abraço,

I.R.